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A bem da Nação

GEOPOLÍTICA DA CULTURA LUSÍSTICA

 

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“Lusística” e “Lusístico” são neologismos.

 

“Lusística e “Lusístico” estão para “Luso” tal como “Helenística” e “Helenístico” estão para “Heleno”.

 

Tal como se fala de “Cultura helenística” (de “Heleno”), falaremos de “Cultura lusística” (de “Luso”)

 

Tal como é possível falar de “Geopolítica da Cultura Helenística”, é possível falar de “Geopolítica da Cultura Lusística”.

 

Álvaro Aragão Athayde.jpg

Álvaro Aragão Athayde

A LUSOFILIA NUMA PERSPECTIVA DE FUTURO

VI

 

Comunicação Social.jpg

 

Queremos liberdade de comunicação; não queremos libertinagem na comunicação

 

Dentre todos os meios de comunicação hoje ao dispor – e são muitos – a televisão é seguramente o que maior influência exerce nas populações, em especial nas mais frágeis. E quando refiro as mais frágeis significo as que não dispõem de capacidade de defesa contra as influências perversas que lhes possam chegar mais ou menos sub-repticiamente: incitação à violência pela apologia da competição como conceito global, exploração mediática do desespero do derrotado, incitação da revolta contra o dominador (esse que até ao passo anterior era o deus da glória) e assim sucessivamente num círculo contínuo de altos e baixos de euforia e desespero. Ciclos tão úteis para a instalação de ambientes propícios às subidas e quedas das Bolsas internacionais, à manipulação de preços, à gestão dos interesses especulativos de quem quer comprar na baixa para logo de seguida vender na alta. E se os célebres ciclos de Kondratiev[1] não funcionam com o ritmo desejado, há que provocá-los pois não se pode perder tempo “à espera de Godot”.

 

Tudo, porque não há tempo a perder na conquista de posições de liderança, nos lucros que têm que ser cada vez maiores… Mesmo que o produto seja tóxico, ele tem que ser apresentado como sublime.

 

Foi essa mentalidade competitiva – em que tudo vale desde que se alcancem os objectivos – que levou as empresas a despedirem os profissionais experientes para admitirem jovens bem mais baratos, a actual geração dos 1000 (€, claro). E o que fazemos a tanto aposentado prematuro? Deixamo-los pelos jardins a jogar às cartas ou a consumirem o álcool do desespero por inadaptação a uma situação que muitos consideram injusta?

 

Até que a bolha rebentou, os Bancos faliram e os Tesouros nacionais foram chamados a cobrir os dislates que a ganância, a amoralidade, o hedonismo e a ausência de Ética permitiram. Carpe diem...

 

Esta é, pois, a hora de todos pagarmos a insensatez de que nos deixámos rodear.

 

Se queremos obstar a piores cenários do que aquele por que estamos a passar, comecemos por instaurar a ética da comunicação.

 

Sigamos a sugestão de Karl Popper quando ele preconiza que os jornalistas e sobretudo os produtores de televisão sejam alvo de um auto-controle ético exercido por uma Ordem com poderes suficientes para retirar a licença profissional a quem insista no sofisma de «dar às pessoas o que eles dizem que elas querem», a violência, a competição e o sexo.

 

A exploração sensacionalista dos noticiários para quem só há assassinos e corruptos expande o ódio e vicia na denúncia. Não haverá outros cenários menos trágicos? Não haverá outros temas que nos suscitem a busca de soluções construtivas?

 

O mundo da comunicação social vai ter que mudar muito até que se transforme num instrumento de desenvolvimento das populações a que se dirige. Tudo porque, se o poder dos órgãos de comunicação não for totalmente esclarecido, a democracia poderá não subsistir de forma verdadeiramente duradoura. Com programas cada vez mais medíocres – prosseguindo com Popper – (...) só nos resta ir para o Inferno! (...).

