Recebi informação de que, em França, legislação recente determina que todos os prédios a construir em zonas comerciais tenham os seus telhados ocupados com painéis solares ou com agricultura. A notícia trazia uma figura, que aqui reproduzo, com a devida vénia.
A notícia parece-me interessante, pois trata de mais um aproveitamento de um espaço que, na maioria dos casos, com os telhados de telhas, nada rende.
Para a agricultura, é mais um bom aproveitamento para aumentar significativamente a produção de frutos e legumes, no seguimento de casos sobre os quais já tenho escrito, do que se obtém nos pequenos quintais e nas varandas.
Sobre a obtenção de energia, recordo algo que sugeri, num concurso que não ganhei. A proposta era que, em vez de painéis solares, colocados sobre o telhado, nas suas vertentes viradas a Sul, o próprio telhado fosse construído com módulos que, na sua construção, integrassem os painéis. Módulos semelhantes poderiam revestir pelo menos uma parte das fachadas viradas a Sul, para aproveitamento da imensa energia que o sol ali faz incidir. Isto aplica-se a painéis para aquecimento de água, ou para a produção de energia eléctrica, com células fotovoltaicas.
Algum tempo depois vi notícias de algo desse género estar em marcha na Suécia e que, em Portugal, alguém tinha construído telhas com células fotovoltaicas. Nada mais sei destes temas, mas acredito que são boas formas de captar uma parte da energia que o sol derrama sobre a terra durante várias horas do dia.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 10 de Março de 2016
O solo agrícola é algo muito precioso. É ele que está na base da agricultura, seja um pequeno canteiro de alfaces ou uma floresta. Leva dezenas ou centenas ou milhares de anos a formar, mas pode ser destruído em pouco tempo. Há que tudo fazer para o conservar e melhorar.
A área agrícola tem vindo a sofrer reduções muito grandes, com o incremento das áreas ocupadas pelas construções para habitação, indústria, estradas, caminhos de ferro e aeroportos. As recentes cheias, que assolaram várias regiões do país, vieram lembrar outro mal, que é a degradação do solo agrícola em consequência da erosão a que tem estado sujeito.
Aquelas imensas quantidades de água da cor de chocolate arrastam para o mar muitas toneladas da parte mais preciosa do solo de onde foi arrancada.
A melhor forma de combate, para evitar ou reduzir os males das cheias, é actuar sobre toda a bacia de recepção, a área onde cai a água que se vai acumular nas zonas mais baixas, a caminho para um rio ou o mar. Esse combate visa que toda ou parte da água caída nessa área se infiltre no solo. Nas zonas montanhosas, é normalmente possível com a arborização, de forma a conseguir reter a água. Também são úteis, para reter a água e reduzir a sua velocidade, as pastagens de montanha, quando é possível instala-las. Note-se que estas acções têm interesse económico, além da sua importância para evitar ou atenuar as cheias. E a água que se infiltra vai aumentar os aquíferos, um outro ponto importante. As lavouras segundo as curvas de nível são outra forma de evitar o escorrimento superficial.
Por várias vezes lembrei – e outros também o fizeram – que é muito importante a arborização da serra do Algarve, uma faixa de cerca de 100 km de comprimento e 20 km de largura, que vai da serra de Monchique até perto da fronteira com Espanha. Quase toda descarnada, apenas com alguns pontos arborizados é, em grande parte, pouco ou nada produtiva e incapaz de reter a água. Disso muito se ressentem os aquíferos da zona baixa, uma faixa de cerca de 20 km de largura. Monchique, a única parte bem arborizada, é uma boa indicação do que pode ser o resultado da arborização.
Quando, apesar do que se fizer, ainda muita água corre em ribeiras, especialmente com grande inclinação, há processos de correcção torrencial, para atenuar a velocidade da água. No século XX Portugal teve um especialista nessa técnica, o Engenheiro Silvicultor Mário Galo, que deu um bom contributo para a correcção torrencial, através de pequenas barragens de lajes.
Naturalmente, quando a precipitação é muito intensa em curtos períodos ou é muito prolongada, como já tivemos este ano de 2016, mesmo com as melhores técnicas é impossível evitar muitos males.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 25 de Fevereiro de 2016
A FAO declarou 2016 o Ano internacional das leguminosas. O objectivo é aumentar o cultivo e o consumo das plantas deste grupo, com vantagem para a melhoria do solo agrícola onde são cultivadas, e da saúde das pessoas e animais que as consomem.
As leguminosas são das plantas com maior teor de proteínas, variadíssimos compostos químicos formados por um grande número de aminoácidos. Estes são apenas 20 mas, tal como peças de Leggo, é possível formar com eles variadíssimas proteínas.
Os animais não são capazes de fabricar aminoácidos, que são apenas sintetizados pelas plantas. Como são essenciais à vida, os animais têm de comer plantas ou animais que comeram plantas para os adquirirem.
O valor das leguminosas para a melhoria dos solos resulta de viverem em simbiose – uma associação com benefício para ambos – com bactérias capazes de captarem o azoto do ar e sintetizarem compostos azotados, algo que o homem é capaz de fazer, mas com elevado consumo de electricidade, para produzir os nitratos, adubos muito usados na agricultura.
A bactéria, de seu nome científico Rhizobium leguminosarum, forma pequenos nódulos nas raízes, fáceis de ver quando se arranca uma faveira, um trevo ou qualquer outra leguminosa. Vive à custa da planta. Mas cede-lhe grande parte dos compostos azotados que fabrica a partir do azoto do ar pelo que, ao contrário das gramíneas, como o trigo, não necessitam de adubos azotados. E os resíduos que deixam no solo, tornam este mais fértil que antes dessa cultura.
