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A bem da Nação

O MARTELO DOS HEREGES

Nascido em Lisboa no ano de 1195, morreu em Vercelli no dia 13 de Junho de 1231; baptizado Fernão, ficou na História para nós, portugueses, como Santo António de Lisboa e de Pádua para os italianos.

Ficheiro:Santo Antonio 01b.jpg Santo António pregando aos peixes - mural de azulejos, Guimarães

Historiadores do séc. XV admitiram a possibilidade de o seu pai, Martim de Bulhões, ser descendente de Godofredo de Bulhão, comandante da Primeira Cruzada e a sua mãe, Teresa Taveira, descendente de Fruela I, quarto rei das Astúrias e Leão que governou entre 757 e 768. Contudo, a genealogia completa ainda é incerta; tudo o que se sabe é que os seus pais eram nobres, ricos e tementes a Deus. Fernão nasceu rico numa casa próxima da Sé de Lisboa, com pais relativamente jovens.

Educado na escola da Sé, ingressou em 1210, aos 15 anos, no convento de Lisboa da Ordem de Santo Agostinho, o de S. Vicente. Dois anos depois e para evitar as frequentes visitas de amigos e familiares, pediu e obteve dos seus superiores a transferência para o Convento de Santa Cruz em Coimbra onde permaneceu oito anos. Muito estudioso e dotado de grande inteligência e excelente memória, cedo obteve um grande conhecimento das Sagradas Escrituras.

Em 1220, assistindo na Igreja de Santa Cruz aos actos fúnebres dos primeiros mártires Franciscanos mortos em Marrocos em 16 de Janeiro desse mesmo ano, optou pela via do sacrifício e eventual martírio e decidiu tornar-se Frade Menor de modo a pregar a Fé aos sarracenos. Tendo confidenciado as suas intenções a alguns membros do Convento dos Olivais, então arrabaldes de Coimbra, recebeu deles o hábito franciscano. Assim foi como Fernão deixou a Ordem dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho para ingressar na Ordem dos Frades Menores, Franciscanos, onde tomou o nome de António. Este, o nome que o Convento dos Olivais viria em sua memória a adoptar também.

Pouco depois do seu ingresso na Ordem Franciscana, António seguiu para Marrocos mas adoeceu gravemente durante todo o Inverno e foi obrigado a regressar a Portugal na Primavera de 1221. Contudo, o barco em que navegava foi apanhado por forte tempestade e acostou involuntariamente à Sicília onde António permaneceu o tempo suficiente para se recompor dos problemas de saúde. Tendo entretanto ouvido dizer que um Capítulo Geral se reuniria em Assis a 30 de Maio, para lá se dirigiu a tempo de participar nos trabalhos. Concluída a reunião, António permaneceu no silêncio sem que mais se tenha ouvido falar dele.

“Não disse uma palavra sobre os seus estudos”, escreveu um dos seus primeiros biógrafos, “nem sobre os serviços que já prestara; o seu único desejo consistindo em seguir Jesus Cristo até um eventual martírio”. Assim, pediu para ser colocado num lugar em que pudesse viver em isolamento e penitência com vista a entrar mais profundamente no espírito e disciplina da vida franciscana. Foi então colocado no Eremitério de Montepaolo (próximo de Forli) onde passou a celebrar Missa para os irmãos leigos ali residentes.

Certo dia reuniram-se em Forli inúmeros frades franciscanos e dominicanos para receberem a ordenação sendo que António estava presente apenas como acompanhante do seu Provincial. A certo momento, concluiu-se que ninguém fora indigitado para fazer a Homilia e o Provincial Franciscano convidou o Superior Dominicano ali presente para indigitar algum dos seus para fazer a prática. Contudo, todos declinaram dizendo que não estavam devidamente preparados. Na emergência, coube a indigitação a António a quem todos julgavam apenas capaz de ler o Missal e o Breviário. Foi-lhe assim ordenado que dissesse o que o Espírito de Deus pusesse na sua boca.

Compelido pelo voto de obediência a que estava obrigado, António começou por falar lenta e timidamente mas depressa se entusiasmou e passou a explicar os mais recônditos significados das Santas Escrituras com tal erudição, profundidade e de tão sublime doutrina que todos os presentes se encheram de espanto. Aquele, o momento em que começou a carreira pública de António.

Informado da ocorrência, o futuro São Francisco de Assis dirigiu-lhe a seguinte carta:

Ao Irmão António, meu Bispo (i.e. Professor de Ciências Sagradas)o Irmão Francisco envia as suas saudações. Será do meu agrado que vós ensinais Teologia à nossa irmandade considerando, contudo, que o espírito de oração e devoção não se extinga. Adeus. (1224)

Seguiu-se o ensino em Bolonha, Montpellier e Toulouse.

No entanto, foi sobretudo como orador – mais do que como Professor – que António fez a sua grande colheita. Num grau perfeitamente eminente, possuía todas as qualidades de um pregador eloquente: voz forte e clara, porte de ganhador, memória prodigiosa e os mais profundos e amplos conhecimentos da Doutrina. A estas características há a crescentar o espírito profético e um extraordinário dom miraculoso. Com o zelo de um apóstolo, iniciou uma reforma da moralidade então vigente combatendo especialmente os vícios da luxúria, avareza e tirania. Distinguiu-se igualmente no combate aos hereges mais importantes naquela época, os Cátaros e os Patarinos que «infestavam» o centro e norte de Itália e os Albigenses no sul de França.

Dentre os muitos milagres que lhe são atribuídos, os mais referidos pelos seus biógrafos são:

O de um cavalo em Rimini que não comia havia já três dias recusando qualquer comida que lhe pusessem à frente, até que se ajoelhou em adoração perante as Sagradas Escrituras que Santo António lhe colocou à frente comendo então umas avelãs que lhe apresentaram;

• O da comida envenenada que uns herétics italianos lhe apresentaram e que ele, com o sinal da cruz, transformou em inofensiva;

• O do famoso sermão aos peixes que ele proferiu nas margens do rio Brenta, próximo de Pádua.

Eis por que tanto o zelo no combate às heresias como as inúmeras conversões que fez lhe renderam o glorioso título de Malleus hereticorum, o Martelo dos Heréticos.

 

C-HSF-Mékong.jpg

Henrique Salles da Fonsec

FAZ HOJE 512 ANOS...

 

... que Pedro Ávares Cabral oficialmente descobriu o Brasil, do que Pero Vaz de Caminha deu notícia a El-Rei D. Manuel I, dizendo:

 

Senhor

Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor que eu puder, ainda que - para o bem contar e falar -, o saiba fazer pior que todos. Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que, para alindar nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu. (...)

Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo. (...)

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