 

E se não quisermos ser cilindrados pelo fatalismo infernal, recordemos Hegel quando ele diz que é necessário disciplinar a vontade natural incontrolada, conduzi-la à obediência de um princípio universal e, nesse enquadramento, promover o exercício da liberdade individual.

 

Por tudo isto, dizemos que temos pela frente um século de glória ou de desespero conforme consigamos ou não dar esperança ao Mundo Lusófilo trazendo de volta os valores éticos tanto na dimensão individual como na colectiva, tudo devidamente harmonizado na nossa convivência pluri-cultural e internacional; se conseguirmos transformar a comunicação social num instrumento educativo e não mais de alienação; se conseguirmos impor aos governantes que se rejam por um inultrapassável Sentido de Estado; se inventarmos um novo modelo de desenvolvimento que dê esperança a quem hoje se sente desesperado.

 

Eis como, com tanta coisa por fazer, nos parece imprescindível acelerar o passo no caminho que se abre à Lusofilia pois amanhã é já o primeiro dia do futuro.

 

Terá, então, a Lusofilia um futuro? Sim, sobretudo se nós, a sociedade civil, lho dermos.

 

 

FIM

HSF-Mékong.jpg

Henrique Salles da Fonseca

(algures no Mekong, Novembro de 2014)

 

 

[1] - Nikolai Kondratiev (1892-1938) economista russo que teorizou sobre os ciclos económicos

A LUSOFILIA NUMA PERSPECTIVA DE FUTURO

V

 

L'école.png

 

Educar é hoje uma missão muito difícil

 

É claro que os pais se preocupam com o bem dos filhos. Sabemos que depende deles o futuro da sociedade e não podemos deixar de fazer o melhor pela formação  das novas gerações. Temos que lhes dar uma forte capacidade de se orientarem na vida e sobretudo de distinguirem o bem do mal.

 

A "ruptura entre as gerações" de que tanto se fala resulta da não transmissão de certezas e valores. Resulta da interrupção criada pela renúncia daqueles que deviam assumir a função educativa: os pais. Estão em causa as responsabilidades pessoais dos adultos, que são reais e não devem ser escondidas, mas também a atmosfera difusa a que se referia Lipovetsky na citação anterior, aquela mentalidade e forma de cultura que fazem duvidar do significado do bem. Então, torna-se difícil transmitir de uma geração para a outra algo de válido e de certo, regras de comportamento, objectivos credíveis com base nos quais construir a própria vida.

 

Estas dificuldades são a outra face da moeda que é a liberdade e esta constitui uma relação biunívoca com a responsabilidade. A liberdade de cada um de nós cessa onde começa a do nosso vizinho e se queremos ser livres, então temos que assumir a responsabilidade dos actos que livremente praticamos. Só é responsável quem é livre e a actual irresponsabilidade não é atributo por que devamos pugnar. Não pactuemos com a transfiguração da liberdade em libertinagem. Sejamos merecedores da liberdade de que usufruímos.

 

E é disso que aqui tratamos: de uma educação que o seja verdadeiramente e não se limite ao débito de programas curriculares de mera base científica, sem qualquer orientação pró-ética. Há pais angustiados com o futuro dos filhos; os professores sofrem com a degradação das escolas e do sistema de ensino; a sociedade, no seu conjunto, vê postas em dúvida as próprias bases da convivência e muitos são por certo os jovens que não querem ser deixados sozinhos perante os desafios da vida.

 

Por tudo isto, parece urgente assentar naquilo que devemos apelidar de exigências comuns de uma educação ética.

 

A educação reduz-se à dimensão de mera instrução quando se limita a dar noções e informações deixando de lado a grande pergunta: o que é o bem? E seguindo nessa senda, há que distinguir entre o bem individual, o bem plural e o bem nacional que servem para a vida dos governados, os contribuintes. Mas a essas dimensões do bem há que juntar o Sentido de Estado, ou seja, o bem a que devem obedecer os governantes, os contribuídos, a quem cumpre gerir a causa comum.

