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A bem da Nação

A GUERRA E OS JUROS

Nota prévia – a informação relevante respeitante às causas da falência dos dois bancos regionais americanos e dos problemas verificados no «Crédit Suisse» foi-me fornecida pelo meu amigo Carlos Traguelho; os floreados e as especulações são da minha exclusiva responsabilidade.

* * *

  • A política de juros nulos e negativos levou aforradores e investidores a aplicarem os seus capitais em obrigações privadas e públicas. Com a passagem à política de juros positivos, perfilaram-se nos mercados de capitais aplicações alternativas com melhores perspectivas de remuneração o que provocou uma séria baixa nas cotações dos títulos de remuneração fixa. Quem se antecipou na mudança, salvou-se; quem se atrasou, faliu.
  • Para além das causas descritas e que, para simplificação de linguagem denomino «americanas», ao caso suíço juntaram-se mais dois tipos de causas a gerarem desconfiança: as dúvidas relativas às origens dos capitais à guarda do Banco em causa e a fiabilidade da informação disponibilizada no Relatório e nas Contas relativas ao exercício de 2022. Tudo visto e ponderado, o resultado não podia ser risonho.

* * *

Seguem-se os processos de liquidação dos dois bancos (regionais) americanos e um empréstimo grandioso do banco central suíço ao aflito «Crédit Suisse» para evitar que vá à glória – esperemos que com nova gerência.

* * *

Curiosa coincidência a declaração do maior acionista individual do «CS» )9,9% dos direitos de voto), o Fundo Soberano Saudita, no sentido de que não enviaria mais dinheiro para o dito Banco e a reunião de apaziguamento bilateral Irão-Arábia Saudita por intermediação da RPChina. O que terá o Príncipe herdeiro saudita (Rei de facto) a dizer do Petrodólar? Sadam Hussein poderia dizer-lhe qualquer coisinha se ainda por cá andasse. É que há «coisas» em que os americanos não gostam de ver mexidas…

Desconheço o peso relativo do banco suíço nos activos do Fundo Soberano Saudita mas, para todos os efeitos, a tal declaração foi obviamente um «tiro no pé» mesmo que se trate de um chumbinho de uma «Flaubert» pressão de ar num dedo mindinho. Porquê, é relativamente fácil de especular. O problema está em saber para quê.

* * *

Como na valsa, realço três tempos:

  1. Substituição da política de juros negativos (Draghi) pela de juros positivos (Lagarde) e consequentes efeitos sobre a remuneração dos capitais (frugais) e o custo de vida do cidadão comum (mais ou menos consumista e mais ou menos perdulário);
  2. Guerra na Ucrânia e majoração da tensão inflacionista e especulativa;
  3. Realinhamentos e/ou reforço de alianças internacionais dando precaridade especulativa ao cenário mundial.

CONCLUSÃO

Os juros antecederam a guerra e esta nada tem claramente a ver com os problemas bancários.

Salvo melhores opiniões.

Março de 2023

Henrique Salles da Fonseca

«QUINTAS & QUINTAROLAS», Ld

Qual é a essência do nosso subdesenvolvimento em relação aos povos além-Pirinéus?

Sem querer plagiar Antero de Quental (nem sequer me inspirando no ensaio intitulado «Causas da decadência dos povos ibéricos» por ele apresentado nas «Conferências do Casino» que nunca li com interesse suficiente para reter algo de relevante), tenho por causadoras desse atraso relativo à opacidade dos mercados e à iliteracia generalizada da nossa população. 

* * *

E não vou repisar o que já afirmei várias vezes em textos anteriores pelo que me fico pelas respectivas conclusões:

  • Num mercado oligopsónico não será fácil provar a concertação de preços de compra, mas será bem mais difícil nega-la;
  • No reino da iliteracia, quem soletra é rei.

* * * *

Preços feitos por quem compra e vendedores desorganizados são terreno fértil para os neo marquesatos que entre si repartem o feudo e dividem os servos da sua gleba.

Os Marqueses republicanos são merceeiros, os que encaixam as mercês de quem lhes bate à porta.

O feudo adopta a denominação comercial de «Quintas & Quintarolas», Ldª e a culpa da inflação é do outro que ninguém identifica.

