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A bem da Nação

O NÚMERO DE DOUTORAMENTOS

 (*)

 

Governos das últimas décadas, principalmente os do PS, apregoaram como, nos últimos tempos, aumentou muito o número de doutorados em Portugal. A afirmação está correcta mas exige algum esclarecimento para que quem está longe destes assuntos não fique com a ideia de que Portugal não tinha, no antigamente, gente qualificada ao nível de doutoramento.

 

Durante muitos anos, o doutoramento não estava no percurso normal de algumas carreiras. Nos grandes laboratórios de investigação, iniciados em 1936, com a criação da Estação Agronómica Nacional (EAN), a progressão na carreira (paralela da carreira docente universitária) era feita por concursos. (Não estou a defender ou a atacar os sistemas então vigentes. Estou apenas a constatar factos.

Aliás, concordo com o sistema actual). Por estas razões, existiam, nessas instituições, pessoas de muito alto nível científico, bem para além do nível do doutoramento.

 

Mesmo nas Universidades, as admissões e progressão na carreira eram frequentemente feitas por convite ou por concursos, documentais ou de provas públicas. Muitos professores catedráticos e até reitores nunca tinham feito o doutoramento, embora tivessem nível muito superior ao de um recém-doutorado. O Eng.º Manuel Rocha, fundador e  primeiro Director do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), nunca fez o doutoramento. Recebeu mais tarde, merecidamente, o grau de Doutor Honoris Causa. Faleceu recentemente um professor catedrático do Instituto Superior Técnico, o Eng.º J. Delgado Domingos, que nunca fez o doutoramento, o que não o impediu de ser uma figura importante na ciência.

 

Em Espanha, o curso de engenheiro agrónomo era semelhante ao que havia em Portugal e exigia, após os cinco anos de cadeiras, uma tese de investigação original que levava, em média, três anos a completar. Quando a Espanha mudou esse sistema para um como o proposto pela Declaração de Bolonha, entregou o diploma de Doutor em Agronomia a todos os engenheiros agrónomos que tinham completado o curso com média igual ou superior a 14 valores. (As notas, em Agronomia, tal como em Portugal, eram muito apertadas).

Um professor catedrático de Agronomia de Espanha, Mateo Box, que esteve em Portugal como arguente num concurso, disse-me que ele tinha sido um desses casos.

 

Quando foram criados, em Portugal, os mestrados (que eu sempre considerei um erro), o Ministério convidou, através do Instituto Britânico, alguns professores da Universidade de Reading para virem “ensinar” a fazer esse grau. Vieram ver, não só as escolas de ensino superior, mas também as instituições de investigação científica onde se poderiam fazer teses de mestrado. Os de engenharia civil, além do Técnico, foram ver o LNEC. Dois de agronomia foram à EAN. O Prof. Watkin Williams foi ao Departamento de Genética, então da minha responsabilidade. O outro, cujo nome não recordo, foi ao Departamento de Pedologia. Durante a conversa, o Prof. Williams perguntou-me como era a tese que lhe tinham dito ser exigida até há pouco tempo para se ser engenheiro agrónomo. Disse-lhe que um pequeno número de teses, normalmente com uma classificação modesta, seriam aceites em Inglaterra como teses de mestrado. A grande maioria seria certamente aceite como teses de doutoramento.

 

Convidei esses dois professores para jantar e, em minha casa, durante a conversa, o Prof. Williams, que sabe espanhol, disse: "Estive na biblioteca da Estação Agronómica a ver teses e tudo o que vi eram boas teses de PhD” (doutoramento). Ouvi mais alguns comentários de estrangeiros no mesmo sentido.

 

Repito: Apenas pretendi que, ao referir-se o grande aumento do número de doutoramentos – que, aliás, também se verificou noutros países – não fique a ideia errada de que o nível de conhecimentos em Portugal seria muito mais baixo do que na realidade era.

 

Publicado no Público de 17 de Agosto de 2014

 

Miguel Mota

 

 

(*)http://www.casadasciencias.org/investigadores/mformacao.html

NATIVIDADE E A GENÉTICA – 4

 

 

 

Ao passar a vista por escritos vários sobre Natividade, leio o “Elogio histórico de Joaquim Vieira Natividade”, pelo Prof. Fraga de Azevedo, que lhe sucedeu na cadeira nº 9 na Academia das Ciências. Impressionou-me como fez ressaltar um paralelismo que tenho referido várias vezes entre a Agronomia e a Medicina, particularmente quando quero dar ao grande público alguma ideia sobre a metodologia de trabalho e vou buscar o exemplo de algo que todos conhecem de perto. Nesse “Elogio histórico”, diz o Prof. Fraga de Azevedo: “Mas, alem do paralelismo dos seus métodos, os médicos e os agrónomos encontram-se de mãos dadas, sobretudo na convergência simultânea dos seus grandes e tantas vezes incompreendidos esforços a favor do bem estar da humanidade”.

 

E continua, por mais algumas páginas, a falar dessa articulação entre a Medicina e a Agronomia e de como, entre outros contactos, frequentemente ia à Estação Agronómica, então em Sacavém, nesse magnífico intercâmbio científico, onde não há barreiras.

 

 

* * *

 

Natividade era casado com uma senhora de raro talento artístico. Mas nele próprio havia, para alem do espírito científico, uma componente artística muito elevada. As suas obras, a par dum valor científico muito alto, revelam um igualmente elevado valor artístico. A estética era, para Joaquim Natividade, um elemento igualmente fundamental.

 

De duas formas se revela esse valor artístico na sua obra: pela palavra escrita e pela imagem.