 

E se a causa comum resulta duma discussão democraticamente desenvolvida, ela tem que assentar em princípios morais que derivem linearmente do conceito de bem, tudo conjugado num edifício a que deveremos chamar política de base ética e bem comum. Ou seja, a Ética e o Sentido de Estado estão ligados numa relação íntima em que nenhum dos dois pode existir sem o outro.

 

Mas há outra questão que tem a ver com o equilíbrio entre a liberdade e a disciplina.

Educação bem sucedida é a que dá formação para o recto uso da liberdade e as regras de comportamento, utilizadas no dia-a-dia, formam o carácter. Só um carácter bem formado permite a preparação necessária para se enfrentarem as vicissitudes que não faltarão ao longo da vida. E é do disciplinado uso da liberdade que naturalmente resulta o sentido de responsabilidade, essa que começa por assumir uma dimensão individual e a partir da qual construímos a responsabilidade plural, como residentes numa cidade, como membros de uma nação.

 

E as ideias, os estilos de vida, as leis, as orientações gerais da sociedade e a imagem que dela dão os meios de comunicação ao exercerem uma grande influência sobre todos nós – tanto para o bem como para o mal – impõem-nos que cuidemos da formação das novas gerações de modo a que elas saibam com exactidão distinguir entre o que devem escolher e o que devem rejeitar, sem se deixarem influenciar por motivações menos transparentes dos fazedores públicos de opinião tantas vezes ao serviço de interesses mais sinuosos do que aquilo que descortinamos à primeira vista.

 

(continua)

 

Henrique Salles da Fonseca

Henrique Salles da Fonseca

A LUSOFILIA NUMA PERSPECTIVA DE FUTURO

 IV

 

Hedonismo.jpg

 

Reinventando uma Ética para o século XXI

 

Essa, a missão que se espera das elites e, mais concretamente, ao que devemos conduzir as elites lusófilas: a educar seguindo um conjunto de princípios éticos de inspiração universal mas sem descurar o enquadramento étnico de cada comunidade ou País da Lusofilia.

 

Chamemos-lhe educação cívica ou outro nome que possa ser mais consensual, discutamos o conteúdo programático duma tal disciplina curricular dos Ensinos Oficiais em cada um dos nossos países mas não deixemos a juventude entregue ao hedonismo reinante e sem um rumo ético.

 

É que mais perigoso do que viver numa sociedade imoral é deixarmos que se forme uma sociedade amoral.

 

Esta questão é tanto mais grave quanto os pais se demitiram da função educativa dos filhos deixando essa tarefa para os professores, função para que estes não estão formalmente preparados e quando muitas vezes nem conseguem dar o programa curricular que lhes está consignado em matérias mais prosaicas do que éticas.

 

Professores que estão hoje no fio da navalha em que se transformou a sociedade actual. Lembram domadores de feras pois deixaram de ter como principal missão ensinar os programas oficiais e passaram a ter que domar umas criaturas a quem os pais disseram que tudo lhes é devido, que a tudo têm direito sem esforço. Foi disso que os demagogos convenceram os pais e estes transmitiram aos filhos, toda a irresponsabilidade transfigurada em direito.  É claro que agora o esforço de retorno à vida responsável, ao inadiável realismo, vai ser um processo muito doloroso e os primeiros a dar de frente com o problema são os Professores. E como os pais não perceberam que a vida de irresponsabilidade que o laxismo lhes incutiu já acabou, revoltam-se e … vão às Escolas bater nos Professores. Eis o cenário em que deambula o «professor perdido».

 

Urge devolver a dignidade aos professores.

 

(Continua)

 

Henrique SF em Angkor Wat (NOV14).JPGHenrique Salles da Fonseca

(em Angkor Wat, Camboja, Novembro 2014)

A LUSOFILIA NUMA PERSPECTIVA DE FUTURO

 

III

 

Power and Glory.jpg

Chegados à filosofia do poder, deparamo-nos com a anomalia de todos os direitos serem outorgados aos poucos campeões e todas as obrigações serem imputadas a um mar de vencidos.

