«VIVE LA FRANCE!»
«O que acontece em França acontece à Europa» – parece dogma mas não é pois é geográfica e culturalmente demonstrável.
Se eu me propusesse fazer um Tratado de Relações Internacionais e de Ciência Política, poderia deitar mãos ao trabalho com aquela afirmação e passar de seguida à sua demonstração mas fique o Leitor tranquilo que não o incomodarei em demasia pois passo desde já a uma reflexão que pretendo breve – sobre as eleições presidenciais francesas de 24 de Abril de 2022.
Muito laconicamente, em torno de Marine Le Pen juntaram-se os eleitores da direita radical e os que se descoroçoaram com Macron ao longo do seu primeiro mandato; em torno de Macron juntaram-se todos os que não queriam Marine Le Pen.
Daqui resulta que – por muito que possa custar a constatação – a perdedora foi, afinal, a figura central destas eleições. E tudo aponta para que o cenário se repita nas legislativas dentro de dois meses.
Nestas eleições francesas, Putin não foi um mero fantasma, terá sido um poderoso manipulador preconizando que França saia da NATO e da UE. Ou seja, destruindo ambas. O argumento é o de que França passaria a dispor de equidistância relativamente a todas as partes envolvidas na cena internacional.
Óbvio sofisma pois, não estando com ninguém, concentraria a desconfiança (e oposição) de todos. E o imperialismo russo perderia dois fortes opositores.
Mas, em simultâneo, a luta socio-religiosa anti muçulmana tem tido fortes razões para alcandorar Marine Le Pen a paladina dessa causa e esse é um problema que os demais políticos parece não quererem encarar. Ou seja, esta motivação eleitoral poderá prevalecer sobre a ameaça russa e, pela calada, levar os putinescos ao poder em França nas próximas legislativas. Que perigo para o mundo ocidental!
Que a serenidade motive os franceses e os afaste de todos os radicalismos.
Lisboa, 25 de Abril de 2022
Henrique Salles da Fonseca