…quem tem olho…

Como seria bom que na governação houvesse alguém que soubesse alguma coisa sobre transparência de mercados e sobre a lógica do método de formação dos preços. Bastaria um trimestre para pôr ordem no «feudo». Mas…

Março de 2023

Henrique Salles da Fonseca

DOS PREÇOS - 4

Sim, em Portugal, os preços são determinados… no estrangeiro!

Como assim?Pois assim:

  • Os preços de alguns cereais (milho, sobretudo) produzidos cá são os fixados pela Bolsa de Chicago. Como é isso possível sem total desprezo +elos nossos reais custos de produção e sem total desbragamento aduaneiro?
  • As costeletas do borrego neozelandês são as que mais frequentemente chegam às mesas portuguesas. Como é isso possível sem forte prática do «dumping»?
  • Os porcos espanhóis chegam ao Montijo mais baratos do que os criados localmente. Como é isso possível sem recurso à economia paralela na origem?
  • A quinquilharia chinesa chega às lojas portuguesas a preços imbatíveis por qualquer tentativa nacional de produção equivalente. Como é isso possível sem total desprezo pelos Direitos Humanos e do ambiente no naquela República?
  • «Et ceteris paribus» ao longo de outros capítulos da Pauta Aduaneira… Como é isso possível?

E, aqui chegados, põe-se a questão de saber como «dar a volta por cima» ao problema.

Resposta: começando por perguntar cá quanto vale certa mercadoria,  hoje e dentro de algum temo. E assim se ensaia o funcionamento de uma Bolsa de Mercadorias com produtos reais e  onde se «fale» de produtos normalizados (standard) reais (já existentes) ou que só venham a ser produzidos depois de obtida uma cotação satisfatória para a oferta e para a procura. Perguntas feitas e respostas obtidas anonimamente à dita Bolsa que divulga todos os lances de «Compra», «Venda» e de «Efectuado». Quando este acordo é alcançado, é emitido um contrato ao abrigo do qual Fulano se compromete a entregar a  Beltrano no prazo p  uma certa quantidade da mercadoria M ao preço P.   Estes documentos são endossáveis e descontáveis assim se criando um mercado secundário onde a especulação bolsista dá largas à compra na baixa e à venda na alta assim trazendo ao mercado muito mais operadores do que aqueles que estão efectivamente interessados nas mercadorias reais.

Diluídos no meio da multidão, os antigos manipuladores do mercado perdem o controlo da situação e são confrontados com a necessidade de seguirem os preços cotados ou não chegarem a ver a mercadoria.

Na Idade Média, os vendedores e os compradores tinham que se deslocar à Bolsa (de Amesterdão, p. ex.) mas na actualidade basta consultarem a Internet e darem as respectivas ordens de compra ou venda ao seu próprio agente, um «Corrector de Bolsa» devidamente credenciado e especialista em toda aquela matéria. A sofisticação dos mercados modernos faz com que os Correctores apresentem aos respectivos clientes «pacotes» de aplicações em derivados de futuros.

O risco consiste na diferença entre os valores investidos e a cotação global desses pacotes na data do respectivo vencimento. Mas este risco já ocorre numa esfera diferente da do produtor que só assumiu custos com a produção depois de anular incertezas ao aceitar um preço da sua conveniência. O risco é assim transferido para quem joga na especulação bolsista.

E reconheçamos, contudo, que é esta especulação que atrai aos mercados uma significativa massa crítica de agentes que permite o anonimato do confronto das forças de mercado e a formação de preços sem abusos de posição dominante.

Resta tratarmos dos excessos.

(continua)

Fevereiro de 2023

Henrique Salles da Fonseca

NOTA PS: Para melhores esclarecimento de dúvidas, consultar a Internet por «Bolsa de Mercadorias» e por «Bolsa de São Paulo»

DOS PREÇOS - 3

Em complemento da definição anterior de transparência mercantil, os mercados ou são transparentes ou manipulados: transparentes quando o risco se distribui equitativamente pela oferta e pela procura; manipulados por quem alija o risco.

Alija o risco quem determina o preço ludibriando o confronto da oferta e da procura condicionando a liberdade de licitação, o anonimato dos agentes e a publicidade dos próprios preços. A criação de monopólios (um só fornecedor), de monopsónios (um só comprador), de oligopólios (domínio do mercado por poucos grandes fornecedores), de oligopsónios (domínio do mercado por poucos grandes compradores), enfim, da cartelização e da combinação de estratégias (e de preços) são modos limitadores/impeditivos da concorrência que obstam à transparência e carregam o risco para uma banda em favor da outra.