 

Os seus escritos eram caracterizados não só por um elevado rigor científico, mas também por uma alto valor literário, por vezes, mesmo, poético. Embora me tenha escrito uma vez (ao agradecer o livrinho “Uma guerra entre as plantas”, que lhe enviei em 1954) que "Tanto me conformei com as minhas limitações que até, desde os 18 anos, deixei de fazer versos (prazer dilecto da minha juventude!)..." não deixou de fazer poesia em prosa.

 

São numerosos os seus trabalhos onde isso é evidente e apenas referirei alguns, como “Os monges agrónomos” e, particularmente, a “Jornada a um mundo de beleza eterna”. Mas também se encontra poesia nalguns trabalhos quase estritamente técnicos, como nas “conferências de Viseu” (Natividade, 1938b) e na própria “Subericultura“ (Natividade, 1950), cuja introdução é um verdadeiro hino poético.

 

Pela imagem, a faceta artística é evidente em quase toda a sua obra, pois as fotografias que a ilustram, sempre da sua autoria, são verdadeiras peças de exposição. Na imagem dinâmica a arte de Joaquim Natividade está patente no filme “FLORES. Mundo de beleza” de que foi realizador e director técnico e para o qual escreveu o comentário, aliás cheio de poesia.

 

A faceta artística de Natividade e de sua esposa D. Irene é assinalada pelo Eng.º Agrónomo Edgar Fernandes Teixeira (Teixeira, 1970), do Instituto Agronómico de Campinas, Brasil. Para alem de citar alguns trechos de vários trabalhos, dizendo que Natividade “escreve como um poeta”, relata o encontro que, acompanhado da esposa, com ele teve em Alcobaça, ao entrar no seu gabinete de trabalho: “Ao fundo da sua mesa, grande parte da parede estava revestida por uma belíssima tapeçaria representando os frutos, uma riqueza de Portugal, verdadeiro mural, obra delicada de artesanato de lã. Minha senhora e eu, juntos, exclamámos: - Mas que beleza! Que maravilha! Vieira Natividade sorriu, não escondeu a sua satisfação e disse: - ”É obra de minha mulher. Ela vem-se dedicando a trabalhos dessa natureza e com bastante êxito”.

 

Será caso para perguntar se é possível ser-se um bom cientista, particularmente em Portugal, se não se tiver, igualmente, alma de poeta?

 

Para terminar esta minha desvaliosa arenga sobre "Natividade e a Genética", citarei as palavras com que encerrou uma palestra realizada na Estação Agronómica Nacional em 8 de Abril de 1938, sobre "Alguns problemas da propagação vegetativa das espécies lenhosas" (Natividade, 1938a): "Para obter novas formas culturais, novos tipos mais vantajosos; para haver dinamismo, variedade, numa palavra, progresso, há que recorrer à reprodução.

 

Confesso-o com o prazer do sentimental e do romântico incorrigível que fez, com magoa, o elogio da multiplicação artificial; mas que, no entanto, vê com benevolência, em cada pomar florido, no ar embalsamado pelos perfumes subtis da floração majestosa, em cada canteiro onde as flores entreabrem as pétalas às alegrias do sol... um trecho encantador... da Ilha dos Amores..."

 

 Miguel Mota

 

Palestra proferida em 25 de Novembro de 1993, na Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, na sessão de homenagem à memória do Prof. Joaquim Vieira Natividade.

 

Publicado na “Brotéria Genética” XVI (XCI) 13-24.1995

NATIVIDADE E A GENÉTICA – 3

 

 

 

O seu interesse pelos trabalhos de citologia, de que posteriormente se afastou, foi para mim claro nalgumas cartas, das numerosas que dele tive o prazer e a honra de receber, nomeadamente sempre que lhe enviava trabalhos meus.

 

Agradecendo uma separata dum trabalho publicado na "Heredity", que lhe enviei, escreve-me, em Junho de 1956: "Ainda que hoje a Citologia não seja para mim mais do que uma grata recordação, pois fui empurrado pela vida para outros rumos, pude apreciar o interessante trabalho que agora me enviou e por isso lhe venho apresentar as minhas felicitações muito sinceras".

 

E, porque tinha bem a noção do interesse para o País da publicação de trabalhos em revistas de grande circulação internacional, adianta: "A colaboração portuguesa em revistas como a "Heredity" singularmente honra a ciência nacional e constitui motivo de orgulho para os investigadores portugueses".

 

Mais tarde, em 1965, noutra das suas cartas, volta à superfície o seu antigo "amor", nas seguintes palavras: "Li com muito interesse os dois trabalhos e em especial o publicado na "Cytologia" porque, embora afastado desse campo de estudos, a citologia apaixonou-me noutros tempos e não deixo de seguir, sempre que posso, e embora de longe, os enormes progressos realizados nas técnicas e as novas contribuições que vão surgindo"

 

Na carta que dele recebi, datada de 7 de Abril de 1967, a agradecer a separata do escrito que intitulei “Mendel, o fundador da Genética” (uma conferência que proferi, a convite da Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias, em 9 de Dezembro de 1965, inaugurando um ciclo comemorativo do centenário da apresentação do trabalho de Mendel) é ainda a Genética o assunto visado: “De tudo o que me foi dado ler, publicado no centenário de Mendel, foram o seu trabalho e o do nosso Amigo Quintanilha os que constituíram, a meu ver, a mais simpática e carinhosa homenagem ao fundador da Genética.

 

Conseguiu o meu Amigo realizar uma perfeita síntese da vida e da obra de Mendel, e mostrar a contribuição que trouxe ao esclarecimento de problemas básicos da hereditariedade. A forçada condensação do assunto não prejudicou a clareza, e transparece nas suas palavras a admiração sincera pelo austero pioneiro da Genética e o anseio de que a sua obra seja compreendida e admirada por todos”.

