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A bem da Nação

PRIMEIROS REPUBLICANOS DE ALCOBAÇA

 

 

Nos finais do séc. XIX e nos primórdios do século XX surgiu, na então Vila de Alcobaça e nas suas freguesias concelhias, um núcleo fortemente imbuído de ideais republicanos que pretendia implantá-los no País, sobretudo após a intentona de 31 de Janeiro no Porto.

Em vésperas do I Centenário da Proclamação da República em Portugal, aos 05.10.1910, sou levado a supor que nenhum português poderá ficar indiferente a essa efeméride que, com seus altos e baixos, perdurou 100 anos.

 

Implantado o regime político, os fautores da República deram à Nação uma Constituição que tem sofrido sucessivas e periódicas beliscaduras ao sabor dos políticos, com outras ainda previstas para os próximos meses.

 

Em Alcobaça, o 5 DE OUTUBRO DE 1910 foi calorosamente saudado pelo povo sob a batuta das cabeças pensantes da sociedade civil cisterciense. Como a História nunca desmente os factos, mas só os aprecia na sua balança, tanto a fundação do Partido Republicano (1873) como a malograda intentona do Porto (1891), haviam contribuído para a formação do núcleo republicano em Alcobaça acima mencionado.

 

Urge, portanto, não deixar de apontar aqui os nomes dos proto-republicanos com seus dados biográficos sumariados, sem qualquer intuito de ferir as susceptibilidades seja de quem for.

 

Com essas premissas, vão em seguida apontadas essas individualidades. Ei-las numa arrumação da sua senioridade:

          

 - JOSÉ EDUARDO RAPOSO DE MAGALHÃES (1844/1942). Era natural da Vila de Alcobaça, frequentara as Faculdades de Filosofia e Matemática em Coimbra, mas fora diplomar-se em Lisboa como Engenheiro Militar. Em Alcobaça dedicara-se à agricultura com certo sucesso e paixão. Os fautores da República nomearam-no o 1º Governador Civil do Distrito de Leiria;

          

- JOÃO CUPERTINO RIBEIRO (1846). Oriundo de Pataias e formado pela Escola Médica de Lisboa, evidenciara-se como um distinto perito nos domínios de neurologia e psiquiatria. Fora um ferrenho político republicano que participara na 1ª Vereação Republicana de Lisboa;

           

- AMÉRICO LOPES DE OLIVEIRA (1878/1954). Foi um apreciado jornalista, pintor e político republicano. Era natural de Alcobaça e formado pela Escola Comercial de Lisboa e pela Escola Nacional das Belas Artes (Pintura). Fora um dos fautores da 1ª República e Co-Fundador dum semanário – O REPUBLICANO, de Alcobaça - juntamente com Raul Proença, além de dois outros jornais políticos em Lisboa. O citado jornal O REPUBLICANO fora um grande paladino dos ideais da República em terras de Alcobaça;

             

- J. CUPERTINO RIBEIRO (s.d.). Conseguira fazer-se eleito Deputado à Constituinte pelo Círculo de Alcobaça (Junho/1911) e, mais tarde, passara a ocupar um assento no Senado da República (1914). Consta que era natural de Pataias;

              

- JOÃO EMÍLIO RAPOSO DE MAGALHÃES (1884/1961). Nascido em Alcobaça, formara-se em Filosofia (1907) e Medicina (1910), sendo depois designado Professor Catedrático em Coimbra onde regeu a cadeira de Patologia Cirúrgica até 1917. Foi um homem notável que exerceu vários e importantes cargos como os de Administrador da SACOR, da Seguradora FIDELIDADE e do Banco de Portugal. Diz-se que ele fora um autêntico democrata e um convicto republicano.

  

Não me ocorrem à mente outros proto-republicanos cistercienses, pelo que dou por terminado este breve apontamento histórico, já que outros assuntos em mãos exigem minha atenção imediata dada a precariedade de vida nessa fase de adiantado nonagenário.

 

Alcobaça, 04.10. 2010                                               

 

 

DOMINGOS JOSÉ SOARES REBELO            

SOU REPUBLICANO PORQUE...

 *

 

... Cristo disse que somos todos iguais perante o Seu Pai...

 

... não havendo, assim, os predestinados ao mando e os nascidos para servir...

 

... nem que haja uns que absorvam as prebendas deixando aos outros as ruas para dormir

 

SOU REPUBLICANO PARA QUE...

 

... todos usufruam da dignidade com que naturalmente foram ungidos

 

... todos tenham de seu e não tenham que estender a mão tanto a público como a privados

 

... todos possam estar presentes e que outros não andem fugidos

 

... todos possam crescer intelectualmente até aos níveis superiores da Civilização

 

... todos possam diariamente ganhar o seu pão

 

... todos possam, no cabal respeito pelo próximo, ver os seus sonhos realizados

 

FICAREI REPUBLICANAMENTE SATISFEITO QUANDO...

 

...os meus ideais estiverem cumpridos

 

Lisboa, 5 de Outubro de 2010

 

 Henrique Salles da Fonseca

 

 

*

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AFINAL, ATÉ ELE ERA REPUBLICANO!

 

 

Sob forte pressão monárquica, reuniu em Coimbra no dia 22 de Novembro de 1951 um Congresso da União Nacional nele marcando Salazar uma presença tutelar, reservando a Marcello Caetano a defesa da causa republicana.

 

Ficou conhecido como o «Discurso de Coimbra» e colhe hoje transcrever o resumo que dele faz José Freire Antunes a págs. 65 e seg. do seu livro “SALAZAR-CAETANO Cartas secretas 1932-1968” :

 

(...) A forma republicana do Estado Novo, com a eleição do Chefe de Estado por sufrágio universal, era tida por alguns como uma fraqueza das instituições. Meditara muito nisso, a partir do monarquismo da sua juventude e da tradição nacional, mas afastava-se agora da solução monárquica com base na «razão» e num «certo instinto político». E passou a explicar-se com exemplos. A Inglaterra tinha a realeza mas, na verdade, era uma república onde quem governava era o Primeiro-Ministro, a partir de uma maioria na Câmara dos Comuns, e não o rei. Na Espanha, como se viu, não era Afonso XIII que sustentava Primo de Rivera, mas Primo de Rivera que sustentava Afonso XIII. Na Itália, como se percebeu, não era Vítor Manuel que aguentava Mussolini, era Mussolini que aguentava Vítor Manuel. E em Portugal, depois de 80 anos de «república coroada» (o constitucionalismo), a tradição monárquica tinha sido de tal maneira quebrada que só era «sentida e compreendida por uma minoria».

(...) Salazar não leu previamente o discurso (...) mas (...) sentiu necessidade de protegê-lo com uma carta afectuosa: tinha gostado muito. (...)

 

Lisboa, 5 de Outubro de 2010

 

Henrique Salles da Fonseca

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