UM RETRATO A CORPO INTEIRO
De um país que não produz. Que prefere atacar o capitalismo na sua habitual manipulação dos capitais em proveito próprio, explorando os trabalhadores como roldanas indistintas que estão ali para produzir, sem horários justos, sem vida própria. É muito verdade isso por cá, e tudo isso por não funcionarem os sistemas de distribuição de princípios básicos, como sejam os da Justiça, do Civismo e da Educação. Daí que seja um país que se define pela desordem, ninguém pretendendo trabalhar em prol do outro, “pela grei e pela lei”, como propunha D. João II, no seu pelicano, símbolo que adoptou no seu governo de realizações, o pelicano como ave que alimentava as crias com a carne que arrancava do seu peito.
Sá de Miranda faz referência a isso, na carta conselheiral ao “rei de muitos reis”, D. João III:
Do vosso nome um grão rei
Neste reino lusitano,
Se pôs essa mesma lei,
Que diz o seu Pelicano:
Pela lei e pela Grei.
D. João II trouxe grandes riquezas a Portugal, chegando longe, nos seus desígnios de aquisição de terras, que atingiram o oceano Índico. Príncipe Perfeito se lhe chamou, mas usando princípios de absolutismo que hoje se desprezam, embora saibamos quanto de absolutismo domina em regimes de capitalismo onde não existe rei nem roque e o monopólio dos lucros vai apenas num sentido. Juntamente com o compadrio, que gera a corrupção. E é por isso que não descola aqui, porque não se respeitam os direitos das pessoas, o cinismo sendo a mola principal nas relações entre o patronato e o trabalhador.
Entretanto, todos falam, falam, falam…
É um comentário ao excelente análise de João César das Neves “O Mistério do Crescimento”,
Berta Brás

