Numa época em que os juros estão a subir nos mercados financeiros internacionais, lembro-me do tal «figurão» que dizia que as dívidas não são para pagar.
E apesar do título do presente escrito inspirar racionalidade, começo com um dogma que, por definição, dispensa racionalidade:
Uma pessoa de bem, paga o que deve
Este dogma aplica-se tanto na dimensão micro como na macro, ou seja, às pessoas e aos Estados. Porque, ao contrário do que disse esse tal «figurão», as dívidas são mesmo para pagar.
Então, deixando a questão da dívida micro ao cuidado dos contabilistas, a nível macro a dívida global tem duas componentes: a pública e a privada, ambas com as vertentes interna e externa.
A dívida pública é a que vem sendo mais referida pela comunicação social mas a privada também tem que se lhe diga – e muito.
A dívida pública, constituída para financiar os défices públicos, só pode ser reduzida na medida dos superávites públicos; a dívida privada externa– a que mais me preocupa - só pode ser reduzida na medida dos saldos positivos da balança de transacções correntes.
Enquanto não tivermos saldos positivos nas contas públicas, não reduziremos o stock da dívida pública; se não tivermos saldos positivos na balança de transacções correntes, o sistema bancário nacional continuará a endividar-se sobre o exterior persistindo na via da falência ou, no mínimo, da absorção pela banca estrangeira.
Temo que o Orçamento de Estado para 2019 nada tenha muito a ver com este tipo de preocupações. É claro que se trata de um Orçamento folclórico para entreter a esquerda caviar e a ferrugenta na certeza, porém, de que as «centenárias» cativações o vão pôr nos conformes com as necessidades da redução do stock da dívida pública. Sim? A ver vamos por causa das eleições…
E quanto à dívida externa privada? Ah! Aí pia muito mais fininho e o problema só se resolve com mais falências bancárias. Qual será o próximo?
NOTA PRÉVIA: texto escrito para o Clube de Escritores (Porto) cujo 1º Encontro se realizou em 20 de Março de 2010; o mote era “Tu e o meu bolo de chocolate” e os textos teriam que caber numa página A4; não estive presente e alguém o terá lido para a audiência; não tenho informação sobre o volume da pateada, só sei que NÃO recebi qualquer prémio.
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Quando é que já se viu eu comer um bolo de chocolate e não lamber os dedos? Sim, quando? NUNCA! Era o que faltava eu deixar aqueles bocadinhos de gula desperdiçados num qualquer pano de resguardo de sebências ou afogá-los num frio lavatório e mandá-los pelo cano a baixo como se faz aos abortos. ERA O QUE FALTAVA! Os guardanapos são para limpar cerimónias; os lavatórios para excomungar porcarias. Chocolate, não… esse merece lambidela.
Mas diz a Tia Alzira que é feio lamber os dedos. Ah! E eu ralado. Feio é desperdiçar. Isso, sim, é que é muito feio! - Pois fique a Tia sabendo: eu lambo o chocolate dos dedos! E se for uma Bola de Berlim, também lambo o açúcar dos dedos!
- Olha, Caramelo! Tu sabes que o chocolate te faz mal, não sabes? E o Caramelo dá ao rabo porque eu estou a falar com ele. E porque vê o chocolate nos meus dedos e concorda comigo que tal preciosidade não deve ir pelo cano a baixo como alguém fez aos irmãos dele quando nasceram. E esses não eram abortos: eram cãezinhos completos e sãos… Então, sem os adultos verem, deixo a minha mão descair até à altura da boca do Caramelo e logo sinto a língua gulosa a lamber o chocolate…
Mas cão não tem rabo discreto e logo se põe a abanar o apêndice a pedir mais. E os adultos reparam que o Caramelo pede mais porque alguém o iniciou na lambarice. E esse alguém só posso ser eu. E então é a mim que zurzem… Porque isto e porque aquilo!!!, não têm mais nada que fazer do que chatear criança e cão por causa duns restos de chocolate nos dedos de um guloso amigo de um cão tão guloso como o dono dos dedos.
E sabem que mais? O Caramelo dá ao rabo de satisfação e eu não faço isso porque não tenho rabo mas também o faria se o tivesse e fosse cão.
Uma pergunta: como fazem os cães que não têm rabo? Deve ser muito triste. Acho que deve ser como a gargalhada que o mudo não dá.
Lamber os dedos é feio… E fazer abortos e deitar cãezinhos pelo cano a baixo é bonito?
A vida é feita de luz e sombra; a morte é a sombra da vida; a matéria é a sombra do espírito. Afirmar a sombra sem a luz, defender a cultura da morte sem ter em conta a cultura da vida, corresponderia a um reducionismo da vida à sua sombra, significaria a negação da vida, porque, a que temos é polar, é um todo feito de dor e alegria. Se nos preocupamos só com a sombra perdemo-nos no abismo do ser, esquecendo que a sombra é apenas uma ilação da luz e que a paixão inclui a ressurreição!
A discussão sobre a eutanásia oferece a oportunidade de se reflectir sobre a existência nas suas componentes, vida e morte.
Hoje, a pressão de ligas e organizações internacionais (organizações da ONU, Bruxelas, certas Faculdades universitárias, etc.), sobre a opinião pública e os parlamentos, é de tal ordem que se cria, nas opiniões públicas nacionais e parlamentos, a ideia de que seguir aquelas é moderno e sinal de desenvolvimento. Fatal para o desenvolvimento qualitativo é que o povo não pensa, segue a moda.
