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A bem da Nação

UCRÂNIA - 5

A tenacidade demonstrada pelos ucranianos na defesa do seu País contra a Invasão russa destrói por completo os argumentos de que a Ucrânia faz parte da Rússia - argumentação historicamente caduca, etnicamente falsa e politicamente aberrante. Os factos demonstram-no.

Como alguém disse numa TV, «Putin poderá ganhar a guerra mas perderá a paz». E é para que os problemas militares possam ser resolvidos que nós, os outros europeus, temos o dever de proporcionar aos refugiados ucranianos (velhos, mulheres e crianças, quer saudáveis quer doentes) as melhores condições de vida. Até para que os combatentes saibam que as famílias estão a recato.

Pelas notícias, constatamos que a nossa sociedade (pública e privada) se aplica com entusiasmo em iniciativas de acolhimento. Aliás, outro procedimento não seria expectável.

Do que os refugiados necessitam imediatamente é da recuperação emocional e física mas logo de seguida necessitarão de arranjar um modo «normal» de vida pois ninguém sabe por quanto tempo cá ficarão.

Nesta incerteza, lanço duas sugestões:

  • A instituição da «Escola Luso-Ucraniana»;
  • A instituição do «Hospital Luso-Ucraniano» onde médicos ucranianos possam exercer enquanto não aprendem português (e, daí, não serem membros da nossa Ordem dos Médicos).

Em situações normais, iniciativas deste género seriam bilaterais dos Estados envolvidos, mas com a situação por que actualmente o Estado Ucraniano atravessa, a iniciativa só poderá ser unilateral, do Estado Português.

Ficam as sugestões na certeza, porém, de que há muitas matérias por definir, a começar por «onde», «como», «com quem», «para quem»… e se ficarmos à espera que a nossa Administração Pública decida avançar com soluções, mais valerá que nos sentemos. Acho bem melhor que apareçam particulares que se constituam em grupos luso-ucranianos (um grupo para cada iniciativa) de estudo, promoção e pressão que «levem as respectivas cartas a Garcia».

Quem se oferece?

Março de 2022

Henrique Salles da Fonseca

UCRÂNIA - 4

Diz-se que «há males que vêm por bem» ou que «por bem fazer, mal haver».

Eis como a militância feminina no esforço desenvolvimentista conduziu à redução do número de filhos por casal, fenómeno este que, em paralelo com o significativo aumento da esperança média de vida, conduziu ao envelhecimento da nossa pirâmide etária. Assim se fez perigar a viabilidade financeira do sistema da segurança social.  Tudo, apesar da redução drástica da mortalidade infantil. E assim é que a conjugação de três ou quatro factores muito positivos nos conduzem para um grave problema, o da viabilidade do sistema que funciona em regime de solidariedade (os activos financiam as pensões dos aposentados) e não pela capitalização dos descontos (de cada um para si mesmo na futura aposentação).

Ou porque as políticas de incentivo da natalidade têm pecado por timidez ou porque deixou mesmo de haver condições para a constituição de famílias numerosas, a realidade é que nos encaminhamos para uma redução absoluta da população portuguesa, nomeadamente a residente em Portugal.

Face ao que duas alternativas se nos colocam: ou fazemos mais portugueses ou recorremos ao retorno dos nossos emigrantes e à imigração de estrangeiros.

O retorno de emigrantes é sentimentalmente reconfortante, a atracção de lusodescendentes com formação técnica ou superior poderá constituir factor de dinamização não só económica mas também social (quiçá genética) mas a imigração de estrangeiros culturalmente harmónicos connosco pode ser factor de grande desenvolvimento. O acolhimento de refugiados ucranianos (tantos quantos eles queiram) poderá ter um especial significado humanistico – Portugal, país de paz; acolhedora Nação Portuguesa.

No actual transe ucraniano, é do nosso (português) próprio interesse «fazer o bem olhando a quem».

Como?

Conversemos…

Henrique Salles da Fonseca

UCRÂNIA - 3

NOTA PRÉVIA

Sugiro enfaticamente a quem me lê que atente aos comentários ao texto anterior:

