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A bem da Nação

BEM COMUM, UM IDEAL A REALIZAR

 

 

Consiste o bem comum essencialmente em dois elementos:

  • Na existência de estruturas e instituições que em determinada fase histórica sirvam ao uso, à dignidade e à dignificação da comunidade;
  • Na vontade de solidariedade que une todos os membros dessa comunidade de forma a que todos participem, na devida proporção, desse bem objectivo fundamental.

Se um desses elementos básicos falha, falta a razão de toda a dinamização histórica positiva, de todo o sentido de viver num autêntico horizonte de esperança.

 

Como exemplos do primeiro podem apresentar-se, hoje: as infraestruturas adequadas no concernente à habitação, ao emprego, à saúde, aos transportes, à educação, aos lazeres, numa palavra, ao nível de vida e ao estilo de vida.

 

Como exemplos do segundo será lícito contar: a possível harmonia entre as classes e entre os grupos, sem conflitos de morte ou suas ameaças; o aproveitamento das competências e das capacidades onde elas realmente estiverem, desde que se encontrem dispostas a servir o bem de todos, sem discriminações de raça, de sexo, de condição, de ideologia ou de religião; a tolerância que não ignora que, hoje, dada a espantosa proliferação de sistemas de «verdade e de vida», de opiniões e de propostas de futuro, a modéstia parece de regra, sem dogmatismos intempestivos ou basismos facciosos mas também sem demissionismos cobardes ou sincretismos inconcludentes.

 

É evidente que, no relativo a estes dois elementos fundamentais do Bem Comum, a sociedade portuguesa actual se revela ainda pavorosamente carecida. Propor-se encher ou, pelo menos, atenuar as suas numerosas e fundas lacunas, é responder ao grande desafio da geração presente, é dar mostras de querer servir mais do que «servir-se», é romper com um passado mais ou menos recente em que o «Bem Comum» passava, como prioridade das prioridades, pelo próprio campanário.

 

E ainda hoje. Demasiado bem conhece o País os «socialistas» electivos dos próprios interesses, os zelotes de si mesmos, os saduceus da própria Pátria a pretexto de um futuro melhor, de uma ideologia «universalista» e terrenista. Como demasiado bem conhece os democratas provisórios de todas as bandas que apenas o são enquanto não enquanto não conseguem impor a sua própria ditadura.

Como demasiado bem conhece os oportunistas de todas as cores, do negro ao vermelho, que não perdem ocasião para se locupletarem com as desgraças da Pátria.

 

Pressentindo ou sentindo já esse ideal – que é também um imperativo – do Bem Comum verdadeiro é que alguns começam a falar da necessidade de uma relativa «trégua» entre partidos e de um «pacto social» entre as «classes»

 

Semelhante «discurso», embora ainda demasiado tímido e, por isso mesmo, incapaz de se fazer ouvir com eficácia por entre os gritos desencontrados, semelhante «discurso» - dizíamos – vem na hora H. De facto, enquanto uns e outros se olharem com total desconfiança, enquanto uns e outros procurarem atropelar-se ao máximo, enquanto uns e outros fizerem do conflito o motos dos próprios interesses e da luta permanente a regra do comportamento, enquanto persistir a incompreensão radical da legítima função que os diversos, mesmo antagonistas, têm a desempenhar, enquanto a incompetência e a incúria se instalarem em certos postos de decisão e/ou execução, enquanto a negociação, leal e capaz, não for um hábito, - reservando essa violência, que é a greve, apenas para a ultima ratio -, enquanto tudo isto não passar de voto piedoso de alguns, ou mais lúcidos ou mais ingénuos ou maia generosos, o Bem Comum acima descrito nos seus elementos fundamentais andará peregrino desta terra onde ele realmente merecia ficar não apenas como seu hóspede mas como seu habitante de primeira qualidade. Para sua prosperidade e progresso autênticos. Para cortar o passo, definitivamente, à alternância periódica da anarquia e da tirania. Para demonstrar que uma comunidade pode ser feliz sem viver propriamente numa abundância material de lés-a-lés. Para dizer que, neste mundo finito que começa e que sentimos já a balizar-nos por todos os lados, Portugal nada perdeu da sua verdadeira grandeza: apenas a transpôs a outro espaço, a outra dimensão, a outra vida.

 

Lisboa, Abril de 1977

 

 Manuel Antunes, SJ

 

In BROTÉRIA, Abril de 1977 e Fevereiro de 2013, pág. 191 e seg.

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