Prática na Alemanha
A Alemanha, antes de publicar a lei sobre a Eutanásia, teve uma discussão pública alargada e sem cólicas sobre o assunto; a ela seguiu-se o debate parlamentar com muita profundidade e dignidade, deixando fora o discurso ideológico e político-partidário, cada deputado decidiu apenas à luz da sua consciência. O parlamento proibiu o suicídio assistido e criminalizou o comércio com a eutanásia.
Concretamente: nem indivíduos nem empresas podem funcionar como serviços de apoio à eutanásia. Quem fizer negócio com um medicamento mortífero que entregue a uma pessoa com cancro/doença incurável, é ameaçando com 3 anos de prisão. O suicídio em si não é penalizado. Na Alemanha a ortotanásia (abreviação da morte desligando aparelhos e renunciando ao emprego de medicamentação de prolongamento da vida) é permitida desde que o moribundo o tenha declarado em estado consciente. Neste aspecto a Alemanha pronunciou-se no sentido de uma sociedade de valores cristãos.
A ética secular serve-se do relativismo como doutrina
Platão defendia a eutanásia para a pessoa inútil à economia e à sociedade. Na antiguidade era comum a prática do homicídio contra as crianças deficientes. Hitler procedia de igual modo, desde que a doença fosse atestada por três médicos.
Nalgumas sociedades ocidentais e em sociedades materialistas comunistas regista-se uma tendência para a elaboração de leis (pena de morte, aborto, eutanásia e outras) que se baseiam apenas numa filosofia utilitária e pragmatista, muitas vezes elaboradas contra os próprios ideais da Constituição. Parte-se de um princípio de liberdade como posse e de vida como produto na praça do mercado.
De uma maneira geral, os defensores da eutanásia fundamentam a sua opinião no materialismo que relativiza a vida humana, não a aceitando como valor máximo e negam-lhe qualquer sentido metafísico, reduzindo a existência a mero processo de forças biológicas naturais. Pretendem um diagnóstico e uma decisão sem a análise das suas consequências.
Na sequência de uma ética secular (laica) a “eutanásia seleccionadora ou eugénica” será aplicada a recém-nascidos no sentido da selecção social. Como se fala hoje da eutanásia falar-se-á amanhã da purificação da família, do povo ou da raça.
Querem uma ética pragmática servidora do momento e da ocasião, chegando até a contestar o imperativo categórico de Kant: a fórmula súmula do desenvolvimento da ética e do conviver humano ("Age como se a máxima de tua acção devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal.").
O reducionismo relativista e materialista, de que pecam muitos defensores da eutanásia, é alérgico ao pensamento integral e complexo; refugiam-se na ilusão de querer construir uma realidade semelhante a um rio com a água mas sem o leito.
Ética religiosa
A ética cristã bem como a moral das religiões em geral (Budismo, Induismo, Judaísmo e islão) é contra a eutanásia e contra o matar. O valor ético e moral da integridade e dignidade humana tem prioridade sobre princípios económico-políticos subsidiários.
A ética cristã, uma ética da excelência, que se aperfeiçoou, crivando as vivências dos diferentes povos e culturas ao longo dos séculos, considera a vida como bem maior e, como tal, a promover e defender e, consequentemente, não a interromper. Na Bíblia o rei Saul (Samuel 31, 1 a 13) pediu a morte e, como o escudeiro o não matasse, Saul atirou o corpo sobre a espada para se matar mas os desígnios divinos revelaram-se mais fortes, tendo ele sido finalmente morto por um filisteu. Jesus até recusou, livremente, o hissope.
A Encíclica Evangelium Vitae indica: a eutanásia é crime contra a vida e contra a dignidade humana pois a vida, e em especial a humana, é sagrada (inviolável). Uma coisa é causar a morte (eutanásia activa) e outra coisa é deixar morrer; o cristianismo não quer a dor mas reconhece também na aceitação da dor, em estado consciente, a oportunidade para crescer espiritualmente, dado a vida ter vários estádios e continuar depois da morte. Consequentemente a compaixão comporta o prolongamento da vida e não da agonia. Os analgésicos e a ortotanásia, desde que não tenham como causa directa a morte, são meios importantes em muitas situações, também na possibilitação de uma expressão mais condigna com a pessoa no estado moribundo. Neste sentido ainda há muito a fazer!
Controvérsia
O facto de os cuidados paliativos não impedirem “por inteiro a degradação física e psicológica”, como argumentam os que querem a antecipação da morte por suicídio assistido ou por eutanásia activa (um terceiro mata), não é suficientemente fundamentado, como medida geral, contra a morte natural ou contra a eutanásia passiva (suspensão de terapias de prolongamento da vida determinada por testamento vital – distanásia - previsto na lei desde 2001).
A controvérsia é boa para o apuramento de conclusões elevadas e para o crescimento humano intelectual e espiritual. A controvérsia é perniciosa quando enquadrada em posições estanques que querem ver tudo regulado pela lei.
