UMA VIAGEM AO INFERNO – 4
Dos penhascos da Lousã fomos até Oleiros através de paisagens dantescas de negrume e desolação. Árvores, casas, chão, tudo calcinado e vastas zonas onde, passados seis meses da grande desgraça, ainda nem sequer as ervas – mesmo as daninhas - brotam. Tudo negro.
E a pergunta é: o que se faz a quem provocou tanta desgraça? As respostas são várias e talvez nem todas enquadráveis no quadro jurídico português.
E porquê Oleiros e não qualquer outro destino? Porque é lá que se come o cabrito estonado e nós somos um grupo de quatro casais bastante gulosos. Íamos «mandados» para um restaurante lá para as bandas da serra e já nos lambíamos a adivinhar o que nos esperava mas, afinal, foi muito melhor do que estávamos a imaginar.
A nossa dúvida era a de saber como é que se justifica um hotel de quatro estrelas em Oleiros. Ora bem, fizeram o mesmo que os das aldeias de xisto: chamaram turistas e têm o hotel quase sempre cheio. O cabrito é um dos chamarizes mas há outros que os meus leitores hão-de descobrir. E se lá quiserem ir, despachem-se a reservar lugar no hotel que só tem 19 quartos e duas suites. E reservem também para os restaurantes que hão-de descobrir na Internet.
Mas o hotel merece uma referência especial porque não restam dúvidas de que não seria fácil encontrar quem avançasse para o risco de uma iniciativa hoteleira no meio de nada. Então, foi a Câmara de Oleiros que o fez. Depois de o ter feito, foi à procura de quem o gerisse e felizmente, encontrou no próprio Concelho quem aceitasse o desafio. E quem foi? Bem, foi precisamente o dono de um dos restaurantes do tal cabrito que passou a ter clientes forasteiros no restaurante porque há boa hospedaria e o hotel tem clientes porque o cabrito é um motivo especial para os gulosos que por aqui andamos. E tudo isto é também um motivo de sustentação da criação caprina na zona.
Então, é assim: se não fosse o hotel nós não iríamos ao restaurante e se não fosse o restaurante nós não iríamos ao hotel. Mas fomos e gostámos. Belo hotel, leitores.
Mas entre o hotel e o restaurante, lá estava o Inferno.
Abril de 2018
Henrique Salles da Fonseca