Tudo isto, nos mercados à vista porque, nos mercados de futuros, acoisa» pia mais fininho. Já lá iremos…

Historicamente, em traços muito gerais, o mundo rural sempre assentou no autoabastecimento e nos intermediários para os excedentes. Grande primitivismo que os poderes políticos tentaram remediar pela agremiação da oferta nos Grémios do Estado Novo e nas cooperativas do pós-25.

E, para manter a serenidade de espírito, passo por cima dos verdadeiros atentados de «lesa Nação» que se ensaiaram na estrutura fundiária nacional com parcelamentos, emparcelamentos, nacionalizações e não sei já que outras vilanias..

Até à nossa entrada para a CEE existiam os Organismos de Coordenação Económica a quem competia dessazonalisar os preços. Com a adesão à CEE/UE, passou a vigorar a Política Agrícola Comum. Contudo, houve outra medida de política que raramente é assinalada, mas que teve um enorme impacto nos nossos mercados domésticos e ela foi da iniciativa do então Primeiro Ministro Cavaco Silva ao incentivar a entrada em Portugal das chamadas Grandes Superfícies. Teve o mérito de combater a inflação que então rondava os 30% ao permitir a concorrência externa, mas esmagou a produção nacional de cujos custos não cuidou.  E assim se instalou o actual oligopsónio em que os preços são marcados fora de Portugal.

A sério…???

(continua)

Fevereiro de 2023

Henrique Salles da Fonseca

DOS PREÇOS - 1

Se vivêssemos num compêndio de economia, diríamos que a inflação e a deflação correspondem a descoordenações entre o volume dos meios de pagamento em circulação numa economia e a oferta de bens e serviços nessa mesma economia, mas vivemos no mundo real e os conceitos correntes são o de que a inflação é o aumento dos preços e a deflação é o seu contrário.

A inflação moderada é incentivadora, a galopante é devastadora; nos telejornais, a deflação é sempre má. Porquê? Porque uma ligeira subida regular dos preços leva ao incentivo da actividade económica através do raciocínio «Compre agora pois amanhã será mais caro» e a deflação conduz ao travão económico pelo «Compre amanhã pois será mais barato do que hoje». A inflação galopante é má porque leva tudo de rojo e uma das causas mais típicas tem a ver com a emissão monetária «à la diable» tais como no Brasil durante a vigência do Cruzeiro, do Zimbabwe nos últimos anos do consulado de Robert Mugabe, etc.

O surto inflacionista por que ora passamos tem origem nas cotações do crude, do gás natural e dos cereais, tudo causado pela guerra na Ucrânia e pela quase coincidência temporal com o cansaço dos mercados de capitais da política dos juros negativos.

A alta das cotações das «commodities» tem a ver com a normal especulação bolsista e com a pecaminosa manipulação dos mercados através de «news» mais ou menos» fake que tanto servem as altas como as baixas. Mas, por bem ou por mal, há custos contabilísticos iniludíveis que não podem ser violados sob pena de suicídio financeiro dos agentes económicos. A compra na baixa e a venda na alta fazem os mercados mexer mas a aceleração e/ou ampliação dessas oscilações desvirtua a transparência dos mercados e justificaria a existência de instituições públicas nacionais ou internacionais que se propusessem intervir nas baixas em defesa da oferta e nas altas em defesa da procura imediata (em Bolsa) ou final (os consumidores). Os Poderes Públicos não se podem alhear do zelo pelo bem-comum.

Queixam-se os nossos governantes sucessivos de que tudo são causas externas que escapam ao controlo das políticas internas.

Será mesmo?

(continua)

Fevereiro de 2023

Henrique Salles da Fonseca

DAS RELAÇÕES E DO TEMPO

Diz-se que uma relação é biunívoca quando cada um dos dois (e, por isso, bi) elementos se relaciona essencialmente com o outro. Ou seja, nenhum dos elementos existe sem o outro. No mesmo grau de intimidade, admitamos a existência de relações pluriunívocas.

Matematicamente, ambos os tipos de relações descritas são igualdades sendo que na biunivocidade podemos imaginar uma equação e na pluriunivocidade podemos imaginar uma matriz ou determinante.  

