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A bem da Nação

A NOSSA CIVILIZAÇÃO CAMINHA PARA A ENTROPIA?

 

     No dia 12 do passado mês de Maio, assisti no Convento de Cristo, de Tomar, a uma conferência proferida pelo coronel Nuno Lemos Pires sobre geopolítica − “Ameaças e riscos tangíveis e intangíveis, do global ao nacional”. O conferencista, fazendo uso de uma linguagem clara e elucidativa, e servindo-se de ilustrações convincentes, descreveu e analisou o cenário das múltiplas ameaças que impendem actualmente sobre o homem e o planeta: a degradação ambiental; a exploração económica irracional dos bens naturais; o esgotamento das reservas de água doce; a explosão demográfica nas regiões mais carenciadas; o terrorismo internacional e os conflitos regionais incontroláveis; o êxodo das populações em direcção às regiões mais ricas, etc.

 

     Confirmou-se-me a impressão pessimista de que o geossistema (conjunto formado pelo sistema ecológico e o sistema social) é neste momento um compósito perigoso e pouco recomendável para o futuro da humanidade.

 

     Recentemente, li um artigo de José António Saraiva intitulado “INTERCÂMBIO TÊXTIL”, publicado no jornal Sol. Nele afirma que “há diversas provas de que a nossa civilização está a chegar ao fim. Uma delas consiste na perda de referências que durante séculos permitiram organizar o pensamento”. E fundamenta o seu diagnóstico apontando a arte e as suas tendências actuais, desde a pintura e a música ao cinema e à literatura, como a maior evidência desse fenómeno. Mas não chega a insinuar se essa perda de referências exprime ou não em si mesma uma intenção de arte.

 

     Depois adianta que “não só nas artes se perderam as referências”. E então cita comportamentos sociais aberrantes que denotam falta de nexo: cabelos cuidadosamente despenteados; fralda da camisa por fora das calças; sapatos a que se retiram os atacadores. Tudo sinais a aparentar desprezo pelas convenções, “mas que no fundo representam exactamente o contrário: um seguidismo cego em relação à moda”. E remata assim: “As calças compradas na loja já rotas constituem o exemplo máximo de uma civilização que chegou ao fim da linha e já não consegue inventar mais nada. Então põe-se a rasgar deliberadamente a roupa nova. É o nonsense no seu máximo esplendor!”.

AML-moda das calças rotas.png

 

     Mas esse olhar de José António Saraiva abarca apenas a espuma da realidade, e é por isso que lhe basta a arte para fundamentar os seus juízos. De outro modo, teria de descer ao terreno da antropologia e da ciência política. Sim, a arte permite toda a metáfora possível, porque os nossos preconceitos culturais são incapazes de lhe impor limites, quer ao seu abstraccionismo quer à sua ânsia de transgressão. O fenómeno das “calças rotas” e outros comportamentos similares são indícios do esgotamento dos nossos padrões de satisfação, de ruptura com as convenções, e de algum modo enquadram-se numa prosaica intenção de arte ou filosofia de vida, talvez reivindicando um qualquer “neo-existencialismo”. É como se a História e a Cultura nos tenham colocado num beco sem saída.

 

     No entanto, só o homem ocidental se pode dar ao luxo de querer subverter as referências do real, trocando as voltas ao mapeamento da sua caminhada. Resolvidos quase todos os seus problemas, incapaz já de se surpreender com o que a sociedade de consumo lhe oferece, sobra-lhe disponibilidade mental para a alienação e até para a mistificação de si próprio. Isto porque subjaz ao mundo das futilidades a espessura de uma realidade outra, bem crua e tenebrosa, onde é inútil usar subterfúgios para iludir o que quer que seja. É, com efeito, a realidade dos lugares do mundo onde o viver custa e dói imenso, onde escasseia a comida, a água e os medicamentos, onde, enfim, a vida se prende por um fio. Aí não sobra tempo para interpelar o sentido da existência, a razão de se estar vivo ou morto, quanto mais para subir a proscénios do ilusório.

 

     Nada mais ilustrativo que esta tirada final do discurso do José António Saraiva: “Entretanto, para dar algum sentido útil a uma moda sem sentido nenhum, arrisco-me a fazer uma sugestão. Sugiro às empresas de confecção têxtil que façam convénios com ONGs actuando em países do terceiro mundo para enviarem para lá jeans novos – recebendo em troca jeans velhos e usados. Que têm mais valor do que os que se vendem nas lojas, porque foram envelhecidos pelo uso e não de modo artificial. E que podem inclusive ter andado na guerra, exibindo rasgões feitos em combate ou mesmo buracos de balas.”

