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A bem da Nação

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

velhotes.jpg

Contei os meus anos

E descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente

Do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me aquele menino que recebeu uma taça de cerejas.

As primeiras, chupou displicente,

Mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,

Cobiçando os seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis,

Para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias

Que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas

Que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafectos que brigam pelo

Majestoso cargo de Secretário Geral do coral.

As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.

O meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,

A minha alma tem pressa...

Sem muitas cerejas na taça, quero viver ao lado de gente humana,

Muito humana; que sabe rir dos seus tropeços,

Não se encanta com triunfos,

Não se considera eleita antes da hora,

Não foge da sua mortalidade.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

Mário de Andrade.jpg

 

 

 

 

 

Mário de Andrade

 

 

DA WIKIPÉDIA:

Mário Raúl Morais de Andrade (São Paulo, 9 de Outubro de 1893 — São Paulo, 25 de Fevereiro de 1945) foi um poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta brasileiro. Foi um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de seu livro Pauliceia Desvairada em 1922.

NO 131º ANIVERSÁRIO DE FERNANDO PESSOA

LIBERDADE

Ai que prazer

Não cumprir um dever,

Ter um livro para ler

E não o fazer!

Ler é maçada,

Estudar é nada.

O sol doira

Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,

Sem edição original.

E a brisa, essa,

De tão naturalmente matinal,

Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.

Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,

Esperar por D. Sebastião,

Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca

Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto

É Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças

Nem consta que tivesse biblioteca...

 

Fernando Pessoa

ESCRITORES QUASE ESQUECIDOS - 8

Poilão.jpg

 

UM VELHO POILÃO

 

O tempo fez-me vergar

E as minhas raízes saltar,

Agarro-me ao que de mim resta

E tento reconhecer a minha geração

Neste carnaval de extrema solidão.

No meu reino, tenho pesadelos:

Tractores de dentes aguçados;

Ávidos lenhadores de machado em punho.

Meus adoradores

Miram o meu tronco carcomido pelo tempo

À espera da queda fatal.

Angustiado sonho como os belos tempos,

Vejo os meus braços verdes,

O meu tronco firme

Ostentando uma cabeça frondosa

De cabelos encarapinhados

Simulando perfis ocos

De rostos apinhados.

Ainda recordo

As sombras que dei,

Histórias de amor, noites de fogueira...

Quantas não assisti?

Fui símbolo de amor proibido

 

Odete Semedo.jpg

Odete Semedo

(Guiné-Bissau)

 

SANGUE BOM

Pluri-racial.jpg

Nunca sofri de raça

Minha pele é muito boa

Tenho sangue mouro de Goa

E sangue louro de Mombaça,

Saiba o Senhor

 

Minha raça é meio-errante

Num dia sou quase zulu

No outro dia, xavante

Mulato, preto-fulo,

Saiba o Senhor

 

Raça danada, eu não creio em raça, não!

 

Raça é superstição de gente mal arraçada,

Saiba o Senhor.

Eu não creio em raça, não, raça danada.

Raça é superstição de gente mal arraçada

Eu não creio em raça, não.

 

Raça danada, eu não creio em raça, não.

 

Eu sou o avesso da raça

Minha alma é muito à toa

Gosto d'amêijoas com jimboa

A toda a mistura acho graça,

Saiba o Senhor.

 

Minha raça é um jardim.

Num dia sou quase azul

No outro, cor de marfim

Sou Bissau e sou Cochim,

Saiba o Senhor.

 

Raça danada, eu não creio em raça, não.

 

Raça é superstição de gente mal arraçada

Saiba o Senhor: eu não creio em raça, não, raça danada

Raça é superstição de gente mal arraçada

Eu não creio em raça, não

 

Raça danada, eu não creio em raça, não

José Eduardo Agualusa.jpg

José Eduardo Agualusa

(Para o Caetano Veloso que quis um dia saber a minha raça)

PELO CHIADO

 

Eu descia o Chiado lentamente

Parando junto às montras dos livreiros

Quando passaste irónica e insolente,

Mal pousando no chão os pés ligeiros.

