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A bem da Nação

CITANDO . . . (2)

"PORTUGUESES DE OIRO" - Ten. Cor. A. Faria de Morais

 

«(…) Conforme o dissera um dia o Rei de Cochim, a Índia e o seu Império Português no Oriente, perder-se-íam logo que deixassem de ir de Portugal as três coisas com que os ganhara – verdade, espadas largas e portugueses de oiro.

Meditemos na sabedoria . . .

. . . do Rei de Cochim

Sob tal invocação deu o Tenente-Coronel Faria de Morais corpo e unidade às suas cinco conferências reunidas agora em volume.

A primeira – “Os planos que El-Rei quis ordenar” – lida em 1944 na Sociedade de Geografia, evocando as vicissitudes e a decadência do nosso efémero Império do Oriente, fez a crítica histórica dos audaciosos planos que referveram na mente dos seus dois grandes iniciadores, D. Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque, planos desmesurados, grandiosos de mais para a pequenez do acanhado e temerário reino mas de que outros, mais solertes, vieram aproveitar-se.

Na segunda, “Os primeiros europeus nas ilhas Molucas” aproveita um curioso estudo analítico sobre a prioridade dos portugueses na descoberta e exploração desse remoto arquipélago do Extremo Oriente para pôr o problema dos métodos de colonização dos portugueses em confronto com os métodos e critérios de outras potências coloniais.

A terceira, “Portugal Maior”, é num rápido escorço a análise do problema colonial português e da sua importância para o futuro da Nação, na hora que passa e no plano da futura vida internacional.

A quarta, proferida na sede da Revista Militar, evoca, a propósito de “Três Cartas de Mouzinho…” e dessa extraordinária figura de soldado, o problema da ética militar e de formação de espírito dos que abraçam a profissão das armas.

Finalmente a última, “Soldados de Além-Mar”, aborda o espinhoso e complexo problema do soldado expedicionário de todos os tempos e faz uma sugestiva e colorida evocação de que era a vida, hábitos, vícios, glórias e misérias dos soldados da Índia ao tempo dos Vice-Reis e das conquistas do Oriente. (…)» In “Revista da Cavalaria” de 1945, págs. 188 e seg.

 

Passados mais de 60 anos sobre as referidas conferências, é curioso verificarmos como se mantêm actuais as questões então evocadas em cada conferência, pese embora a imperiosa mudança na terminologia:

 

v      A pequenez, o acanhamento e o temor de muitos que não conseguem alcançar a dimensão dos planos de expansão que apelidam de loucos, quando o problema está tantas vezes na incultura ou, mais triste, na pura inveja;

v      A estratégia de internacionalização por nós seguida em comparação com as dos nossos parceiros;

v      A alternativa entre europeísmo e atlantismo;

v      A eterna questão da ética militar;

v      As condicionantes ao exercício de uma missão de Estado em terra alheia.

 

Parece-me também que nunca tanto como hoje devemos meditar nas palavras do Rei de Cochim pois nunca conseguiremos expandir os nossos negócios se não nos apresentarmos com “verdade” (a oferta de qualidade em vez das vulgares mexerufadas resultantes da competição pelos preços), com “espadas largas” (o apoio institucional em vez das voluntariosas iniciativas desgarradas sem pára-quedas nem rede), com “portugueses de oiro” (os verdadeiramente capazes e não mais os xicos espertos, simples pacóvios).

 

Lamentavelmente, eu não conhecia este Tenente-coronel A. Faria de Morais mas numa busca rápida que fiz na Internet apercebi-me de que tem importantes trabalhos no âmbito da História de Timor e, mais concretamente, do enclave de Ocussi Ambeno. A não perder de vista.

 

Lisboa, Maio de 2006

 

Henrique Salles da Fonseca

CITANDO . . . (1)

 

                                                        

      Maputo mantém com honra a estátua de Mouzinho

«Na Cavalaria, podemos dizer, procura-se manter – é tradição – o mais puro sentimento humano e por ele, o mais decantado espírito militar.

Utiliza, suscita, desenvolve e apura os nobres sentimentos do homem na sua versão integral do complexo físico, moral, mental e anímico que é o «Homo Sapiens».

Não há vigor ou sector da capacidade humana que a Cavalaria não use (e por vezes abuse – o esqueleto e o instinto de conservação que o digam).

Vigor e resistência física, elasticidade de músculos e articulações, prontidão de reflexos, frescura de humores, sangue vivo e forte a correr nas veias, mesmo quando o momento é de impedir que o sangue corra.

Moral atenta, pronta, potente para dominar primeiro o próprio indivíduo que se opõe e, quantas vezes, se revolta no seu íntimo, contra a rudeza ou perigo da tarefa deste combate que tem de ser tão rápido quanto enérgico, há que enfrentar a vontade fortemente servida do bucéfalo ou a dificuldade e complexidade da máquina que nos serve e, por fim a missão sempre diferente, sempre nova, em ambiente quase sempre desconhecido que obriga a tentar em tudo quanto nos rodeia e ser tão prudente em julgar cada caso como audacioso quando o momento é de aproveitar uma oportunidade que não se deve perder, embora o risco não seja de desprezar.

Mente flexível, esclarecida, apta e capaz a julgar de pronto, sem se impressionar com os somenos de todos os problemas.

Viver é agir, agir é decidir, decidir é também arriscar, é o seu lema.

Não há problema humano, técnico ou castrense a que ele não esteja atento mas também não há problema esquecido ou demorado.

Espírito, alma iluminada e enriquecida sempre no mais puro ideal.

O bem e o belo é a sua legenda embora não anunciada em gritos de voz ou de tinta, embora não anunciada nos códigos correntes, mas existente e vincada nas ideias, nos gestos, nos actos dos cavaleiros. A irradiante camaradagem; o espírito de sacrifício fácil; a ideia de grupo a apelar sempre; a atitude firme na presença física, na exposição das ideias, no critério de vida; o interesse pelos problemas dos outros, sobretudo dos seus servidores; a alegria na missão difícil; a prontidão na execução dos encargos; a confiança conquistada em todos os Chefes, sobretudo em momentos de crise; a conquista dos jovens e dos pequenos, são tudo sinais certos do seu valor.»

 

*  *  *

 

Poesia em prosa escrita pelo Coronel António Miranda Dias, publicada na “Revista da Cavalaria” de 1965 a págs. 198 e seg. sob o título “O espírito cavaleiro e os tempos actuais”.

 

Falecido há poucos meses, recordo com amizade o fino trato com homens e cavalos, a rectidão das atitudes, a paixão pelo ideal inspirado em Mouzinho de Albuquerque.

 

Desconheço que pragmatismo tenha tido em campanha pois nunca servi com ele – nem no meu percurso militar sequer nos cruzámos – mas guardo dele mais a imagem do doutrinador do que da do fuzilador.

 

Era indubitavelmente um homem bom.

 

Lisboa, Maio de 2006

 

Henrique Salles da Fonseca

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