 

     Eis, pois, a verdade dura e crua sobre a realidade de um mundo assimétrico, esquisito e cada vez mais instável e perigoso. No conforto das nossas latitudes “primeiro-mundistas” podemos ter dificuldade em lobrigar que tudo se agravou nas últimas décadas e que a ameaça generalizada não é uma ficção: em breve faltará água no planeta para matar a sede da totalidade dos seus habitantes; a produção alimentar não acompanhará o desmesurado crescimento populacional, enquanto os ecossistemas vão destruir-se sem remissão; hordas de milhares e milhares de seres humanos demandarão os territórios onde supõem encontrar a segurança e a sobrevivência, como aliás já está a acontecer; de permeio, os conflitos regionais e de expansão imprevisível poderão ser a pólvora para acelerar a derrocada.

 

     Todo este cenário resulta da acumulação de sucessivas transgressões que o homem vem cometendo no ecossistema planetário, para satisfazer os seus modelos económicos e sociais. Existem neste momento mais de 7 bilhões de seres humanos no mundo, em que 25% estão abaixo da linha da pobreza e 75% consomem mais recursos do que permite a capacidade de recuperação do planeta. É inimaginável a dimensão que pode vir a atingir a disputa dos espaços vitais. Há quem preveja que o cenário para as próximas décadas é de caos ambiental e humano. Já em 1972, a equipa londrina de The Ecologist publicava um documento cuja conclusão não deixava de ser inquietante: “É lógico recear que, num futuro próximo, ultrapassaremos o limite, na brutalidade dos nossos empreendimentos sobre o meio, e que, por uma série de efeitos acumulados, provoquemos a derrocada da nossa civilização”.

 

     Ora, quarenta e quatro anos decorridos, quem pode desmentir a severidade angustiante daquela previsão? O homem aperfeiçoou as ferramentas da ciência e da técnica e no entanto paradoxalmente parece mais longe de si próprio, como o demonstram as aberrações do seu comportamento cultural, de que o fenómeno das “calças rotas” é apenas um exemplo menor. Invocando Jeremy Rifkin, cabe perguntar se não estamos já às portas da entropia, ou seja, da desordem irreversível.

 

Tomar, 6 de Junho de 2016

adriano m. lima - sérvia

Adriano Miranda Lima

MARDICAS E TOPAZES

 

 

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Fig. 1. À sombra dum coqueiro, um Mardica com sua esposa e filho vestidos à portuguesa, pintura de 1704 (http://www.wikiwand.com/en/Indos_in_pre-colonial_history).

 

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Fig. 2. Os Topasses ou Topazes das ilhas de Timor, Solor e Flores, onde também eram designados por Larantuqueiros, do nome da capital e porto do distrito oriental da ilha, em Larantuca, eram católicos, falavam crioulo caboverdeano, que subsistiu na ilha das Flores até ao século XX e controlavam o comércio do sândalo dessas ilhas (Hans Hägerdal, 2012, Lords of the Land, Lords of the Sea, Conflict and adaptation in early colonial Timor, 1600-1800, Leiden, KITVL Press, 479 p.). 

 

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Fig. 3, Ilha das Flores: Vendedor de panos e tecidos com motivos caboverdeanos.

 

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Fig. 4. Em Larantuca, este descendente de caboverdeanos leva um magnífico quadro, que mostra Jesus, no caminho do calvário, carregando a sua cruz (Beawiharta/Reuters). Vários outros quadros estão dispostos ao fundo e parece que se trata do próprio pintor, que veio vender as suas obras, durante a Páscoa.

 

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Fig. 5. Filas às portas das igrejas católicas aguardando as cerimónias religiosas da Páscoa, em Larantuca, ilha das  Flores.

 

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Fig. 6. Maumere, distrito de Siqui, Flores (http://www.news.com.au/travel/travel-ideas/adventure/forget-bali-whats-next-door-is-way-better/news-story/7117771c7e59ffd43b0ae3e2d36e8837), crianças e adolescentes descendentes dos escravos de armas, topazes caboverdeanos.  

 

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Fig. 7. Caboverdeanos da Ásia, vestidos à portuguesa, muito sérios e pouco sorridentes, como os portugueses reinóis, orgulhosos de serem portugueses (Asian Portuguese Community Conference, Malaca, Malásia, 27-30 June, 2016).  A maioria dos caboverdeanos vieram para a Ásia como escravos de armas. Outros eram marinheiros e foram designados por lascarins (palavra da Pérsia) juntamente com os marinheiros de outras nacionalidades asiáticas dos navios portugueses. Nos séculos XVII e XVIII, durante a decadência do império português, lascarins caboverdeanos passaram a trabalhar nos navios da British East India Company.

 

 

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José Carlos Horta

MARDICAS E TOPAZES

 

 

Ocussi Ambeno.jpg

 Ocussi Ambeno

 

O fado ou morna (?) indonésio, também se canta na África do Sul, em Afrikaans. Foi levado da Indonésia pelos mardicas do Exército holandês, também conhecidos, na altura, por malaio-portugueses. Da língua, que falavam, relexificada em holandês e descrioulizada em contacto com o novo superestracto holandês, no Cabo, resultou o afrikaans, hoje língua de cultura e língua nacional daquele país, com falantes de todas as cores e de todas as classes sociais e escrita nos alfabetos latino e árabe, na África do Sul e também na Namíbia. Em Cabo Verde, o crioulo ainda está no processo de se tornar efectivamente uma das duas línguas nacionais do país, mas uma língua da sua família, o afrikaans, já é, com o inglês, uma das duas principais línguas nacionais da África do Sul.

 

Mardica vem do holandês mardijker = forro, Topaz, ou Topasse parece que deriva do tamila = bilingue ou intérprete.

 

Os mardicas vieram da Guiana e talvez também das ilhas ABC.   Os holandeses ofereceram cartas de alforria a todos os escravos que quisessem alistar-se no Exército e ir para a Indonésia.

 

Os segundos vieram da Índia e sobretudo do golfo de Bengala, com os portugueses, cerca de um século antes e chegaram até Flores, Timor, Ternate e Filipinas, com a sua língua, como soldados, nas guarnições de fortes e fortalezas.

 

Tanto os mardicas como os topazes se apresentavam como portugueses, vestiam à portuguesa, tinham orgulho em serem portugueses e zangavam-se muito, quando ingleses e outros lhes diziam que não podiam ser portugueses, porque eram pretos. Eram de origem cabo-verdiana e falavam crioulo de Santiago.  

 

Os topazes começaram por ser escravos presos e vendidos pelos régulos e reis da África Ocidental, depois de guerras, que tinham perdido.   Depois de comprados pelos moradores de Santiago, eram baptizados, ensinados e treinados na base de apoio de Cabo Verde, em Santiago, para se tornarem ladinos, falando crioulo, e para serem enviados, como escravos de armas, a guarnecer as fortalezas e fortes portugueses da Ásia. Só na Índia houve perto de cem fortes e fortalezas. Foram os escravos de armas, que se bateram como leões por Portugal e pelo seu império da Ásia.   Penso que o seu número, durante cerca de dois séculos, deve ter chegado a dez mil, ou mais.   Com o fim do império da Ásia, lá ficaram ao serviço de holandeses e ingleses.

 

Os antepassados dos mardicas saíram de Cabo Verde para o Brasil, no início do século XVI, quando Fernão de Noronha assinou o contracto do pau de brasil e chamou alguns cristãos novos moradores de Cabo Verde. Em Pernambuco, plantaram cana e fizeram açúcar, nos seus engenhos e trapiches vindos de Cabo Verde, com os seus trabalhadores escravos e forros, nos porões dos navios. Estes cabo-verdianos foram os primeiros colonizadores do Brasil.  Durante o Brasil Holandês abriram a sinagoga de Recife, a primeira da América.   Depois, voltaram a carregar os porões dos navios com os seus utensílios de trabalho e trabalhadores e seguiram com os holandeses para a Guiana, onde se falam hoje, quatro dialectos da língua cabo-verdiana, ou línguas da família deste primeiro crioulo da globalização.   A língua da tecnologia mais avançada daquela época era o crioulo.   Era a língua materna e língua de trabalho dos cabo-verdianos sem distinções de cor, nem de estatuto social, era a língua materna dos patrões e dos trabalhadores forros e escravos, dos que aprendiam português nas escolas das igrejas e sinagogas e dos da maioria, que não ia à escola e ficava analfabeta.  

 

Quando os portugueses cabo-verdianos da Guiana, como assistentes técnicos, e os portugueses de Amesterdão, como financiadores, foram chamados pelos governadores das Antilhas inglesas e, depois, francesas para fazer açúcar, os escravos, que já lá estavam e os que, em grandes números, chegaram depois, tiveram que aprender crioulo ao mesmo tempo que aprendiam a trabalhar e produzir.  Todas as línguas crioulas das Caraíbas são dialectos cabo-verdianos ou línguas da família cabo-verdiana.  Só encontrei um que é dialecto do crioulo de São Tomé, o palenqueiro da Colômbia.

