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A bem da Nação

O PERIGO DA ILUSÃO REALISTA

 

Todos se lembram de no Verão passado (2008) os jornais assegurarem com absoluta certeza que por esta altura estaríamos com graves carências alimentares mundiais e fome em largas regiões. Passaram poucos meses e a previsão falhou completamente. Não há faltas e os preços caíram para menos de metade. Ninguém parece estranhar a discrepância.

Previsões destas não vêm da realidade. Não resultam de análises científicas, que não existiam, nem sequer dos potenciais esfomeados, pois aos pobres ninguém ouve. Quem gritava eram organizações humanitárias internacionais que, preocupadas com os preços alimentares, usavam os medos da opinião pública para pressionar os governos a subir-lhes o orçamento. Com a descida posterior dos preços o cenário catastrófico pôde ser arquivado. Outros interesses passaram a ocupar os media.

Tantos se assustaram tanto, todos acusaram os responsáveis, para agora tais temores estarem esquecidos. Mas os críticos não se sentem aliviados. Limitaram-se a mudar de susto, baseados nas novas previsões de catástrofe que os mesmos jornais trazem. Aliás, até culpam os mesmos políticos pelos novos terrores antecipados.

O mais curioso é que, apesar de falharem redondamente, os meios informativos não perdem credibilidade. São as mesmas publicações, os mesmos especialistas e comentadores que agora assustam o mundo com novas antevisões de calamidade, granjeando a adesão e convencimento de sempre. O que quer que digam, a gente acredita. Quando a crise se mostrar menos grave que os pânicos apregoados, ninguém desconfiará de quem os divulgou e esperarão com ansiedade os novos oráculos.

Afirmamos viver na "era da informação" e é verdade. Mas seria bom considerar a relevância da comunicação. Pensando bem, sobre as coisas que realmente interessam, sabemos menos que os nossos antepassados. Antigamente vivia-se na aldeia e todos conheciam tudo sobre todos. As casas tinham portas abertas e paróquia, botica ou barbeiro eram excelentes meios noticiosos. Hoje, com o anonimato urbano e privacidade escrupulosa, o nosso conhecimento é mínimo sobre o que nos afecta directamente. Mas sabemos imenso sobre coisas irrelevantes. Guerras e eleições longínquas, intrigas e conspirações mirabolantes e vasto sortido de desastres e calamidades constituem a dieta informativa quotidiana. Pensando bem, essas coisas não valem mesmo nada para a nossa vida.

O presidente americano tem muito menos influência na nossa existência que o presidente da Junta de Freguesia, mas vibrámos meses com a eleição de Obama e ignoramos até o nome do autarca local. Depois inventamos ficções, como a tese da "aldeia global", para justificar a nossa preferência informativa.

O motivo deste enviezamento é óbvio: a campanha do outro lado do Atlântico é muito mais divertida que a rotina prosaica. O nosso interesse pela informação não vem da necessidade de conhecimento, mas de um desejo lúdico. A realidade é profundamente rotineira, exigente, complicada, maçadora. Por isso desde as origens da raça humana foi grande a popularidade de mitos, epopeias, aventuras e romances. Mas esses tinham o defeito de serem fictícios. A era da informação, globalizando o âmbito, resolveu o dilema. Há sempre qualquer coisa interessante a acontecer no mundo. Os noticiários são reais e ao mesmo tempo fascinantes, com emoção, seriedade e violência. Apesar de, em geral, serem totalmente irrelevantes para nós.

A notícia não é ilusão, mas também não constitui conhecimento útil, porque distante. Mas, ao discutir esses magnos problemas planetários, cada um sente-se sábio e importante. No nosso sofá parece-nos, de alguma maneira, participar nesses assuntos grandiosos e decisivos.

Isso leva a mal-entendidos. No Verão passado todos sentimos a discrepância entre o preço pago na bomba de gasolina e o que os jornais diziam sobre o custo do barril de brent. Muitos protestaram e acusaram, mas sem notar que o primeiro era um valor directo, real, influente, enquanto o outro era um índice remoto, abstracto, efectivamente irrelevante.
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 João César das Neves
In Diário de Notícias – 20090112

 

O poder da Palavra

                                               

A palavra

Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.

Que resumiria o mundo
e o substituiria.

Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,

saboreando-a.


Carlos Drummond de Andrade

 

Talvez a maior riqueza  da língua esteja no sentido oculto e nas sutilezas que as palavras que a representam trazem. Podemos falar, falar e não dizer nada. São as palavras ao vento. Podemos calar no meio de uma frase ou não responder a uma indagação, e dizer tudo. Então lembramos o antigo ditado popular:

- “Para bom entendedor, meia palavra basta”.

 

Mas dialogar é ainda a forma mais civilizada de trocar idéias, mesmo que estas não sejam ouvidas ou aceitas pelo Outro. É através da palavra escrita ou falada que mais nos comunicamos.  Na boca do Homem ela torna-se uma arma potente de vida ou morte, que dignifica ou arrasa, enaltece ou vilipendia. Através das palavras surgem questões, divulgam-se opiniões, propagam-se idéias, transmitem-se saberes, mantém-se ou desfazem-se uniões. Uma palavra omitida ou falada de maneira errada pode abalar amizades, romper relações. É a palavra mal dada.  Mas também pode ser salvadora, fortalecedora, anímica, consoladora, quando dita na hora certa.  É a palavra de amigo.

 

Os grandes líderes, aqueles que tiveram ou têm a força mobilizadora das “massas”, começam as suas incursões pelo poder através da palavra, para atingir a alma do povo. Afinal não foi assim que Jesus mudou o mundo? Dos tempos antigos, de reis, papas e imperadores, aos tempos modernos, de políticos e juizes, a palavra dada é fundamental, determinante de vidas e destinos.

 

Segundo a palavra e de como ela é falada é que se mostra muito do que somos e o que esperamos dos Outros. Ela tem força de decisão, transformação, atração ou repulsão. Dá lugar aos diálogos, às conversas ou às disputas. Mantém a história e a cultura vivas, tem música, preenche vazios, faz poesia, nos diferencia dos animais, nos faz humanos, nos categoriza, está no cotidiano da nossa vida, sem ela não há tecnologia e civilização.

 

Na escola, o mestre, pedagogo, professor, instrutor ou orientador- (diferentes variações da mesma qualificação profissional, inventadas pela modernidade para dar trabalho a todos, coisa que acontece na maioria das profissões, que se subdividem e se especializam à medida que novidades saturam os compêndios e alargam os conhecimentos)- deve ser aquele que já viu a história antes, que aprendeu nos livros e na vida e com dom e sabedoria mostra caminhos, vislumbra inteligências, clareia espíritos, estimula os primeiros estudos, fazendo atrativa a cultura através da palavra.

 

 E para finalizar e reiterar a importância das palavras,  recordemos o que o Senhor Deus diz na Bíblia: “Os céus e a Terra passaram, mas as minhas palavras ficarão”.

 

Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 14/03/08

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