Um direito implica a liberdade de escolha e esta não é plausível no nascer e no morrer. Fala-se do direito à morte como se fala de um direito adquirido ou um poder outorgado a executar em plena liberdade e como se uma pessoa em estádio terminal que dá trabalhos estivesse isenta de qualquer coibição psíquica ou social sendo-lhe indiferente o peso e o encargo que a sua situação representa para os familiares e para o próximo. Não é lógico, em nome da liberdade, recomendar uma decisão que exclui definitivamente uma outra alternativa posterior. O problema da liberdade para a eutanásia vem da irreversibilidade do acto. Os actos livres implicam sempre uma alternativa possibilitadora de continuidade. A vida é um dom, a morte é problema e não solução… O medo da dor, mais que da morte, leva à conclusão falaciosa de que o morrer é que dá dignidade à vida e não a vida que dá sentido e dignidade à morte.
Muitos adeptos da eutanásia activa, contraditoriamente ao seu argumento de liberdade humana, recusam ao Homem a sua capacidade de liberdade negando a validade da sua subjectividade, ao alegar que o ser humano não pode preservar a subjectividade que o assiste.
Com o argumento de que a vida nos foi imposta e da formação que nos foi dada, consideram-nos seres condicionados que, realmente, também somos, mas não só; este condicionamento não lhes dá o direito de nos condicionar e formatar segundo os seus princípios modelares, querendo-nos, para tal, reduzidos à animalidade inicial, negando-nos uma obediência orgânica para nos outorgar uma obediência de lógica ideológica. Este reducionismo é consequência de um reducionismo maior que consta de elaborar e conceber a vida em termos só racionais, esquecendo que a pessoa é feita de Razão e Coração e a razão pode ser enganada ou confundida por diferentes lógicas tal como o coração por diferentes emoções ou sentimentos. Nem o princípio coração nem o princípio razão têm o senhorio sobre a vida ou sobre a realidade; o Homem completo consta de Razão e Coração numa relação de complementaridade. Se houve tempos em que as elites das sociedades menosprezavam as faculdades da razão hoje menosprezam as faculdades do coração.
A pessoa não pode ser reduzida à biologia, aos padrões de uma dada sociedade ou época nem tão-pouco à jurisprudência; nem sequer pode ser considerada como mero objecto, dado este conceito delimitar o cidadão a um objecto de direitos e deveres, na perspectiva da polis.
Quem se legitima nisto como juiz? O facto de a constituição reconhecer ao Homem o direito à vida não é ela que a dá ou a tira nem a lei criada por um parlamento pode ter poder de deliberar sobre existência ou não existência de uma pessoa. O apoio humano limita-se ao calor humano e à diminuição da dor. A pessoa tem “direito” a ser feliz na vida independentemente de esta ser considerada no além e no aquém; nem sempre a saúde é um pressuposto de felicidade como prova a existência de muitos deficientes.
O moribundo tem direito a uma morte digna e tranquila, o que não inclui o direito ao abuso nem ao homicídio por compaixão. É dolorosa a situação de familiares que assistem a moribundos ou pessoas em estado vegetativo. A sociedade deveria acarinha-los e assisti-los não os deixando sós na responsabilidade e na dor. Esta pode ser uma oportunidade para se optar mais qualidade de vida.
A assistência a moribundos é um assunto muito delicado e controverso que não deveria provocar posições radicais. É insuficiente ficar-se por propostas que pretendem uma ética temporal meramente pragmática sem ter em conta a experiência secular da ética religiosa e sem a deontologia médica. Este é um assunto que não se pode solucionar com uma simples “receita”. É louvável o facto de esta matéria, ao contrário de outras, estar a ser objecto de uma discussão na opinião pública antes de chegar ao parlamento.
A existência seria chata se não fosse o movimento; nela também a controvérsia é um passo no sentido da vida.
Reflectindo
O direito de morrer com dignidade deveria constituir um dado geral aceite, o que não implica desresponsabilizar a pessoa pelos actos que faz, ou tirar por lei a responsabilidade a quem mata como se estes fossem privados de consciência e não houvesse meios de evitar não matar.
Enquanto as pessoas de moral responsável discutem a defesa da vida, as pessoas tendentes ao poder agem contra ela, caindo no equívoco de que na vida se pode ter tudo na mão e de graça. A despenalização da eutanásia revela-se um mau caminho que abre espaço aos negociantes da morte e a uma vida mais leviana e irreflectida.
A defesa da cultura da morte, do aborto, da eutanásia parte de um princípio hedonista e materialista da existência. Evita a reflexão e a controvérsia séria, preferindo uma receita que embote a consciência popular. Ao falarem do direito a decidir sobre o próprio destino esquecem que o ser humano é influenciável sendo difícil poder fixar o limite entre o objectivo e o subjectivo. A vontade também está sujeita a medos… Faz-se da liberdade tabu esquecendo que esta é apenas um factor importante de vida mas a vida tem muitos outros reguladores sem os quais seria impossível a sua expressão.
A religião transmitiu valores construtivos, optimistas e positivos contrariados agora pelo niilismo que não pára perante a destruição pessoal como se a pessoa se reduzisse a uma ideia abstracta ou a uma nostalgia passageira ao serviço de interesses e ideias fortemente encaixilhadas. Em nome da terra, da “realidade”, negam a sua atmosfera ou consideram-na como algo distante e pesado como se a transcendência não tivesse sido o oxigénio que mantem e desenvolve o ser humano. Mataram Deus e na sequência querem a morte do Homem espiritual. Desiludidos de Deus e do espírito viram-se agora para a terra embrutecida – materialismo - querem a população prisioneira da “caverna platónica” sem luz, a viver da escuridão e da tanatofilia, como se a perspectiva da luz fosse algo contra a vida e iludisse a realidade da morte.