 

E o que será melhor? Ser-se servo num eldorado ou Senhor num mundo de miséria?

 

A aculturação das populações a um modelo standard e globalizado corta o acesso às raízes culturais mais endógenas e isso anula a ética étnica, essência da cultura mais íntima dos povos. Mas a etnologia é hoje objecto morto de Museu bolorento e escassamente visitado. Em simultâneo, quando esse desenraizamento conduz as pessoas para o mundo da globalização competitiva, então está-se a enviar populações inteiras para um mundo em que não há que olhar a meios para alcançar fins. Se a isto somarmos a atracção que as cidades exercem sobre as populações rurais flageladas pelas guerras, pela inviabilização da ruralidade e pela apologia do urbanismo, compreenderemos a selva urbana em que as nossas grandes metrópoles se transformaram. Pululam os exemplos no espaço lusófono.

 

E como diz Gilles Lipovetsky no seu livro “O crepúsculo do dever”, (...) A sociedade post-moderna ou post-moralista designa a época em que o dever se adocicou e tornou anémico, em que a ideia do sacrifício pessoal se ilegitimou socialmente, em que a moral já não exige que as pessoas se devotem a uma causa superior, em que os direitos subjectivos dominam os mandamentos. (...) o mal transformou-se em espectáculo, o ideal pouco engrandecido. Se perdura a crítica do vício, o heroísmo do bem enfraquece. Os valores que reconhecemos são mais tidos como negativos do que como positivos. (...) triunfa uma moral indolor (...).

 

Neutralizadas tanto a Moral como a Ética clássicas e modernistas, no pós-modernismo promoveu-se a competição em que tudo serve para subir na ostentação. E subir JÁ! A globalização fez isso aos países chamando-lhe competitividade. O que interessa é alcançar os objectivos. Como? Isso é o que menos interessa desde que eles sejam alcançados e, também nesta dimensão macro, JÁ!

 

O hedonismo deixou de ser uma chaga individual para assumir a dimensão plural e, pior, passar a ser considerado «politicamente correcto». O carpe diem horaciano é hoje adubo dos discursos políticos e faz doutrina junto da mole de incautos que ouve, aplaude e, pior que tudo, crê.

 

Podemos, querendo, promover o regresso do discurso da verdade sob pena de, pelo silêncio, darmos guarida a soluções que passem por fora da democracia pluralista em que queremos viver.

 

Aqui chegados, urge perguntar que solução temos à nossa frente. Adoptarmos o imobilismo monástico à espera que a crise passe? Entregarmo-nos, à moda muçulmana, nas mãos do fatalismo indiscutível? Preconizarmos um regresso às origens étnicas, folclóricas?

 

Não nos parece que atitudes de medo, de fatalidade ou de recuo sirvam o futuro por que ambicionamos.

 

Pelo contrário, creio que devemos partir rumo ao futuro pois é natural a ânsia de progresso dos povos a que pertencemos.

 

Sim, temos o direito de subir mas temos a obrigação de promover a subida dos que nos rodeiam para podermos dizer como Nelson Mandela que “a educação é o grande motor do desenvolvimento pessoal. É através da educação que a filha de um camponês se pode tornar doutora, que o filho de um mineiro se pode tornar chefe de uma mina, que o filho de trabalhadores agrícolas pode vir a ser Presidente

de uma grande nação. É o que fazemos do que temos, não o que nos é dado, que distingue uma pessoa de outra.”

 

Mas façamo-lo cumprindo os valores de alguma Ética, aquela que urge reinventarmos.

 

(continua)

 

Bombaim-2008.JPG

Henrique Salles da Fonseca

(em Bombaim, Janeiro de 2008)

A LUSOFILIA NUMA PERSPECTIVA DE FUTURO

II

 

Capacitação.jpg

 

Eis ao que andamos: a puxar as gentes para cima.

