SABEDORIA POPULAR
Será que António Aleixo, tinha razão quando dizia...
Há tantos burros mandando
em homens de inteligência,
que às vezes fico pensando,
se a burrice não será ciência.
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Será que António Aleixo, tinha razão quando dizia...
Há tantos burros mandando
em homens de inteligência,
que às vezes fico pensando,
se a burrice não será ciência.
Jean de La Fontaine (1621 - 1695)
“A vantagem da ciência” é o título
Que La Fontaine dá a uma sua história
Não dos costumeiros animais,
Mas de seres racionais,
Que são sempre os mais funcionais
Nas coisas fundamentais da existência
Quais sejam as da sobrevivência,
E a complementar subserviência.
Vejamos então esta
“Vantagem da Ciência”
Que prova com muita pertinência
Que o estudo resolve tudo
Embora muita gente creia
Que se trata de inútil panaceia
Para enganar os simples:
“Entre dois Burgueses duma cidade
De muita qualidade,
Um diferendo se desencadeou que potenciou
Sobretudo a ironia
Do mais bem dotado
Em riquezas materiais,
- Embora mais desprovido
De dotes espirituais -
Pois que o mais letrado não podia
Fazer alarde
Da sua sabedoria,
- Já por modéstia, já por cortesia -
E bens materiais não possuía.
Mas o ricaço pretendia
Que todo o homem sábio deveria
Homenagem prestar ao poder
Material.
Bem parvo era, por sinal;
Porque, porquê prestar culto
A bens desprovidos de mérito?
A razão parece-me ínfima.
“Meu amigo, muitas vezes ele dizia
Ao homem culto,
Vós achais-vos pessoa de vulto,
Mas dizei-me, tendes farta mesa
Com franqueza!?
De que serve aos vossos congéneres
Ler sem cessar
Se eles vivem num terceiro andar
E se vestem de igual maneira
Em Julho como em Dezembro,
Tendo apenas por lacaio
A sua sombra foleira.
A República está mesmo interessada
Com pessoas que não gastam nada!
Eu não conheço homem mais necessário
Do que aquele cujo luxo espalha inúmeros bens.
E se nós o usamos, sabe-o Deus!
O nosso prazer ocupa
O artesão, o vendedor, o que fabrica a saia,
E aquela que a usa, e vós, que dedicais
Aos Senhores importantes
das Finanças
Maus livros pagos com benemerência.
Estas palavras cheias de impertinência
Tiveram a sorte que mereciam.
O homem letrado calou-se,
Muito havia que dissesse.
A guerra vingou-o, melhor que qualquer sátira
Que fizesse.
Marte destruiu o lugar onde cada um vivera.
Ambos deixaram a cidade, que desaparecera.
O ignorante ficou sem asilo,
Em toda a parte foi injuriado.
O outro, em todo o lado,
Recebeu algum favor
Por conta do seu saber.
Isso decidiu a questão.
Deixai falar os parvos:
O saber colhe sempre galardão.”
Ora esta questão
Que assim valoriza a razão,
Não sei se por cá colheria
Tanta empatia.
É que o nosso existencialismo
Faz que a tradição
Do culto da Razão
Seja soterrada pelo materialismo,
Como afinal já era
No século do racionalismo,
Apesar do La Fontaine,
E de outros defensores
Do saber ser
Contra o saber fazer.
Porque hoje, o que mais se vê
É que o dinheiro é o verdadeiro
Esteio da razão
E o estudo é treta,
Para pateta.
Pois por cá até
- Pura aberração! -
A língua mãe foi adulterada
Sem nenhum pudor,
Por conta do poder.
Além de outras anomalias
Que se poderão citar,
Que o dinheiro faz criar,
Em libertina escalada,
Sem ninguém se importar.
Apesar dos velhos quezilentos
Conservadores atentos.
