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A bem da Nação

VIKINGS - 4

 4

Deixados os prolegómenos lá pela foz do Elba, eis-nos a navegar em total calmaria rumo a Norte… comigo sempre à espera de um daqueles vagalhões que alguém me dissera que aparecem vindos do nada e fazem trinta por uma linha. Mas Neptuno foi benigno e, depois de um dia e duas noites a navegar, aportámos à simpática Alesund (diga-se Olesund por causa do º sobre o A que o meu teclado não inclui) que se intitula a «capital do bacalhau».

Volta pela cidade e redondezas mas a guia, sabendo que alguns dos visitantes eram portugueses, mandou o motorista do autocarro parar junto à igreja local e começou por contar a história de que o Kaiser Guilherme II (da Alemanha, claro está) gostava muito de ir até ali gozar umas férias e que, após a cidade ter sido arrasada por um incêndio, ele contribuiu para a reconstrução mandando colocar no interior daquela igreja a sua bandeira com a águia bicéfala para memória futura da sua ajuda. Interessante, sim, mas pouco nos motivou qualquer sentimento especial. E foi então que a simpática guia nos sugeriu que rodássemos sobre os calcanhares e que reparássemos no pequeno cemitério que assim passava a estar à nossa frente. Muito bem ajardinado, não muito mais do que meia centena de sepulturas muito bem conservadas… E foi então que a guia nos contou solenemente que durante séculos, os barcos portugueses (e espanhois) vinham a Alesund pescar e comprar bacalhau e que o lastro na vinda era terra portuguesa (e espanhola) a qual era descarregada naquele local para que na viagem de regresso o lastro fosse o carregamento de bacalhau. Eis como em Alesund a terra sagrada do cemitério… é portuguesa (e espanhola). Nada consta sobre se naquele pequeno e bonito cemitério está sepultado algum português (ou espanhol) mas, esta sim, foi história que ouvi com a mesma solenidade de quem a contou.

Não é importante mas achei giro.

Nota final sobre este primeiro encontro «in loco» com os vikings: as mulheres não se nos apresentaram com aquelas tranças  loiras das míticas personagens do Walhala nem os homens com capacetes de ferro ornamentados de armentío. Pelo contrário, apresentam-se com uma das mais elevadas taxas de escolaridade a nível mundial e consta que, quando nos anos 20 do século XX se encontrou um adulto analfabeto que vivia quase isolado num recanto longínquo de um destes fjords, o escândalo foi tal que o Governo caiu. Em Alesund, cidade que me pareceu relativamente pequena, há três escolas em que se ministra o secundário superior e a Universidade localiza-se a seguir ao túnel submerso que liga esta ilha ao continente.

Foi à chegada a Alesund que me lembrei de que a Noruega saudou a chegada de Portugal ao mundo da democracia oferecendo-nos um navio totalmente equipado para que pudéssemos estudar as nossas pescas: o «Noruega» que tão importante tem sido para sairmos da então reinante boçalidade. Mas os equipamentos electrónicos de apoio à pesca e à navegação continuam a ser fabricados na Noruega e não em Portugal. Porquê? Porque em Portugal os Governos não caem quando aparece um adulto analfabeto. 

(continua)

Henrique Salles da Fonseca

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