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A bem da Nação

CARVALHO CALERO

 

 

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A FALA DA GALIZA, O PORTUGUÊS DE PORTUGAL, O PORTUGUÊS DO BRASIL E O PORTUGUÊS DOS DISTINTOS TERRITÓRIOS LUSÓFONOS, FORMAM UM ÚNICO DIASSISTEMA LINGUÍSTICO CONHECIDO ENTRE NÓS COMO GALEGO E INTERNACIONALMENTE COMO PORTUGUÊS.

 

Ricardo Carvalho Calero (Ferrol, 1910 — Compostela, 1990) foi um filólogo e escritor galego do século XX, o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas, considerado o grande pensador do reintegracionismo linguístico. Escritor, nacionalista, teórico do reintegracionismo e professor universitário, é uma das figuras mais proeminentes do universo intelectual galego do século XX.

In Wikipédia

 

(*) http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://1.bp.blogspot.com/_WrNmfJ_5QwU/TM4T_XKj4HI/AAAAAAAAACs/HWAei6_-vxo/s1600/monumento%2BCarvalho%2BCalero.jpg&imgrefurl=http://estrolabio.blogspot.com/2010/11/sempre-galiza-por-pedro-godinho.html&usg=__Rld-3BlzVrJPDzEqrLoHtFY5T6Q=&h=224&w=316&sz=17&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=_q-UyV5DYr5XmM:&tbnh=128&tbnw=190&ei=_j5FTa_PDoOEswbb_IXbDQ&prev=/images%3Fq%3DCarvalho%2BCalero%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1021%26bih%3D681%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=411&vpy=370&dur=47&hovh=179&hovw=252&tx=87&ty=97&oei=_j5FTa_PDoOEswbb_IXbDQ&esq=1&page=1&ndsp=20&ved=1t:429,r:12,s:0

A VITÓRIA EM S. MAMEDE

  

  

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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(Teresa, para os botões do seu corpete, após o recontro de S. Mamede - que ela venceu)

  

“Por fim, tenho ao alcance das minhas mãos o reino que foi de meu tio e que meu pai me negou. A mim, a sua filha preferida, só porque os senhores bispos ousaram fadar-me de ilegítima por ter nascido fora do ritual que Roma agora nos impõe. Para Urraca, minha irmã, a legítima que a Igreja incensava, tudo: reinos e senhorios, um primogénito para desposar (que de pouco lhe valeu, se não ela não teria chamado o meu Henrique para seu condestabre e sabe-se lá para que mais). E eu que me bastasse com um filho segundo que não tinha onde cair morto e um condado feito de bocados, cheio de gente rude que não conhece senhor e de moçárabes, os de Coimbra, que não são de fiar. Foi isto que de meu pai, Alfonsus Imperator, recebi. Ah! Mas eu ambicionava um reino, que só um reino era digno de mim. E reino havia. A Galiza, que meu avô Fernando fizera reino e doara a seu filho Garcia, morto este, quedara sem suserano a quem chamasse seu. Os grandes condes galegos, os Travas, os Toroños, os de Orense, instigados pelo bispo Xelmirez (que eu nunca o tenha por inimigo), bem se levantaram contra Leão, uma e outra vez. Não lhes faltava pretexto, ao verem tantos Francos a insinuarem-se nos favores reais e a instalarem o seu poder e as suas linhagens onde, até há pouco, era só terra de Godos. Faltava-lhes, sim, quem tivesse estirpe igual à da leonêsa que queriam expulsar. De mais sabia eu o que atormentava Xelmirez. Não era a sorte do reino galego e dos seus ricos-homens. Era, sim, o medo de perder para o bispo de Toledo, Primaz das Espanhas desde os tempos dos reis antigos, e para mais um Franco, a veneração e o temor que Compostela, qual Compostela! que ele, Xelmirez, inspirava na nossa cristandade. O bispo de Braga, manhoso como todos os da sua raça, lá tem manobrado entre Compostela e Toledo para ver se agarra umas quantas mais sés sufragâneas, que sempre vão rendendo bons proventos. Durante anos e anos apoiei-o nessa lide, na esperança de fazer do condado portucalense um reino. Tarde me apercebi que Urraca nunca mo permitiria. Ainda esperei que ela, ora entretida a fazer guerra ao seu segundo marido, o navarro Alfonso (dizem que pouco dado à peleja amorosa...), ora distraída nos braços do seu amante Haro, me desse azo. Nunca mo deu. Estava escrito que o reino da Galiza seria o meu destino. Por ele lutei. Por ele venci. Mas não foi fácil. Aquela ideia de desposar uma filha minha com o meu amante Bermudo (quando este, por morte de seu pai, Pero Froilás, encabeçou o condado de Trava ) para assim ter do meu lado os condes galegos e os seus homens d’armas, ia deitando tudo a perder. Incesto! Vociferava a nobreza de Entre-Douro-e-Minho. Incesto! Acusava o bispo bracarense e, com ele, todo o clero nas igrejas. Incesto! Repetiam cavaleiros vilãos e herdadores. Qual incesto! Estes, o que temiam era a sede insaciável dos nobres por terras, honras e senhorios. Disse-lhes que só uma rainha poderia reprimir tais apetites – e eles acreditaram. Hoje, não estiveram por mim, mas também não pegaram em armas, Deo gratias. Ao bispo de Braga não demovi, por mais que lhe jurasse que eu (não já condessa, mas rainha) nada ganharia com tornar Compostela a sé maior dos meus domínios. Os nobres portucalenses, esses, sabia eu, não queriam ver-se arrastados pelos seus senhores galegos para uma guerra com Leão da qual não esperavam tirar, nem honra, nem proveito: perdida a causa, não escapariam à vingança que de lá viria; em caso de vitória, só algumas migalhas lhes tocariam. Razão tinham, pois os fossados por terras de sarracenos sempre rendem melhores presas. Foi isso mesmo que eu lhes mostrei. Comigo rainha, seriamos, nobres galegos e nobres portucalenses, suficientemente fortes para fazer como meu pai e meu avô: assolar as cidades mouras, submeter os seus príncipes e obrigá-los a pagarem párias em ouro, prata, armas, cavalos, enfim, em tudo aquilo que serve para reter fidelidades e curar despeitos. Alguns convenceram-se, e estiveram hoje sob o meu pendão. Outros, na sua cegueira, arrastaram o meu filho contra mim. Bem lhe disse que este era o momento de eu ser rainha e de ele, um dia, ser rei. E mais lhe disse que, condes, só o seriamos enquanto soprassem bons ventos da corte leonêsa. O momento era agora. Desaparecida a minha irmã (de parto! com quarenta anos já feitos!), com o meu sobrinho Alfonso ainda mal sentado no trono, Leão levaria tempo a reagir. E levou, se é que pensou fazê-lo. Os de Bragança, chamados em auxílio pelos que se me opunham, ainda devem estar à espera da ordem para avançar do seu suserano leonês, porque no campo de batalha não se fizeram ver. Laus Deo, que à vista das hostes dos Travas e de tantos outros cavaleiros galegos, mais aqueles que de cá se me juntaram, os que se escondiam atrás do meu filho acharam melhor furtar-se à peleja. Antes assim, que não se semearam novos rancores. E agora? Ala para Compostela, a preparar-me para quando Leão ripostar. Afonso Henriques virá comigo. Assim os que me combateram vão ficar a saber que também sei perdoar (e como necessito deles para o embate que aí vem!). Disputarei a Leão as párias das taifas mouras: Badajoz, Sevilha, Córdova e mais além, mas não impedirei que os meus cavaleiros, nobres e vilãos, continuem a lançar os seus fossados e correrias por terras de infiéis. Aos poucos, despojarei Leão das fontes que lhe têm dado riqueza e poder. Aos poucos, a corte leonêsa, sem mais riquezas para distribuir, desmembrar-se-á. Será esse o dia de eu entrar em Leão. Mas deixarei o condado de Castela seguir o seu caminho. É melhor assim. Castela, em permanentes lutas com navarros e mouros saragoçanos, jamais reunirá forças para me ameaçar, e sempre irá mantendo longe de mim aqueles que hoje a guerreiam. Toledo não tardará a ser minha também. E, então sim, farei do Douro, do Tejo, do Guadalquivir e do Mar os fortes esteios de um grande reino que ninguém poderá alguma vez destruir. O domínio absoluto sobre metade da Hispânia, do mar ocidental às pastagens da Meseta, das Astúrias às costas da Bética e, porque não? de Múrcia - talvez um Império, se o Papa se deixar convencer – eis o que será de Afonso Henriques quando eu morrer. E morrerei em paz, reparada que fica a injustiça que meu pai me fez.”

 

 

A. PALHINHA MACHADO

 

Janeiro de 2007

 

(*)http://trabalhodteresa.blogspot.com/

A Galiza e o Galego – (3)

 

Vimara Peres (*)

Notas complementares

 

1) Afinal, por que razão Galiza e Portugal nunca conseguiram reunir-se? A razão deve ser esta: o suposto descobrimento em 813 do túmulo do apóstolo Tiago (Santiago). Como se explica isto? As autoridades religiosas predominantes na Galiza, com sede em Santiago de Compostela, ensoberbaram-se e quiseram roubar a Braga o prestígio arqui-episcopal desta, por meios pouco sérios e mesmo anti-cristãos, como foi o "Pio Latrocínio" (roubo à Sé de Braga por agentes compostelanos de relíquias sagradas mais veneradas do que as do próprio 'apóstolo' -- o principal facínora foi o Bispo Gelmires). O enorme prestígio criado por Santiago de Compostela, a que acorreram sempre milhares de peregrinos, serviu os interesses do imperialismo castelhano, que sujeitou o reino de Leão/ Galiza. Portugal neste contexto não podia aspirar em chamar a si a Galiza, mas tinha de defender-se, e conseguiu, resistindo ao ímpeto imperialista de Castela, que pretendia reuni-lo a uma Galiza domada e submetida. No tempo da nossa fundação, o poder e a grandeza estavam do lado da Galiza, e o Condado Portucalense, desejoso de independência sob a chefia dum jovem príncipe, era a parte fraca, que tinha poucas probabilidades de êxito. O plano iberista de Castela, que inicialmente era um condado do Reino de Leão, surgiu cedo e prosseguiu através dos séculos até hoje, quando ainda há uns portugueses tolos e ignorantes que nele colaboram.

 

Há tempos, disseram-me que se Portugal e Galiza não estavam reunidos num só Estado, a culpa tinha sido de D. Afonso Henriques que lutara contra a sua mãe, envolvida como estava com Fernão Peres de Trava, um poderoso da Galiza compostelana. Certo e errado! Se a independência de Portugal, a Galiza do sul, não se tivesse conseguido, hoje estaríamos a falar castelhano, nação submetida, em situação cultural muito pior que a da Galiza de hoje.

 

[Recomendo a leitura do artigo do galego Alexandre Banhos "Podemos nós, os galegos da Galiza espanhola, reclamar o nome de galego para a língua comum?" Este artigo pode encontrar-se no Google.]

 

2) As nações celtas cobriam muito provavelmente a maior parte da Europa antes da dominação romana. A Gália, que Júlio César conquistou, era certamente habitada por celtas. O mesmo sucedia nas Ilhas Britânicas. A julgar somente pelos topónimos, o mesmo sucedia no ocidente da Península Ibérica (Galiza), na Polónia/Ucrânia (Galitzia) e ainda na Anatólia, actualmente a Turquia asiática, (Galácia).Todos esses povos falavam certamente línguas celtas. Onde estão hoje as nações celtas e onde se fala o celta? A Gália romanizou-se, passou a falar latim, e acabou sendo povoada pelos Francos, povo germânico. A Galiza tem apenas dos celtas uma vaga memória e fala latim. A Galitzia, tanto quanto eu sei, é apenas um nome. Agora é habitada por eslavos e fala uma língua eslava. A Galácia, como nome apenas, nem sequer sei se ainda existe. Se existe, nela se falou grego e agora se fala turco.

 

Apenas na Grã-Bretanha, ainda existe uma nação sujeita, que se diz celta e fala minoritariamente uma língua celta. É o País de Gales (Wales), cujo nome celta é Cymru, sendo o nome da língua Cymraeg. Tentei em tempos estudar um pouco esta língua para ter uma ideia dela. Essa tentativa foi breve e a ideia que me ficou da língua é que é simplesmente intragável. Pareceu-me que o Cymraeg nem sequer era língua do grupo indo-europeu. Mas é.

 

Na Irlanda, a língua celta é a língua oficial, mas muito pouco se fala. A língua da Irlanda é muito predominantemente o inglês.

 

Na Bretanha francesa (Armórica), chamada Bretanha porque para lá emigraram bretões da Grã-Bretanha, ainda subsiste muito precariamente a língua celta trazida por esses bretões. E tende a desaparecer por completo. Na Galiza ninguém fala celta, mas sim o neo-latim português (galego), desprestigiado, e o castelhano, a língua do invasor ibérico.

 

Onde eu quero chegar com este arrazoado é que os celtas, por razões que me ultrapassam a inteligência, são suicidas. Perdem a raça, perdem a língua, perdem o enorme prestígio de que gozaram. E de tal maneira, que até perdem não só a língua celta, que já não conhecem, como a língua que adquiriram como substituta. É o caso muito nítido da Galiza, nação que foi grande e prestigiosa na Alta Idade Média, e hoje sofre as penas de terra alienada e língua, o Galego, em decadência.

 

Este caso particular interessa-nos, Portugueses, sobremaneira, porque a origem da nossa nacionalidade é galega, fomos na Antiguidade também celtas, tivemos e perdemos imensos territórios espalhados pelo mundo, a nossa língua foi a língua franca no Oriente, tivemos grande prestígio internacional, e agora estamos reduzidos a uma nesga de terra, e a nossa língua está ameaçada, se bem que se mantenha no mundo como uma das línguas mais faladas, graças ao Brasil e ao Ultramar Português.

 

A acção dos nossos políticos hodiernos parece ser a de uma auto-destruição, tão denegridora tem sido da nossa História e dos nossos grandes políticos de outrora. E os Portugueses, sempre pessimistas e sempre ciosos duma hipotética grandeza, hoje voltam-se para as ingloriosas 'glórias' do futebol.

 

3) Sabe-se que o Reino de Portugal se originou no Condado Portucalense. É verdade, mas talvez pouca gente saiba que antes houvera um primeiro condado de Portucale, cujo primeiro conde fora Vimara Peres (820-873), o fundador da cidade de Guimarães (Vimaranes). Foi Vimara Peres que libertou Portucale do domínio mouro, em nome do rei galego/asturiano Afonso III, o Grande. Vimara Peres é relembrado na cidade do Porto por uma estátua equestre levantada no largo em frente da Sé do Porto.

 

[A propósito: foi nesta Sé que o Mestre de Avis, já rei D. João I de Portugal, vencida a Batalha de Aljubarrota, se casou com D. Filipa de Lencastre, a princesa inglesa, mãe da "ínclita geração"].

(**) 

 

Também condessa de Portucale foi D. Mumadona Dias, cuja estátua comemorativa se encontra em Guimarães) entre 924 e 950, a que se deve a construção do Castelo de Guimarães, não para defesa contra os Mouros, já então expulsos, mas contra os piratas vikings que nesse tempo faziam incursões atrevidas pelo interior do território. O último conde desta dinastia foi Nuno Mendes até 1065. O Conde D. Henrique de Borgonha pai de D. Afonso Henriques foi Conde de Portucale a partir de 1096.

 

De tudo isto, que eu só aprendo agora, concluímos que como Nação viemos da Galiza e nos podemos orgulhar de que somos os galegos modernos, livres da "Doma e Castração" que representa a hostil dominação castelhana. Peçamos a Deus que saibamos conservar forte esta liberdade nacional, por muito que pese a só cretinos e calinos. Haja Deus!

 

 Joaquim Reis

 

(*)http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://1.bp.blogspot.com/_bM_v6cSxRZI/TPX6Q9_AK2I/AAAAAAAABEk/t3hlvVzXPtc/s1600/VimaraPeres.JPG&imgrefurl=http://onossorasto.blogspot.com/2010/12/vimara-peres.html&usg=__1wtCPHqN0_z7Xy4QSsoWSLvf9_Q=&h=1024&w=680&sz=221&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=YZzJrQRwDFyhHM:&tbnh=126&tbnw=75&ei=U4tJTdbkDdSFswaH6sWwDw&prev=/images%3Fq%3DVimara%252BPeres%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=490&vpy=308&dur=562&hovh=276&hovw=183&tx=89&ty=145&oei=U4tJTdbkDdSFswaH6sWwDw&esq=1&page=1&ndsp=23&ved=1t:429,r:14,s:0

 

(**)http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.rotadoromanico.com/SiteCollectionImages/PersonalidadesHistoricas/Mumadona%2520Dias.jpg&imgrefurl=http://www.rotadoromanico.com/vPT/ORomanico/PersonalidadesHistoricas/FichadePersonalidade/Paginas/MumadonaDias.aspx&usg=__p5iHNuZa0uahttLEBFYE3bRs1c4=&h=220&w=150&sz=14&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=syErVdcYGlVUOM:&tbnh=124&tbnw=82&ei=S49JTYnhCcn1sgbz69ybDw&prev=/images%3Fq%3DMumadona%252BDias%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=218&vpy=378&dur=1466&hovh=176&hovw=120&tx=104&ty=106&oei=S49JTYnhCcn1sgbz69ybDw&esq=1&page=1&ndsp=23&ved=1t:429,r:13,s:0

A GALIZA E O GALEGO (2)

 

 

Como já vimos, os mouros, comandados por Taariq atravessaram o estreito de Gibraltar em 711 e facilmente derrotaram em Guadalete as tropas do rei visigodo Rodrigo, e em poucos anos se apoderaram de toda a Península Hispânica, excepto de uma pequena região montanhosa na costa cantábrica, as Astúrias. Foi aí, em Covadonga, que, segundo a tradição se iniciou a reconquista. Data de 718 a fundação do reino das Astúrias, sendo rei Pelágio, que começou a campanha contra os mouros invasores em 737. Nos 50 anos seguintes, Pelágio conquistou a Galiza e sua capital, a cidade de Braga, passando a Galiza a fazer parte do reino das Astúrias. Deve dizer-se que a resistência dos mouros não deve ter sido muito grande, porque seriam relativamente poucos e não gostariam muito de terra fria e húmida demais para seus gostos. Fosse como fosse, a Galiza deve ter renascido pelos fins do século VIII. Digo renascido porque existira a Galiza romana e a Galiza sueva. A Galiza era terra cristianizada havia já muito, e fora a pátria de Prisciliano, um bispo célebre pela sua doutrina peculiar, que fez escola e perdurou séculos. Lembremo-nos que o cristianismo, religião maldita nos seus primeiros tempos no Império Romano, fora tornada a religião oficial de Roma pelo Imperador Constantino, o Grande. Ele, segundo a tradição tivera a visão de uma cruz no céu e destas palavras: "In hoc signo vinces" (Com este sinal vencerás). E por esta razão convocou o primeiro concílio da Igreja (325 d. C.), o de Niceia, na Anatólia. E aí foi proclamado o Cristianismo como a religião oficial de Roma, que substituiria o tradicional paganisno politeísta. Mas... ai que misturaram política com religião ou vice-versa!...

 

Pois bem, na Galiza de religião cristã, confirmada ainda recentemente pelo Concílio de Niceia, surgiu Prisciliano que, julgado pelas autoridades eclesiásticas, foi considerado herético, propagando doutrina e ideias contrárias às ortodoxas havia ainda pouco tempo consagradas. Prisciliano deve ter nascido em 340, e morreu nos fins do século. Foi perseguido pela Igreja oficial, e convocado pelo imperador romano Máximo a Trier na Renânia, onde foi morto e decapitado, embora o crime tivesse tido a desaprovação de bispos honestos, como S.to Ambrósio, bispo de Milão. Com Prisciliano morreram também alguns dos seus companheiros. Passados alguns anos, Máximo foi deposto e assassinado e os devotos de Prisciliano trouxeram então os seus restos mortais de regresso para a Galiza e os teriam sepultado em Íria Flávia (hoje Santiago de Compostela).

 

Em 813, milagre! Descobriram em Campus Stellae, o Campo da Estrela, nada mais nada menos do que o túmulo do apóstolo Tiago (ou Iago? -- Jacques, em francês, Giacomo ou Giacoppo, em italiano, James, em inglês, Jacobus, em alemão.... ),. que fora decapitado em Jerusalém no ano 42. Como foi o corpo decepado do apóstolo Tiago parar à Galiza? Não se sabe, nem interessa saber. A verdade é que a partir daí se estabeleceu a crença, o mito jacobeu, e em religião não interessa a verdade nua e crua, mas sim crer e fazer crer, como acontece actualmente com o famigerado holocausto dos seis milhões. Seja como for, os restos mortais encontrados em 813 num túmulo do século IV passaram a ser relíquias santas, e hoje se conservam em urna de prata dentro da Catedral de Santiago de Compostela.

 

O acontecimento foi de transcendente importância política e religiosa para o Reino da Galiza, sempre sujeito a Leão-Castela. Milhões e milhões de peregrinos têm vindo de longe para visitarem a Catedral de Santiago e a urna com os restos do apóstolo. Primeiro vieram piedosamente, como sinceros crentes do mito. Hoje continuam a vir, como turistas, que a Galiza é terra de grandes belezas e gente cordata.

 

A Galiza só deixou de ser Reino nos princípios do século XIX, mas nunca deixou de ser sujeita. Hoje não é Reino, é Região.

 

Ainda como Reino, a Galiza, no século XV tomou partido por D. Joana, conhecida por "Beltraneja", a "Excelente Senhora", sobrinha do nosso rei D. Afonso V e herdeira do trono de Castela, contra sua tia, D. Isabel, a futura "rainha católica". Esta venceu, e, quando pôde, vingou-se da Galiza, exercendo uma acção repressiva que ficou conhecida como "Doma e Castração do Reino de Galiza". Os galegos patriotas e cultos não esquecem. Eles não gostam dos castelhanos, como nós não gostamos. "De Leste, nem bom vento, nem bom casamento".

 

Hoje a Galiza, apesar do enorme esforço realizado pelos seus intelectuais e artistas literários para restauração da língua e eventualmente recuperação duma independência, de que usufruiram em muito breve lapso de tempo, sob Garcia II, irmão de Afonso VI, avô do nosso fundador D. Afonso Henriques, está altamente castelhanizada. "Os estrangeiros vieram e nós habituámo-nos", na expressão dum simples homem do povo galego.

 

Desde há muito, esses intelectuais vêem a sua língua a ser falada, viva e florescente, nas terras ao sul do Minho. E porque essas terras, pelo menos até ao Douro, foram território galego, eles sentem-se na sua Pátria quando estão em Portugal. A sua língua é o português -- o galego que escapou à fúria castelhanizante. E nós, Portugueses patriotas, que os compreendemos, sentimos asco e vergonha quando sabemos de algum dentre nós que diz alarvemente que queria ser "espanhol", ou porque ganharia mais uns tostões ao fim do mês, ou porque é iberista de mau porte, como o ridículo ministro nosso que disse ser um deserto ao sul do Tejo e confessou o apetite de ser castelhano porque "temos a mesma cultura". Arre burro!

 

Meus caros Amigos e compatriotas, oriundos das terra ao norte do Rio Minho, só vos posso transcrever as palavras de Pondal:

Os bons e generosos a vossa voz entendem, e com arroubo atendem o vosso rouco som, mas são os ignorantes e feros e duros, imbecis e escuros, que não vos entendem, não. Os tempos são chegados... da redenção!

 

SURSUM CORDA!

 

 Joaquim Reis

A GALIZA E O GALEGO - 1

  (*)

 

A História é um mar sem fundo, onde o amador mergulha, e mergulha, e se perde sem nada ver, porque a água está cada vez mais turva, e a luz é tanto menor, quanto mais fundo se desce. Também houve quem dissesse que a História é um terrível pesadelo, tão cheia está de tragédias horríveis e dramas estarrecedores. Na escola aprende-se a História altamente simplificada. Não podia ser de outro modo: Primeiro eram os iberos, depois vieram os celtas, que se fundiram com eles e formaram os celtiberos. Isto para a Península Ibérica ou Hispânica.

 

Mas para as Ilhas Britânicas diz-se mais ou menos o mesmo: primeiro eram os iberos, depois vieram os celtas que, fundindo-se com eles, deram os celtiberos. Pelo menos, foi assim que julgo ter lido há anos numa história da Grã-Bretanha, em livro de divulgação, cujo título e autor se me escaparam totalmente da memória. O tipo do ibero ainda existiria na Grã-Bretanha: homem baixo, cabelo e olhos escuros, pele branca baça ou parda. E teria vindo do norte de África.... Enfim, simplificação excessiva que satisfaz as mentes juvenis. Que linguas falavam esses iberos? Não se sabe. Há quem queira atribuir-lhes parentesco com o basco, língua única, sem parentes conhecidos, talvez a língua mais antiga da Europa.

 

Que línguas se falavam antes dos Romanos no sudoeste da Europa, hoje Portugal e Galiza? Possível e provavelmente línguas celtas. Os galegos acreditam na sua origem celta e devem ter razão, a julgar pelo nome da "Galiza", cognato com "Gália", terra de celtas, com "Gales", terra de celtas, com "Galitzia", na Polónia, e com "Galácia", na Anatólia, terra de celtas.

 

Mas os chefes celtas, como o Breogão do Hino Galego, são mitos que os Galegos alimentam para se sentirem diferentes dos Castelhanos, originários talvez dos Iberos. Mas é tudo especulação. Como a Galiza, Portugal teria tido a mesma origem celta, mas o português-galego tem origem, sem sombras de dúvida, no latim, sendo difícil descortinar as palavras celtas na nossa língua. Não conheço nenhuma. Parece, contudo, que na Galiza há professores que procuram pescar palavras celtas nas profundezas da História e nos mistérios da língua Os celtas não nos deixaram quaisquer documentos literários. Depois outros povos, outras raças se introduziram no mundo predominantemente latino e deixaram seus rastos: os godos e os mouros (berberes e árabes). Da presença destes nota-se tanto na Galiza como em Portugal uma certa diferenciação. Enquanto em Portugal se diz "alfaiate", vocábulo árabe, na Galiza diz-se "sastre", vocábulo latino. O que nos leva a concluir que a fala do sul sofreu mais a influência do árabe que a do norte. Do mesmo modo, o galego usa os nomes dos dias da semana originários do latim (luns, martes,...), enquanto os portugueses os designam como os árabes (segunda, terça,...). De qualquer maneira, é indiscutível a identidade do português com o galego e vice-versa, mesmo modernamente, quando já lá vão quase mil anos desde que o condado portucalense se separou do reino da Galiza, para nunca mais se reunir com ela politicamente. Ainda bem, porque uma hipotética reunião não significaria a independência da Galiza, mas nova subordinação de Portugal a Castela.

 

Por que razão a Galiza ficou atrelada a Castela, com a consequência de ver a sua fala abandalhada, amesquinhada e desprezada pelos arrogantes do médio oriente hispânico? Pergunta para mim muito difícil (ou impossível) de responder.

 

Quanto à situação da fala galega, tenho algo para explicar.

 

1º caso: Entrei numa livraria na Galiza. O dono, ou o empregado, respondeu-me em castelhano ao meu português. "O Sr. não sabe falar galego?" -- perguntei-lhe. Sabia, era até em galego que falava em casa. Mas o homem não foi capaz de falar galego comigo, um cliente português, que ele entendia perfeitamente. Conclui que tinha vergonha da sua língua-mãe, que não era língua para se usar numa livraria, antro de cultura.

 

2º caso: A cena repetiu-se noutra loja, que não era livraria. "A Sr.ª não sabe falar galego?". Sabia. "Então por que não fala galego?" " Ah! Essa linguinha?!", respondeu-me como que indignada. Na Galiza -- pareceu-me -- quem não falasse castelhano evidenciava o seu baixo estatuto social.

 

3º caso: Por isso é que eu ouvi um pedinte implorando esmola num galego tão perfeito que fiquei pensando que os pedintes portugueses vinham pedir para a Galiza.

 

4º caso: Lá bem ao norte, na costa cantábrica, um sujeito, ouvindo-me e à minha mulher a falar, dirigiu-se-nos a palavra com um ar muito simpático. Era galego, aparentemente distribuidor de pão. A sua língua era perfeito português, o que me encantou e me fez logo simpatizar com ele. Ele gostava muito do português, confessou-me.

 

5º caso: Em Baiona, o hotel estava cheio, apenas restava um cubículo, onde mal cabia a cama. Sujeitámo-nos. Depois queixei-me à funcionária que o "quarto" era muito pequenino. A funcionária gozou com a palavra "pequenino". Fazia-lhe certamente lembrar a "linguinha" dos pedintes, dos serviçais, dos empregaditos, etc. Fiquei um pouco melindrado.

 

Isto foi há 17 anos. Tenho a impressão, se não a certeza, que a condição social do galego se modificou e continua a modificar para melhor. O nacionalismo dos Galegos parece-me evidente. E nós, Portugueses, temos certa responsbilidade nisso. O galego tem cada vez mais a noção de que a língua portuguesa e a língua galega são a mesma e uma só, com variantes locais que são naturais e perfeitamente admissíveis. E embora o ineficaz e incompetente governo de Lisboa se mostre relutante em tomar uma posição quanto à língua que possa melindrar Madrid, a verdade é que o Português mais evoluído percebe bem a situação e está incondicionalmente ao lado dos patriotas galegos. Até ao dia em que o Reino da Galiza (chamado Região) possa finalmente libertar-se da tutela do Imperador em Madrid, como D. Afonso Henriques, rei de Portugal, se libertou da malhas que o prendiam ao imperador Afonso VII de Leão e Castela.

 

Factos históricos

 

Os mouros (berberes islamizados) invadiram em 711 a Península Ibérica por Gibraltar, local a que deram o nome do seu general: jabal Taariq (monte de Taariq). Em muito pouco tempo (uns 3 anos), depois de desbaratarem os exércitos dos visigodos, tiveram praticamente toda a Península dominada. Uma pequena região, porém, manteve-se livre: as Astúrias. Em 718, fundado o reino das Astúrias, cujo rei era Pelágio, iniciou-se a Dinastia asturiana e a reconquista dos reinos cristãos, que só foi concluída em 1492 com a conquista do califado de Granada pelos Reis Católicos, após dez anos de guerra.

 

Mas.... tenho pano para mangas, e para não maçar agora mais os hipotéticos leitores com tanta costura, fico por enquanto por aqui em Oviedo ou Covadonga

 

(continua)

 

 JOAQUIM REIS

 

(*)http://www.colindixonphotography.com/images/CWA/Santiago%20de%20Compostela,%20Galicia,%20Spain.jpg

GALIZA E PORTUGAL

 

LÍNGUA E CULTURA COMUNS
UMA VISÃO DE AMBAS AS PARTES
 
 
 
 
I – Devemos iniciar o tratamento da Lusofonia pelo tema do AUTOCONCEITO que de si mesmo têm os portugueses e, por extensão, a valoração que fazem da sua própria língua e cultura.
 
II – O segundo problema, ao nosso ver, radica na força com que os portugueses apoiam a defesa e utilização da sua língua própria.
 
III – Um terceiro problema – não menos importante – radica na visão que têm os portugueses do mundo lusófono e da utilidade da sua língua dentro do concerto da política linguística mundial.
 
IV – O quarto problema relaciona-se com o desconhecimento sobre a realidade da Galiza, mãe e berço da língua portuguesa, que tem em geral o povo português. É preciso conhecer a apoiar a Galiza melhor desde Portugal e incluir esta comunidade dentro do mundo lusófono, ao que por língua, cultura, tradição e história pertence.
 
V – Por último, ao nosso modesto entender, o problema número cinco relaciona-se com a política linguística e cultural públicas – e também privadas – de Portugal.
 
Explicitados tais problemas, faz-se necessário entrar a analisá-los um por um.
 
1º - Os portugueses infra valoram exageradamente o que é seu. É, portanto, urgente e necessário modificar o auto-conceito que de si mesmos têm os portugueses. Portugal pode ensinar em muitos campos aos demais países do mundo: no ensino, na cultura, na defesa do património, no artesanato, nas artes, no respeito pelas ideias dos demais, na defesa da natureza e da vida, etc.
 
Portugal é, para nós, um dos povos mais cultos do mundo. Infelizmente, são os portugueses os que não acreditam neles mesmos. Portugal é um dos países com maior imaginação e criatividade do planeta. O dia em que o povo português se faça um bocadinho “chauvinista”, à moda francesa, dará um passo à frente muito importante.
 
O primeiro que necessita um povo é acreditar nele mesmo e superar todo o tipo de complexos de inferioridade. A língua portuguesa, além de formosa, é extensa e útil. A cultura portuguesa é, por enlaçar com a tradição mais autêntica e com o povo, de alto nível, muito superior à de qualquer outro país. Tão só falta que os portugueses e portuguesas tomem consciência do que estamos a dizer. Quem tem que sentir inveja são os outros de Portugal, não ao contrário. O cuidado com que em Portugal se trata a música, o folclore, as artes tradicionais, as festas populares, os monumentos com valor artístico, os museus, o livro, etc., é realmente exemplar e modélico para qualquer outra cultura. Vocês mesmos têm arquitectos paisagistas. Vocês mesmos têm parques naturais extraordinários. E não estamos a falar de um Portugal ideal senão real. Ainda conservam as feiras que já estamos a perder nós. Por não falar da cultura do vinho que tão esplendidamente conservam desde tempos históricos. Cuidar do vinho também é cultura. Conservar o artesanato autêntico também é cultura. Apoiar os ranchos folclóricos e outros grupos musicais também é cultura.
 
2º - Também a experiência nos diz que não se distinguem precisamente os portugueses pela defesa que, especialmente nos foros internacionais, fazem da própria língua. Outra vez o negativo complexo de inferioridade e de infra valorização da sua língua que têm os portugueses, leva-os a utilizar nos diferentes foros o francês ou o inglês (ou mesmo um horrível castelhano). E não o que seria natural: a língua portuguesa. Fazem assim por considerá-la de menor rango. Sem dar-se conta que na CEE, pata pôr um exemplo, depois do inglês e do castelhano, o português é a língua mais importante. Meus queridos amigos, diante do francês, do alemão, do italiano, etc. Esta atitude dos portugueses – incompreensível, olhe-se4 por onde se olhe – dos intelectuais e mesmo dos políticos, infelizmente bem poderia perdurar. Atitude que leva por exemplo a que nas reuniões da CEE ou do Conselho da Europa, por despreocupação dos afectados, faltem os tradutores e intérpretes portugueses, ou pelo menos se existem sejam brasileiros. Por se não o sabem diremos-lhe que o governo espanhol – ou os seus representantes – não dão início a reuniões se não estão nas cabinas os tradutores para a língua castelhana. São políticos bem diferentes mas que sempre as leva de perder a língua portuguesa, por culpa dos próprios portugueses. Ainda nos lembramos daquele ministro português que podendo – e devendo! – falar em português o fez em inglês. É urgentíssima a mudança de atitudes neste tema. Porque a língua portuguesa, ademais de formosa e de ser a nossa (com o que já abondaria), é a segunda língua românica mais importante do mundo depois do castelhano, a terceira mais importante da CEE, a língua oficial de sete países soberanos e cooficial com o castelhano na Galiza, além de ser falada em comunidades doutros continentes, nomeadamente Ásia e Oceânia. A utilização da língua própria pelos portugueses em todos os foros nacionais e estrangeiros é irrenunciável. O que não é incompatível com a defesa do conhecimento de outras línguas e do plurilinguismo que desde sempre tem defendido o povo português. A diferença da Espanha, em Portugal é normal que os intelectuais dominem, além da sua, outras línguas. Achamos que isso é bom e positivo, revelando uma maior cultura.
 
3º - Portugal, que teve o valor e a audácia de levar a língua galaico-portuguesa ao mundo, deveria nesta altura deixar por um tempo de mirar-se a si mesmo de maneira narcisista e abrir-se outra vez – como no século XV – ao mundo. Nomeadamente, ao seu mundo, que não é outro que o mundo lusófono. O que faz necessário adoptar uma atitude mais aberta e mais generosa que até agora. Tem de estabelecer desde já laços estreitíssimos – mesmo marchando de mãos dadas no concerto mundial – com Brasil, com Angola, com Moçambique, com Cabo Verde, com Guiné-Bissau, com São Tomé e Príncipe, com Timor, com Goa, onde ainda se conserva a nossa língua. Sem esquecer tão pouco, meus amigos, a Galiza que deverá ser incluída como mãe e berço da língua, por direito próprio na comunidade lusófona.
 
4º - Tudo quanto se paga pela aproximação cultural e linguística entre Portugal (nomeadamente o Norte) e a Galiza será sempre pouco. O desconhecimento mútuo é quase proverbial, embora cada dia se organizem mais encontros entre ambos os povos. O desconhecimento mantém de pé os preconceitos e estereótipos que uma e outra parte tem sobre um e outro povo. Que são tão negativos como irreais. Portugal tem que ver a Galiza como prolongação de si próprio. Por língua e cultura a Galiza é um troço de Portugal. A Galiza é uma grande Olivença, para que de uma vez por todas os portugueses vejam a Galiza como uma região mais próxima a Portugal que a Espanha., à qual por razões históricas de infeliz recordo pertence. A Galiza sofreu cinco séculos de castelhanização – muitas vezes brutal – e ainda assim o povo (camponês e marinheiro) manteve ouro em o pano, em palavras de Castelão, a sua própria língua. Contra vento e maré. Contra persecuções sem conta. Contra proibições indignas as mais das vezes. Por isso a Galiza necessita de Portugal compreensão pelos seus problemas e mesmo apoio se houvesse hipótese.
 
Galiza necessita dos livros, das revistas, dos jornais, dos programas de TV, do cinema, do vídeo, etc., portugueses ou brasileiros. Galiza necessita ser conhecida a fundo pelos portugueses. Galiza necessita que se conte com ela para qualquer planificação cultural, linguística e mesmo económica de carácter lusófono. Galiza necessita ter mais, maiores e melhores comunicações com Portugal. Por terra, por mar, por ar, por telefone e pelos meios de comunicação. Não podemos continuar de costas viradas. Portugal deve saber também quem são os galegos que de verdade amam Portugal, pois infelizmente não são todos. Há muitos que de boca para fora dizem que querem a Portugal mas infelizmente só de boca para fora. Há muitos que por não amar a Galiza não amam Portugal ou vice-versa. E é necessário desmascará-los. Os portugueses devem começar por ter a consciência de que a Espanha não é, embora o pareça, una. As únicas comunidades comuns no Estado espanhol com Portugal são a “Olivença pequena” e a “Olivença Grande”, a Galiza.
 
Por razões culturais, linguísticas, históricas e mesmo pela forma de ver a vida e de pensar ou pela idiossincrasia dos dois povos: o galego é o português. Todos os galegos bons e generosos que houve no nosso mundo cultural amaram Portugal: Murguia, Rosália de Castro, Pondal, Curros, Vilar Ponte, Viqueira, Castelão, Risco, Cuevilhas, Lousada Diegues, Carrá, Otero Pedraio, Cabanilhas, Carvalho Calero, Jenaro Marinhas (este felizmente ainda vivo), etc. Existe no pensamento galego mais autêntico e europeísta uma linha de continuidade que passa pela unidade cultural e linguística de Galiza e Portugal. Também Portugal tem muito que aprender da Galiza, pelo que esta sofreu ao longo dos séculos. Com os novos meios não seria utópico pensar que Portugal terminasse por ser no futuro uma “Olivença imensa”. Preocupa muito aos galegos ver a alegria com que em Portugal, desde as administrações públicas – apoiam o levantamento de postes repetidores para ver a TV espanhola. Infelizmente tal alternativa não se corresponde em paralelo com o levantamento de postes repetidores para ver na Galiza a TV portuguesa. O mesmo exemplo valeria para a rádio, o livro, o vídeo, as revistas ou os jornais.
 
Amigos portugueses, lembrem-se que não se deve esquecer desde Portugal a Galiza, esse belo troço atlântico português de coração, mas não de amo.
 
5º – Será correcta e suficiente a política levada a cabo pela administração portuguesa para divulgar a língua e a cultura portuguesa no mundo e, nomeadamente, nos âmbitos da lusofonia e nas comunidades de emigrantes portugueses na Europa e na América, ou mesmo na Oceânia. Conhecemos as dificuldades económicas pelas que nos últimos anos está a passar o Estado português, que na maioria das vezes tem de suplantar com imaginação. Mais, dentro destas dificuldades, o Governo Português não deveria “escatimar” esforços para divulgar a língua e a cultura portuguesas, para apoiar a divulgação da literatura e do livro português – para nós de um grande valor tanto na forma como no conteúdo e na variedade – para a apoiar a realização de programas de vídeo, cinema, rádio e TV conjuntos entre todos os países lusófonos, incluída a Galiza. Para realizar publicações conjuntas de jornais e revistas dentro do mundo lusófono. Para abrir nas cidades mais importantes, nomeadamente nos países lusófonos, incluída a Galiza, Institutos de Língua e Cultura Portuguesa (com professores e dinamizadores). Para mandar aos PALOP’s livros, revistas, materiais de ensino. Para evitar o que está a acontecer em Guiné-Bissau que pode levar a que este país abandone a nossa língua, trocando-a pela francesa. Para divulgar as artes plásticas, o teatro, o cinema, o artesanato, etc., por todo o mundo e especialmente o lusófono, incluída a Galiza. Organizando ciclos e circuitos itinerantes em esquecer as comunidades portuguesas de emigrantes e os Centros Portugueses espalhados por todo o mundo: na Europa, no Brasil, nos EUA, no Canadá, na Austrália e na África.
 
Como exemplo convém citar a última decisão do Governo espanhol de dedicar um bom punhado de dinheiro para criar nas cidades do mundo os chamados “Institutos Cervantes” para divulgação da língua castelhana. Portugal deveria apoiar-se para oferecer serviços culturais nas diferentes Embaixadas de Portugal em todo o mundo, ao estilo do que faz por exemplo a França e a Alemanha. E não deveria esquecer da possibilidade que existe de realizar convénios entre Centros Galegos e Centros Portugueses de emigrantes, verdadeiros aliados naturais, no que se poderiam levar em frente programas culturais conjuntos de cooperação. Tenho dito.
 
 José Paz Rodrigues
Professor Titular de Didáctica e Organização Escolar – Universidade de Vigo;
Presidente da Associação Sócio-Pedagógica Galaico-Portuguesa
 
 
 
InGALIZA PORTUGAL – UMA SÓ NAÇÃO”, ed. Nova Arrancada, Lisboa, Outubro de 1997
 

ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA

 

 

 

 

 
DISCURSO NA SESSÃO INTER-ACADÉMICA NA
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA
 
José Martinho Montero Santalha
Presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa
http://www.aglp.net
info@aglp.net
 
 
 
Em nome da Academia Galega da Língua Portuguesa, que tenho a honra de representar neste acto, queria começar agradecendo à Academia das Ciências de Lisboa o convite a participar nesta sessão inter-académica, e nomeadamente ao Prof. Artur Anselmo, presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia.
 
A «Academia Galega da Língua Portuguesa» constituiu-se no passado ano 2008 em Santiago de Compostela. E sente-se altamente honrada de ser acolhida aqui de maneira tão cordial, como uma irmã mais nova que começa a dar os seus primeiros passos, quase sem outros méritos que a esperança que a move e a sua entrega à causa da língua comum.
 
É uma entidade surgida da iniciativa privada e define-se a si mesma como instituição científica e cultural, que tem como fins fundamentais o estudo e a promoção da língua da Galiza, entendida como uma modalidade do idioma que no mundo se conhece como «língua portuguesa»: uma iniciativa que nasce com modéstia mas também com generosa vontade de trabalhar pela nossa cultura e nomeadamente pela nossa língua, e com o propósito de reger-se pela atitude científica e pelo rigoroso amor à verdade.
 
A ideia de criar uma Academia Galega da Língua Portuguesa procede do professor Carvalho Calero, e é oportuno lembrarmos aqui o seu nome, porque ele teve a honra de estar ligado a esta Academia das Ciências que tão generosamente nos acolhe na sua casa. Foi Carvalho Calero o primeiro que, já na década dos oitenta do passado século, formulou a necessidade de constituir uma Academia Galega que, tanto na sua concepção como na sua prática, mantivesse de modo inequívoco a unidade linguística da Galiza com os outros países de língua portuguesa. A AGLP surge assim com o desejo e com a esperança de ser e aparecer – especialmente perante o resto do mundo lusófono mas também perante o resto do mundo todo – como um estandarte do carácter lusófono da Galiza e da sua pertença à Lusofonia, e isso já desde o seu próprio nome.
 
Doravante a Lusofonia tem na Galiza uma instituição com quem poder contar para a colaboração em todos os assuntos de língua, em representação (que não pretende possuir nenhuma exclusividade) da cultura galega mais genuína.
 
A GALIZA, UM PAÍS LUSÓFONO
 
A Galiza é um país de língua portuguesa, um país lusófono: embora muitos dos demais lusófonos o ignorem, fala uma forma de português que os galegos denominamos por vezes «galego» ou mesmo «língua galega», e este factor linguístico é, ademais, o principal sinal de identidade colectiva da Galiza como povo diferenciado dentro do Estado Espanhol, no qual se integra como comunidade autónoma, dotada de governo próprio e de amplas competências políticas em diversos campos.
 
É verdade que a maioria dos lusófonos nem sequer sabe que a Galiza é um país lusófono. Os próprios meios de comunicação lusófonos, mesmo os de Portugal, não costumam considerar os galegos como irmãos de língua, mas, simplesmente como “espanhóis”. Muitos portugueses que visitam a Galiza, vão ali como se fossem a qualquer outra região da Espanha, e para entenderem-se com os galegos esforçam-se por falar castelhano.
 
Algo similar, de resto, acontece também entre a gente comum da Galiza: embora todos sintam uma certa comunidade afectiva com Portugal, normalmente falarão castelhano tanto quando visitem Portugal como quando na própria Galiza se encontrem com visitantes lusófonos. Ora, esta situação vem provocada pela falta de comunicação ao longo dos séculos e pela escassa informação no tempo presente. E deve-se certamente também a essa falta de informação que não seja mais intenso o interesse e o sentimento de solidariedade dos demais falantes de português para com a Galiza, se exceptuarmos uma minoria de estudiosos – felizmente crescente de ano em ano.
 
O português da Galiza: uma situação paradoxal
 
A situação que apresenta a língua portuguesa na Galiza é paradoxal.
 
Por um lado, a língua portuguesa debate-se ali entre grandes dificuldades, até o ponto de que a sua própria sobrevivência se nos apresenta incerta. Mas, por outro lado, a Galiza encerra ainda uma parte do mais autêntico tesouro do idioma, vivo não só na sua tradição literária e popular mas também na fala habitual de muitos galegos, como consequência do facto de ser a língua «nativa» do território, ou, como diz o nosso Estatuto de Autonomia, «a língua própria».
 
As causas que determinam a situação presente do português da Galiza compendiam-se numa: a nossa história plurissecular de dependência com respeito à Espanha, que teve uma consequência no terreno linguístico - o espanhol, apesar de ser originariamente uma língua estrangeira no território galego, foi a única oficial da Galiza durante séculos e até há poucos anos; agora é co-oficial juntamente com o português da Galiza, mas continua gozando, de facto, com muitas vantagens sobre a língua nativa.
 
Uma história tão longa explica a complexa situação linguística da Galiza e que para muitos lusófonos se torne dificilmente compreensível. Factores concretos de desorientação são fundamentalmente dois: por um lado, o predomínio linguístico espanhol (não só no uso falado mas também no sistema ortográfico que se vem empregando mais comummente), e, por outro lado, nos últimos anos a tentativa, por parte dalguns galegos, de “independizar” do português a língua da Galiza, com a pretensão de fazer dela uma língua distinta.
 
Apesar de todos os condicionalismos históricos que propiciavam o obscurecimento da unidade linguística galaico-portuguesa, na cultura galega existiu sempre uma parte muito qualificada, e até maioritária, que mantinha a consciência da identidade lusófona da Galiza, em consonância aliás com o que afirmavam os grandes mestres da Filologia Românica: desde o Padre Feijoo no século XVIII, passando por grandes vultos da nossa cultura como Manuel Murguia, Castelao, Guerra da Cal ou Carvalho Calero, até aos dias de hoje, em que mantêm essa consciência muitos galegos, de todas as ideologias e de todas as classes sociais.
 
A consciência da Galiza em Portugal
 
Felizmente, também no mundo lusófono não faltaram, nos tempos modernos, testemunhos da consciência de que a Galiza fazia parte da “casa comum” linguística.
 
Primeiramente, nos filólogos. Baste-nos lembrar, entre outros, os nomes de Leite de Vasconcelos, Lindley Cintra ou Celso Cunha (para citarmos só pessoas falecidas), que incluíram, de pleno direito, o território galego na área de língua portuguesa, como uma forma mais de português.
 
Também no terreno literário as produções modernas dos escritores galegos foram consideradas repetidamente como parte das literaturas de língua portuguesa. Já o fez Teófilo Braga em 1877 incluindo vários poetas galegos contemporâneos, ao lado dos portugueses e brasileiros, na sua antologia de poetas em língua portuguesa que intitulou Parnaso Português Moderno.
 
Com alcance geral, Jacinto do Prado Coelho incluiu a literatura galega, em plano de igualdade junto com a portuguesa e a brasileira, no seu grande Dicionário de Literatura, fazendo notar a presença galega até no mesmo título da obra: Dicionário de Literatura: Literatura portuguesa, Literatura brasileira, Literatura galega, Estilística literária.
 
E é bem conhecida a longa entrega de Rodrigues Lapa à causa da cultura galega e à defesa da pertença do território galego ao mundo lusófono. O grande mestre não ficou só em afirmações teóricas, mas procurou reflectir a unidade linguística também na prática. Assim, na sua popular Estilística da língua portuguesa aduziu abundantes exemplos literários de autores galegos, considerando-os membros de pleno direito da literatura em português.
 
O léxico galego
 
O «Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)» significou, em certa medida, a acolhida ao português galego por parte da restante comunidade lusófona. Uma delegação galega participou nesse acordo (como também, pouco antes, no Acordo do Rio de 1986), e foi essa a primeira vez em que isso acontecia, dado que, por razões diversas, quase sempre de ordem política, nos acordo ortográficos anteriores da língua portuguesa a voz da Galiza estivera totalmente ausente.
 
No texto do Acordo está prevista, como é sabido, a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa.
 
Com o intuito de realizar essa tarefa para a área galega, como um primeiro passo, a Academia Galega da Língua Portuguesa elaborou uma escolha de particularismos lexicais galegos que propõe para serem integrados no Vocabulário Ortográfico Comum (e com a esperança de que, no futuro, se integrem também nos dicionários da língua comum).
 
Em geral, os vocábulos propostos não figuram nos mais comuns dicionários gerais publicados em Portugal e no Brasil. Como referência fundamental tomamos o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea desta Academia das Ciências de Lisboa, coordenado pelo académico João MalacaCasteleiro.
 
Cumpre advertirmos, no entanto, que, dadas as especiais circunstâncias sociais em que a língua se vem desenvolvendo na Galiza, esse contributo lexical não pode deixar de ser provisório: não todos os vocábulos apresentados possuem a mesma legitimidade; no entanto, são vocábulos que, por serem de uso corrente na actualidade quer na fala habitual quer na escrita literária, podem ser considerados característicos da variante nortenha do português europeu e, portanto, com direito a constarem no Vocabulário Ortográfico Comum e nos dicionários gerais.
 
Concluo agradecendo mais uma vez esta acolhida à voz da Galiza. Agora talvez mais que nunca, os galegos que temos como idioma materno o português sentimo-nos acolhidos pelos nossos irmãos de língua no lar comum. E, para o futuro, alimentamos a esperança de que, sejam quais forem as circunstâncias político-culturais em que os nossos países se encontrarem, entre todos saibamos achar caminhos e instrumentos que permitam articular essa irmandade superior que é a língua, o que para a Galiza implicará uma participação plena e permanente na comunidade lusófona.
 
Muito obrigado.
 
Lisboa, 14 de Abril de 2009
 
 José Martinho Montero Santalha
Presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa
http://www.aglp.net
info@aglp.net

ACADEMIA GALEGA DA LÍNGUA PORTUGUESA

 

Academia Galega da Língua Portuguesa participa em cerimónia inter académica na ACL
 
Numa sessão inter académica, realizada em 14 de Abril no Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa, foi apresentado o Léxico da Galiza elaborado pela Academia Galega da Língua Portuguesa, e a 5a edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, elaborado pelaAcademiaBrasileira de Letras sob a coordenação do Prof. Evanildo Cavalcante Bechara.
 
O lançamento realizou-se numa cerimónia que encabeçaram os presidentes das três academias da língua: portuguesa, brasileira e galega. Integraram a representação da Galiza vários académicos da AGLP: Ângelo Cristóvão (Secretário), Joám Trilho (Arquiveiro), Concha Rousia (Vice-Secretária), e Luís Gonçáles Blasco e Fernando V. Corredoira (da Comissão de Lexicologia e Lexicografia). Também assistiu o presidente da AGAL, Alexandre Banhos.
 
A sessão inter académica decorreu no espaço de 70 minutos com as intervenções do Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Prof. Arantes e Oliveira, o Presidente da AcademiaBrasileira de Letras, Prof. Cícero Sandroni, o académico da ABL, Prof. Evanildo Cavalcante Bechara, o académico da ACL Aníbal Pinto Castro, e o Presidente da AcademiaGalega da Língua Portuguesa, Prof. Martinho Montero Santalha, encerrando o acto o Vice-Presidente da ACL, Prof. Adriano Moreira.
 
Para além da assistência de uma delegação da Academia brasileira, académicos da ACL e a delegação galega, o acto contou com o Sr. Embaixador do Brasil em Portugal, Celso Vieira de Melo, o Dr. Augusto Joel, Assessor do Ministério da Cultura Português, e o Sr. Gaspar Diaz, Chefe da Conselharia Cultural da Embaixada da Espanha em Lisboa.
 
O Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Prof. Eduardo Romano de Arantes e Oliveira, assegurou que «há equívocos nas relações entre Portugal e a língua portuguesa», reclamou ter em consideração a Galiza, os países africanos de língua portuguesa e também o Brasil, e afirmou que «vamos num futuro breve editar a nossa própria versão do Vocabulário».
 
Pela sua parte, o professor Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras (ABL), lembrou que se trata da quinta edição do Vocabulário em consonância com as normas do Acordo Ortográfico de 1990. A ABL edita desde 1970 o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, sucessivamente actualizado. A quinta edição está já disponível no mercado europeu por 60 euros.
 
Na sua intervenção, o Presidente da AGLP, Prof. José-Martinho Montero Santalha, afirmou que o Léxico da Galiza apresentado em Lisboa, é um primeiro contributo passível de melhoras, que será adaptado conforme aos critérios que forem adoptados na elaboração do Vocabulário Comum.

Algumas marcas de Galiza nos Açores e Brasil

 

 

Bandeira de Galicia 

 

Desde 1475 o arquipélago dos Açores recebeu povoadores vindos inicialmente de Portugal Continental-que trouxeram consigo alguns escravos de África- e depois , em menor quantidade, de Flandres, Galiza, Inglaterra, França e Estados Unidos.

 

Naquela época em Castela ocorria uma disputa para a sucessão do trono entre D. Joana (a Beltraneja) e Isabel, irmã do rei Henrique IV de Castela.  D. Joana, filha de Joana de Portugal e talvez do rei, era considerada ilegítima pelos nobres espanhóis, uma vez que Henrique IV era considerado impotente. Mas Portugal e Galiza  apoiavam-na. Os partidários de Joana, perseguidos, abrigaram-se em Portugal. Quando a paz foi restabelecida esses refugiados tornaram-se incômodos ao reino português, que não sabendo o que fazer deles, resolveu encaminhá-los para as ilhas atlânticas recentemente descobertas e que precisavam ser povoadas.

 

Nas ilhas açorianas do Faial e Pico  instalaram-se  as famílias galegas ABARCA, ANDRADE, GARCIA, ORTIZ, PORRAS, LEDESMA, TROJILLO. Quando apareceram as dificuldades de sobrevivência, trazidas pelos desastres naturais que acometiam o arquipélago de tempos em tempos, a emigração para o Brasil surgiu como a solução. E assim muitos dessas famílias se transferiram para o Brasil à procura de uma nova vida.

Dizem que João Garcia Pereira deu origem aos “Garcia" faialenses e  João Luis Garcia aos picoenses.

 

A partir do século XVIII, consideráveis e repetidas levas de açorianos chegaram ao sul e sudeste do Brasil. Alguns se deslocaram para as regiões auríferas e de criação de gado, onde havia mais oportunidades de ganhar terras e riquezas. Destes oriundos dos Açores, de raízes galegas, a história relata um tal de Antônio Garcia Rosa, que emigrou para o Brasil em 1741 e que juntou forte cabedal em Minas Gerais , como vigário (Paróquia de Nossa Senhora da Glória). Voltou para os Açores rico. É conhecido também um imigrante João Garcia que chegou ao Rio de Janeiro em 1773, parece que se tornou fazendeiro.

Outro faialense de nascimento foi Diogo Garcia . Este casou em terras brasileiras com uma das três irmãs, que de lá também vieram em 1723 e que eram conhecidas como as três ilhoas (Antonia da Graça, Julia Maria da Caridade, Helena Maria de Jesus). Eram as três filhas de Manuel Gonçalves Correa e de Maria Nunes.

 

Antônia da Graça veio já casada com Manuel Gonçalves da Fonseca e com duas filhas Catarina e Maria Tereza.

 

Julia Maria da Caridade casou-se em São João del Rei com o conterrâneo Diogo Garcia.

 

Helena Maria de Jesus casou com o também açoriano, natural de Santa Maria, João Rezende da Costa.

 

Essas três irmãs tiveram muitos filhos e deixaram larga descendência que se espalhou por Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Mato Grosso, dando origem a grande parte das famílias tradicionais desses estados brasileiros.

 

Ref. Bibliográfica

FAMILIAS FAIALENSES (Marcelino Lima)

As três Ilhoas ( pesquisa dos genealogistas Marta Amato e José Guimarães)

 

Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 10/11/07

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