  • O Doutor Amândio Coelho Pereira, natural de Goa, é cardiologista (cirurgião cárdio-toráxico?) em Bombaim e, seguindo uma postura histórica indiana, aponta culpas à NATO e à UE. Pedindo-me que comente o seu comentário, refiro que a Ucrânia é ubérrima em recursos naturais e é um dos maiores fornecedores de cereais da UE; as suas Universidades contavam (até há uma semana) com significativa população estudantil estrangeira, nomeadamente indiana; foi o Governo Ucraniano presidido por Zelensky que pediu (repetidamente) a adesão da Ucrânia à NATO e à UE e não o contrário;
  • O meu colega (e camarada de armas em Moçambique) Carlos Traguelho traça-nos uma fundamentada recusa da legitimidade de qualquer afronta à soberania de todo e qualquer Estado reconhecido internacionalmente;
  • Isabel Pedroso, minha amiga desde a campanha militar moçambicana, traz-nos, lá do alto da sua enorme sabedoria, a questão de sabermos qual a atitude da NATO caso dois dos seus membros se envolvam nalguma bulha;
  • O Senhor Coronel Adriano Miranda Lima, sempre clarividente, chama a nossa atenção para o caracter extremamente letal que o exemplo das democracias liberais (mais do que as ogivas nucleares) representam para os regimes ditatoriais.

Mas estes apontamentos não substituem a leitura dos comentários a que se referem.

 

* * *

Se, nos primórdios desta disputa territorial da Rússia com a Ucrânia, Putin pudesse ter alguma razão histórica, deitou tudo a perder com os métodos que vem seguindo. Cada ruína (material ou humana) de estatuto civil constitui, neste século mais humanista do que todos os antecedentes, prova de crime de guerra. Não se trata de julgar factos antigos ao abrigo dos critérios actuais; trata-se, isso sim, de julgarmos actos presentes ao abrigo de critérios seus contemporâneos. E a culpa está amplamente documentada por toda a comunicação social livre. Mais: não me ocupo a acusar os executantes, apenas a culpar o mandante, Putin.

Não me atenho tão pouco a comentar o desenrolar dos acontecimentos pois não sou (nem pretendo ser) reporter de guerra e porque o que agora é verdade, dentro de minutos pode estar ultrapassado. Tento, se possível, meditar um pouco no meio do pandemónio.

Pergunta: - Quantos séculos tem a História russa?

Resposta: - Tantos quantos os das agressões aos povos circundantes.

Pergunta: - Durante quanto tempo viveram os russos em democracia?

Resposta: - Durante o efémero «banho de vodka» de Boris Yeltsin.

Conclusão: pobre povo russo.

Eis por que não acuso os executantes e apenas culpo o algoz Putin.

Pergunta: - E agora?

Resposta: - Três hipóteses: 1. Esmagamento militar russo da Ucrânia e início duma interminável guerra de guerrilha; 2. Golpe palaciano no Kremlin e substituição de Putin; 3. Terceira guerra mundial.

A ver… julgo que «a processão ainda vai no adro».

E Taiwan?

Henrique Salles da Fonseca

UCRÂNIA - 2

Artigo de Henry Kissinger publicado no «Washington Post» em 5 de Março de 2014.

https://www.washingtonpost.com/opinions/henry-kissinger-to-settle-the-ukraine-crisis-start-at-the-end/2014/03/05/46dad868-a496-11e3-8466-d34c451760b9_story.html

 

