TEATRO MUITO RÁPIDO
NOBLESSE OBLIGE
A cena passa-se no interior nortenho, zona rural abandonada pela sorte desde o tempo dos suevos e dos alanos…
- Olá, bom dia, Senhora! – diz o novo mestre escola da aldeia vizinha.
- Bom dia, meu Senhor! – respondeu a velhota com um molho de carqueja à cabeça.
- A Senhora sabe quem eu sou?
- Não sei, não Senhor, mas se é para me roubar, fique sabendo que não tenho nada que preste e só lhe posso dar esta carqueja que fui buscar aos montes antes que lhe botem fogo.
- Oh! Senhora de Deus! Não pense nisso; eu não faço mal a ninguém! Eu sou o novo mestre da escola da aldeia e ando a dizer às pessoas que já podem voltar à escola.
- Mas eu nunca fui à escola e agora já sou velha para ir aprender isso que o Senhor lá ensina.
- Então, quantos anos é que a Senhora tem?
- Oh meu Senhor: eu casei aos 20, estive casada 50 até que o meu home morreu vai para 15.
- Então, tem 85.
- Seja! Se o Senhor o diz…
- E tem muita família?
- Tenho, mas está quase toda na França. Só cá me deixaram um neto mas esse também abalou para o Porto.
- E que faz ele no Porto, trabalha?
- Não, Senhor, anda na escola. – diz a velhota toda ufana.
- BRAVO! E em que escola anda ele?
- Na escola dos gatunos.
Cai o pano
* * *
Foi durante uma visita oficial a Trás os Montes no início da década de 80 do século XX que esta história me foi contada como absolutamente verdadeira por quem eu considerava merecedor de todo o crédito, o então Director Regional de Agricultura de Trás os Montes e Alto Douro, Eng. José Herculano Brito de Carvalho.
Setembro de 2019
Henrique Salles da Fonseca