 

Peço desculpa destas citações, que envolvem o meu caso pessoal, mas creio que tais palavras dão bem a medida do seu interesse pela Genética e pelo seu grande capítulo que é a Citologia, hoje mais frequentemente designada por Biologia Celular.

 

* * *

 

Para realizar uma tão grande obra científica, Natividade pôde dispor de alguns meios de trabalho. Não é possível fazer citologia sem um microscópio e Natividade dispunha de bom equipamento. Com maior ou menor dificuldade lá ia obtendo financiamento para os seus trabalhos, sem ter que passar tempos infinitos a preencher propostas de projectos, a maior parte dos quais não receberá aprovação.

Teve sempre a possibilidade de fazer separatas dos seus numerosos trabalhos (o que não sucede a muitos que labutam na investigação), o que era importante para a divulgação dos mesmos.

 

No entanto, os meios de que pôde dispor ficaram muito aquém do que seria minimamente desejável, por incrível miopia dos Ministros (e Secretários e Subsecretários de Estado) da Agricultura desses tempos, que não perceberam o enorme investimento que era o dinheiro gasto com os trabalhos de Natividade. Fica-se a pensar no que poderia ter feito se os meios de trabalho tivessem sido outros, meios de trabalho que, por ironia do destino, lhe foram dados pouco tempo antes da sua morte. Numa das suas cartas, datada de 20 de Fevereiro de 1965, dizia-me: “O Plano Intercalar, porque passei a entender-me directamente com o Ministro, trouxe leve brisa favorável... Por quanto tempo? Não me surpreenderá que, de um momento para o outro, surja a calmaria, que é como quem diz, a paz podre... Não desanime, e prossiga o seu belo trabalho. Só isto conta. Há que remar contra a maré!”

 

O Ministro era o Eng.º Ferreira Dias, o único governante, depois de Rafael Duque, que mostrou ter alguma noção do que a Agricultura precisava. Mas o que realizou foi pouco e ficou muitíssimo aquém do que seria necessário e era possível fazer.

 

Só no final da vida Natividade pôde dispor , como declarou, de bons meios de trabalho, que lhe deviam ter sido proporcionados vinte ou trinta anos antes. São elucidativas as palavras que em 16 de Dezembro de 1967 escreveu ao seu amigo Aurélio Quintanilha (Quintanilha, 1969): “Disponho dum gabinete que até parece o “boudoir” de Cleópatra! Belas salas de trabalho, um grupo de câmaras frigoríficas, uma das quais com atmosfera artificial, para os estudos de conservação de frutos; enfim, qualquer coisa faraónica em comparação com a miséria em que temos vivido!

 

Por ironia do destino, tudo isto chega quando faltam apenas 21 meses para atingir o limite de idade! Até dá vontade de chorar! Durante os melhores anos da minha vida, lutei com dificuldades e incompreensões de toda a ordem; conheci a extrema indigência laboratorial; tive que improvisar todas as ferramentas de trabalho; tudo o que se fez foi à custa de sangue, suor e algumas lágrimas! E nem se pode dizer agora que Deus dá nozes a quem não tem dentes. Deram-me as nozes, é certo; disponho ainda de dentes capazes de roerem um chispe de elefante... simplesmente a lei obriga-me a fazer as malas quando mal começo a descascar as nozes!”

 

Os responsáveis portugueses não serão capazes de compreender um tão pungente depoimento? Infelizmente, nem os 21 meses de que Natividade fala pôde tirar partido desses meios da última hora. A morte ceifou-o, quase precisamente um ano antes de completar os 70 anos, em 19 de Novembro de 1968.

 

* * *

 

Apesar do seu alto mérito, já então demonstrado, Natividade foi, a certa altura da sua carreira, vítima dum tratamento inadequado e consequente da inversão de valores infelizmente tão comum em Portugal. Pessoa muito sensível, no seu feitio introvertido, que só se abria francamente para os amigos íntimos, sentiu amargamente essa afronta, que o marcou duma maneira muito forte.

 

Mas duas instituições souberam reconhecer-lhe o mérito autêntico: a Estação Agronómica Nacional, que logo em 1937 o acolheu com o posto máximo de Investigador (categoria paralela à de Professor Catedrático), e a Academia das Ciências de Lisboa, que o elegeu como sócio.

 

Se a morte não tivesse interrompido um ano antes a sua carreira fulgurante, Natividade ter-se-ia jubilado em 22 de Novembro de 1969, ao atingir os 70 anos.

 

É curioso que o seu último acto oficial – que não, certamente, o seu último trabalho de investigador, que por certo continuaria para além do chamado "limite de idade" – teria sido nesta mesma sala, pois fazia parte dum júri de provas que se efectuaram em 17, 19 e 21 de Novembro de 1969. E foi muito lamentável a sua ausência porquanto certamente não consentiria – considerando, até, a sua amarga experiência pessoal! - que fosse cometido um acto afrontoso, que muito enxovalhou esta nossa casa, a Faculdade de Ciências de Lisboa (donde vieram dois dos responsáveis) e, duma forma geral, a ciência portuguesa.

 

(continua)

 

Miguel Mota

Departamento de Genética e Melhoramento,

Estação Agronómica Nacional, Oeiras

e Universidade de Évora, Évora

NATIVIDADE E A GENÉTICA – 2

 

Em 1937 Natividade apresenta uma outra valiosíssima contribuição para o conhecimento da cariologia da flora portuguesa (Natividade, 1937a, b), com o estudo de 9 espécies de Quercus e de três híbridos entre espécies desse género (Ver Quadro III).