«A discussão pública sobre a Ucrânia tem tudo a ver com confronto. Mas sabemos para onde vamos? Na minha vida, vi quatro guerras começarem com grande entusiasmo e apoio público, todas as quais não soubemos como terminar e de três das quais nos retiramos unilateralmente. O teste da política é como ela termina, não como começa. Com demasiada frequência, a questão ucraniana é apresentada como um confronto: se a Ucrânia se junta ao Oriente ou ao Ocidente. Mas para que a Ucrânia sobreviva e prospere, não deve ser o posto avançado de nenhum dos lados contra o outro – deve funcionar como uma ponte entre eles. A Rússia deve aceitar que tentar forçar a Ucrânia a um status de satélite e, assim, mover as fronteiras da Rússia novamente, condenaria Moscou a repetir a sua história de ciclos autorrealizáveis de pressões recíprocas com a Europa e os Estados Unidos. O Ocidente deve entender que, para a Rússia, a Ucrânia nunca pode ser apenas um país estrangeiro. A história russa começou no que foi chamado de Kievan-Rus. A religião russa espalhou-se a partir daí. A Ucrânia faz parte da Rússia há séculos e as suas histórias estavam entrelaçadas antes disso. Algumas das batalhas mais importantes pela liberdade russa, começando com a Batalha de Poltava em 1709, foram travadas em solo ucraniano. A Frota do Mar Negro – o meio de projeção de poder da Rússia no Mediterrâneo – é baseado em arrendamento de longo prazo em Sebastopol, na Crimeia. Até mesmo dissidentes famosos como Aleksandr Solzhenitsyn e Joseph Brodsky insistiam que a Ucrânia era parte integrante da história russa e, de fato, da Rússia. A União Europeia deve reconhecer que a sua lentidão burocrática e a subordinação do elemento estratégico à política interna na negociação da relação da Ucrânia com a Europa contribuíram para transformar uma negociação em crise. A política externa é a arte de estabelecer prioridades. Os ucranianos são o elemento decisivo. Eles vivem num país com uma história complexa e uma composição poliglota. A parte ocidental foi incorporada à União Soviética em 1939, quando Stalin e Hitler dividiram os despojos. A Crimeia, cuja população é 60%russa, tornou-se parte da Ucrânia apenas em 1954 quando Nikita Khrushchev, ucraniano de nascimento, a concedeu como parte da celebração do 300º ano de um acordo russo com os cossacos. O Ocidente é, em grande parte católico; o Oriente, em grande parte, é ortodoxo russo. O Ocidente fala ucraniano; o Oriente fala principalmente russo. Qualquer tentativa de uma ala da Ucrânia de dominar a outra – como tem sido o padrão – levaria eventualmente a uma guerra civil ou separação. Tratar a Ucrânia como parte de um confronto Leste-Oeste arruinaria por décadas qualquer perspectiva de trazer a Rússia e o Ocidente – especialmente a Rússia e a Europa – para um sistema internacional cooperativo. A Ucrânia é independente há apenas 23 anos; anteriormente estava sob algum tipo de domínio estrangeiro desde o século 14. Não surpreendentemente, os seus líderes não aprenderam a arte do compromisso, muito menos a perspetiva histórica. A política da Ucrânia pós-independência demonstra claramente que a raiz do problema está nos esforços dos políticos ucranianos para impor a sua vontade a partes recalcitrantes do país, primeiro por uma facção, depois pela outra. Essa é a essência do conflito entre Viktor Yanukovych e sua principal rival política, Yulia Tymoshenko. Eles representam as duas alas da Ucrânia e não estão dispostos a dividir o poder. Uma política sábia dos EUA em relação à Ucrânia, buscaria uma maneira de as duas partes do país cooperarem entre si. Devemos buscar a reconciliação, não a dominação de uma facção. A Rússia e o Ocidente, e muito menos as várias fações na Ucrânia, não agiram de acordo com esse princípio. Cada um piorou a situação. A Rússia não conseguiria impor uma solução militar sem se isolar em um momento em que muitas das suas fronteiras já são precárias. Para o Ocidente, a demonização de Vladimir Putin não é uma política; é um álibi para a ausência de um (…???...). Putin deve perceber que, quaisquer que sejam as suas queixas, uma política de imposições militares produziria outra Guerra Fria. Por sua parte, os Estados Unidos precisam evitar tratar a Rússia como uma aberração a ser pacientemente ensinada sobre as regras de conduta estabelecidas por Washington. Putin é um estratega sério – nas premissas da história russa. Compreender os valores e a psicologia dos EUA não são os seus pontos fortes. A compreensão da história e da psicologia russas também não foi um ponto forte dos formuladores de políticas dos EUA. Líderes de todos os lados devem voltar a examinar os resultados, não competir em postura. Aqui está a minha noção de um resultado compatível com os valores e interesses de segurança de todos os lados: A Ucrânia deve ter o direito de escolher livremente as suas associações econômicas e políticas, inclusivé com a Europa. A Ucrânia não deveria aderir à OTAN, posição que assumi há sete anos, quando surgiu pela última vez.

 

A Ucrânia deve ser livre para criar qualquer governo compatível com a vontade expressa pelo seu povo. Os sábios líderes ucranianos optariam então por uma política de reconciliação entre as várias partes do seu país. Internacionalmente, devem seguir uma postura comparável à da Finlândia. Essa nação não deixa dúvidas sobre a sua feroz independência e coopera com o Ocidente na maioria dos campos, mas evita cuidadosamente a hostilidade institucional em relação à Rússia. É incompatível com as  regras da ordem mundial existente de a Rússia anexar a Crimeia. Mas deve ser possível colocar o relacionamento da Crimeia com a Ucrânia numa base menos tensa. Para esse fim, a Rússia reconheceria a soberania da Ucrânia sobre a Crimeia. A Ucrânia deve reforçar a autonomia da Crimeia nas eleições realizadas na presença de observadores internacionais. O processo incluiria a remoção de quaisquer ambiguidades sobre o status da Frota do Mar Negro em Sebastopol. Estes são princípios, não prescrições. As pessoas familiarizadas com a região saberão que nem todos serão palatáveis para todas as partes. O teste não é a satisfação absoluta, mas a insatisfação equilibrada. Se alguma solução baseada nesses ou em elementos comparáveis não for alcançada, a tendência para o confronto se acelerará. A hora para isso chegará em breve.»

 

Tradução: Pedro Mascarenhas/Google

p.e.f. Margarida Castro

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