Culpabilizam a religião de se opor a soluções simplicistas ou de surgir como obstáculo ao exigir reflexão. Querem a dignidade vinculada à circunstância e não à pessoa para a porem à disposição da ideologia em favor de um poder ad hoc. Demonizam, por vezes, a religião cristã pelo facto de esta ver no Homem um absoluto. O poder ideológico secular encontra-se em rivalidade com o religioso quando, no sentido do Homem, se deveriam complementar; aquele constrói a sua força na aquisição de seguidores quando a força motivante e movente deveria ser o bem integral e integrante.
Muitos não vêem com bons olhos a renúncia que apela à metafísica, à imagem do esforço da natureza ao tentar erguer-se na procura do Sol; não basta a ilusão de que a natureza do Homem se reduz à procura de um lugar soalheiro mas sem Sol; de facto, equivaleria a exigir do Homem uma outra renúncia: a renúncia a si mesmo para, na qualidade de mero elemento, se colocar à disposição da matéria que, com o seu poder inerente, seria reduzido ao poder do mais forte, contradizendo a herança cultural e ética judaico-cristã e dos povos que levou a civilização ocidental ao nível em que se encontra nos seus aspectos positivos e negativos.
Muitos militantes da eutanásia revelam-se, na consequência, contra a consciência humana que é uma percepção dinâmica de luta pela liberdade, uma luta das forças escuras contra a luz que ilumina a “caverna” platónica.
Consequentes na sua negação de Deus e da ordem criada tornam-se tão imateriais na sua especulação chegam a defender o direito de nunca se ter nascido! Esta posição que consequentemente legitimaria a prática da selecção darwinista social que motivou Hitler a mandar matar deficientes e a mandar castrar pessoas com certas doenças hereditárias: tudo isto em nome de uma liberdade e de uma felicidade que veria em cada deficiente um infeliz a quem seria dado o direito de se antecipar à dor e assim voltar ao estado do não criado e assim, à sua custa, a sociedade tivesse mais disposição de bens materiais.
A liberdade individual é uma consequência da espiritualidade e do desenvolvimento humano; a liberdade humana revelou-se como força inclusiva e não exclusiva, possibilitando assim a arquitectura cultural e social a que chegamos. É interessante verificar-se pela arqueologia que o desenvolvimento da sociedade começou em torno da morte (lugares de culto). A vida não nega a morte nem a morte nega a vida; ambas são duas formas de estar da existência.
O desejo da morte assistida (eutanásia) surge, por vezes, da falta de assistência e solidariedade por parte da sociedade e do próximo, que não se querem responsabilizar porque consideram a existência reduzida aos seus aspectos de luta primitiva e individual pela vida. Desvinculam o ser individual do ser social (zoon politikon) para que a sociedade se possa desenvencilhar, sem dores de pensamento nem custos, do que se torna incómodo e daquilo que a poderia comprometer.
Nestas coisas não chega uma política do levantar a mão no parlamento. Também não é bom fomentar-se a má consciência, nem tão-pouco estimular a consciência leviana, mas sim possibilitar discussões públicas sérias e reflectidas para que, cada cidadão se levante da massa e possa tornar-se mais consciente para se orientar e decidir com o máximo de conhecimento e liberdade: só então pode ser responsável e tomado a sério nas decisões que toma. A discussão sobre a eutanásia - matéria muito complexa - não pode ser encurtada por uma política ou ideologia qualquer, até porque as massas abdicam da reflexão e da própria responsabilidade julgando como matéria segura o que se encontra legislado e dado a vida e o seu sentido implicaremuma reflexão das diferentes disciplinas complementares, desde a bioética, à medicina e à teologia. A pessoa e a vida não devem ser relativizadas, devem ser reconhecidas como bens absolutos que, na modelação da própria vida segundo o imperativo categórico kantiano, superam o poder dos Estados (A pena de morte, para um cristão significa a usurpação do estado que exerce o poder sobre algo que o supera).
O direito de decisão é conferido por Deus ao indivíduo (a religião apenas o formaliza); nenhuma ideologia ou lei poderá assumir-se o direito de o manipular ou de se livrar dele mesmo quando sob o pretexto de ajuda. A lei e a norma tendem a fazer de um caso todos os casos embora a consciência de cada um seja inalienável.
É fácil apregoar-se como filantrópico a oferecer às pessoas o direito de acabarem com a sua vida ou com a vida do outro em seu nome ou das circunstâncias.
O cristianismo acentua a assistência solidária e caritativa na morte, também com o emprego de paliativos, respeitando sobretudo a consciência individual e a responsabilidade da decisão reflectida de cada um.Não chega ver as ondas da superfície; é preciso criar-se espaço para se poder perscrutar e sentir o que elas encobrem das profundezas do mar. Esta é a advertência necessária mas sem coibir!
A vida é o positivo da existência, é optimista não se deixando perder em qualquer beco pessimista sem saída nem tão-pouco reduzir-se ao seu negativo. A vida chama e tem um sentido e este é infinito; a existência inclui nela o Sol que dia-a-dia convida a natureza ao esforço do levantar-se para a luz. Que seria da borboleta se no seu estádio de casulo, em nome do direito e da liberdade, fosse impedido o seu desenvolvimento!
A alma treme perante o vazio, mas entre os calafrios pressente, no extremo do túnel da existência, uma luz quente que sempre brilha e a espera!