 

QUADRO III

Estudos citológicos em Quercineas

(Natividade, 1937a, 1937b)

Número de cromossomas

                                                                                              2n   n

Quercus suber..L.................................................................24  12

Quercus ilex ..L...................................................................24

Quercus lusitanica Lam........................................................24  12

Quercus fruticosa Brot.........................................................24

Quercus coccifera L.------------------------------------------------24

Quercus robur L..................................................................24

Quercus tosa Bosc...............................................................24

Quercus ilex x suber P. Cout.................................................24

Quercus cerris x suber.........................................................24

Quercus coccifera x ilex.......................................................24

Quercus sessiliflora Salisb....................................................24

Quercus montana Wild........................................................24

 

 

Natividade indica ter estudado duas variedades de Quercus lusitanica Lam., a faginea Lam. e a baetica Webb, hoje consideradas duas espécies diferentes, respectivamente Q. faginea Lam. e Q. canariensis Willd.

 

Em todas encontrou o número 2n=24 cromossomas, estudando nalguns casos a meiose, onde sempre viu 12 bivalentes. Algumas dessas espécies ainda não tinham sido estudadas e por isso o trabalho encontra-se citado no Atlas de cromossomas de plantas cultivadas publicado por Darlington and Wylie (1955).

______________________

 

*Embora no texto esteja, na página 201, este número correcto, na lista da página 200, certamente por gralha, vem indicado o número 12.

 

As mitoses foram estudadas em vértices radiculares obtidos por germinação das glandes e cortando a extremidade da raiz principal, de forma a induzir a formação de numerosas raízes laterais.

 

Os fixadores com base no tetróxido de ósmio, como o Flemming, o Benda, os vários de La Cour, considerados dos melhores para muitos materiais, mostraram-se inadequados.

 

Ensaiou outros, como o de Lewitsky e o de Navashin. Este, particularmente com a modificação introduzida por Bruun, sem ser ideal é o que se mostra melhor.

 

Quem se ocupou de problemas semelhantes - como é o meu caso - sabe o que exige, de trabalho, paciência e muita observação um estudo desta natureza. As técnicas usadas, após a fixação, eram a inclusão em parafina, corte - que Natividade indica à espessura de 6 μm, o que exige alto nível de qualidade - e coloração pelo violeta de genciana. Nos trabalhos para a minha tese de Engenheiro Agrónomo ainda usei essa técnica e sei, por experiência própria, o que ela implica de trabalho. Por isso compreendo bem o que Natividade exprime quando afirma: "...avaliar-se-á assim a quantidade enorme de material que foi necessário preparar

para a elaboração deste estudo"

 

Para as meioses incluiu as anteras em parafina para estudar, em cortes, as células mães do pólen (CMP). Surpreende-me a afirmação de que o fazia por "a grande espessura da parede das anteras tornar muito difícil a execução de esfregaços", pois desconheço que dificuldades possam apresentar as anteras do sobreiro.

 

Para este caso diz que as mais belas fixações foram obtidas com o fixador de Navashin, modificado por Karpechenko. Embora tenha utilizado também o fixador de Carnoy, os resultados não foram tão bons. Os cortes dos blocos de parafina eram aqui feitos a espessuras entre os 15 e os 25 μm, continuando a usar o violeta de genciana para a coloração dos núcleos e dos cromossomas em meiose.

 

Com as técnicas descritas os cromossomas não ficam direitos e na horizontal, no plano da lâmina do microscópio, mas em diferentes posições, normalmente oblíquas, ou mesmo encurvados. Assim, para se fazer uma medição correcta do comprimento dum cromossoma e da posição exacta das suas constrições, era necessário, no desenho à câmara clara, assinalar a cota a que se encontravam os diferentes pontos, o que se conseguia focando-os com o parafuso micrométrico e medindo neste o valor da profundidade Ainda utilizei, também, essa técnica laboriosa, hoje, pelo menos para a enorme maioria dos casos, tornada obsoleta com as metodologias de que dispomos e que nos oferecem metafases de estudo muito mais fácil.

 

Apresenta os cariótipos das espécies estudadas - os idiogramas, como então mais correntemente se dizia - assinalando as pequenas diferenças entre espécies.

 

A meiose foi estudada em duas espécies - Q. suber L e Q. lusitanica Lam. - tendo nas duas encontrado 12 bivalentes na metafase I.

 

* * *

 

Natividade teve a sua produção de trabalhos de Genética na década de 1930. Os seus estudos de pomologia, principalmente os de fisiologia, melhoramento e técnica agronómica das operações culturais, absorviam-no de tal forma que a genética praticamente deixou de beneficiar da sua actividade directa. No entanto – e isso reflecte-se em toda a sua obra – ela nunca deixou de nortear o trabalho nos outros campos E, assim, se a contribuição original mais importante no campo da genética é constituída pelos seus estudos citológicos, ela foi complementada com alguns outros trabalhos e a constante referência, pela importância que têm para o melhoramento, aos casos de poliploidia e aneuploidia, aos estudos da fecundação, às mutações somáticas, etc.

 

Em 1941 (Natividade, 1941) chama a atenção para os trabalhos realizados e em curso em variados países, mostrando estar bem familiarizado com o que se fazia no estrangeiro, mesmo em países que não conhecia directamente. Alem de várias instituições inglesas (John Innes, Long Ashton, East Malling) que visitou, refere o que se realizava na Alemanha, na Holanda, na Checoslováquia, na Itália, nos Estados Unidos, no Canadá, na Rússia, etc.

