UMA VIAGEM AO INFERNO – 1
DE COMO IR AO INFERNO
Qualquer português adulto minimamente atento sabe como ir ao Inferno: a partir de Lisboa, toma a A1, corta em Alcanena para a A23, no Entroncamento vira para Norte e segue pela A13 e não muito longe de Condeixa vira para o IC8 rumo a Castelo Branco; chegado a Pedrógão Grande, está no centro do Inferno, onde o Diabo não lhe aparece mas apenas as suas vítimas.
Hoje, o Inferno é negro e castanho, da côr da cinza negra e das folhas mortas. A perder de vista, estende-se por montes e vales…
Como diz o povo, «uma dor d’alma».
PORQUÊ IR AO INFERNO?
Porquê? Simplesmente porque não somos amorfos e uma coisa é ver a desgraça na televisão enquanto outra, bem diferente, é ver o resultado dramático no local onde tudo se passou. Não é morbidez, é solidariedade.
E se com as despesas que fizermos localmente pudermos ajudar directa ou indirectamente à retoma da vida de quem tudo perdeu, esse é por certo um modo bem modesto de se tentar fazer o bem sem se olhar exactamente a quem.
Ajudámos as vítimas da Lousã, de Oleiros e da Sertã e foi no caminho entre elas que visitámos o Inferno.
Abril de 2018
Henrique Salles da Fonseca