«... E VÓS, TÁGIDES MINHAS...» - 12
ou
O MUNDO VISTO DA MINHA VARANDA
Da minha varanda alfacinha na zona da Estrela vejo as torres da Câmara de Almada, a pimpineira que lá está no sítio do castelo e a torre da igreja velha. Por baixo deste cenário, o tráfego marítimo até aos antípodas…
«Almada» significa «a mina» em árabe. A mina de oiro que era a praia que existiria naqueles tempos entre a ponta de Cacilhas e a Cova da Piedade onde apareciam pepitas de oiro trazidas pelo Tejo. Já «vi» o garimpo mais longe das águas baixas deste estuário do que o imagino hoje. Mas, por agora e que se saiba, só as fataças andam por estas bandas ao garimpo.
Esses tempos longínquos em que os moiros por cá andaram, têm muito mais que contar do que aquilo que nós, os comuns sabemos. E em primeiro lugar refiro que a Civilização Muçulmana era, então, de enorme erudição e de grande tolerância. Quem tal diria ao testemunharmos as actuais evidências de boçalidade e intransigência…? Basta, contudo, referir que foi pelos eruditos muçulmanos que os europeus medievais e embrutecidos tomaram conhecimento dos clássicos gregos e foi sob o seu domínio que o cristianismo perdurou sob a forma de rito moçárabe. Sim, mereceram todas as pepitas que guardaram na Cova da Piedade. Quem os viu e quem os vê…!
Hoje, vemo-los divididos fundamentalmente entre sunitas e xiitas mas cada facção tem importantes subdivisões. Assim o processo do «tira-te tu para me pôr eu» a que eufemisticamente chamamos «criatividade exegética», provocou o grande cisma do Sétimo Imã, ou seja, os sunitas prosseguiram a linha sucessória e os xiitas optaram por um 7º Imã que, para eles, passou a ser o verdadeiro sucessor de Maomé. Mais tarde, o xiismo fracturou-se com Aga Kahn a dizer que a partir de então ele seguia Ismael e quem quisesse que o acompanhasse. A sede mundial da Fé Ismaelita é em Lisboa. Entretanto, com os sunitas (Mesquita do Bairro Azul, em Lisboa), tudo é mais complicado pois houve a radicalização de Ibn Al Wahhab e a criação de vias paralelas que se dizem suaves e cordatas, o Ibadismo (do Omã) e o do Bangladesh (os do Martim Moniz, em Lisboa) que se pretendem não conflituantes – tanto quanto se saiba por estas ruas alfacinhas - nenhuma destas facções ainda se destacou para fora da «exegese literal» (passe o absurdo) de cariz taliónico relativamente às Suratas mais incendiárias do Corão.
Tomemos, pois, «cautelas e caldos de galinha». Que bom seria termos uma palavra de tranquilização por parte do honorável e erudito Sheik Munir, teólogo principal da Grande Mesquita de Lisboa.
É, pois, do radicalismo exegético que saem os drones iranianos e só não saem de outras bases islâmicas porque não os sabem produzir.
E porquê tanta ira se o que se espera das religiões – de todas as religiões – é o contacto com o divino?
Porque os sacerdotes, incapazes de estabelecerem um contacto sobrenatural, recorrem ao medo dos fiéis relativamente à ira do invisível, intocável e castigador de quem não cumprir os ditames mais radicais do proselitismo. A ira mobiliza e factura.
VIVA O «TEO BUSINESS!»
Lisboa, 5 de Novembro de 2022
Henrique Salles da Fonseca