TEOLOGIA, DA MINHA – 9
Como será na outra dimensão que não esta, material, em que nos encontramos? Não sei e não pensei ainda no assunto. O que sei é que não me vou preocupar por enquanto com o tema. Por enquanto…
Mas, embora possa parecer um absurdo, agora penso em James Joyce e na sua epifania, a epifania joyceana dos lugares e das suas ocasiões. E do que se trata? Trata-se de «vermos» o que aconteceu nos lugares por que passamos, sobre as pedras que pisamos. Mas isso, numa condição: a de sabermos o que se tenha por ali efectivamente passado. Então, vemos as cenas, imaginamos as pessoas, os factos historicamente conhecidos. E tudo isso acende luzes na nossa mente até ao ponto de consciencializarmos os pormenores, os fundamentos dos acontecimentos, a quinta essência dos locais.
Eis por que espiritualismo nada tem a ver com espiritismo; James Joyce nem sequer terá conhecido Allan Kardec. Prefiro «Ulisses».
A epifania a que me refiro acontece a partir do conhecimento prévio do que tenha acontecido, resulta de nós, não é uma adivinhação nem uma revelação de algo que não conhecíamos e que nos seja trazida… por quem? A transcendência joyceana é endógena, genuinamente nossa, não usa mesas com pé de galo nem fumos mais ou menos anabolizantes espirituais.
E nada me diz que James Joyce tenha curriculum que o eleve aos altares.
Janeiro de 2018
Henrique Salles da Fonseca