 

Deste último diz "A Russia possui 14 Estações de melhoramento, de genética e de citologia das árvores de fruto, e basta recordar o trabalho formidável realizado por Vavilov e pelos seus colaboradores para se ter uma ideia do desenvolvimento e da profundidade que estes estudos ali alcançaram".

 

Em certo ponto e a propósito das dificuldades e delongas do trabalho, desabafa dizendo que "O melhoramento das espécies fruteiras é uma ciência complexa, uma arte difícil e um labor enervante".

 

Desse mesmo escrito de 1941 respigo alguns pontos interessantes: "A complicada constituição genética das variedades cultivadas deriva de uma origem híbrida mais ou menos remota e da ocorrência frequente de poliploidia".

 

E, mais adiante: "O género Pirus é um género extremamente poliplóide. Apesar de nas Rosáceas o número básico ser 7, as variedades de pereiras, macieiras, nespereiras e marmeleiros a que chamamos diplóides possuem 34 cromossomas, e existem variedades culturais triplóides, das duas primeiras espécies, com 51 cromososmas".

 

"Recorre o melhorador à hibridação, às mutações de genes, à poliploidia, às alterações estruturais nos cromossomas seguidas da selecção, ou seja, afinal aos processos fundamentais por que as variedades se diferenciaram no decurso dos tempos".

 

"A genética, como disse Henrique Wallace, é uma ciência de colaboração com a natureza".

 

(continua)

 

Miguel Mota

Departamento de Genética e Melhoramento,

Estação Agronómica Nacional, Oeiras

e Universidade de Évora, Évora

NATIVIDADE E A GENÉTICA – 1

 

Penso não errar se disser que é do conhecimento geral que Joaquim Vieira Natividade foi um eminente engenheiro agrónomo especialista e investigador no campo da pomologia e um não menos eminente engenheiro silvicultor especialista e investigador no domínio da subericultura.

 

Mas creio que não serão muitos aqueles que conhecem em pormenor a sua obra e sabem, portanto, que durante uma parte da sua actividade, quase na fase inicial, o trabalho de Natividade se centrou, intensamente, no campo da Genética e, mais especificamente, no da Citogenética.

 

Como ciência central da biologia, a Genética não deixou de estar presente em todo o trabalho de Natividade, pois não há qualquer ramo da agricultura - que envolve a reprodução de organismos biológicos - que se possa desligar do mecanismo de controle da transmissão dos caracteres hereditários.

 

O tema que me propus tratar é, especificamente, a contribuição directa de Natividade como investigador de Genética, no domínio da pomologia e no domínio da subericultura.

 

Como procurarei mostrar, essa contribuição foi muito grande e fico a pensar o que teria sido a sua produção científica de Genética se, para usar palavras suas, não tivesse sido “empurrado pela vida para outros rumos”.

 

* * *

 

O primeiro grande trabalho em que Natividade publica estudos de Genética é a sua tese para o concurso para professor, intitulada "A improdutividade em pomologia. Estudo fisiológico e citológico" (Natividade, 1932).

 

É um trabalho de grande envergadura, que se tornou um clássico. E, naturalmente, um dos grandes capítulos da improdutividade, teria de ser o estudo dos cromossomas. Para esse estudo foi de grande utilidade a sua estadia em Inglaterra e o trabalho realizado na John Innes Horticultural Institution, perto de Londres, onde adquiriu excelente proficiência nas técnicas então utilizadas para observação dos cromossomas, em que aquela instituição era, ao tempo, uma das melhores do mundo.

 

Nesse trabalho estudou a cariologia de algumas pomoideas e prunoideas. Observou principalmente a meiose nas anteras, utilizando o método de fixação pelo Carnoy, inclusão em parafina, corte e coloração pelo violeta de genciana. Embora usasse os esfregaços, que nessa altura começavam a divulgar-se como método valioso, não parece ter tido com eles muito bons resultados. Só nalguns casos fez estudos de mitoses somáticas.

 

Nas pomoideas estudou as macieiras e as pereiras.

 

Na macieira (que designa por Pirus Malus L., hoje a Malus domestica Borkh.) estudou 13 variedades portuguesas em que observou sempre n=17 cromossomas e meiose regular. Nos casos em que pôde estudar tecidos somáticos verificou serem 2n=34. Considera estas variedades diploides. Mas em outras seis variedades encontrou 2n=51 cromossomas nos tecidos somáticos e uma meiose irregular, com existência de trivalentes e univalentes, que considera triploides.

 

Na pereira (Pirus* communis L.), estudou 12 variedades portuguesas com n=17, formando regularmente 17 bivalentes na meiose, e mais três variedades, Sete cotovelos, Leitão e Beurré Alexandre Lucas, com maior número de cromossomas, suspeitando que sejam triploides.

____________________

* Natividade usa a forma latina Pirus. É, no entanto, recomendada a forma de origem grega Pyrus, aliás a que foi usada por Lineu.

____________________

 

Em trabalho posterior (Natividade, 1935), não só confirma o número 2n=34 para as variedades diplóides, como determina para as triplóides 2n=51, como no caso da Beurré Alexandre Lucas, para a qual outro autor tinha indicado o número 2n=56.

 

À lista de 1932 adiciona agora mais seis diplóides e duas triplóides. No Quadro I apresenta-se a lista das espécies e variedades em que Natividade efectuou o estudo dos cromossomas. É um trabalho exaustivo, porquanto apresenta numerosas contagens, em espécies com cromossomas de muito pequenas dimensões, confirmando, em variedades portuguesas, números semelhantes aos que Darlington (1930) encontrara para outras variedades.