 

O céu nublado ameaçava chuva,

Saía gente fina de uma igreja;

Destacavam no traje de viúva

Teus cabelos de um louro de cerveja.

Loira de luto.jpg

E a mim, um desgraçado a quem seduzem

Comparações estranhas, sem razão,

Lembrou-me este contraste o que produzem

Os galões sobre os panos de um caixão.

(…)

Cesário Verde.jpg

Cesário Verde

Para ler na íntegra, ver p. ex. em http://www.citador.pt/poemas/a/cesario-verde

POETA ESQUECIDO

Rui de Noronha.pngRUI DE NORONHA

(1909–1943), o precursor da moderna poesia moçambicana, conhecido pelos seus sonetos

 

SURGE ET AMBULA (Levanta-te e anda)

 

Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.

Dormes! E o mundo avança, o tempo vai seguindo…

O progresso caminha ao alto de um hemisfério

E no outro tu dormes o sono teu infindo…

 

A selva faz de ti sinistro eremitério,

onde sozinha, à noite, a fera anda rugindo.

A terra e a escuridão têm aqui o seu império

E tu, ao tempo alheia, ó África, dormindo…

 

Desperta. Já no alto adejam negros corvos

Ansiosos de cair e de beber aos sorvos

Teu sangue ainda quente, em carne de sonâmbula…

 

Desperta. O teu dormir já foi mais que terreno…

Ouve a voz do Progresso, este outro Nazareno

Que a mão te estende e diz – “África, surge et ambula”.

 

(Ruy de NORONHA, Sonetos, s/d [1943], In FERREIRA, Manuel - «No Reino de Caliban III», Lisboa, Plátano Editora,1984, p. 37)

 

 

SILVESTRE E O IDIOMA

 

Silvestre quer saber

Por que razão eu estrago o português

Escrevendo palavras que nem há.

Silvestre quer saber...

 

Não é a pessoa que escolhe a palavra,

É o inverso.

Isso eu podia ter respondido.

 

Mas não.

O tudo que disse foi:

É um crime passional, Silvestre.

É que eu amo tanto a Vida

Que ela não tem cabimento

Em nenhum idioma.

 

Silvestre sorriu.

Afinal, também ele já cometera

O idêntico crime:

Todas as mulheres que amara

Ele as rebaptizara, vezes sem fim.

 

Amor se parece com a Vida:

Ambos nascem na sede da palavra,

Ambos morrem na palavra bebida.

Mia Couto.pngMia Couto

in "Idades, Cidades, Divindades", Lisboa: Editorial Caminho

ESCRITORES QUASE ESQUECIDOS

 

 

Poeta na corte de Carlos IX de França, Pierre de Ronsard nasceu em 11 de Setembro de 1524 no castelo de La Possonnière, condado de Vendôme.

Notabilizou-se como poeta da Renascença francesa sendo reconhecido como o principal representante de La Pléiade, grupo de poetas cujos principais modelos foram os líricos greco-romanos e italianos, de grande importância na renovação da literatura francesa.

Faleceu em grande depressão no dia 27 de Dezembro de 1585 (61 anos) em La Riche, França.

Da sua vasta obra, respigo um pequeno trecho:

 

La Parque t’a tuée et cendres tu reposes.

Pour obsèques, reçois mes larmes et mes pleurs,

Ce vase plein de lait, ce panier plein de fleurs,

Afin que, vif et mort, ton corps ne soit que roses.

 

 

Pierre de Ronsard.png

 PIERRE DE RONSARD

 

Outubro de 2018

A bordo Dawn Princess-3.JPG

 Henrique Salles da Fonseca

BIBLIOGRAFIA:

  • Wikipédia
  • «Anthologie de la poésie française», Annie Colognat-Barès, LE LIBRE DE POCHE – Libretti, Julho de 2015
  • «Le Second Livre des Amours de Marie»

 

 

 

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