CURTINHAS LXXXV
Cicuta maculata (*)
A CICUTA DE SOCRATES (REMAKE)
Em Abril de 2007 (perdoe-me a imodéstia da auto-citação, Caro Leitor), escrevi, a propósito do canudo universitário do actual Primeiro-Ministro (PM), o seguinte: “E talvez não seja indiferente para o ar político que respiramos o modo como quem hoje é PM procedeu, ontem, com o fito de obter aquilo que ambicionava.”
O episódio dava indícios fortes de que José Sócrates seria mais um exemplo vivo do aforismo: “A quem não tem vergonha, todo o mundo lhe pertence”. Mas um exemplo conspícuo, pelo cargo que ocupava.
Entenderam todos que, feitas bem as contas, eram coisas do foro privado, esperteza de um rapaz desembaraçado – um mais entre tantos que, como uma praga bíblica, empestam o nosso ambiente nacional de há uns 15, 20 anos a esta parte.
Não era. Era, sim, uma prova de carácter que teria convindo não menosprezar (muito menos encobrir). Que teria sido importante sancionar.
Carácter que veio juntar a má fortuna de se ter perdido o crédito nos mercados financeiros internacionais (as notações de risco da nossa Dívida Soberana até continuam a ser “investment grade”, só que os investidores interessados rareiam), a vergonha de ser representado por quem tem uma notação de credibilidade DDDD junto dos restantes parceiros comunitários.
A distância que vai de ser perdulário, endividado até à raiz dos cabelos e sem cheta, à perda de dignidade é maior do que aquela que separa a Terra de Betelgeuse. Alguém faz o favor de esclarecer o PM (e a sua entourage próxima) sobre este ponto de etiqueta e boa educação.
A. PALHINHA MACHADO
MARÇO 2011