VIKINGS - 5
Do liceu, recordo que o mapa pendurado na aula de geografia mostrava que a Noruega ia por ali a cima e que, lá no alto onde acaba a terra e começa o Oceano Ártico, virava à direita até chocar com a Rússia. Também me lembro de a professora dizer que nos tempos das grandes convulsões geológicas, aquele maciço montanhoso se ter afundado e os vales terem sido invadidos pelo mar formando os actuais fjords. Se não é verdade, está bem imaginado.
Assim, saindo do fjord de Alesund (Olesund), rumámos a norte durante dois dias e duas noites, cruzámos algures o Círculo Polar Ártico (que alguém escondeu pois não o vimos),virámos à direita como mandava o mapa da professora, vimos o Cabo Norte à nossa direita e aportámos a Honningsvag (Honningsvog por causa dotal º sobre o a que o meu teclado não tem) depois de termos avistado o repuxo de uma ou duas baleias e alguns barcos de pesca miúda. Outro navio de cruzeiros (um «Costa») fundeara ao largo e o cais foi para nós.
Naquele Verão setentrional e bem para lá dos famosos hiperbóreos (como os gregos chamavam aos frios povos germânicos), a temperatura máxima do ar estava nos 7º C, a mínima nos 6º e a brisa encarregava-se de pôr tudo a 1º C. E, mesmo assim, há venezuelanos que preferem aquilo a terem que suportar o ditador Maduro. Sim, um motorista de autocarro e uma guia eram venezuelanos. Por aqui se imagina o que seja o actual inferno na Venezuela. Mas isto foi um àparte e retomemos o fio à meada ultrahiperbórea.
Estávamos a alguns minutos e segundos para além dos 71º de latitude norte e isso fez-me pensar na responsabilidade de toda a Humanidade estar dali para baixo.
Desembarcámos pelas dez da noite para irmos ao Cabo Norte assistir ao espectáculo do «Sol da meia noite». Percurso duma trintena de quilómetros sempre a subir… renas por toda a parte, árvores por parte nenhuma. C0ntudo, a maior parte das casas são de madeira. A meio da subida… um parque de campismo cheio de autocaravanas. Junto ao parque de estacionamento do Museu do Cabo, outro parque de campismo ainda maior que o anterior. Eu, estupefacto; eles, caravanistas, talvez congelados.
É do miradoiro do Museu que, sobranceiro ao promontório do Cabo, supostamente se pode ver a imensidão do Oceano Ártico e o espectáculo do «Sol da meia noite». Desde que aquele banco de nevoeiro o permitisse. Não permitiu e voltámos para dentro do Museu onde as lojas de bugigangas eram assediadas por turistas descoroçoados pela míngua do espectáculo natural. Nós, os avisados, fomos ao cinema ver o que o nevoeiro nos negara.
Regressámos ao navio pelas duas da manhã e ao longo do percurso de volta, os pássaros voavam, as renas pastavam e só os caravanistas dormiam à espera do Solstício de Verão que seria daí a dois dias. Fiquei sem saber se se estava a preparar alguma cerimónia druídica que justificasse tanto caravanista. Não fiz perguntas pois o pessoal venezuelano de serviço naquele autocarro não devia saber o que é um druida.
Zarpámos pelas três da manhã e demos início à viagem de regresso que nos traria do topo do mundo até às cercanias da Baixa da Banheira.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca