Com a veneranda idade de 26 anos, morreu hoje inesperadamente a minha égua Lola depois duma grande e longa dedicação à Escola de Equitação do meu Clube e duma reforma de grande felicidade nos últimos 3 anos em que a montei diariamente banindo todo o stress e tudo fazendo com muita suavidade.
Vou ter saudades do relincho com que me recebia ao ouvir a porta do meu carro a fechar anunciando a minha chegada e a malga de cenouras com que a brindava antes de tudo o mais. Seguia-se a limpeza geral para depois irmos passear com ela a mordiscar umas ervas antes de fazermos alguns exercícios de aquecimento em espáduas a dentro a passo e a trote. A saída a galope era quase sempre feita dentro da pirueta a passo a que se seguia um encurtar do trote para aproximação progressiva ao rassemblé.
Pelo que me contaram, o fim terá chegado sem sofrimento. Estava à janela da box como era seu costume e quando meia hora depois o tratador lhe foi dar a ração, já não vivia.
Local e data - sala dos Sócios da Sociedade Hípica Portuguesa, em Lisboa, 27 de Abril de 2018.
Ocasião – palestra do Coronel José Henriques sobre a história da Escola Militar de Equitação, em Mafra.
Assistência composta por uma trintena de interessados, sobretudo militares.
Sessão naturalmente presidida pelo Presidente da SHP, o nosso amigo José Manuel Figueiredo, que saudou os presentes e logo passou a palavra a quem teve a ideia da palestra, o Coronel José Sanches Osório, que apresentou o palestrante. Mas também se referiu ao facto de a ideia lhe ter surgido quando, na mais recente Assembleia Geral da SHP ter ouvido falar muito merecidamente de Mestre Nuno Oliveira mas não ter ouvido uma única palavra sobre os militares que tanta glória trouxeram a Portugal nas pistas equestres internacionais. Daí, a ideia de nos trazer quem tanto sabe sobre a história da «Escola de Mafra».
O Coronel José Henriques, da Arma de Infantaria, foi responsável pelas actividades da Educação Física no CMEFED – Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos mas, paralelamente, sempre foi um entusiasta do desporto hípico. Estudioso, investigou a história da instituição que, mesmo depois de reformado, continua a frequentar diariamente.
E assim foi que passámos a saber que o local - a norte do Convento de Mafra - onde se situa a Unidade se chamava o «real buraco» e que foi ali que, em meados do séc. XIX, se instalou um primeiro «Depósito de Garanhões». Mudando de nome e de vocações (sempre equestres) ao longo da história, chega-se à fundação do CMEFED já depois da II Guerra Mundial. E foi ali que se concentrou todo o processo de aprimoramento técnico (e desportivo) da equitação militar portuguesa. De notar que a faceta desportiva é de grande relevância para a equitação militar onde se deparam, naturalmente, situações que exigem desembaraço, destemor e ousadia com cavalos que passem por cima de «toda a folha».
Foi por decisão do então Ministro do Exército General Fernando Santos Costa que os então Capitães Fernando da Silva Paes (mais tarde, Coronel) e António Reymão Nogueira (mais tarde, General) foram estagiar a França, em Saumur e em Fontainebleau, para se integrarem na equitação militar de tradição francesa onde ambos ganharam as «esporas de oiro». No regresso, Fernando Paes foi colocado na Escola de Mafra e Reymão Nogueira no Colégio Militar.
Posteriormente, veio para Mafra o Coronel Jean de Saint-André, ex-Chefe do Cadre Noir de Saumur, que acompanhou a formação da «geração de oiro» da equitação militar portuguesa. Refiro-me, por ordem alfabética do primeiro nome, nomeadamente a Álvaro Sabbo, António Pereira de Almeida, Eduardo Neto de Almeida, Henrique Callado, Jorge Mathias, José Carlos Craveiro Lopes, Luís Mena e Silva, … e outros que involuntariamente falho.