A Manipulação da Cultura acompanha a Manipulação da Natureza
Em questões de casamento de homossexuais o Estado não deveria intervir no sentido da liberação da união matrimonial para comunhões de casais do mesmo sexo. No casamento ou parcerias amorosas, depara-se com duas questões que se deveriam encarar sem ressentimentos nem complexos.
A nível de princípios e de prática, deve o desigual ser tratado igual? Até que ponto deve o Estado intrometer-se na vida privada? Deve a regra ser igualada à excepção? Não se conduz a democracia ad absurdum quando os seus delegados pretendem mudar mentalidades através de legislações sobrepondo o direito da minoria ao direito da maioria (igualizar as parcerias homossexuais à instituição família heterossexual)?
Segundo o consenso dos povos, as uniões homossexuais não são iguais ao matrimónio. Entre outras diferenças, o casamento não é só comunidade de vida, ele foi criado no sentido da fundação de uma família e de filhos (CIC 1061,1) e corresponde a uma visão de Homem como homem e mulher.
Torna-se questionável a intervenção do Estado porque a união de duas pessoas é coisa privada, independentemente do amor que o Estado não tem direito de recompensar ou penalizar. O matrimónio, pelo contrário é o núcleo do Estado pelo que este tem o dever constitucional de defender e fomentar. Por isso, os Estados colocam nas suas constituições a família e o matrimónio sob protecção especial. A lei fundamental alemã artigo 6 parágrafo 1, tal como as Constituições da maior parte das nações, define casamento como “comunidade de vida de homem e mulher” e fala da função da família.
A nova ideologia pretende redefinir o casamento, abandonar o conceito de família trocando-o por “Comunidade de Vida”. O ponto maior da discórdia vem da exigência de igualar o casamento tradicional (família) às uniões homossexuais com o correspondente direito de adoptar filhos. A adopção de crianças por pares homossexuais favorece uma orientação unilateral a que falta o pai ou a mãe; impede-se uma educação com características (feminilidade e masculinidade) complementares próprias que seriam importantíssimas para o crescimento equilibrado da criança. Devido a esta constatação, na Alemanha já há a preocupação de, nos jardins infantis, a assistência às crianças seja feita por educadores do género feminino e masculino.
Toda a pessoa está chamada a amar mas nem toda a forma de amor ou caridade tem que chegar à instituição do matrimónio. Uma comunidade de amor está chamada à abertura e proliferação, à fertilidade como é tradição em todos os povos e como nos ensina a gramática da natureza. Na exigência de “casamento para todos”, como direito natural, não se consideram a fertilidade e correspondente capacidade de futuro da sociedade, além de confundir direito natural com direito cultural. Também dois familiares ou irmãos que se amam não têm direito a casar-se embora através do casamento pudessem assegurar vantagens amorosas e económicas.
Francisco I no avião em que ia para o Rio de Janeiro em Julho de 2013 disse a um jornalista: ”se um gay, procura o Senhor e tem boa vontade – quem sou eu para o condenar? Estas pessoas não devem ser empurradas para a borda, elas têm de ser integradas na sociedade.” Conservadores escandalizaram-se com esta afirmação porque pensam que com ela o Papa apoia o lóbi dos homossexuais. O Papa age, como é natural de um pastor, no meio da sua comunidade no exercício das suas actividades pastorais em perspectivas complementares.
No catolicismo, o matrimónio é um sacramento que se realiza entre os nubentes (homem e mulher) e não só um prémio ou bênção. Deus criou o Homem à Sua semelhança como homem e mulher (1.Mo 1,27-28) dando-lhes a missão de crescerem e de se multiplicarem na tolerância e cordialidade e ao mesmo tempo crescerem espiritualmente.
Na discussão também é pertinente distinguir entre os actos do Estado e os actos da Igreja. Igreja e Estado dizem sim para o cuidado mútuo e a responsabilidade, cada um à sua maneira. Embora o Estado tenha de dar resposta a todas as necessidades dos cidadãos, não deve perder de vista a lógica da sua essência democrática nem as diferentes prioridades a ter em consideração num corpo orgânico ao igualar uma estrutura básica da sociedade a uma necessidade individual que colide com a constituição orgânica de organismos desenvolvidos. (Para mim, a nível individual, seria igual o casamento de hétero- ou homossexuais; o mesmo já não acontece quando penso a nível social; por isso o Estado tem de distinguir entre direito individual e direito orgânico institucional!).
O cristianismo, com toda a compreensão e respeito pelas uniões homossexuais, não se deve ver forçado a renunciar aos próprios princípios e valores. A fonte de inspiração cristã é a Bíblia (e a natureza) e orienta-se também por uma estrutura básica do Homem (Mat. 19,5, constituído de masculinidade e feminilidade) não podendo ser interpretada arbitrariamente; muito embora a supremacia do amor seja a norma de orientação, esta não pode porém cancelar a ordem da criação (a nível estrutural/institucional) que cada ser humano não deve desprezar, embora respeitando diferentes orientações. Ver o amor como único fundamento do amor, segundo o lema de Santo Agostinho “ama e faz o que quiseres” dá resposta a necessidades próprias mas que não precisa de neutralizar o matrimónio heterossexual. A diferença é a maior constante da natura e da cultura. Igualar a comunidade de vida de homossexuais à constituição de família através do casamento torna-se inconsequente dado fazer de coisas diferentes e com fins diferentes coisas iguais.