Berta Brás
Durante mais de um século, desde que Alfred Binet criou o coeficiente de inteligência (QI) que o mundo rotula os indivíduos em inteligentes acima da média, medianos, e abaixo da média. A partir daí os testes de inteligência passaram a ser usados como
indicadores da capacidade individual e aplicados como instrumentos de decisão e selecção humana. A sociedade passou a dividir então os homens em inteligentes (os intelectualmente mais capazes) e os inferiores (aqueles intelectualmente incompetentes). Nessa rotulação o factor emocional não era levado em conta, até que o Prof. Luiz Machado, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), após um estudo de mais de 20 anos, trouxe a constatação que ansiedade, a auto-estima e até a timidez são aspectos fundamentais para o desenvolvimento da inteligência. Segundo o professor, o homem não é, ele está no contexto do mundo. Isso falava a favor do QE (coeficiente emocional), onde a capacidade resolutiva estava intrinsecamente correlacionada com a resposta ao estímulo emocional actuante no indivíduo. Teoria esta que ganhou destaque na mídia, após os Best-Sellers dos psicólogos Daniel Goleman (U. Harvard) e Antonio Damásio (U Yowa).
O racismo cultural verificado entre os países deve ser combatido, pois ele é discriminatório e ilusório, pois joga com a ideia preconcebida, incutida pelos que se acham mais desenvolvidos, aqueles que ditam as regras e conceitos, que os outros, achatados nos seus valores, emocionalmente reprimidos, são inferiores, e, portanto menos capazes, menos qualificados a serem «ouvidos».
Todos nós nascemos com capacidades cerebrais inatas de ordem genética que estão à espera dos estímulos certos para se desenvolver, para despertar o génio que cada um traz consigo.
Quantas pessoas brilhantes, reconhecidamente inteligentes, não chegam a bom termo nas suas escolhas.
Quantos indivíduos considerados de inteligência mediana ou mesmo abaixo da média conseguem atingir sucesso em seus projectos e sonhos. Nos conceitos modernos, a inteligência seria mais que a capacidade de apreensão rápida de conhecimentos, ou de visualização e resolução de problemas, seria a capacidade de bem administrar e resolver os embates da vida.
Como tantos outros na história da humanidade, Albert Einstein, considerado incapaz intelectualmente pela escola, apontou o problema:
Devemos tomar cuidado para não fazer do intelecto o nosso deus. Ele tem, é claro, músculos poderosos, mas não tem personalidade.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 25/05/11
Nota:
Dados: Revista Diálogo Médico (Ano 11- n.º 4)
Como vai estar ausente
Num seu empreendimento,
Deixo-lhe a marca presente
Do meu apoio constante,
Uma fábula traduzindo De La Fontaine,
Em agradecimento
Do que de si vou colhendo
Alegremente:
“O gato e os dois pardais”
Um Gato, de um jovem Pardal contemporâneo,
Perto dele desde o berço foi crescendo:
Gaiola e cesto tinham iguais penates,
Às vezes o Gato sendo
Importunado pelo Pássaro buliçoso,
O que o punha furioso.
Um com o bico esgrimia,
Outro com as patas arranhava,
Este último, todavia,
O seu amigo poupava,
Apenas pela metade o corrigindo:
Teria sentido um escrúpulo maior,
Em armar de pontas a sua férula, com rigor,
O Passaroco, menos circunspecto,
Dava-lhe boas bicadas.
Sábio e discreto Mestre Gato desculpava estas jogadas:
Entre amigos, não nos devemos nunca abandonar
Aos rasgos de uma cólera séria, sem, pelo menos, avisar.
Como eles se conheciam ambos desde tenra idade,
Um longo hábito os mantinha em paz e amizade:
Nunca em verdadeiro combate o jogo se transformava.
Mas um Pardal da vizinhança
Veio visitá-los e fez-se companheiro
Do petulante Pierrot e do sábio ratoneiro;
Entre os dois pássaros surgiu uma questão
E o Ratoneiro tomou, é claro, o partido do seu amigão:
“Este desconhecido está a caçoar
Ao vir assim o meu amigo insultar!
O Pardal do vizinho vir comer o meu parceiro!
Não, por todos os gatos!”
Então, no combate entrando,
Ele trinca o estrangeiro.
“Na verdade, diz mestre Gato,
Os pardais têm um gosto fino e delicado!”
