TAPAS Y CASTAÑOLAS 4
Já casada, a então Princesa Isabel estava de visita ao Quénia quando soube que o seu pai, o Rei Jorge VI, tinha morrido. Regressou de imediato a Inglaterra para os cerimoniais apropriados à circunstância os quais culminaram com a sua coroação dando início ao longu+issimo reinado de Isabel II. Apetecia-me dizer «o longuíssimo e simpático reinado…» mas acho que me devo conter na adjectivação.
A imagem que transparece de Isabel II é claramente a de uma pessoa muito digna, irradiando a simpatia suficiente para não ser efusiva nem macambuzia. E pronto, pouco mais dela se espera. E esse pouco mais restringe-se a um conjunto de cerimónias protocolares em que lhe está sempre reservado o papel central mas em que os verddeiros protagonistas são alguns dos seus súbditos. Por exemplo, Isabel II é o símbolo máximo da Igreja Anglicana mas ninguém no seu perfeito juízo espera que a Rainha se pronuncie «motu próprio» em matérias de fé. Esta matéria é o foro do Arcebispo de Cantuária. O mesmo se diga das matérias profanas em que o protagonismo é do Primeiro Ministro. E assim é que a figura real não tem sido beliscada apesar de Isabel II nunca ter defendido o cumprimento da (inexistente) Constituição e de, tendo começado por ser Raonha de dimensão imperial, ser ver hoje na contingência de perder a Escócia. Mas tudo isso se deveu aos políticos, não à Chefe de um Estado minguante.
No sentido inverso, quero crer que o então Presidente da Alemanha tenha presidido às cerimónias da reunificação mas quem ficou no retrato e na nossa memória foi o então Chanceler Helmut Kohl.
Para o bem ou para o mal, o responsável pelo andamento da carruagem é quem tem as mãos nas rédeas, não o «dono dos cavalos».
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Aqui ai lado, o Símbolo não é apenas simbólico, cumpre-lhe também «pôr as mãos nas rédeas» e, vai daí, correr o risco de alguns salpicos. Só que, com o regime pluviométrico mediterrânico, em vez de alguns salpicos, pode ser uma grande chapuçada de lama ou pode mesmo a carruagem atolar-se e os passageiros terem que ser evacuados à pressa.
Deixando-me de figuras de retórica, não vai bem o reinado de Filipe VI de Espanha e a pandemia só juntou achas à fogueira Estão em perigo a unidade espanhola e a Monarquia.
Quem está muito embrenhado na situação, pode já estar muito assoberbado por detalhes e perder a necessária visão do conjunto da cena mas quem está de fora e sabe pouco tem mais facilidade em ver a floresta.
Assim, sem pretender ensinar o «Pai Noss ao Vigário, estou em crer que a unidade de Espanha ainda (?) possa ser salva por uma alteração constitucional que transforme a Espanha actual num Estado Federal – não vejo qualquer incompatibilidade entre um Estado Federal monárquico com alguns Estados federados regendo-se como Repúblicas[i]. Mas isto só será possível se o Rei, por uma última vez, agir como efectivo polarizador da cena global promovendo a criação duma maioria pró ocidental (PSOE, PP, Ciudadanos, Vox,…) chamando-os a todos em simultâneo à Zarzuela e dizendo-lhes: - Esta reunião começa agora e só terminará quando me garantirem uma solução política salvadora de Espanha.
Quanto à imagem da Monarquia – e porque é pública a vida privada dos Chefes de Estado – o «núcleo central» deve ser expurgado de elementos menos simpáticos aos olhos da opinião pública. Sugestão: uma temporada a arejar em Lanzarote. O rude Saramago esteve lá e ganhou um Nobel. Aquela ilha faz maravilhas.
FIM
Agosto de 2020
Henrique Salles da Fonseca
[i] - Como alternativa à Federação há a Confederação