A pastoral permite a adaptação porque cada pessoa é de, maneira igual, imagem de Deus independentemente das suas inclinações. Também é verdade que “Deus é amor” (1. Jo, etc.) mas o facto não permite a afirmação recíproca “o amor é Deus” que seria teologicamente falsa. Em questões de família e de instituições os critérios orgânicos e de sustentabilidade, fiabilidade, confiança e compromisso assumem um caracter essencial. O amor não é razão suficiente para justificar a arbitrariedade institucional. O direito à orientação homossexual e ao próprio sentido não é lógico se exige que se aplique a ele o tipo de vinculação heterossexual da família. A instrumentalização da lei para mudar mentalidades torna-se num abuso institucional.
A Igreja, para manter a sua missão de serviço à humanidade e a credibilidade e continuidade, terá que suportar uma certa tensão entre doutrina e pastoral; mas por outro lado não pode seguir a bajulação da moda ou do tempo.
Na disputa presente, que é mais séria que qualquer outra anterior, está em jogo a criação de uma moral totalmente nova sem compromisso (uma nova matriz social) tendente a fomentar a criação de um novo Homem e de uma cultura (nova maneira de estar social), de orientação matemática, criada artificialmente e implementada por cúpulas político-económicas cimeiras que, à imagem da manipulação da natureza, (experimentação biológica da manipulação da gene humana) quer impor a manipulação da cultura e daquilo que constitui os fundamentos da identidade das culturas. Os manipuladores da cultura já cantam vitória ao verificar que no povo, com o tempo, se pode observar uma certa inversão de mentalidades, como vai acontecendo na igualação de comunidades de vida homossexuais a heterossexuais e mais tarde na eutanásia e na eugenia.
A defesa da família é uma questão de natureza, de religião e de Estado independentemente da crença. Ao ligar-se a constituição de família à procriação também se deve ter em conta que quem se casa catolicamente também não tem obrigação de ter filhos e os que não podem ter filhos ou se casam em idade de os não ter, não perdem a legitimidade do casamento, chega-lhes a boa intenção. Como na natureza, não há regra sem excepção. Um outro aspecto a ter também em consideração é que uma coisa é o casamento civil e outra é o casamento religioso. Posso imaginar, a nível cristão, a bênção de um par homossexual mas não o sacramento.
A Igreja tem o direito de se sentir ligada à tarefa bíblica e o Estado à vontade dos cidadãos. Um e outro não devem ignorar o quórum de que são feitos nem ideais que reconhecem a regra e a excepção. O direito de minorias ou da excepção não pode ignorar também os direitos das maiorias ou da regra. A vida e o progresso pressupõem um contínuo processo de colaboração e adaptação, só assim se pode garantir o princípio evolutivo da colaboração dos mais fracos para subsistirem contra a lei da força dos mais fortes que arrasariam o resto da natureza.
A igreja tem por seu caracter constitucional ficar-se pela simplicidade da verdade: o sacramento do matrimónio consta de uma união de uma mulher e de um homem para sempre. O sacramento tem vigor até à morte, por isso para o celebrar será precisa grande maturidade e a vontade da metanoia individual e comum. A doutrina da fé é orientação e não deve agir contra a praxis da fé; o casamento é ao mesmo tempo sacramento e comunidade de vida. A indissolubilidade do matrimónio não deve tornar-se numa teoria abstracta sem relação com a praxis (não é apenas um ideal humano). Optar pela vida é o característico da vida cristã que não vê na entropia uma via a seguir reconhecendo, pelo contrário, que a vida é uma subida que implica luta no reconhecimento da própria sombra e luz.
Não se deve demonizar nem glorificar a homossexualidade. Por vezes há muita agressão no discurso sobre o assunto porque por trás de um homossexual ou de uma lésbica se escondem muitos anos de sofrimento e de opressão indirecta, ou porque o tema da homossexualidade e do género é usado como estratégia para a mudança paradigmática da sociedade e valores e ainda porque os lóbis da UE e dos USA ditam através de leis a aplicar nos parlamentos, os novos comportamentos a criar numa sociedade do futuro.
A defesa da ideologia homossexual, que faz parte da ideologia do género, encontra-se em contradição com todas as culturas, religiões e com a natureza. A homossexualidade deve ser compreendida como excepção à regra sem ser marginalizada e sem o acompanhamento da paulada moralista que muitas vezes a discriminou e em muitos lugares continua a descriminar considerando homossexuais como se se tratasse de leprosos. Cada época tem um ideário correspondente com abusos num ou noutro sentido mas que a sociedade vai corrigindo com o tempo.
A esquerda sexual, também conhecida como os imperialistas sexuais pela vontade de imporem as suas ideias ao resto do mundo, está bem, mas frustrada na ONU.
Eles bufam de raiva e enraivecem-se há mais de 20 anos, desde 1994, com o seu último avanço na Conferência do Cairo.
Nos meses passados, têm tentado com unhas e dentes avançar a sua agenda no que é conhecido como «Metas de Desenvolvimento Sustentável» e com a conclusão das negociações Sábado passado, depois de uma sessão maratona que durou quase 24 horas, eles perderam na família, perderam na “educação sexual abrangente” e não avançaram em direitos e saúde reprodutiva nem sequer uma vírgula além do que conseguiram muito tempo atrás. A equipe do C-Fam esteve lá até ao final. Felicitações a Wendy Wright, Stefano Gennarini, Rebecca Oas e à sua corajosa líder, Lisa Correnti.
