OS MADEIRENSES NO BRASIL
Um breve resumo histórico do açúcar e a sua importância na ocupação madeirense das terras brasileiras
Formas de pão-de-açúcar madeirenses
Fonte: Wikipédia livre
Desde a antiguidade a cana-de-açúcar (saccharum oficcinarum L.) é cultivada na China e na Índia, de onde é originária. Chegou ao Ocidente com o regresso dos Cruzados do Oriente e com a invasão dos mouros na Espanha. Na Europa, principalmente em Veneza, ganhou fama e importância comercial com o seu produto principal, o açúcar.
Considerado uma especiaria com qualidades medicinais, conservante e adoçante, o açúcar foi tão valorizado no passado que provocou disputas entre reinos, enriqueceu Estados, estimulou a escravidão, propiciou o descobrimento e ocupação de novas terras, entrou em dotes de princesas e até como herança, em testamento de reis.
O lucro que advinha da produção açucareira estimulou o cultivo da cana na região mediterrânea e nas ilhas atlânticas, principalmente na Madeira, onde se iniciou e serviu de teste para outras possessões ultramarinas portuguesas. Com a descoberta do caminho marítimo para as Índias, e com o inicial sucesso do cultivo e produção da cana na Ilha, em pouco tempo, Portugal desbancava a rica Veneza, até então a maior comerciante e distribuidora de açúcar da Europa.
A política reinol que incentivou a monocultura da cana (vinda da Sicília) e a exportação de açúcar levou a Pérola do Atlântico à diminuição da produção cerealífera e o arquipélago a crises periódicas de fome e violência. O Brasil passou então a ser visto como uma outra oportunidade de desenvolvimento e riqueza pelos ilhéus. Candidataram-se à emigração pobres lavradores sem terras (pelas divisões sucessivas das glebas entre os descendentes, que recebiam nacos de terreno cada vez menores, inviáveis para assegurar a subsistência), os filhos segundos da nobreza (deserdados pelo regime de morgadio), os clandestinos e homiziados, e os mercadores cristãos-novos, na busca de liberdade religiosa no novo mundo, longe da Inquisição Portuguesa.
Na América Espanhola (São Domingos) as primeiras mudas chegaram com Colombo e no Brasil com os portugueses, no início de século XVI, a maioria oriundos da Madeira e de São Tomé .
Em diáspora, os madeirenses incorporaram armadas da Índia e depois do Brasil. Atingiram a embocadura do Senegal, o norte da África, levaram a sua tecnologia açucareira para os Açores, São Tomé, Cabo Verde e América portuguesa. No Brasil chegaram para colonizar, gerenciar e defender interesses e fronteiras. Com a cana, sem a mão-de-obra do índio, trouxeram os primeiros escravos negros para as plantações do nordeste e São Vicente.
Embora já houvesse em Itamaracá uma plantação de cana (1515/1519) de Pedro Capico, com produção de açúcar ( 1526), documentos dizem que D. João III mandou em 1530 uma forte armada comandada por Martin Afonso de Souza para o Brasil, onde numa das naus havia mudas de cana-de-açúcar. Nessa armada vinha o inglês Thomas Cresley que afirma, em carta enviada a um mercador londrino, que em passando pela Ilha da Madeira, a pedido de um cristão-novo, o capitão permitiu que o homem, a mulher e os 4 filhos embarcassem rumo ao Brasil.
Segundo historiadores, como curiosidade, é bem possível que o nome do morro carioca “Pão de Açúcar” venha deles, os madeirenses, pois era em formas cónicas, furadas na extremidade (pão-de-açúcar) que produto tratado da cana era drenado e os cristais de açúcar formados.
Com o grande crescimento da produção da cana em terras brasileiras, as dificuldades ilhoas se acentuaram. Sem condições de disputar com vantagem o mercado, os madeirenses passaram a negociar também o açúcar brasileiro. Apesar das leis do reino, que protegiam os interesses dos engenhos da ilha, o açúcar americano continuava a chegar. Diversificou-se então a economia com produtos para exportar: doces, confeitos, roupa e vinho madeirenses eram trocados pelo açúcar, tabaco, pau-brasil brasileiros e escravos angolanos. Um comércio triangular entre Angola-Madeira e Brasil se desenvolveu, o cobiçado açúcar era ainda a moeda circulante.
Na América portuguesa , onde o clima não ajudava, não se plantava, investia-se na criação de gado para alimento, transporte, vestuário, força motriz dos engenhos. Documentos relatam que o madeirense Gabriel Cristóvão de Menezes, aos 29 anos, já era um abastado criador de gado (Devassa de 6/12/1728).
A presença madeirense não só se fez presente nos primeiros séculos de ocupação e produção económica, como também na defesa do espaço territorial e marítimo contra corsários, piratas e principalmente armadores franceses.
Para ilustração, alguns ilhéus madeirenses de destaque na formação do Brasil:
Francisco de Aguiar (Capitão do Espírito Santo)
Vasco Fernandes Coutinho (Capitão do Espírito Santo)
Antonio Teixeira de Melo (Capitão do Pará)
Pedro Vogado (Governador de Itamaracá, na ausência de João Gonçalves)
Luis de Melo da Silva, Bartolomeu de Melo Berenguer (Capitães do Maranhão)
Tristão de França (combateu os franceses)
Catarina Ferreira (porto santense, mãe de André Vidal de Negreiros)
Manuel Dias de Andrade (actuou na Bahia)
E outros mais como Antonio Freitas da Silva, Fernão Dias de Andrade, Antonio Freitas da Silva...
Homiziados da Ilha da Madeira:
Nicolau de Brito de Oliveira e seu filho Nicolau de Brito (responsáveis por mortes de parentes em disputa de terras)
Rafael Accioli de Vasconcelos (degredado com hábito de Cristo e tença)
João Vieira Pita, Egas Moniz (cristão-novo), Manuel Leme (bígamo).
Mercadores:
Diogo Aragão Pereira, Baltasar Aragão Ayala
João Fernandes Vieira
Diogo Fernandes Branco (negociava marmelada)
Colonizadores Pioneiros
Domingos de Góis e sua mulher Catarina de Mendonça (S. Vicente)
Manuel Escórcio Drumond e família
João de Souza Botafogo (Rio)
Família Lira (Pernambuco) Gonçalo Novo e a esposa Isabel de Lira
Salvador Taveira
Família Mendonça de Vasconcelos (Gaspar Mendonça de Vasconcelos)
Família Cunha (Pedro da Cunha Andrade)
Família Madeira (Gaspar Lopes Madeira casado com D. Luísa Ferreira)
Família Montes Barreto (Duarte Moniz Barreto, Diogo Moniz casado com D. Felipa Mendonça)
Família Furna (Antonio Fernandes Furna)
Família Carvalho (Bernardino Carvalho, irmão de Sebastião Carvalho)
Família Aguiar (Francisco Aguiar donatário do Espírito Santo)
Outras Famílias: Berenguer, Câmara, Accioli, Gadelha, Aragão, Faria, Bulhões, Aranha, Regueira, Saldanha, ... chegaram nos primeiros tempos da construção do país, principalmente , no nordeste e no sudeste para colonizar e cultivar a cana–de-açúcar. Deixaram raízes na incipiente sociedade brasileira.
Uberaba, 21/10/15
Resumo e dados compilados de
- «Os Madeirenses na Colonização do Brasil» (Maria Licínia Fernandes dos Santos) Edição: Centro de Estudos de História do Atlântico CEHA. Secretaria Regional do Turismo e Cultura.
- Delta Universal
- Wikipédia