 

O fulgor da Lusofilia poderá ser provocado se cada um de nós, os lusófilos, decidir interceder nesse sentido desenvolvendo acções pessoais, locais e regionais para que numa fase mais globalizadora possamos definir as tais complementaridades e estabelecer uma rede de cooperação que promova a língua portuguesa no âmbito duma lusofilia que se irá progressivamente definindo e afirmando.

 

Essencial é que todos saibamos o que cada um faz para que possamos transmitir inspiração, evitar incompreensões e optimizar a acção.

 

Na certeza, porém, de que a língua portuguesa só poderá assumir a relevância que para ela desejamos se for o veículo dos originais de temas que mobilizem a sociedade globalizada, nomeadamente de relevância científica, tecnológica e artística. A divulgação deste tipo de trabalhos é urgente e fundamental para a nossa afirmação no mundo.

 

Noutra dimensão, tenho como fundamental lançar um apelo para a construção de uma Ética Lusófila e para a exigência de um imperativo Sentido de Estado.

 

Herdeiros de um processo de regulação moral da conduta humana necessária ao bem-estar colectivo, deitámos quase tudo a perder e eis-nos chegados à filosofia do poder, aquela em que o objectivo mais elevado é o poder e que resulta claramente de um espírito de permanente competição.

 

Como cada vitória tenderá a elevar o nível dessa mesma competição, o final lógico de tal filosofia é o poder ilimitado e absoluto. Aqueles que buscam o poder podem não aceitar as regras éticas definidas pelos costumes e a tradição enquanto, pelo contrário, adoptam normas próprias e se regem por outros critérios que os ajudam a obter o triunfo. Tentam mesmo convencer as outras pessoas de que são éticos no sentido do objectivo supremo por eles definido tentando conciliar o poder e o reconhecimento da moralidade. Assim foi que se sentam na cadeira do poder muitos daqueles para quem a ética é palavra vã. Daí ao poder absoluto, à ausência de regras consensualmente (leia-se democraticamente) construídas, à ausência de Direito e à dissolução do Estado de Direito, vulgo o fascismo, não dista muito ou não dista mesmo nada. Ignorados os princípios que definem o bem-comum, instala-se o “salve-se quem puder”, sobrepõe-se a razão da força à força da razão.

 

Globalizada a competição e sacralizados os critérios da competitividade, não mais resta qualquer esperança de sobrevivência aos que não sejam campeões. E a alternativa para os não campeões – em que o 2º classificado mais não é do que o 1º vencido – é unicamente a de serem servos. Servos mais ou menos mitigados, mais ou menos engravatados, numa gaiola mais ou menos dourada mas servos e apenas isso.

 

Todos os direitos aos poucos campeões; todas as obrigações ao mar de vencidos.

 

(continua)

 

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Henrique Salles da Fonseca

(algures no Sri Lanka em Novembro de 2015)

A LUSOFILIA NUMA PERSPECTIVA DE FUTURO

 I

 

Internet.png

 

Lusofilia – dedicação a tudo que se relacione com a cultura portuguesa e com as culturas dela derivadas.

 


Temos, nós os lusófilos, como motivação principal o estreitamento dos laços entre as várias comunidades de língua portuguesa, pelo que é fundamental procurarmos as complementaridades nacionais que reponham a língua portuguesa na ribalta internacional e façam do espaço lusófono um modelo de facetada erudição, ética e progresso.

 

E se neste momento nos dividimos nas opções ortográficas dando maior ou menor predominância às vias erudita e popular, devemos precaver-nos contra o perigo da deriva populista (já tão em moda na política) que nos poderá conduzir ao desaparecimento do padrão e ao extermínio da via etimológica pela hegemonia da via fónica. Num espaço ainda tão flagelado pelo analfabetismo adulto, não parece ser esta uma opção de valimento porque o futuro não deve ser subjugado pela quantidade em detrimento da qualidade. Apelando à nossa tradição náutica, se desmagnetizarmos a bússola nunca mais encontraremos o rumo.

