VIAGEM DE FIM DE SEMANA – 2
Regressada ao seu Porto natal depois de longa estadia em Lisboa, a nossa anfitriã organizou-nos uma estadia cultural de primeira qualidade mas que foi quase mono temática. Sim, tudo girou à volta de um tema fundamental da Cultura tipicamente portuguesa, a gastronomia. Mas como, sem se dar ares, é pessoa de elevadíssima cultura, todos os recantos por que passávamos de um restaurante para outro eram pretexto para uma explicação histórica ou uma nota social.
Três referências à gastronomia que experimentámos: a qualidade, a simplicidade, a barateza. Mas ficámos chocados com as quantidades que nos serviam pois, mesmo pedindo meias doses, poderíamos ser o dobro dos compinchas que ainda sobraria. Num almoço que fizemos em Matosinhos, as quantidades foram tão anormais (para a nossa bitola lisboeta) que pedimos o «dog’s bag» e fizemos um lauto jantar para nós os 7 num dos apartamentos que a nossa anfitriã nos disponibilizou.
E foi depois desse jantar doméstico que tivemos que sair a dar um passeio para «esmoermos a bacalhausada».
Mas o passeio foi curto pois o prédio da nossa amiga situa-se no «Caminho de Santiago» que ali bem próximo começa na Sé do Porto, desce por escadaria de 100 degraus até à Igreja dos Grilos, continua a descer por ruelas medievais e, passando à porta da nossa amiga e anfitriã, segue até desaguar na Rua Mouzinho da Silveira continuando por rumo que perdi mas que, obviamente, há-de levar os peregrinos ao destino galego. Nós não fizemos peregrinação pois apenas pusemos uma vela pelos nossos netos actuais e futuros na orada de Sant’Ana (a padroeira dos avós), que se situa a dez passos da porta do prédio em que estivemos aboletados. E da orada, subimos por cenário medieval do Porto primitivo (primorosamente recuperado depois de décadas e décadas de abandono) até uma igreja de frontaria monumental e muito bem iluminada. E de que igreja se trata? A dos Grilos. Mas a surpresa estava para vir quando tornejámos uma esquina fronteira à dita igreja e se nos deparou um espectáculo de cortar o fôlego com o Douro a nossos pés, Gaia na outra banda e tudo a regurgitar de vida por ali fora... Recordando o café afrancesado da crónica anterior, fiquei «bouche bée».
Vistas as vistas, voltei-me para a igreja e admirei a imponência de uma frontaria imperial que só pode ser admirada em todo o seu esplendor se adentrarmos a ruela por que subíramos vindos da orada onde puséramos a tal vela. Quase me apeteceria dizer que ali, sim, «meteram o Rossio na Betesga», tal a imponência contida num quase beco.
Igreja de São Lourenço ou "dos Grilos"
A Igreja e Colégio de São Lourenço, popularmente conhecida por Igreja dos Grilos, é um conjunto de edifícios construído pelos jesuítas em 1577 e financiado por doações de fiéis assim como por D. Frei Luís Álvaro de Távora (Ordem de Malta), ali sepultado.
Túmulo do benemérito com o apelido apagado
Tudo foi erguido com forte oposição (da Câmara e da população) não dirigida aos jesuítas mas sim ao colégio que pretendiam instituir devido à previsível permanência de filhos de nobres dentro da cidade por períodos superiores a três dias, o que era proibido.
Contudo, alguma diplomacia resolveu o diferendo – nomeadamente com aulas gratuitas para os filhos dos plebeus – e o colégio abriu portas. Até que em 1759, com a expulsão dos jesuítas, a igreja foi doada à Universidade de Coimbra em cuja posse se manteve até ter sido comprada pelos Frades Descalços de Santo Agostinho que ali ficaram de 1780 a 1832.
Instalados em Lisboa no Sítio do Grilo (zona oriental da cidade, ao Beato) desde 1663, estes frades ganharam a simpatia da população que os apelidou de "frades-grilos". Daí, o nome desta igreja no Porto.
Durante o Cerco do Porto, os frades viram-se obrigados a abandonar o convento, tendo este sido ocupado pelas tropas liberais de D. Pedro. O Batalhão Académico, integrando Almeida Garrett, instalou-se lá. Desde 1834, o conjunto pertence ao Seminário Maior.
Continuemos...
Dezembro de 2016
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA:
- Wikipédia (Igreja dos Grilos; Frades Grilos)
- Câmara Municipal de Lisboa (Sítio do Grilo)