Feita a reflexão,
Vá de trincar também o seu amigão.
Que moral poderei eu inferir deste facto?
Sem ela, toda a fábula é uma obra imperfeita.
Julgo aqui ver alguns traços; mas a sua aparência é estreita.
Príncipe, vós tê-los-eis imediatamente encontrado:
São jogos para vós, e não para a minha Musa;
Nem ela nem as suas irmãs têm o espírito que vós tendes
E a experiência profusa.
A La Fontaine faltou a coragem
De explicar a «Monseigneur le Dauphin»
O Príncipe referenciado,
A moral desta sua fábula.
A imagem
Que me acode
Para a actualidade, pelo menos,
É a dos apoiantes
Caídos em desgraça
Em caso de ingratidão
Dos príncipes da Nação
Depois destes saborearem
Os eflúvios do poder:
Papam aqui, papam ali,
Ganham-lhe o gosto
Digo, de papar,
E logo vão esquecer
Quem os fez nascer
Para o poder.
É um exemplo, mas outros mais
Casos de pardais
Poderia contar,
Se a minha Musa
Fosse mais profusa
E me pudesse ajudar
Dando-me a conhecer
As várias intrigas
Do mundo das brigas
De que enferma a Nação
Sem justificação.
Mas tudo o que eu soubesse,
Se o dissesse,
Poderia ser tomado
Como demasiado
Atrevido
E talvez um processo
Me fosse movido,
Pardais que somos
Para o Poderoso
Orgulhoso
E esquecido.
O que é um facto
Várias vezes observado
É que, colhidos os sabores,
Apreciados os valores,
Com nova ciência,
Perdida a inocência,
Circunstâncias maiores
São por vezes causa
Das reviravoltas
Nos comportamentos
Dos superiores.
E o que se passa entre os superiores de uma Nação
Para com os inferiores
Pode igualmente ver-se
Entre nações de diferente dimensão
Aparentemente amigas, mas com a intenção
De estabelecer puros ajustes
Para as grandes poderem engolir
Paulatinamente
As pequenitas,
Pardocas indecisas
Sem noções precisas
Do que seja ser.
Berta Brás
O amor da liberdade
Não é compatível com a democracia
Que informa que a liberdade acaba para um
Onde começa a liberdade do outro um.
Embora não seja tão verdade assim,
Parece-me a mim,
Com tanta falta de respeito
Como preceito.
No tempo de La Fontaine
Em que a democracia não existia,
Segundo parecia,
A sua fábula d' As duas Cabras
Prova-o sobremaneira.
Mas, se pensarmos bem,
Hoje em dia também,
Quer se queira ou não se queira,
A democracia é só uma balela
De gente tagarela.
Vejamos, pois, a fábula
"As duas Cabras" da minha cábula:
Mal as Cabras acabaram de pascer
Certo espírito de liberdade o seu Destino
As faz procurar: partem em viagem
Para os lugares da pastagem
Menos frequentados pelo ser humano
Nem sempre humano:
Ali, onde lugar houver
Sem estrada e sem caminhos,
Mas sim um rochedo, um monte
Vergado em precipícios,
É onde estas damas
Vão passear seus caprichos
Em busca de benefícios.
Nada pode deter
Este animal trepador.
Duas Cabras, pois, se emanciparam,
Ambas tendo pata branca;
Cada uma por sua banda
Os baixos prados largaram:
Uma contra a outra caminhava
Ao acaso do passeio.
Um rio ali de permeio
Tinha uma prancha por ponte.
Duas doninhas somente
Se poderiam cruzar
Sinuosamente
E de fronte, sobre esta ponte.
A rápida onda e o fundo rio
Deveriam fazer tremer
As amazonas de receio
Pelo seu desvario.
Apesar de tantos perigos, uma das ditas donzelas,
Com ar sagaz
E sem mais aquelas,
Pousa um pé sobre a prancha, e a outra o mesmo faz
Da outra banda.
Imagino ver, contra Luís o Grande Filipe Quarto avançar
Para a ilha da Conferência.
Paciência!
