TEOLOGIA, DA MINHA - 16
Não eleves a fé até à altura do vôo dos pássaros e não rastejarás depois como os vermes.
John Steinbeck, in «As vinhas da ira» (pág. 110 - LIVROS DO BRASIL, edição de Novembro de 2014)
Por cá, dizemos «fia-te na Virgem e não corras, logo verás o trambolhão que dás». Ou seja, o livre arbítrio é determinante no rumo das nossas vidas, o determinismo não faz sentido. Temos sorte na vida se a soubermos «levar direitinha»; com muitas probabilidades, o azar bate-nos à porta se não procurarmos acertar, se pusermos o pé em ramo verde, não pusermos as barbas de molho.
O anjo da guarda só actua se nós não abusarmos da sorte, se agirmos dentro da sociabilidade, enfim, se seguirmos o Decálogo com um mínimo de respeito; ele, o anjo da guarda, age contra agressões externas, não contra o mal que façamos a nós próprios tanto por actos como por omissões.
No que respeita à saúde, convém passarmos pelo médico antes que este já nada saiba fazer e quando isto suceder, então e só então, é que devemos procurar a ajuda sobrenatural.
Fomos dotados duma capacidade estaminal de raciocínio que nos tem permitido grandes progressos científicos. A própria capacidade de raciocínio, a inteligência, tem evoluído muito ao longo dos milhares de anos que a humanidade já conta e, portanto, afrontaremos quem nos dotou dessa capacidade estaminal se não recorrermos aos conhecimentos adquiridos e se não nos deixarmos tratar por quem utilize a medicina em conformidade com a ética.
Curámo-nos da maleita que nos incomodava? Óptimo! Isso foi porque nos deram a injecção certa, nos submeteram à cirurgia conveniente, nos fizeram a transfusão de que estávamos necessitados. Deixemos o «queira Deus» para quando o homem já não souber actuar. Então, sim, entreguemo-nos ao Altíssimo.
Janeiro de 2018
Henrique Salles da Fonseca