Até aqui, tudo é instantâneo, o tempo não vem à colação. Mas se introduzirmos o factor tempo, já a relação passa a sucessiva e podemos deparar-nos com questões darwinescas. Ou seja, as relações abandonam a univocidade (relação essencial) e passam para o campo das sucessões (influência genética, lógica., legal…).

Passemos a um caso concreto: é a cultura (instrução, educação

formação) que promove o desenvolvimento económico ou vice-versa?

Antes do mais, explicitemos os conceitos «cultura» e «desenvolvimento económico» neste primeiro quarto do séc. XXI.

CULTURA – diz-se que uma sociedade (Nação ou País) é culta quando se encontra no quartil mais elevado desse parâmetro do PNUD, ou seja, quando não existe analfabetismo, toda a população em idade activa concluiu o ensino obrigatório (em Portugal, o 9º ano), a maioria absoluta da população em idade activa completou o secundário superior (12º) e mais de metade dessa população tem formação superior;

DESENVOLVIMENTO ECOMÓMICO – diz-se que uma sociedade ou país são desenvolvidos quando, no «benchmarking» mundial, se encontram no quartil mais elevado da OCDE.

Parametrizada a questão, salta à vista a existência duma multiplicidade de variáveis de complexa qualificação no que possa respeitar a uma relação causa-efeito. Não sendo meu propósito construir um modelo (nem sequer estático, quanto mais dinâmico) de mero interesse académico, sou levado a sugerir aos Investigadores matematizados que avancem na escalpelização de um modelo que eu próprio não ouso desbravar limitando-me, pelo contrário e, arrepiando caminho, pergunto-me se os políticos devem começar por acelerar o desenvolvimento económico para obterem mais cultura ou se devem instruir primeiro para receberem o desenvolvimento mais tarde.

Sempre fui adepto da prioridade das políticas de educação-instrução-formação, mas recentemente encontrei mentes ilustríssimas a pensar o contrário.

A minha opção inspira-se nos clássicos gtrgos e resulta de um silogismo composto por dois axiomas e uma conclusão:

. O progresso resulta da inovação

- O conhecimento é o motor da inovação

- Sem conhecimento não há progresso

 

Aguardo com interesse pela tese contrária.

 

Fevereiro de 2023

Henrique Salles da Fonseca

DA MORALIDADE FISCAL

CARGA TRIBUTÁRIA EM PORTUGAL.jpg

ou

O TRIBUTO JUSTO

O serviço que o Estado presta ao cidadão deve ser pago. Na ausência de serviço, o saque é imoral.

* * *

O dinheiro só foge de onde se sente em perigo.

* * *

A primeira condição para a tranquilidade do dinheiro é a liberdade de movimentação de capitais – só pomos as nossas poupanças em lugar (país, banco) donde as possamos sacar em qualquer momento e sem necessidade de justificações.

A segunda tem a ver com a solidez do sistema bancário – a experiência portuguesa dispensa explicações...

A terceira é definida pela carga fiscal – justificativo da existência profusa de paraísos fiscais.

A quarta condição para a tranquilidade do dinheiro tem a ver com a remuneração dos capitais- «guerra» Draghi-Lagard.

* * *

  1. A livre circulação de capitais é um dado adquirido na UE e desde a adesão à CE. Trata-se, pois, de um não-problema (a menos que os capitais queiram migrar para a Rússia, Cuba, Coreia do Norte, Venezuela…).
  2. Sobre a solidez da banca portuguesa, estamos falados com o desaparecimento dos banqueiros lusos. Recuperando o que há anos escrevi, o crédito não é um direito universal e, pelo contrário, só deve ser concedido a quem o merece. Este merecimento merece matematização mais apurada do que os métodos que vêm sendo usados na análise do risco. Para já, eu próprio tenho sérias dificuldades na matematização de dois factores que terão estado muito em voga, o «compadrio» e o «Gamanço». Estes, sim, devem ser os factores que configuram as «grandes palmadas» que destabilizaram a banca que foi de capitais portugueses. A menos que tudo o que a comunicação social informa seja «fake» …
  3. Quanto à remuneração dos capitais, remeto-me para o que já escrevi sobre a «guerra» Draghi-Lagarde cuja simultaneidade com o problema da Ucrânia faz confundir muita gente: o que está em causa é a remuneração dos credores que já estavam fartos dos juros negativos.