Assim passo a passo avançavam
Nariz contra nariz As nossas aventureiras
Que, ambas altaneiras,
Até ao meio da ponte não quiseram
Uma à outra ceder.
Elas tinham a glória
De contar, na sua raça, segundo reza a história,
Uma, certa Cabra de mérito sem par,
Com que Polifemo presenteou Galateia;
E a outra a Cabra Amalteia
Que a Júpiter amamentou.
Como nenhuma recuou
A queda foi inevitável:
Ambas à água caíram
E nem sequer baliram
A chamar pelas mães
Sem tempo para tais ais,
Ou mé més, como se queira dizer,
O que foi bem detestável.
http://environnement.ecoles.free.fr/fables_de_la_fontaine/images/Les%20deux%20chevres.jpg
Este acidente não é invulgar
No caminho da Fortuna,
Da Sorte, Dita ou Destino,
Fado, Sina, Desatino,
Como lhe queira chamar
O Humano pequenino Pequenino.
Eis aqui mais uma fábula
De todos bem conhecida
De duas cabras amigas
Da liberdade
Mas não ainda
Da igualdade e da fraternidade.
Eu julgo mesmo que estas duas
Condições
Não chegarão a existir
Enquanto cada homem só a si se ouvir
Sem objecções.
Nem preciso de citar
Os exemplos que por aí
Polulam de egoísmos e falcatruas,
Para não me enervar.
A verdade é que andamos
Todos por aqui
Numa estreita ponte onde só cabe
Um de cada vez.
Mas como todos procuramos
A outra margem
Do rio que atravessamos
Todos de uma só vez,
Em vez de esperarmos,
Educadamente,
Quando nos cruzamos
Na estreita ponte,
Logo nos empurramos
E caímos
Para nos afogarmos
Indecentemente.
E vamos cair
E vamos cair
Embora haja sempre
Os que podem fugir,
Que podem fugir.
Mas também
Como apoio à lição,
Sobre o amor à liberdade
Para não referir só La Fontaine
Cito ainda a Blanquette,
A cabra do Senhor Séguin
Do conto de Daudet,
Das "Lettres de mon Moulin"
Tão amada pelo dono
Que tudo fez para que não fugisse.
Mas fugiu.
E procurou a montanha
E os seus ínvios caminhos
Por muito que lhe custasse.
A última vez
Contra o lobo lutou
Até ao amanhecer
Sem o dono lhe valer
E assim morreu
E assim morreu.
Berta Brás
http://www.intersonic.com.br/sonicbiologia/doninha.png
La Fontaine tem fábulas em qualquer área
E para quaisquer ocasiões.
Não tenho dúvidas quanto a esta verdade,
Nem indecisões
A respeito da universalidade
Da sua produção extraordinária.
A doninha que entra magra num celeiro,
Por um buraquinho,
E não consegue sair Nem fugir
Porque o buraco ficou apertadinho
Para quem, como ela, comeu que se fartou
E muito inchou,
Tem uma consagração
Tão geral
- Direi mesmo global -
Que nem precisa de explicação,
Tal a frequência da sua aplicação
Antiga e actual.
Mas ainda mais hoje em dia
Com tanta doninha
Entrada magrinha
No buraco estreito da casinha
- Ou sequer Nação –
Em enorme proliferação
Que em breve o celeiro
Perde o alimento inteiro
Nada sobrando
Para a maioria
Cuja soberania
Só ficou na canção
Da vila alentejana consagrada,
Mas apenas como poesia
Falhada.
Aliás, ninguém mesmo pensa em passar
O buraco estreito do celeiro
Preferindo ficar por inteiro
Até findar
A refeição,
Sem pensar
Em emagrecer
Ou o peso perder.
Vejamos então
A tradução
Sem mais questão,
Que o La Fontaine
Também dá a explicação:
“A doninha que entrou no celeiro”
Donzela Doninha,
Corpo longo e sinuoso
Entrou num celeiro
Por um buraco manhoso.
Saíra de doença recente
Mas, sempre tesa,
Comeu à tripa forra no celeiro,
Cheia a mesa,
Comeu, roeu, sabe Deus com que fervor,
E o toucinho desapareceu,
Sem nenhum pudor.