Mas há mais pois o Tribunal Europeu de Direitos Humanos decidiu que o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo não é um requisito dos Direitos Humanos na Europa.
Sabe que só dez países do Conselho da Europa (que tem 47) permitem o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo?
Essa gente não dizia que estava a ganhar o mundo? Bem, eles não estão a ganhar mundo nenhum; quem o está somos NÓS!!!
A estratégia não é de agora e foi alvo de denúncias há mais de 15 anos pela Santa Sé. Em causa, a tentativa (bem sucedida) por parte de alguns ‘lobbies’ feministas e ‘gays’ em mudar, ao nível das legislações mundiais, algumas palavras de significado claro, por outras mais ambíguas. Por exemplo, em vez de “sexo”, passar a usar-se a palavra “género”.
Subjacente está a tentativa de eliminar as diferenças entre homem e mulher, considerando-as um mero condicionamento sócio-cultural. “Sexo” é uma palavra que sublinha a diferença entre homem e mulher, enquanto “género” é muito mais abrangente, porque em vez de apenas dois tipos – feminino e masculino – a nova expressão da moda abrange cinco: feminino, masculino, homossexual feminino, homossexual masculino e híbrido.
Em Portugal, a esquerda rasga as suas vestes por a nossa Constituição (escândalo dos escândalos…!) ainda usar a palavra sexo… e propõe uma nova formulação do artº 13º para se eliminar, de uma vez por todas, esta expressão ultrapassada…
A estratégia de confundir para reinar, sempre foi uma estratégia de Poder. É por isso que é sempre bom saber o que está por trás das boas intenções daqueles que nos querem baralhar.
- Isso é lá com eles! Que sejam ridículos à vontade deles. Isto não sou eu que digo, tenho lido.
- E ouvido! - Acudi eu muito depressa, a mostrar que também estou a par do assunto, actualmente na berra. Mas a minha amiga não me deu ouvidos, fez questão de continuar a ser ela a contar:
- Isso do avental não faz diferença a ninguém. O pior é o resto. Está-se a descobrir que o resto é escandaloso. Ou os metem na política ou os levam para os mações. É tudo secreto, com o avental imprescindível. Afinal, fazem parte da família, gente muito rica que manda nos outros. Os ricos querem assim, faz-se assim.
Achei o monólogo da minha amiga também algo eivado de secretismo, não sei se por simpatia com o que sempre acompanhou os mistérios ligados à maçonaria, mas fui respondendo que antigamente a maçonaria tinha a ver com os bons sentimentos, com o respeito pelas virtudes e pela igualdade e fraternidade entre os homens, como o rei Artur, aliás, também já tinha tentado estabelecer, embora só entre os seus pares da mesa redonda, por não haver mações na altura, que têm a ver com os construtores das catedrais medievais, segundo leio na Internet, embora os secretismos sibilinos, ligados às práticas místicas do ocultismo sejam velhos como o mundo.
Parece que a maçonaria actual está mais ligada ao capital, ao contrário da maçonaria anterior, mais ligada ao espiritual, ao intelectual, e a prova é que Garrett também lhe pertenceu com todo o seu coração de liberal progressista, no final da vida não resistindo, contudo, a fazer-se intitular visconde, o que sempre consistiu, para mim, uma mancha à sua aura de escritor modernista que sempre admirei.
O poder do ouro ou das honras exerce indiscutivelmente uma atracção fabulosa sobre os homens, os mais imunes, e é por isso que acontecem essas coisas obscuras, feitas pela calada, nessas sociedades do avental, mas também de colar e luvas, que até têm Lojas, o que as torna sensíveis ao comércio e aos lucros.
A sociedade cruel quer que os mações declarem as suas ligações secretas por conta da transparência, mas tudo isso não passa de faitsdivers sem consequência.
Lembro o “Clube dos Poetas Mortos”, em que os alunos do professor amigo da liberdade humana mandava destruir os livros de aprendizagem seguidos pelo sistema educativo do colégio - (o que sempre achei uma acção pedante e idiota, por muita aura que desse ao professor destruidor, junto dos alunos naturalmente receptivos à rebeldia “genial”) - para que os alunos adquirissem a sua autonomia de pensamento, e os alunos até formaram o seu grupo secreto, com rituais e leituras secretas. A sociedade repressora do colégio e não só, sacrificou o professor liberal e um dos alunos, que se suicidou, devido à incompreensão familiar.
Não vamos nós agora condenar os nossos mações, só porque têm rituais de que não dão conta a ninguém. A verdade é que se sabe que eles trepam na vida por conta desses jeitos piedosos dos seus rituais secretos e isso é importante. A vida está complicada na questão do emprego, e pelo menos esses podem safar-se. Que os aventais deles até são bonitinhos.
Abri o meu email e não queria acreditar: estava positivamente inundado de correspondência enviada por pessoas que eu não conhecia, insultando-me pela crónica «Dois Maridos», publicada neste espaço (no semanário «Sol») há 15 dias. (...)
Percebi, entretanto, que uma comunidade gay tinha feito circular o texto entre os seus membros, com o pedido expresso de enviarem ao autor um email ofensivo. (...)
Ora qual fora o meu crime, para suscitar tamanho repúdio e ataques tão violentos e grosseiros? Basicamente, manifestar-me contra o casamento gay. (...)