 

QUADRO I

Estudos citológicos em Pomoideas

(Natividade, 1932, 1935)

Número de cromossomas

                                                                                                       n

-Pyrus malus

var. Melápio(2n=34)...................................................................17

Casa Nova de Alcobaça................................................................17

Bravo de Esmolfe........................................................................17

Tâmara......................................................................................17

Gronho......................................................................................17

Camoesa Fina.............................................................................17

Rei............................................................................................17

Cêrca........................................................................................17

Burro........................................................................................17

Sousa.......................................................................................17

Branco......................................................................................17

Pipo..........................................................................................17

Coimbra....................................................................................17

Carneira (2n=51)...........................................................mais de 17

Reineta.........................................................................mais de 17

Bemposta......................................................................mais de 17

Espelho.........................................................................mais de 17

Reguenga......................................................................mais de 17

Reineta parda................................................................mais de 17

 

-Pyrus communis

var. Amorim (2n=34).................................................................17

D. Joaquina...............................................................................17

Fita..........................................................................................17

Virgulosa do Fundão...................................................................17

Pérola.......................................................................................17

Carapinheira..............................................................................17

Rosa.........................................................................................17

Côxa de freira............................................................................17

Carvalhal..................................................................................17

Madalena..................................................................................17

Pigaça de Verão.........................................................................17

Marques Loureiro.......................................................................17

La France..................................................................................17

Van Mons (Léon Leclerc).............................................................17

Beurré de l’Assomption...............................................................17

Le Lectier..................................................................................17

Sete Cotovelos (2n=51)..................................................mais de 17

Leitão...........................................................................mais de 17

Beurré Alexadre Lucas....................................................mais de 17

Curé (Vicar of Winkfield).................................................mais de 17

Tiomphe de Jodoigne......................................................mais de 17

Beurré Alexandre Lucas..................................................mais de 17

Curé (Vicar of Winkfield).................................................mais de 17

 

 

Nas prunoideas estudou a amendoeira (Prunus dulcis (Miller) D. Webb), então denominada Amygdalus communis L. e que já foi Prunus amygdalus Batsch), o alpercheiro (Prunus armeniaca L.) e três variedades de cerejeira (Prunus avium L.), onde encontrou sempre o número de cromossomas n=8, observados na meiose.

 

Estudou também a nossa valiosíssima Raínha Cláudia, talvez a melhor ameixa do mundo, pertencente à espécie Prunus domestica, que é uma hexaplóide, com n=24 cromossomas e muitas irregularidades na meiose. E, aínda, a ginjeira Garrafal, que é um híbrido entre Prunus avium x P. cerasus, que verificou ser tetraplóide, com n=16 cromossomas*.

 

No Quadro II encontra-se a lista de espécies e variedades estudadas.

QUADRO II

Estudos citológicos em Prunoideas

(Natividade, 1932)

Número de cromossomas

                                                                                                        n

- Amygdalus communis L.

var. Molar fina..............................................................................8

- Prunus armeniaca L.

var. Comum.................................................................................8

- Prunus persica (L.) Stokes

var. Branco-rosa...........................................................................8

- Prunus avium L.

var. Galega..................................................................................8

Vidrada.......................................................................................8

Saco...........................................................................................8

- Prunus domestica L

var. Raínha Cláudia.....................................................................24

- Prunus avium x P. cerasus

var. Garrafal...............................................................................12

 

 

(continua)

 

Miguel Mota

Departamento de Genética e Melhoramento,

Estação Agronómica Nacional, Oeiras

e Universidade de Évora, Évora

PROFESSOR LUÍS ARCHER

 

 

 

Escrevo sob a emoção de ter chegado de acompanhar à sua última morada um grande amigo meu, o padre jesuíta Prof. Luís Peixoto Archer, falecido ontem, 8 de Outubro de 2011.

 

O Prof. Luís Archer licenciou-se em Biologia na Universidade do Porto com alta classificação. Mas pouco depois decidiu seguir a carreira eclesiástica, licenciou-se em Filosofia e em Teologia e, ordenado padre, ingressou na Companhia de Jesus. Anos mais tarde, quando se encontrava a leccionar no Colégio de Santo Tirso, os seus superiores decidiram que voltasse à universidade.

 

Foi aí que o encontrei, pelos fins de 1963 ou princípios de 1964, como Assistente, então a trabalhar na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Algum tempo depois foi para os Estados Unidos, onde em 1967 fez o doutoramento num sector da Genética que, embora não desconhecido dos portugueses, não tinha ninguém a trabalhar nesse campo: a Genética Molecular. (Eu próprio, depois dum Colóquio na Estação Agronómica, para fazer o ponto, para os colegas de outras especialidades, das últimas descobertas nesse campo, publiquei, em 1964, no primeiro número dum jornal de divulgação científica de efémera duração, um artigo intitulado "A base molecular da hereditariedade". Nesse artigo descrevi as novas descobertas, que se iniciaram em 1953 com a descoberta da estrutura molecular do DNA e que culminaram com a completa decifração do Código Genético).

 

Regressado dos Estados Unidos com o seu doutoramento e com um forte apoio da Fundação Gulbenkian, realizou diversos cursos dessa matéria e instalou na Fundação um Laboratório de Genética Molecular. O trabalho desenvolvido foi de grande projecção internacional e foram numerosos os prémios e outras honrarias que recebeu.

 

Com a sua inteligência fulgurante e a sua prodigiosa memória, entrava a fundo em tudo o que fazia, como constatei várias vezes. Foi o padrinho no meu doutoramento Honoris causa e no seu discurso relatou factos e ocorrências de que mal me lembrava.

 

Na fase final, mais do que a Genética - de que me dizia já estar afastado - dedicou-se aos problemas da Bioética, tendo sido o primeiro Presidente da respectiva Comissão Nacional.