Ei-la, em conclusão,
Gorda, opada, como o Sebastião
Comilão.
Ao fim de uma semana
Tendo comido a seu prazer,
Ouve um ruído sacana,
Quer abalar,
Pelo buraco não consegue passar,
Julga que se enganou
Depois que tanto o procurou.
Diz ela então:
- É este o buraco, sem objecção,
Há cinco ou seis dias por ele passei
Bem sei.
Um rato que a viu em aflição
Comentou desta feita:
- É que, então,
A sua pança estava mais estreita:
Entrou magra, magra deve sair
Não há que discutir.
O que lhe estou a dizer
Digo-o a muitos mais,
A outros que tais,
Mas não confundamos, para não aprofundar,
Nem me prejudicar,
Os negócios deles,
De ambição sem solidariedade,
Com os seus, doninha,
De mera voracidade.
Berta Brás
Se La Fontaine estivesse
Nos dias de hoje, veria
Que o que já se fazia
Antigamente,
- Desrespeitar a natureza
Com ingratidão e fereza
- Se acentuou
Extraordinariamente
No tempo presente.
Felizmente agora
Há a ecologia
A advertir,
Conquanto inutilmente,
Que é preciso ser grato à Terra
E não lhe fazer guerra;
Ter-lhe respeito
Com jeito;
Porque senão
A Terra vinga-se e é o que se vê,
Nos sismos a eito,
Nos vendavais e tornados,
Nas tempestades e enxurradas,
No aquecimento global, nas inundações,
Nos vulcões em explosões,
No pânico geral e na dor inenarrável
De se destruírem os lares
Os amigos e os familiares
Só porque a natureza se vingou
De maneira insuportável
Sobre o Homem que a envileceu
Sujando, ferindo, agredindo,
Emporcalhando,
Destruindo.
Gratidão e respeito pela mãe-natura
São os princípios de envergadura
Que La Fontaine apontou
Na fábula do Lenhador devastador
Da sua Floresta.
Sentimentos verdadeiros hoje ainda,
Mas cada vez mais calcados
Espezinhados,
Pelo Homem irresponsável,
Num abuso irracional,
Sobre a Floresta Universal.
De um perigo
A merecer o castigo,
Apesar dos avisos já antigos
Duma Ecologia ainda em formação
Segundo um fabulista admirável
De percepção.
A Floresta e o Lenhador
Um Lenhador acabava de partir o cabo
Com que tinha encabado o seu machado.
O estrago não pôde ser tão cedo reparado
E o Bosque por um tempo foi poupado.
Enfim o Homem rogou-lhe humildemente
Que o deixasse suavemente
Levar um simples ramo
A fim de polir um novo cabo:
“Ele o seu ganha-pão empregaria noutro lado:
Muito carvalho e muito pinheiro deixaria intacto
Cuja velhice e encanto toda a gente respeitava.
”Mas outras armas a inocente Floresta lhe forneceu.
Bem se arrependeu.
Ele encabou o seu machado:
O miserável disso se foi servir
Para a sua benfeitora despojar
Do seu principal ornamento,
Os ramos do seu tormento.
Ela gemeu a cada momento:
A sua dádiva causou a sua dor.
Eis o trem do mundo e dos seus sectários.
Servem-se do benefício contra o benfeitor,
Estou cansado de assim o expor.
Mas que doces sombras a tais ultrajes
Estejam expostas,
Quem não se lamentaria!
Ai de mim!
Por muito que me esforce a gritar,
Para avisar,
A ingratidão e os abusos
Em moda não deixarão de estar
Dia após dia.
Quem diria
Que La Fontaine previa
O que hoje nos está a acontecer
Em escala ainda maior
Do que a que ele apontou
Quando nos avisou,
Autêntico professor?
Quanto à questão
Do oportunismo na utilização
Do benefício
E na ingratidão
Contra o benfeitor
É coisa sabida,
Nem vou contestar
Nem sequer lamentar
Que é coisa perdida.
Berta Brás
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