Não percebo por que razão a homossexualidade tende a tornar-se um tema tabu, que não pode ser discutido e sobre o qual não é permitido opinar.
Não percebo – e não aceito.
Nunca me verguei às conveniências e ao politicamente correcto – e não seria agora que o começaria a fazer.
Sou totalmente contra o casamento gay, já expliquei detalhadamente porquê e reivindico o direito de ter opinião sobre este assunto e de a expressar.
Será que alguns querem instituir uma nova Polícia do Pensamento? Querem reacender-se as fogueiras da Inquisição?
Hoje, em Portugal, escreve-se sobre tudo: sobre a liberalização de todas as drogas, sobre a eutanásia, sobre as vantagens das centrais nucleares, sobre a legitimidade do aborto, até sobre a reposição da pena de morte – e não se pode contestar o casamento gay? Porquê? Com base em quê? (...)
Uma reflexão, para finalizar.
Na nossa Civilização, a palavra ‘casamento’ tinha um significado preciso.
Por que se insistiu em estendê-la a outro tipo de relações? Eu digo: por razões ideológicas. Exactamente para significar que as uniões homossexuais são exactamente iguais às uniões heterossexuais.
Só que eu acho que não são. Que são diferentes – e portanto não deveriam usar a mesma palavra.
Ora, se os gays tiveram o direito de defender o seu ponto de vista,eu não terei o direito de discordar? Ou a lei que legalizou os casamentos gay e ilegalizou simultaneamente as opiniões contrárias?
Quando é que já se viu eu comer um bolo de chocolate e não lamber os dedos? Sim, quando? NUNCA! Era o que faltava eu deixar aqueles bocadinhos de gula desperdiçados num qualquer pano de resguardo de sebências ou afogá-los num frio lavatório e mandá-los pelo cano a baixo como se faz aos abortos. ERA O QUE FALTAVA! Os guardanapos são para limpar cerimónias; os lavatórios para excomungar porcarias. Chocolate, não… esse merece lambidela.
Mas diz a Tia Alzira que é feio lamber os dedos. Ah! E eu ralado. Feio é desperdiçar. Isso, sim, é que é muito feio! - Pois fique a Tia sabendo: eu lambo o chocolate dos dedos! E se for uma Bola de Berlim, também lambo o açúcar dos dedos!
- Olha, Caramelo! Tu sabes que o chocolate te faz mal, não sabes? E o Caramelo dá ao rabo porque eu estou a falar com ele. E porque vê o chocolate nos meus dedos e concorda comigo que tal preciosidade não deve ir pelo cano a baixo como alguém fez aos irmãos dele quando nasceram. E esses não eram abortos: eram cãezinhos completos e sãos… Então, sem os adultos verem, deixo a minha mão descair até à altura da boca do Caramelo e logo sinto a língua gulosa a lamber o chocolate…
Mas cão não tem rabo discreto e logo se põe a abanar o apêndice a pedir mais. E os adultos reparam que o Caramelo pede mais porque alguém o iniciou na lambarice. E esse alguém só posso ser eu. E então é a mim que zurzem… Porque isto e porque aquilo!!!, não têm mais nada que fazer do que chatear criança e cão por causa duns restos de chocolate nos dedos de um guloso amigo de um cão tão guloso como o dono dos dedos.
E sabem que mais? O Caramelo dá ao rabo de satisfação e eu não faço isso porque não tenho rabo mas também o faria se o tivesse e fosse cão.
Uma pergunta: como fazem os cães que não têm rabo? Deve ser muito triste. Acho que deve ser como a gargalhada que o mudo não dá.
Lamber os dedos é feio… E fazer abortos e deitar cãezinhos pelo cano a baixo é bonito?
Lisboa, 17 de Março de 2010
Henrique Salles da Fonseca
NOTA: texto escrito para o Clube de Escritores (Porto) cujo 1º Encontro se realizou em 20 de Março de 2010; o mote era “Tu e o meu bolo de chocolate” e os textos teriam que caber numa página A4; não estive presente e alguém o terá lido alto para a audiência; não tenho informação sobre a dimensão da pateada...
O que é o poder brando e o poder forte, o que é o carisma, quais são os bons e os maus líderes, o que se pode esperar da Ética neste dealbar do séc. XXI, … eis o tipo de questões que o Autor trata com sabedoria ao longo de cerca de 190 páginas de suave leitura.
Sim, a boa liderança é importante no sentido de que essa bondade tem que ser eficaz e ética.
Quase todas as pessoas podem ser líderes porque a liderança pode ser aprendida; pode existir liderança a qualquer nível, com ou sem autoridade formal.
Uma frase que me saltou à vista por influência das causas que geraram a actual crise: «O líder de um bando de delinquentes não possui as capacidades necessárias para ser um académico de sucesso, e vice-versa.»
Na prática quotidiana, o sentido de obrigação moral das pessoas tende a provir de três fontes. Uma destas é o sentido de consciência, pessoal ou religioso, que leva os indivíduos a tentarem alcançar um sentido de integridade moral. Uma segunda envolve regras morais comuns que a sociedade exige a todos os indivíduos, e uma terceira corresponde aos códigos de ética profissional e às expectativas convencionais inerentes aos deveres de um indivíduo. - pág. 157
Eis como um livro que à primeira vista parecia um arrazoado de banalidades se revelou bem mais substancial do que tantos outros que se apresentam com pompa e circunstância.