4.Deixo para 4 a condição 3 do incómodo do dinheiro, a carga fiscal, para fechar com chave de chumbo. E se a comodidade dos capitais se mede na razão inversa da carga fiscal, colhe perguntar não já para que servem os impostos, mas sim da sua moralidade. Então, grosseiramente, dividamos apenas os impostos directos e os indirectos englobando as taxas nestes últimos e os emolumentos nos primeiros. Deste modo (sempre grosseiramente, mas sem grosserias), reconheçamos que, cumprindo ao Estado servir o cidadão, se faça pagar pelos serviços prestados. E assim fica moralmente justificada toda a fiscalidade indirecta. No que se refere aos directos, sobre os rendimentos singulares e colectivos, a necessidade de financiamento das despesas públicas não justifica cabalmente a moralidade desse tipo de tributação. Salvaguardando o princípio da inconsignação das receitas, reconheçamos que a tributação do trabalho («ad valorem» em regime de taxas fixas) deve servir para financiar o sistema de segurança social. Mas pergunto-me se as Despesas Gerais do Estado não deveriam ser financiadas apenas por uma taxa única aplicada a todos os contribuintes, individuais e colectivos: taxa única destinada ao financiamento de Administração, Segurança, Saúde, Justiça. E assim se moralizaria (cobrando um serviço prestado pela Estado a todos os contribuintes) o absurdo moral desta componente da tributação directa. E o papel redistributivo da riqueza? Excluindo a demagogia populista, a função deve ser incluída na Segurança Social e, daí, ser financiada pela tributação laboral. E que tudo o resto seja financiado pelos impostos indirectos.

* * * *

Terão os meus críticos muitas razões relacionadas com o deficiente pragmatismo de financiamento do Estado implícito nas minhas propostas.

mas, pelo menos num aspecto, não poderão atacar o que afirmo, o da imoralidade geral da tributação directa. Mais: o cúmulo da imoralidade fiscal é o caracter progressivo das taxas aplicado na escala crescente da matéria tributável.

E pronto, fico à espera da excomunhão que me lancem os fiscalistas  (sobretudo os da banda esquerda da nossa Praça  do Comércio).

Novembro de 2022

Henrique Salles da Fonseca

AS DUAS FACES DA MOEDA

ou

O GRANDE TEATRO DE CAPITAIS

Personagens e intérpretes por ordem de entrada em cena:

«Dinheiro barato» - Mário Draghi; «Dinheiro caro» - Christine Lagarde.

ACTO 1

  • CENA 1 – Economia europeia lenta
  • Para obrigar o investimento a saltar para a frente do desejado desenvolvimento, Draghi desenvolveu a política dos juros tão baixos que chegaram a negativos levando também o BCE a entrar no mercado primário das dívidas soberanas;
  • As poupanças sairam do entesouramento (que passara a ter rentabolidade negativa)e (como Draghi queria) optaram por aplicações mesmo que de modesta rentabilidade;
  • A política dos juros negativos conduziu à remuneração negativa das dívidas públicas e, daí, a avultados ganhos dos Estados devedores e a elevadas perdar dos respectivos credores.

No cenário do «Dinheiro barato»…

  • … os investimentos de modesta TIR puderam ver a luz do dia porque os custos de capital eram baixos e porque os capitais preferiam uma remuneração modesta em vez de uma negativa;
  • …aos projectos de elevada TIR também não faltavam (obviamente) os capitais necessários.

CENA FINAL DO ACTO 1

Com Draghi, a economia europeia «mexeu» porque os capitais eram baratos.

* * *

INTERVALO – as pessoas dirigem-se ao «foyer» e conversam…

o negócio bancário lida mal com dinheiro barato e pessimamente com juros negativos, há que mudar o cenário (de genericamente protector do devedor para assumidamente protector do credor; de defensor dos países perdulários do Sul para defensor dos frugais do Norte europeu) e também o intérprete.

* * *

ACTO 2

CENA 1 – Sai Draghi e entra Lagarde.

