UMA VIAGEM AO INFERNO – 2
LENDAS E ESPECULAÇÕES
Por incrível que pareça, já conhecia Xangai, Moçambique duma ponta à outra, Ushuaia, a Austrália e por aí fora… e nunca tinha isso à Lousã. E, contudo, a Lousã exercia um fascínio especial na minha imaginação. Porquê? Porque a professora de alemão durante a minha infância e juventude, passava todos os Verões três semanas na sua Berlim natal e duas semanas na Serra da Lousã. E isso sempre foi um tanto ou quanto misterioso para a minha família: o que levava uma alemã a ir todos os anos para aquela remota serra? E quando foi isso? Muito bem, refiro-me aos anos 50 do séc. XX, ou seja, pouco depois do fim da II Guerra Mundial. Os meus pais nunca fizeram perguntas e nós, as crianças, muito menos.
E aqui entra a imaginação a funcionar; melhor, a especulação…
Ora bem, o restaurante onde tínhamos reserva para o almoço é em plena Serra da Lousã, num fim de estrada, no fundo do buraco próximo do sopé do promontório em que se localiza o castelo, entre barrancos só acessíveis por pé de alpinista ou por estrada escavada nas encostas íngremes onde a Internet não chega. Claramente, um local «onde o Diabo perdeu as botas». Mas se as estradas têm hoje bom asfalto, dá para imaginar o que seria nesses anos do pós-guerra, eventualmente sem alcatrão, sem telefones nem Correio, isolamento praticamente total, num país que fora neutro no conflito armado que assolara o mundo pouco tempo antes.
Que tal imaginar que aquilo poderia perfeitamente servir de esconderijo para nazis em fuga? Não sei se o foi ou não mas nesta minha primeira visita ao local, a hipótese não me saiu da cabeça e acho agora perfeitamente possível que a minha professora viesse então de Berlim com notícias «fresquinhas» para «amigos» secretos ali escondidos. E seria ela nazi? Nunca tal coisa nos passou pela cabeça mas o melhor é não pormos as mãos no fogo.
Será esta uma hipótese falaciosa? Talvez. Mas de acordo com uma lenda antiga, o castelo – hoje denominado de Arouce - terá sido erguido pelo emir Arunce, para proteção da sua filha Peralta e dos seus tesouros após ter sido derrotado e expulso de Conimbriga. Veja-se como já então ali se resguardavam os que pretendiam ficar ocultos do mundo.
Sim, talvez tudo isto sejam apenas lendas e especulações.
Abril de 2018
Henrique Salles da Fonseca