Depois, veio a guerra do Ultramar e começaram as soluções de continuidade na vida equestre dos Mestres militares. Houve os que fizeram escola e houve os outros.
Mas pior ainda, houve quebras sucessivas no financiamento daquela Unidade, houve redução de Quadros de Pessoal militar e civil, houve mudanças funcionais por Decreto, houve a extinção do CMEFED.
Resta apenas muita carolice de quem por lá sobrevive «segurando pelas pontas» o espírito do defunto CMEFED, mantendo a «reprise», cuidando da «coudelaria militar» e fazendo das tripas coração na esperança de que por aí venham melhores dias.
Ámen!
Para encerramento desta bela sessão de fim de tarde, um apelo do Coronel Sanches Osório no sentido de que a Sociedade Hípica Portuguesa, sempre apoiada pelos militares, seja agora ela a ajudar à retoma da grande tradição da equitação militar portuguesa. Sem hesitações, o Presidente da SHP assumiu esse objectivo encarando a possibilidade de constituir um núcleo de Sócios que com ele colabore para o efeito.
A ver se nós, os civis, podemos agora ajudar a equitação militar a sair do «real buraco» para que a atiraram. Uma dívida de gratidão historicamente assumida a isso nos obriga.
É claro que me refiro à vertente erudita da equitação. Desprezo a boçalidade que traz a rudeza directamente associada; não me refiro sequer à equitação com intuitos competitivos. Optei há muito pela equitação de prazer e este só se alcança com um cavalo não stressado, descontraído, calmo, direito, ligeiro e para diante.
E a partir do círculo e da espádua-a-dentro, eis que nasce a harmonia, cresce a impulsão, o andamento se faz voluntário e o cavalo exibe o gosto de viver. E quando isto acontece, o cavaleiro tem todos os motivos para se considerar feliz. Esta, a felicidade que dá prazer; esta a equitação que aprecio.
Eis a equitação que também Pedro Yglésias de Oliveira pratica numa elevação rara. E foi esse prazer tão seu conhecido que captou na objectiva que apontou aos felizes que apreciam e praticam a equitação erudita.
O livro é todo ele um acto admirável de cultura associando a docilidade e dinâmica do cavalo lusitano à elegância do seu ensino, sempre exibindo o discreto charme do cavaleiro que oferece todo o brilho do espectáculo ao seu melhor amigo, o cavalo.
Da arte equestre tradicional à equitação moderna de inspiração olímpica, eis um leque de opções em que o nosso cavalo se aplica confortavelmente e faz subir bem alto o nome de Portugal.
Mas Pedro Yglésias de Oliveira foi mais longe fotografando cenas equestres de grande finura sobre fundo composto de cenário apropriado, tudo num conjunto absolutamente admirável que fica para sempre como uma obra de arte inovadora.
E para quem tenha o livro entre mãos, daqui sugiro que aprecie, por exemplo, a serena beleza da levada clássica do «Hircinio» montado por Nuno Cavaco na página 21 e o gentil plie à direita do galope do «Verdilhão» montado por Joana Serra Lopes na página 81. E tantas mais imagens poderia referir...
Só um grande fotógrafo sabendo muito de equitação seria capaz de captar estas imagens. Felizmente temo-lo bem perto de nós, é português e é nosso amigo: Pedro Yglésias de Oliveira.
Henrique Salles da Fonseca e 'Uruguai' - início de «piaffer»
1 de Outubro de 2008
Homenagem a S. Martinho, Patrono de cavaleiros e cavalos
São Martinho é santo patrono dos alfaiates, dos cavaleiros, dos pedintes, dos restauradores (hoteis, pensões, restaurantes), dos produtores de vinho e dos alcoólicos reformados, dos soldados... dos cavalos, dos gansos, e orago de uma série infindável de localidades de Beli Benastir, na Croácia, a Buenos Aires, na Argentina passando, evidentemente, por numerosíssimas sítios de Norte a Sul de Portugal. (fonte Catholic Community Forum)