GALIZA
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A FALA DA GALIZA, O PORTUGUÊS DE PORTUGAL, O PORTUGUÊS DO BRASIL E O PORTUGUÊS DOS DISTINTOS TERRITÓRIOS LUSÓFONOS, FORMAM UM ÚNICO DIASSISTEMA LINGUÍSTICO CONHECIDO ENTRE NÓS COMO GALEGO E INTERNACIONALMENTE COMO PORTUGUÊS.
Ricardo Carvalho Calero (Ferrol, 1910 — Compostela, 1990) foi um filólogo e escritor galego do século XX, o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas, considerado o grande pensador do reintegracionismo linguístico. Escritor, nacionalista, teórico do reintegracionismo e professor universitário, é uma das figuras mais proeminentes do universo intelectual galego do século XX.
In Wikipédia
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(Teresa, para os botões do seu corpete, após o recontro de S. Mamede - que ela venceu)
“Por fim, tenho ao alcance das minhas mãos o reino que foi de meu tio e que meu pai me negou. A mim, a sua filha preferida, só porque os senhores bispos ousaram fadar-me de ilegítima por ter nascido fora do ritual que Roma agora nos impõe. Para Urraca, minha irmã, a legítima que a Igreja incensava, tudo: reinos e senhorios, um primogénito para desposar (que de pouco lhe valeu, se não ela não teria chamado o meu Henrique para seu condestabre e sabe-se lá para que mais). E eu que me bastasse com um filho segundo que não tinha onde cair morto e um condado feito de bocados, cheio de gente rude que não conhece senhor e de moçárabes, os de Coimbra, que não são de fiar. Foi isto que de meu pai, Alfonsus Imperator, recebi. Ah! Mas eu ambicionava um reino, que só um reino era digno de mim. E reino havia. A Galiza, que meu avô Fernando fizera reino e doara a seu filho Garcia, morto este, quedara sem suserano a quem chamasse seu. Os grandes condes galegos, os Travas, os Toroños, os de Orense, instigados pelo bispo Xelmirez (que eu nunca o tenha por inimigo), bem se levantaram contra Leão, uma e outra vez. Não lhes faltava pretexto, ao verem tantos Francos a insinuarem-se nos favores reais e a instalarem o seu poder e as suas linhagens onde, até há pouco, era só terra de Godos. Faltava-lhes, sim, quem tivesse estirpe igual à da leonêsa que queriam expulsar. De mais sabia eu o que atormentava Xelmirez. Não era a sorte do reino galego e dos seus ricos-homens. Era, sim, o medo de perder para o bispo de Toledo, Primaz das Espanhas desde os tempos dos reis antigos, e para mais um Franco, a veneração e o temor que Compostela, qual Compostela! que ele, Xelmirez, inspirava na nossa cristandade. O bispo de Braga, manhoso como todos os da sua raça, lá tem manobrado entre Compostela e Toledo para ver se agarra umas quantas mais sés sufragâneas, que sempre vão rendendo bons proventos. Durante anos e anos apoiei-o nessa lide, na esperança de fazer do condado portucalense um reino. Tarde me apercebi que Urraca nunca mo permitiria. Ainda esperei que ela, ora entretida a fazer guerra ao seu segundo marido, o navarro Alfonso (dizem que pouco dado à peleja amorosa...), ora distraída nos braços do seu amante Haro, me desse azo. Nunca mo deu. Estava escrito que o reino da Galiza seria o meu destino. Por ele lutei. Por ele venci. Mas não foi fácil. Aquela ideia de desposar uma filha minha com o meu amante Bermudo (quando este, por morte de seu pai, Pero Froilás, encabeçou o condado de Trava ) para assim ter do meu lado os condes galegos e os seus homens d’armas, ia deitando tudo a perder. Incesto! Vociferava a nobreza de Entre-Douro-e-Minho. Incesto! Acusava o bispo bracarense e, com ele, todo o clero nas igrejas. Incesto! Repetiam cavaleiros vilãos e herdadores. Qual incesto! Estes, o que temiam era a sede insaciável dos nobres por terras, honras e senhorios. Disse-lhes que só uma rainha poderia reprimir tais apetites – e eles acreditaram. Hoje, não estiveram por mim, mas também não pegaram em armas, Deo gratias. Ao bispo de Braga não demovi, por mais que lhe jurasse que eu (não já condessa, mas rainha) nada ganharia com tornar Compostela a sé maior dos meus domínios. Os nobres portucalenses, esses, sabia eu, não queriam ver-se arrastados pelos seus senhores galegos para uma guerra com Leão da qual não esperavam tirar, nem honra, nem proveito: perdida a causa, não escapariam à vingança que de lá viria; em caso de vitória, só algumas migalhas lhes tocariam. Razão tinham, pois os fossados por terras de sarracenos sempre rendem melhores presas. Foi isso mesmo que eu lhes mostrei. Comigo rainha, seriamos, nobres galegos e nobres portucalenses, suficientemente fortes para fazer como meu pai e meu avô: assolar as cidades mouras, submeter os seus príncipes e obrigá-los a pagarem párias em ouro, prata, armas, cavalos, enfim, em tudo aquilo que serve para reter fidelidades e curar despeitos. Alguns convenceram-se, e estiveram hoje sob o meu pendão. Outros, na sua cegueira, arrastaram o meu filho contra mim. Bem lhe disse que este era o momento de eu ser rainha e de ele, um dia, ser rei. E mais lhe disse que, condes, só o seriamos enquanto soprassem bons ventos da corte leonêsa. O momento era agora. Desaparecida a minha irmã (de parto! com quarenta anos já feitos!), com o meu sobrinho Alfonso ainda mal sentado no trono, Leão levaria tempo a reagir. E levou, se é que pensou fazê-lo. Os de Bragança, chamados em auxílio pelos que se me opunham, ainda devem estar à espera da ordem para avançar do seu suserano leonês, porque no campo de batalha não se fizeram ver. Laus Deo, que à vista das hostes dos Travas e de tantos outros cavaleiros galegos, mais aqueles que de cá se me juntaram, os que se escondiam atrás do meu filho acharam melhor furtar-se à peleja. Antes assim, que não se semearam novos rancores. E agora? Ala para Compostela, a preparar-me para quando Leão ripostar. Afonso Henriques virá comigo. Assim os que me combateram vão ficar a saber que também sei perdoar (e como necessito deles para o embate que aí vem!). Disputarei a Leão as párias das taifas mouras: Badajoz, Sevilha, Córdova e mais além, mas não impedirei que os meus cavaleiros, nobres e vilãos, continuem a lançar os seus fossados e correrias por terras de infiéis. Aos poucos, despojarei Leão das fontes que lhe têm dado riqueza e poder. Aos poucos, a corte leonêsa, sem mais riquezas para distribuir, desmembrar-se-á. Será esse o dia de eu entrar em Leão. Mas deixarei o condado de Castela seguir o seu caminho. É melhor assim. Castela, em permanentes lutas com navarros e mouros saragoçanos, jamais reunirá forças para me ameaçar, e sempre irá mantendo longe de mim aqueles que hoje a guerreiam. Toledo não tardará a ser minha também. E, então sim, farei do Douro, do Tejo, do Guadalquivir e do Mar os fortes esteios de um grande reino que ninguém poderá alguma vez destruir. O domínio absoluto sobre metade da Hispânia, do mar ocidental às pastagens da Meseta, das Astúrias às costas da Bética e, porque não? de Múrcia - talvez um Império, se o Papa se deixar convencer – eis o que será de Afonso Henriques quando eu morrer. E morrerei em paz, reparada que fica a injustiça que meu pai me fez.”
A. PALHINHA MACHADO
Janeiro de 2007
(*)http://trabalhodteresa.blogspot.com/
Vimara Peres (*)
Notas complementares
1) Afinal, por que razão Galiza e Portugal nunca conseguiram reunir-se? A razão deve ser esta: o suposto descobrimento em 813 do túmulo do apóstolo Tiago (Santiago). Como se explica isto? As autoridades religiosas predominantes na Galiza, com sede em Santiago de Compostela, ensoberbaram-se e quiseram roubar a Braga o prestígio arqui-episcopal desta, por meios pouco sérios e mesmo anti-cristãos, como foi o "Pio Latrocínio" (roubo à Sé de Braga por agentes compostelanos de relíquias sagradas mais veneradas do que as do próprio 'apóstolo' -- o principal facínora foi o Bispo Gelmires). O enorme prestígio criado por Santiago de Compostela, a que acorreram sempre milhares de peregrinos, serviu os interesses do imperialismo castelhano, que sujeitou o reino de Leão/ Galiza. Portugal neste contexto não podia aspirar em chamar a si a Galiza, mas tinha de defender-se, e conseguiu, resistindo ao ímpeto imperialista de Castela, que pretendia reuni-lo a uma Galiza domada e submetida. No tempo da nossa fundação, o poder e a grandeza estavam do lado da Galiza, e o Condado Portucalense, desejoso de independência sob a chefia dum jovem príncipe, era a parte fraca, que tinha poucas probabilidades de êxito. O plano iberista de Castela, que inicialmente era um condado do Reino de Leão, surgiu cedo e prosseguiu através dos séculos até hoje, quando ainda há uns portugueses tolos e ignorantes que nele colaboram.
Há tempos, disseram-me que se Portugal e Galiza não estavam reunidos num só Estado, a culpa tinha sido de D. Afonso Henriques que lutara contra a sua mãe, envolvida como estava com Fernão Peres de Trava, um poderoso da Galiza compostelana. Certo e errado! Se a independência de Portugal, a Galiza do sul, não se tivesse conseguido, hoje estaríamos a falar castelhano, nação submetida, em situação cultural muito pior que a da Galiza de hoje.
[Recomendo a leitura do artigo do galego Alexandre Banhos "Podemos nós, os galegos da Galiza espanhola, reclamar o nome de galego para a língua comum?" Este artigo pode encontrar-se no Google.]
2) As nações celtas cobriam muito provavelmente a maior parte da Europa antes da dominação romana. A Gália, que Júlio César conquistou, era certamente habitada por celtas. O mesmo sucedia nas Ilhas Britânicas. A julgar somente pelos topónimos, o mesmo sucedia no ocidente da Península Ibérica (Galiza), na Polónia/Ucrânia (Galitzia) e ainda na Anatólia, actualmente a Turquia asiática, (Galácia).Todos esses povos falavam certamente línguas celtas. Onde estão hoje as nações celtas e onde se fala o celta? A Gália romanizou-se, passou a falar latim, e acabou sendo povoada pelos Francos, povo germânico. A Galiza tem apenas dos celtas uma vaga memória e fala latim. A Galitzia, tanto quanto eu sei, é apenas um nome. Agora é habitada por eslavos e fala uma língua eslava. A Galácia, como nome apenas, nem sequer sei se ainda existe. Se existe, nela se falou grego e agora se fala turco.
Apenas na Grã-Bretanha, ainda existe uma nação sujeita, que se diz celta e fala minoritariamente uma língua celta. É o País de Gales (Wales), cujo nome celta é Cymru, sendo o nome da língua Cymraeg. Tentei em tempos estudar um pouco esta língua para ter uma ideia dela. Essa tentativa foi breve e a ideia que me ficou da língua é que é simplesmente intragável. Pareceu-me que o Cymraeg nem sequer era língua do grupo indo-europeu. Mas é.
Na Irlanda, a língua celta é a língua oficial, mas muito pouco se fala. A língua da Irlanda é muito predominantemente o inglês.
Na Bretanha francesa (Armórica), chamada Bretanha porque para lá emigraram bretões da Grã-Bretanha, ainda subsiste muito precariamente a língua celta trazida por esses bretões. E tende a desaparecer por completo. Na Galiza ninguém fala celta, mas sim o neo-latim português (galego), desprestigiado, e o castelhano, a língua do invasor ibérico.
Onde eu quero chegar com este arrazoado é que os celtas, por razões que me ultrapassam a inteligência, são suicidas. Perdem a raça, perdem a língua, perdem o enorme prestígio de que gozaram. E de tal maneira, que até perdem não só a língua celta, que já não conhecem, como a língua que adquiriram como substituta. É o caso muito nítido da Galiza, nação que foi grande e prestigiosa na Alta Idade Média, e hoje sofre as penas de terra alienada e língua, o Galego, em decadência.
Este caso particular interessa-nos, Portugueses, sobremaneira, porque a origem da nossa nacionalidade é galega, fomos na Antiguidade também celtas, tivemos e perdemos imensos territórios espalhados pelo mundo, a nossa língua foi a língua franca no Oriente, tivemos grande prestígio internacional, e agora estamos reduzidos a uma nesga de terra, e a nossa língua está ameaçada, se bem que se mantenha no mundo como uma das línguas mais faladas, graças ao Brasil e ao Ultramar Português.
A acção dos nossos políticos hodiernos parece ser a de uma auto-destruição, tão denegridora tem sido da nossa História e dos nossos grandes políticos de outrora. E os Portugueses, sempre pessimistas e sempre ciosos duma hipotética grandeza, hoje voltam-se para as ingloriosas 'glórias' do futebol.
3) Sabe-se que o Reino de Portugal se originou no Condado Portucalense. É verdade, mas talvez pouca gente saiba que antes houvera um primeiro condado de Portucale, cujo primeiro conde fora Vimara Peres (820-873), o fundador da cidade de Guimarães (Vimaranes). Foi Vimara Peres que libertou Portucale do domínio mouro, em nome do rei galego/asturiano Afonso III, o Grande. Vimara Peres é relembrado na cidade do Porto por uma estátua equestre levantada no largo em frente da Sé do Porto.
[A propósito: foi nesta Sé que o Mestre de Avis, já rei D. João I de Portugal, vencida a Batalha de Aljubarrota, se casou com D. Filipa de Lencastre, a princesa inglesa, mãe da "ínclita geração"].
(**)
Também condessa de Portucale foi D. Mumadona Dias, cuja estátua comemorativa se encontra em Guimarães) entre 924 e 950, a que se deve a construção do Castelo de Guimarães, não para defesa contra os Mouros, já então expulsos, mas contra os piratas vikings que nesse tempo faziam incursões atrevidas pelo interior do território. O último conde desta dinastia foi Nuno Mendes até 1065. O Conde D. Henrique de Borgonha pai de D. Afonso Henriques foi Conde de Portucale a partir de 1096.
De tudo isto, que eu só aprendo agora, concluímos que como Nação viemos da Galiza e nos podemos orgulhar de que somos os galegos modernos, livres da "Doma e Castração" que representa a hostil dominação castelhana. Peçamos a Deus que saibamos conservar forte esta liberdade nacional, por muito que pese a só cretinos e calinos. Haja Deus!
Joaquim Reis
Como já vimos, os mouros, comandados por Taariq atravessaram o estreito de Gibraltar em 711 e facilmente derrotaram em Guadalete as tropas do rei visigodo Rodrigo, e em poucos anos se apoderaram de toda a Península Hispânica, excepto de uma pequena região montanhosa na costa cantábrica, as Astúrias. Foi aí, em Covadonga, que, segundo a tradição se iniciou a reconquista. Data de 718 a fundação do reino das Astúrias, sendo rei Pelágio, que começou a campanha contra os mouros invasores em 737. Nos 50 anos seguintes, Pelágio conquistou a Galiza e sua capital, a cidade de Braga, passando a Galiza a fazer parte do reino das Astúrias. Deve dizer-se que a resistência dos mouros não deve ter sido muito grande, porque seriam relativamente poucos e não gostariam muito de terra fria e húmida demais para seus gostos. Fosse como fosse, a Galiza deve ter renascido pelos fins do século VIII. Digo renascido porque existira a Galiza romana e a Galiza sueva. A Galiza era terra cristianizada havia já muito, e fora a pátria de Prisciliano, um bispo célebre pela sua doutrina peculiar, que fez escola e perdurou séculos. Lembremo-nos que o cristianismo, religião maldita nos seus primeiros tempos no Império Romano, fora tornada a religião oficial de Roma pelo Imperador Constantino, o Grande. Ele, segundo a tradição tivera a visão de uma cruz no céu e destas palavras: "In hoc signo vinces" (Com este sinal vencerás). E por esta razão convocou o primeiro concílio da Igreja (325 d. C.), o de Niceia, na Anatólia. E aí foi proclamado o Cristianismo como a religião oficial de Roma, que substituiria o tradicional paganisno politeísta. Mas... ai que misturaram política com religião ou vice-versa!...
Pois bem, na Galiza de religião cristã, confirmada ainda recentemente pelo Concílio de Niceia, surgiu Prisciliano que, julgado pelas autoridades eclesiásticas, foi considerado herético, propagando doutrina e ideias contrárias às ortodoxas havia ainda pouco tempo consagradas. Prisciliano deve ter nascido em 340, e morreu nos fins do século. Foi perseguido pela Igreja oficial, e convocado pelo imperador romano Máximo a Trier na Renânia, onde foi morto e decapitado, embora o crime tivesse tido a desaprovação de bispos honestos, como S.to Ambrósio, bispo de Milão. Com Prisciliano morreram também alguns dos seus companheiros. Passados alguns anos, Máximo foi deposto e assassinado e os devotos de Prisciliano trouxeram então os seus restos mortais de regresso para a Galiza e os teriam sepultado em Íria Flávia (hoje Santiago de Compostela).
Em 813, milagre! Descobriram em Campus Stellae, o Campo da Estrela, nada mais nada menos do que o túmulo do apóstolo Tiago (ou Iago? -- Jacques, em francês, Giacomo ou Giacoppo, em italiano, James, em inglês, Jacobus, em alemão.... ),. que fora decapitado em Jerusalém no ano 42. Como foi o corpo decepado do apóstolo Tiago parar à Galiza? Não se sabe, nem interessa saber. A verdade é que a partir daí se estabeleceu a crença, o mito jacobeu, e em religião não interessa a verdade nua e crua, mas sim crer e fazer crer, como acontece actualmente com o famigerado holocausto dos seis milhões. Seja como for, os restos mortais encontrados em 813 num túmulo do século IV passaram a ser relíquias santas, e hoje se conservam em urna de prata dentro da Catedral de Santiago de Compostela.
O acontecimento foi de transcendente importância política e religiosa para o Reino da Galiza, sempre sujeito a Leão-Castela. Milhões e milhões de peregrinos têm vindo de longe para visitarem a Catedral de Santiago e a urna com os restos do apóstolo. Primeiro vieram piedosamente, como sinceros crentes do mito. Hoje continuam a vir, como turistas, que a Galiza é terra de grandes belezas e gente cordata.
A Galiza só deixou de ser Reino nos princípios do século XIX, mas nunca deixou de ser sujeita. Hoje não é Reino, é Região.
Ainda como Reino, a Galiza, no século XV tomou partido por D. Joana, conhecida por "Beltraneja", a "Excelente Senhora", sobrinha do nosso rei D. Afonso V e herdeira do trono de Castela, contra sua tia, D. Isabel, a futura "rainha católica". Esta venceu, e, quando pôde, vingou-se da Galiza, exercendo uma acção repressiva que ficou conhecida como "Doma e Castração do Reino de Galiza". Os galegos patriotas e cultos não esquecem. Eles não gostam dos castelhanos, como nós não gostamos. "De Leste, nem bom vento, nem bom casamento".
Hoje a Galiza, apesar do enorme esforço realizado pelos seus intelectuais e artistas literários para restauração da língua e eventualmente recuperação duma independência, de que usufruiram em muito breve lapso de tempo, sob Garcia II, irmão de Afonso VI, avô do nosso fundador D. Afonso Henriques, está altamente castelhanizada. "Os estrangeiros vieram e nós habituámo-nos", na expressão dum simples homem do povo galego.
Desde há muito, esses intelectuais vêem a sua língua a ser falada, viva e florescente, nas terras ao sul do Minho. E porque essas terras, pelo menos até ao Douro, foram território galego, eles sentem-se na sua Pátria quando estão em Portugal. A sua língua é o português -- o galego que escapou à fúria castelhanizante. E nós, Portugueses patriotas, que os compreendemos, sentimos asco e vergonha quando sabemos de algum dentre nós que diz alarvemente que queria ser "espanhol", ou porque ganharia mais uns tostões ao fim do mês, ou porque é iberista de mau porte, como o ridículo ministro nosso que disse ser um deserto ao sul do Tejo e confessou o apetite de ser castelhano porque "temos a mesma cultura". Arre burro!
Meus caros Amigos e compatriotas, oriundos das terra ao norte do Rio Minho, só vos posso transcrever as palavras de Pondal:
Os bons e generosos a vossa voz entendem, e com arroubo atendem o vosso rouco som, mas são os ignorantes e feros e duros, imbecis e escuros, que não vos entendem, não. Os tempos são chegados... da redenção!
SURSUM CORDA!
Joaquim Reis
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A História é um mar sem fundo, onde o amador mergulha, e mergulha, e se perde sem nada ver, porque a água está cada vez mais turva, e a luz é tanto menor, quanto mais fundo se desce. Também houve quem dissesse que a História é um terrível pesadelo, tão cheia está de tragédias horríveis e dramas estarrecedores. Na escola aprende-se a História altamente simplificada. Não podia ser de outro modo: Primeiro eram os iberos, depois vieram os celtas, que se fundiram com eles e formaram os celtiberos. Isto para a Península Ibérica ou Hispânica.
Mas para as Ilhas Britânicas diz-se mais ou menos o mesmo: primeiro eram os iberos, depois vieram os celtas que, fundindo-se com eles, deram os celtiberos. Pelo menos, foi assim que julgo ter lido há anos numa história da Grã-Bretanha, em livro de divulgação, cujo título e autor se me escaparam totalmente da memória. O tipo do ibero ainda existiria na Grã-Bretanha: homem baixo, cabelo e olhos escuros, pele branca baça ou parda. E teria vindo do norte de África.... Enfim, simplificação excessiva que satisfaz as mentes juvenis. Que linguas falavam esses iberos? Não se sabe. Há quem queira atribuir-lhes parentesco com o basco, língua única, sem parentes conhecidos, talvez a língua mais antiga da Europa.
Que línguas se falavam antes dos Romanos no sudoeste da Europa, hoje Portugal e Galiza? Possível e provavelmente línguas celtas. Os galegos acreditam na sua origem celta e devem ter razão, a julgar pelo nome da "Galiza", cognato com "Gália", terra de celtas, com "Gales", terra de celtas, com "Galitzia", na Polónia, e com "Galácia", na Anatólia, terra de celtas.
Mas os chefes celtas, como o Breogão do Hino Galego, são mitos que os Galegos alimentam para se sentirem diferentes dos Castelhanos, originários talvez dos Iberos. Mas é tudo especulação. Como a Galiza, Portugal teria tido a mesma origem celta, mas o português-galego tem origem, sem sombras de dúvida, no latim, sendo difícil descortinar as palavras celtas na nossa língua. Não conheço nenhuma. Parece, contudo, que na Galiza há professores que procuram pescar palavras celtas nas profundezas da História e nos mistérios da língua Os celtas não nos deixaram quaisquer documentos literários. Depois outros povos, outras raças se introduziram no mundo predominantemente latino e deixaram seus rastos: os godos e os mouros (berberes e árabes). Da presença destes nota-se tanto na Galiza como em Portugal uma certa diferenciação. Enquanto em Portugal se diz "alfaiate", vocábulo árabe, na Galiza diz-se "sastre", vocábulo latino. O que nos leva a concluir que a fala do sul sofreu mais a influência do árabe que a do norte. Do mesmo modo, o galego usa os nomes dos dias da semana originários do latim (luns, martes,...), enquanto os portugueses os designam como os árabes (segunda, terça,...). De qualquer maneira, é indiscutível a identidade do português com o galego e vice-versa, mesmo modernamente, quando já lá vão quase mil anos desde que o condado portucalense se separou do reino da Galiza, para nunca mais se reunir com ela politicamente. Ainda bem, porque uma hipotética reunião não significaria a independência da Galiza, mas nova subordinação de Portugal a Castela.
Por que razão a Galiza ficou atrelada a Castela, com a consequência de ver a sua fala abandalhada, amesquinhada e desprezada pelos arrogantes do médio oriente hispânico? Pergunta para mim muito difícil (ou impossível) de responder.
Quanto à situação da fala galega, tenho algo para explicar.
1º caso: Entrei numa livraria na Galiza. O dono, ou o empregado, respondeu-me em castelhano ao meu português. "O Sr. não sabe falar galego?" -- perguntei-lhe. Sabia, era até em galego que falava em casa. Mas o homem não foi capaz de falar galego comigo, um cliente português, que ele entendia perfeitamente. Conclui que tinha vergonha da sua língua-mãe, que não era língua para se usar numa livraria, antro de cultura.
2º caso: A cena repetiu-se noutra loja, que não era livraria. "A Sr.ª não sabe falar galego?". Sabia. "Então por que não fala galego?" " Ah! Essa linguinha?!", respondeu-me como que indignada. Na Galiza -- pareceu-me -- quem não falasse castelhano evidenciava o seu baixo estatuto social.
3º caso: Por isso é que eu ouvi um pedinte implorando esmola num galego tão perfeito que fiquei pensando que os pedintes portugueses vinham pedir para a Galiza.
4º caso: Lá bem ao norte, na costa cantábrica, um sujeito, ouvindo-me e à minha mulher a falar, dirigiu-se-nos a palavra com um ar muito simpático. Era galego, aparentemente distribuidor de pão. A sua língua era perfeito português, o que me encantou e me fez logo simpatizar com ele. Ele gostava muito do português, confessou-me.
5º caso: Em Baiona, o hotel estava cheio, apenas restava um cubículo, onde mal cabia a cama. Sujeitámo-nos. Depois queixei-me à funcionária que o "quarto" era muito pequenino. A funcionária gozou com a palavra "pequenino". Fazia-lhe certamente lembrar a "linguinha" dos pedintes, dos serviçais, dos empregaditos, etc. Fiquei um pouco melindrado.
Isto foi há 17 anos. Tenho a impressão, se não a certeza, que a condição social do galego se modificou e continua a modificar para melhor. O nacionalismo dos Galegos parece-me evidente. E nós, Portugueses, temos certa responsbilidade nisso. O galego tem cada vez mais a noção de que a língua portuguesa e a língua galega são a mesma e uma só, com variantes locais que são naturais e perfeitamente admissíveis. E embora o ineficaz e incompetente governo de Lisboa se mostre relutante em tomar uma posição quanto à língua que possa melindrar Madrid, a verdade é que o Português mais evoluído percebe bem a situação e está incondicionalmente ao lado dos patriotas galegos. Até ao dia em que o Reino da Galiza (chamado Região) possa finalmente libertar-se da tutela do Imperador em Madrid, como D. Afonso Henriques, rei de Portugal, se libertou da malhas que o prendiam ao imperador Afonso VII de Leão e Castela.