 

O “português adulterado” da Ásia de hoje não é português, é crioulo de Cabo Verde, ou seus dialectos e línguas da sua família. O “português adulterado” da Ásia de ontem era o próprio crioulo, antes de evoluir em contacto com novos adstractos linguísticos.

 

Topasses da Larantuca, Flores oriental foram para Timor, em grande número, depois do seu achamento por um navio português. Quando os holandeses invadiram Timor ocidental com os seus mardicas, ocupando Kupang, os portugueses com os seus topazes perderam a batalha. Depois os topazes portugueses passaram a governar Timor, ou melhor as ilhas da Sunda Oriental e tomaram conta do comércio do sândalo. Dois governadores acabaram por voltar para Goa e Timor ou melhor a sua capital no porto de Lifau (hoje enclave de Ocussi-Ambeno), foi governada por duas famílias topazes, que fizeram as pazes com os holandeses. As famílias Hornay (mardica?) e Costa (topaz) aliadas, por casamento com régulos timorenses tomaram conta do comércio do sândalo e governaram Timor, durante os séculos XVII e XVIII. Foi pena, que não tivessem governado mais tempo, porque, no início da década de cinquenta do século XIX, um governador reinol vendeu aos holandeses as outras ilhas e foi-se governar a si próprio com o magote de dinheiro, para outras latitudes.

 

Timor já enviou professor de português para Tugu?   As Flores precisam de mais do que um, Damão e Diu também…, sem falar de Ceilão e de Malaca, onde o crioulo de léxico português está em vias de extinção, as famílias já ali falam inglês com os filhos.   Além de Timor, o Brasil é que tem dinheiro para isso, Angola parece que já não tem. 

 

Também a nova Associação de Professores e Formadores Lusófonos, com a CPLP (Conferência dos Países de Língua Portuguesa) e a futura CPLPC (Conferência dos Países de Línguas Portuguesa e Crioulas) podiam procurar arranjar recursos para resolver estas carências do ensino da língua portuguesa.

 

 

Jose Carlos Horta.jpg

José Carlos Horta

LIDO COM INTERESSE – 33

 

 
Título: A CIGANITA
 
Autor: Miguel de Cervantes
Tradutor: Augusto Casimiro
Editor: Quasi Edições
Edição: 1ª, Agosto de 2008
 
 
Os ciganos e as ciganas, parece, vieram a este mundo só para serem ladrões; nascem de pais ladrões, criam-se entre ladrões, estudam para ladrões e, finalmente, saem-se ladrões sabidos em qualquer situação e o desejo de roubar e o facto de roubar são, neles, acidentes inseparáveis que só perdem quando morrem.
 
Se Miguel de Cervantes vivesse hoje, o mínimo que o esperava seria a excomunhão por parte dos fazedores do «politicamente correcto». Contudo, aquele é o primeiro parágrafo desta narrativa extraída das suas Novelas Exemplares publicadas em 1613.
 
Dir-me-ão que os tempos evoluem e que o que se pensava no início do séc. XVII pode não ser verdade neste início do séc. XXI. Dir-me-ão que se naquela época havia Inquisição, que tais processos de controlo de opinião hoje não fazem sentido. Dir-me-ão muitas mais coisas em abono dos ciganos na certeza, porém, de que eles continuam a ser ladrões, que os que o não são vivem de expedientes mais ou menos criticáveis, que da nossa sociedade tudo exigem, a ela nada se propõem dar e apenas se aplicam em a prejudicar.
 
Portanto, passados 400 anos, Miguel de Cervantes continua actual e a diferença entre os escritos está na frontalidade de então e na hipocrisia de hoje.
 
A tradução portuguesa deve ter conseguido reproduzir as subtilezas que adivinho no original castelhano (La Gitanilla) porque dei por mim a demorar algum tempo mais do que imaginava na leitura deste livrinho de bolso apenas com 94 páginas que comprei como anexo do ‘Diário de Notícias’ de 18 de Agosto deste ano.
 
É claro que não vou aqui contar a história mas apenas quero referir que se ela poderia ter alguma plausibilidade na Espanha de então, já o discurso claramente erudito que Cervantes põe na boca dos ciganos me parece totalmente inverosímil. O realismo literário ainda estaria longe, parece. Essa, mais uma faceta da nossa evolução. Só os ciganos continuam ladrões.
 
Tavira, 1 de Setembro de 2008
 
Henrique Salles da Fonseca

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