POEMAS MAIATOS
NOGUEIRA
Debaixo daquela nogueira de Nogueira
Descansámos e nos demos
Vezes sem conta.
Naquela época,
Ouvia-se cantar as fontes,
Os grilos e os ralos
E o tempo deslizava manso…
Vindimemos amor
O tempo breve do vinho que espuma
Nos cachos loiros da nossa juventude
Enquanto a vida
Nos não traz a neve
A enfeitar os cabelos…
Maria Mamede
POEMAS MAIATOS
MILHEIRÓS
No meio dos milheirais de Milheirós
Havia cantigas de gente
Em tempo de ceifa
E de toda a passarada
Em tempo de Primavera.
Pelos Invernos
Rigorosos
Ficávamos tempo esquecido à lareira
Ouvindo o vento que gemia
E os uivos dos lobos
Ao longe…
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Além da Ponte de Alvura
Vai meu amor acenando,
Além da Ponte de Alvura
Até quando, até quando?
Além da Ponte de Alvura
Vai pequenino ficando
Águas claras em dor pura
Vão os meus olhos chorando…
Além da Ponte de Alvura
Moinhos de água, moendo
Junto da água, em secura
Eu vou morrendo, morrendo…
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Junto com o milho
Debulhei lágrimas salgadas
Como as mulheres da beira-mar
As debulham
Nos cais da espera…
Maria Mamede
POEMAS MAIATOS
GUEIFÃES
Desponta a manhã
Da Senhora da Saúde
E Gueifães é uma festa.
Dancemos também
De roda, no adro
Aproveitando o tempo que nos resta
Já que o Hoje
Foge apressado
E o Amanhã
Trará a partida…
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Loiras searas pedem a ceifa.
Cachos maduros chamam a vindima.
Por ti,
Clamam meus olhos e meus braços
Neste tempo de colheita…
Maria Mamede
POEMAS MAIATOS
GONDIM
Antes de ti Viriato
Que por aqui passaste
A caminho da terra dos Brácaros
Para juntares um exército,
Já pairava, no ar de Gondim
O fantasma de Gondarede
O maior de todos os Vickings…
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Havia um juncal no Arquinho
Onde um dia encontramos um peixe vermelho
E nenúfares.
Depois, perdemo-nos pela vida.
Alguns anos volvidos
Espalhou-se a notícia
Da morte do peixe vermelho
E o rio apodreceu
Como os nenúfares.
Maria Mamede
POEMAS MAIATOS
GEMUNDE
Gemunde
Tem um Santo preto
Escravo trazido dos Brasis
Que um Feudal inescrupuloso matou.
Dianta do seu túmulo
Peço por ti
Que não regressaste
A tempo do nosso encontro…
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Faltam amores nesta vida
Também falta bem querer
Só damos valor à vida
Quando temos de a perder!
Maria Mamede
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lenda_da_Campa_do_Preto
POEMAS MAIATOS
FOLGOSA
O tempo para amar
Perdeu-se todo, nas matas de Folgosa
E nem Vilar de Luz
A tem que baste
Para o encontrar…
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Quem diz que vive o bastante
Para amar os girassóis?
Um amor, tão importante
Não tem antes nem depois!
Maria Mamede
POEMAS MAIATOS
CASTÊLO
Houve um Castelo Roqueiro
No Castêlo
Quando eu era Princesa
E tu meu Senhor.
Hoje,
Apenas existe a capela
Dum Santo com testado
A abarcar a paisagem.
Maria Mamede
POEMAS MAIATOS
BARREIROS
Em Barreiros
Roubamos à terra
O barro do pranto e do riso
Que depois das mãos
E da roda do oleiro
Foi tanta vez
Gasalho e alegria.
De Barreiros
Saiu a textura do barro
Que transportou
Mundos fora o aroma da terra
E nossos beijos marinheiros…
Maria Mamede
POEMAS MAIATOS
BARCA
De Barca perdidos
Continuamos, sombras etéreas
De mãos dadas
Como naquele tempo
Percorrendo os campos da Pinta
Onde ficaram
Teus desenhos e meus versos…
Maria Mamede
POEMAS MAIATOS
ÁGUAS SANTAS
Contam que Santa Maria
Fez brotar uma fonte
Que se diz de Águas Santas
Para cura de todos os males.
No entanto,
Nosso mal apenas tem cura
Nas nascentes das nossas bocas…
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Águas turvas, águas claras
Águas que foram d’encanto
Chorai comigo águas claras
Que sou Senhora do Pranto.
Chorai comigo, chorai
Lamentai vosso desvio
Águas turvas, águas claras
Rio manso, bravo rio.
Tenho fome de águas claras
A nascer dentro do peito
Mas já se tornam amaras
Por este amor, que é desfeito.
Tenho fome de águas bentas
Num coração só de mágoas
Dão-me a paz e as tormentas
Que sou Senhora das Águas!
Maria Mamede