Factos históricos
Os mouros (berberes islamizados) invadiram em 711 a Península Ibérica por Gibraltar, local a que deram o nome do seu general: jabal Taariq (monte de Taariq). Em muito pouco tempo (uns 3 anos), depois de desbaratarem os exércitos dos visigodos, tiveram praticamente toda a Península dominada. Uma pequena região, porém, manteve-se livre: as Astúrias. Em 718, fundado o reino das Astúrias, cujo rei era Pelágio, iniciou-se a Dinastia asturiana e a reconquista dos reinos cristãos, que só foi concluída em 1492 com a conquista do califado de Granada pelos Reis Católicos, após dez anos de guerra.
Mas.... tenho pano para mangas, e para não maçar agora mais os hipotéticos leitores com tanta costura, fico por enquanto por aqui em Oviedo ou Covadonga
(continua)
JOAQUIM REIS
(*)http://www.colindixonphotography.com/images/CWA/Santiago%20de%20Compostela,%20Galicia,%20Spain.jpg
Desde 1475 o arquipélago dos Açores recebeu povoadores vindos inicialmente de Portugal Continental-que trouxeram consigo alguns escravos de África- e depois , em menor quantidade, de Flandres, Galiza, Inglaterra, França e Estados Unidos.
Naquela época em Castela ocorria uma disputa para a sucessão do trono entre D. Joana (a Beltraneja) e Isabel, irmã do rei Henrique IV de Castela. D. Joana, filha de Joana de Portugal e talvez do rei, era considerada ilegítima pelos nobres espanhóis, uma vez que Henrique IV era considerado impotente. Mas Portugal e Galiza apoiavam-na. Os partidários de Joana, perseguidos, abrigaram-se em Portugal. Quando a paz foi restabelecida esses refugiados tornaram-se incômodos ao reino português, que não sabendo o que fazer deles, resolveu encaminhá-los para as ilhas atlânticas recentemente descobertas e que precisavam ser povoadas.
Nas ilhas açorianas do Faial e Pico instalaram-se as famílias galegas ABARCA, ANDRADE, GARCIA, ORTIZ, PORRAS, LEDESMA, TROJILLO. Quando apareceram as dificuldades de sobrevivência, trazidas pelos desastres naturais que acometiam o arquipélago de tempos em tempos, a emigração para o Brasil surgiu como a solução. E assim muitos dessas famílias se transferiram para o Brasil à procura de uma nova vida.
Dizem que João Garcia Pereira deu origem aos “Garcia" faialenses e João Luis Garcia aos picoenses.
A partir do século XVIII, consideráveis e repetidas levas de açorianos chegaram ao sul e sudeste do Brasil. Alguns se deslocaram para as regiões auríferas e de criação de gado, onde havia mais oportunidades de ganhar terras e riquezas. Destes oriundos dos Açores, de raízes galegas, a história relata um tal de Antônio Garcia Rosa, que emigrou para o Brasil em 1741 e que juntou forte cabedal em Minas Gerais , como vigário (Paróquia de Nossa Senhora da Glória). Voltou para os Açores rico. É conhecido também um imigrante João Garcia que chegou ao Rio de Janeiro em 1773, parece que se tornou fazendeiro.
Outro faialense de nascimento foi Diogo Garcia . Este casou em terras brasileiras com uma das três irmãs, que de lá também vieram em 1723 e que eram conhecidas como as três ilhoas (Antonia da Graça, Julia Maria da Caridade, Helena Maria de Jesus). Eram as três filhas de Manuel Gonçalves Correa e de Maria Nunes.
Antônia da Graça veio já casada com Manuel Gonçalves da Fonseca e com duas filhas Catarina e Maria Tereza.
Julia Maria da Caridade casou-se em São João del Rei com o conterrâneo Diogo Garcia.
Helena Maria de Jesus casou com o também açoriano, natural de Santa Maria, João Rezende da Costa.
Essas três irmãs tiveram muitos filhos e deixaram larga descendência que se espalhou por Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Mato Grosso, dando origem a grande parte das famílias tradicionais desses estados brasileiros.
Ref. Bibliográfica
FAMILIAS FAIALENSES (Marcelino Lima)
As três Ilhoas ( pesquisa dos genealogistas Marta Amato e José Guimarães)
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 10/11/07
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