 

Teve alguns sérios problemas de saúde. Nas vésperas da homenagem que lhe estava preparada em Vila Real, durante as Jornadas Portuguesas de Genética, pela Sociedade Portuguesa de Genética, então sob a minha Presidência, não pôde estar presente por motivo duma grande cirurgia, a um aneurisma na aorta abdominal. Recompôs-se bastante bem e, embora com alguns outros problemas, continuava com grande actividade e foi uma surpresa o seu falecimento. Dele se esperava ainda muito, mas o destino assim não quis. Eu perdi um Amigo. O país perdeu um cientista de alto nível.

 

 

 Miguel Mota

 

Publicado no Linhas de Elvas de 13 de Outubro de 2011

INVESTIGADORA PORTUGUESA PUBLICA NA “NATURE”

 Joana_Marques_1.jpg A investigadora portuguesa Joana Marques, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, é uma das autoras de um artigo que “abre portas” à utilização de células diferenciadas na medicina regenerativa publicado na revista científica “Nature”.

O trabalho, desenvolvido na Universidade de Cambridge (Inglaterra), “revela novas informações sobre a acção de uma determinada modificação epigenética [hidroximetilação] no processo de pluripotência e diferenciação das células estaminais embrionárias”, diz a investigadora. A descoberta poderá ser útil para criar eficazmente células comuns, explica.

Joana Marques afirma que estas células poderão “entrar na formação de qualquer órgão”, tal como as células embrionárias, “mas apresentam a vantagem de não levantarem os problemas éticos e deontológicos que as células estaminais embrionárias implicam”.

 

In http://www.nofemininonegocios.com/

QUANDO MORRER É PRECISO

 

Ficheiro:Vermont fall foliage hogback mountain.JPG

Imagem da Internet: Wikipédia (enciclopédia livre)

 

Toda a morte devia ser assim: tranquila, natural, como um apagar de luzes de um espectáculo teatral, gradual e sem traumas.

 

Com mais de 100 anos, uma velha e querida amiga, já no final dos seus profícuos dias, dizia-me toda a vez que a encontrava para os nossos enriquecedores papos: Estou tão cansada que o simples exercício de me levantar para tomar banho e me alimentar me deixam esgotada. Espero que Deus não se esqueça de mim, e venha logo me buscar!

 

Ele atendeu-lhe o pedido quando ela completou 103 anos. Depois de viver intensamente, de viajar, de estudar, de conhecer e transmitir ao próximo, tanta sabedoria e saber, repousou. Sua luz se apagou naturalmente.

 

Como na apoptose, processo metabólico que tem a morte celular geneticamente determinada, a morte humana deveria ser tranquila, não sofrida, naturalmente acontecida. Deveria ser um item no processo evolutivo humano bem entendido, com o objectivo claro de dar
reprogramação e continuidade à vida.

 

Foi na década de 70 que o jovem médico inglês, Andrew Wyllie, pesquisando, observou argutamente que certo grupo de células, a determinada altura do desenvolvimento, parecia suicidar-se para que o organismo fetal, como um todo, evoluísse e mantivesse o número de células necessárias ao equilíbrio do organismo. “A esse fenómeno deu o nome APOPTOSE, termo grego que quer dizer ‘ CAIR LONGE DE...”, numa semelhança como ocorre com as folhas amareladas e secas do Outono do Hemisfério Norte, quando estas caem para dar lugar às novas que vão nascer.

Todos os dias perdemos por volta de 70 biliões de células, num processo suicida, geneticamente programado, que tem como fundamento a remodelação e homeostase orgânica. Primeiro a molécula de DNA, respondendo a um relógio biológico, vai mudando gradativamente, fluida e precisamente, induzindo a célula à morte. A membrana celular se dobra sobre si mesma, formando bolhas que serão englobadas pelas células vizinhas até o processo ser finalizado com o desaparecimento da célula inicial.

 

Assim é o processo amplamente conhecido do desenvolvimento embrionário, em que as membranas natatórias interdigitais do embrião desaparecem à medida que as mãos do feto vão se formando! Quando certo grupo de células do nosso corpo se torna inviável ao sofrermos damos irreparáveis, as células são naturalmente eliminadas dando lugar a novas células teciduais reparatórias (fígado, medula, ovários, osso,...).

 

Biologicamente, a apoptose é um processo metabólico complexo, geneticamente determinado, onde factores enzimáticos actuam como relógios biológicos, ainda não totalmente elucidados. Esperança dos cientistas para tratamentos de doenças como o câncer e esterilidade, a apoptose é um segredo da vida que faz lembrar os dizeres premonitórios dos antigos que diziam que morrer é preciso para se ter vida.

 

 Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 25 de Outubro de 2011

PORTUGUESES LANÇAM NOVA MÁQUINA…

 

…contra o cancro da mama

 

 

Consórcio europeu liderado por portugueses lançou uma nova máquina que pode revolucionar a prevenção e detecção do cancro da mama. Os primeiros protótipos foram instalados em Coimbra e Marselha.


  
  É uma máquina inovadora a nível mundial,

acaba com a ineficácia e o desconforto das
mamografias. A taxa de falsos resultados positivos

 atinge  os 60%  a 70% nas mamografias actuais por

raios X ou por ecografia

 

É uma máquina inovadora a nível mundial, acaba com a ineficácia e o desconforto das mamografias, foi concebida por um consórcio internacional liderado por investigadores portugueses e os primeiros dois protótipos já estão instalados na Universidade de Coimbra e no Hospital Universitário de Marselha.