  • Sem solavancos, começam «murmúrios à navegação» de que os juros deixarão de ser negativos e de que as «facility easings» estavam num verdadeiro estado de moribundez,, que a Reserva Federal estava a aunmentar a taxa de juros «para «segurar a inflação» e que nós não podíamos continuar a política draghiana…
  • Até que a Rússia invade a Ucrânia e disparam os preços da energia e dos cereais.
  • E Lagarde esfrega as mãos de contente pois é necessário aumentar as taxas de juro «para conter a inflação».
  • CENA FINAL DO ACTO 2
  • Francesa, Lagarde dirá para com os seus botões «Merci, Monsieur Putin!»;
  • Ao fundo, ouve-se um coro de frugais entoando carinhosos e agradecidos «VIVAS À CRISTINA!».

* * *

Como se mete pelos olhos de qualquer leigo, a inflação resulta da escassez (ou da putativa escassez) dos produtos inflacionados e nada a move que não sejam as causas que a provocaram, Os juros são consequência e não controlam nada a não ser uma eventual redução do investimento (carestia dos capitais), redução da produção, escassez da oferta, mais pressão inflacionista.

PERGUNTA: - Então, qual é a solução?

RESPOSTA: - Esvaziar o Kremlin de licenciados pela «fábrica de monstros» que é o KGB; acabar com a guerra; integrar a Ucrânia na EUE e respectivos métodos de formação de preços, nomeadamente agrícolas; deixar de mentir sobre a política monetária.

Se as taxas de juros activas para os titulares dos capitais (passivas para a banca) forem inferiores às taxas da inflação, ocorrerá a desvalorização dos capitais postos à guarda do sistema bancário, Ou seja, regressamos à situação draghiana do primeiro acto deste teatro.

BAIXA O PANO

Pelos vistos, esta moeda só tem uma face.

Lisboa, 24 de Setembro de 2022

Henrique Salles da Fonseca

GOLPE's E «PEANUTS»

As Grandes Opções Livres da Política Europeia são grandes, são políticas mas não são opções livres porque a liberdade de escolha funciona em pleno desde que a social democracia prevaleça na definição da carga fiscal e o liberalismo no funcionamento da economia.

Tudo mais são minudências, conversa fiada ou, como também há quem diga, «peanuts».

INVEJAS E FALÁCIAS

Rejubilam as parangonas com o agendamento pelo G7 do «imposto comum» mas, até mais ver, tudo é fumaça. E já se diz que será uma taxa de 15%.

Muito bem, pergunto então sobre que valores se aplicará a dita taxa e para que servirá o produto arrecadado.

Obviamente, ninguém que esteja munido de alguma seriedade saberá responder. São, portanto, parangonas balofas.

Dá-se na aritmética aos meninos de escola que aplicar uma taxa a produtos diferentes produz resultados díspares e que o efeito distributivo da receita pública é matéria muito volátil.

Começando pelo fim, o «imposto comum» será cobrado pelos Fiscos nacionais e não reverterá para um bolo comum, será receita de cada Estado. Ou seja, total ausência de solidariedade internacional e apenas aumento da carga fiscal em cada país.

E quanto aos tais 15%, aplicados a bases tributadas calculadas sabe-se lá como, vão por certo gerar uma distorção da concorrência fiscal entre os Estados.

O júbilo das parangonas, tendo subjacente o espírito de «partir os dentes ao capitalismo», não tem o cuidado de ver o logro em que um pouco de estudo poderia evitar o ridículo em que está a cair.

Rapidamente, a taxa é o último ponto a tomar em consideração num processo destes. Tudo tem de começar pela aprovação internacional de um POCI – Plano Oficial de Contas Internacional como, ao fim de décadas de trabalhos, a Europa já conseguiu fazer. Só assim se poderá ter uma «linguagem contabilística comum» e saber que aquela despesa é tratada do mesmo modo em toda a parte, que aquela provisão se destina exactamente ao que ficou internacionalmente estabelecido, etc. E só quando este trabalho estiver concluído é que poderá passar a haver alguma transparência na concorrência fiscal entre Estados com duas vertentes essenciais: o método de cálculo das matérias tributáveis (quais as despesas dedutíveis) e quais as taxas a aplicar assim determinando as matérias colectáveis. Ganhará a competição o Estado que mais despesas permitir deduzir e taxas mais baixas aplicar.

Daqui resulta que a discussão começou pelo fim, a «casa» começou a ser construída pelo telhado e em breve ninguém mais saberá do que está a tratar.

Havia que mexer nalguma coisa para que tudo ficasse na mesma.

«Joe Biden, 15 – G7, zero».

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