 

Simultaneamente, em plena crise financeira global resultante do hedonismo reinante e da flagelação da Ética, é imperioso que assentemos nos princípios que possam enformar o futuro de todo o mundo lusófono.

 

A tradição mercantil portuguesa pode ajudar na busca de soluções para o futuro e se a globalização nos conduz a uma dimensão muito grande, isso não obsta a que não devamos procurar enquadramentos mais à nossa escala. Antes de rumarmos para outros horizontes, dediquemo-nos à promoção das capacidades endógenas para não corrermos o risco de crescimento balofo. Referimo-nos às escalas local, regional e nacional. Na outra dimensão, a internacional, temos a CPLP como o espaço privilegiado para a corporização de uma estratégia de complementaridades de utilidade múltipla, sempre no pleno uso das inquestionáveis soberanias. E esta dimensão lusófona, queremo-la alargada aos «portugueses abandonados», aqueles que algures no Mundo e na História foram bem ou mal governados por Portugal, que absorveram os valores que lhes legámos e que após a nossa retirada – por vontade própria ou alheia – ficaram, contra ventos e marés, a defender esses valores quantas e quantas vezes rodeados de hostilidade ou, no mínimo, de desdenhosa indiferença. Referimo-nos aos lusófonos da Índia, das Celebes, de Malaca, do Sri Lanka, aos Melungos dos Apalaches e a tantos outros que não queremos deixar ao abandono. E porque adivinhamos «portugueses» perdidos por aí além, cremos que a Lusofonia está em crescimento. Crescimento numérico. Preocupemo-nos desde já com a qualidade.

 

Motiva-nos a idealização de todas as vias possíveis e úteis para o progresso da Lusofonia (expressão oral) e do espaço lusófono (expressão material, económica). E pensando nestas vertentes, lemos a História para com ela aprendermos, não a discutindo nem a negando mas reconhecendo que uma repetição não faria hoje qualquer sentido. Procuramos conhecer as questões que se colocaram no passado para melhor compreendermos o presente e, daí, perspectivarmos o futuro. In minime, modernizemos o passado.

 

A título de exemplo e recorrendo apenas a uma cidade, vejamos por onde andou Tavira, actualmente uma pequena cidade portuguesa, ao longo da História: foi sede do primeiro Hospital do Ultramar fundado em 1430 pelos frades trinitários[1] dali irradiando o apoio à Cruzada no Norte de África e à sequente gesta dos descobrimentos; foi pólo pesqueiro de primeira grandeza exportando carne de baleia para o resto da Europa; foi centro mercantil internacional até que a barra assoreou; foi «Madrinha» do Canadá; foi na de Tavira que o Marquês de Pombal se inspirou para decretar a Região Demarcada dos Vinhos do Douro (hoje erradamente considerada a mais antiga do mundo quando essa honra pertence a Tavira). Enfim, foi tanta coisa que podemos inspirar-nos fartamente no passado para imaginarmos o futuro. Mas o Império acabou, a barra não tem calado para os navios modernos, as baleias fugiram e os atuns passam ao largo, o Canadá já não se lembra da existência de Tavira e a vitivinicultura aguarda por ser restaurada.

 

Quantos outros exemplos podem ser identificados? Tantos que não cabem num texto sucinto.

 

Mas quando a análise histórica não sugere modelos pragmáticos para o futuro, resta a solução de cuidar da melhor e praticamente única matéria-prima de que dispomos, as pessoas. Por isso, antes de nos lançarmos a novas campanhas de alvorada, devemos dar prioridade à valorização dos recursos humanos.

 

(continua)

Henrique, Forte Aguada, Goa.JPG

 Henrique Salles da Fonseca

(junto ao Forte Aguada, Goa, Novembro de 2015)

 

[1] Ordem da Santíssima Trindade

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