Chama-se Clear PEM Sonic e integra pela primeira vez as tecnologias PET (tomografia por emissão de positrões, isto é, exame imagiológico de medicina nuclear) e de ultras sons (ecografia), o que permite detectar tumores com apenas 1mm ou 2 mm, que estão numa fase inicial, quando o PET clássico não visualiza tumores com menos de 10 mm e tem uma sensibilidade 10 vezes menor.

A taxa de falsos resultados positivos atinge os 60% a 70% nas mamografias actuais por raios X ou por ecografia, com particular incidência nas mulheres mais jovens, o que obriga a fazer biopsias. Por outro lado, o método de diagnóstico mais usado, por raios X, expõe as mulheres a radiações elevadas e é doloroso, por implicar alguma compressão da mama.

Baixa radioactividade

Na Clear PEM Sonic o exame dura apenas cinco minutos, implicando a injecção no sangue da paciente um composto de glicose com baixa radioactividade conhecido por 18-FDG. Como as células cancerígenas consomem mais açúcar, um tumor não maligno não fixa a glicose, o que é identificado pelo detector de radiação do aparelho.

O projecto nasceu no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), em Genebra, através da experiência "Crystal Clear", e é coordenado por João Varela, investigador do CERN, professor do Instituto Superior Técnico (Lisboa) e presidente da PETsys, empresa criada para desenvolver a nova máquina. Em Coimbra, o protótipo da nova máquina está instalado no Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), um dos parceiros nacionais do projecto. Os outros incluem a PETsys, centros de investigação das universidades de Coimbra, Porto e Lisboa, o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), o Taguspark e o Hospital Garcia de Orta (Almada).

Além do CERN e do Hospital Universitário de Marselha, os parceiros estrangeiros são a Universidade de Milão e a empresa francesa Supersonic Imagine.


Fonte: Expresso

UM CIENTISTA PORTUGUÊS

 

 
 
Universidade de Faro, Grande Auditório, 29 de Janeiro de 2010.
 
Depois de ler o extenso curriculum científico e académico de Emídio Landerset Cadima e mostrar a importância dos  avanços por este realizados no domínio da Genética das Populações Marítimas, o Professor Dr. Rafael Robles, Director do Centro Oceanográfico de Vigo, vindo propositadamente de Espanha,   disse que aceitara a honra de apadrinhar o doutoramento Honoris Causa por cinco razões:
1- A coerência demonstrada pelo homenageado ao longo de toda a sua vida;
2- A humanidade que transparece em todas as manifestações do seu espírito;
3-  A coragem que lhe permitiu inovar, aplicando a Matemática num  campo de investigação biológica,
4 - A capacidade de liderança das equipes de trabalho que chefiou e – last but not the least
5 - Tratar-se de um "bom homem"
Robles considera E. Cadima – com 38 trabalhos científicos publicados – um dos maiores cientistas mundiais no domínio da Avaliação de Recursos Bio-Marítimos.
Emídio no seu agradecimento apontou o perigo do novo procedimento internacional adoptado em matéria da licenças de pesca - o leilão. Disse: aqueles que pagam para obter direitos de pesca numa determinada zona vão procurar rentabilizar  o seu capital e a última coisa que lhes interessa é a conservação das espécies. Disse ainda, que a indústria nacional da pesca  não deve ser avaliada em função da sua contribuição para o PIB – que é fraca – mas sim em função da importância que o peixe tem na alimentação dos portugueses. Por fim, deplorou a despromoção da matemática nos currículos escolares portugueses feita a título de "é preciso melhorar os índices estatísticos de aproveitamento escolar" e com a falsa justificação de que "o computador resolve tudo". O computador, disse, ajuda o matemático mas não substitui o matemático.  
Presentes:  Além dos corpos docente e discente da Universidade, o engenheiro Macário Correia, presidente da CM de Faro e Sidney Holt, pesquisador sénior do Laboratório de Lowestoft, o maior centro de pesquisa oceanográfica do Reino Unido
+++
O Jantar de  Homenagem reuniu 100 amigos e admiradores de E.L. Cadima. (Duas dezenas ficaram de fora por falta de lugar na sala).  O ambiente foi da máxima cordialidade e alegria. Nos discursos informais foram referidas duas anedotas que ilustram o carácter do homenageado. Em 1962, Cadima trabalhava para o Instituto de Biologia Marítima, em Lisboa,   quando foi avisado pelo seu chefe que a PIDE o ia prender. À maneira de célebre Dr. Johnson, Cadima constatou que  avisos desta natureza são a melhor forma de concentrar a mente. Cinco horas depois estava em Londres com 10 libras no bolso, disposto a lavar pratos em qualquer restaurante que lhe garantisse o sustento. Não foi preciso. Tendo contactado pesquisadores do seu ramo com quem já mantinha correspondência, estes imediatamente o convidaram para trabalhar em Lowestoft. Pôde assim dedicar-se à pesquisa  e especializar-se, sem receio de intervenções inoportunas. Doutra feita, em 1976, os técnicos de Vigo que tinham vindo a Lisboa discutir stocks de peixe na costa ibero-atlântica  ficaram impossibilitados de o fazer porque  a incipiente máquina calculadora de que dispunham se avariou.   O Prof.  Cadima resolveu o problema. Ficou uma noite sem dormir e refez de cabeça os cálculos perdidos na memória da calculadora estropiada.
No que me toca, revejo-me numa amizade que teve início no Colégio Militar  e se manteve ininterrupta durante 70 anos. Lembro, a propósito,   que a rapaziada do nosso curso crismou então  Emídio Cadima com a alcunha de Pitágoras. Premunição.
 Luís Soares de Oliveira

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