Como quaisquer outros seres vivos, também as bactérias apresentam variabilidade genética e algumas são mais eficientes que outras na captação do azoto do ar. A investigação agronómica seleccionou estirpes mais eficientes do que as que geralmente existem no solo e hoje não se justifica a cultura de leguminosas sem inocular as sementes com uma estirpe apropriada do Rhizobium. Nos artigos sobre “O azoto”, que publiquei no Linhas de Elvas em 2010, relatei os ensaios realizados na década de 1950, na Estação de Melhoramento de Plantas, em Elvas, pelo Prof. Villax, ensaios que acompanhei e fotografei. Como se pode ver nas fotografias, é espectacular a diferença de desenvolvimento entre os talhões das plantas inoculadas e das não inoculadas.
Quando me encontrava a trabalhar na tese então necessária, descansava um tanto desse trabalho escrevendo um pequeno livrinho, que editei em 1954, intitulado “Uma guerra entre as plantas”. Embora também entrem humanos, as principais personagens são plantas de duas famílias, a das Gramíneas e a das Leguminosas, que travam entre elas uma guerra surda. O chefe das Gramíneas é o Senhor Trigo, que mostra um certo desdém pelas Leguminosas. Estas, sentindo-se diminuídas, enviam uma delegação aos engenheiros agrónomos da Estação de investigação para saber como podem melhorar a sua situação. Quando lhes são referidas as verrugas nas raízes, confessam-se envergonhadas por esse “defeito”. É-lhes explicado que, ao contrário, devem orgulhar-se de tão valiosa qualidade.
Gramíneas
Ao fim de alguns ensaios e demonstrações em que entram membros das Gramíneas e das Leguminosas, compreendem que não há razão para se guerrearem mas antes para colaborarem. O que era uma guerra entre as duas famílias termina com um final feliz, num almoço de confraternização.
A pesar de tudo isto, que já é tão antigo, creio que a agricultura portuguesa ainda semeia muitas leguminosas sem inoculação.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 15 de Janeiro de 2016
A destruição da agricultura, levada a cabo durante algumas décadas por diversos governos, teve como consequência os nossos mercados aparecerem inundados por produtos agrícolas vindos do estrangeiro, aumentando muito o défice da balança comercial agrícola.
Como escrevi neste jornal em 28-10-2010 (A agricultura e o défice); “...se é normal importar mangas, bananas ou papaias, só a enorme incapacidade dos governantes – e alguma, também, da parte dos agricultores e principalmente das suas organizações – é que importamos batatas, cebolas, cenouras, alhos, alfaces, tomates, pimentos, feijão-verde, melões, melancias, laranjas, limões, ameixas, pêssegos, nêsperas, maçãs, peras, uvas, morangos, etc. etc. etc. vindos, às vezes de bem distantes terras? De alguns destes produtos até devíamos exportar mais do que exportamos. E note-se que a agricultura portuguesa ainda exporta mais do que a maioria das pessoas pensa.”
Como se sabe, a referida destruição foi travada pela actual ministra Assunção Cristas. Os resultados estão a ser evidentes. As estatísticas mostram que de 2013 para 2014 o défice comercial agrícola teve um decréscimo significativo. Importámos menos e exportámos mais em 2014 do que em 2013.
Do que conheço da agricultura portuguesa, de um número significativo de casos pontuais e até da sua evolução ao longo do tempo, acredito no seu enorme potencial. A expressão “Portugal país agrícola” não é algo do passado. Como a Holanda, a França, a Espanha e os Estados Unidos são países agrícolas, o que não os impede de terem boa indústria. Porque a dualidade “agricultura ou indústria”, que vi expressa algumas vezes ao longo dos tempos, não tem sentido, pois até frequentemente se complementam.
Com base no que acredito desse potencial, publiquei neste jornal, em 5-1-2012, “De 3 mil milhões de défice para 3 mil milhões de superavit”. Importávamos então 6 mil milhões de euros de produtos agrícolas e só exportávamos 3 mil milhões. Desenvolvendo a agricultura, acredito que se poderia importar bastante menos e exportar muitíssimo mais, de forma a inverter a situação e o comércio agrícola passar a ter um saldo positivo de 3 mil milhões de euros.
O número de anos que Portugal levará a atingir esse objectivo – se o quiser alcançar - dependerá da intensidade que o governo e os agricultores devotarem à sua melhoria. A redução do défice agora conseguida é apenas um pequeno começo.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 30 de Julho de 2015
Tenho visto recentemente referências a “agricultura convencional”, como algo oposto a agricultura moderna. Na minha opinião, isso pressupõe que a agricultura estaria parada no tempo e sem qualquer alteração, o que não é verdade. A agricultura sempre foi alterando técnicas, criando novas máquinas, melhores fertilizações, etc. Varia bastante a intensidade e amplitude dessas modificações, conforme os países têm melhores ou piores governos.
Não há espaço, num artigo, para fazer uma panorâmica, ainda que bastante sintética, da evolução verificada. Mas, mesmo nas últimas décadas em que os governos de Portugal andaram deliberadamente a destruir a agricultura – apenas favorecendo os importadores de produtos agrícolas – com o máximo de destruição durante o governo PS de Sócrates, alguns raros casos conseguiram progredir. Produtores de pera Rocha, por exemplo, remando contra a maré, conseguiram algum progresso.
A partir de 2011, com a ministra Assunção Cristas, o panorama alterou-se radicalmente. Não só foi travada a destruição em curso como alguns casos de interesse, como o estímulo aos jovens agricultores, puseram o sector a crescer mais do que o resto da economia. Enquanto anteriormente era clamor geral que a agricultura portuguesa não tinha qualquer futuro, era para acabar ou até já nem existia, agora todos lhe fazem os maiores elogios.
Infelizmente, a ministra não fez o que eu gostaria, que indiquei em escritos e que considero essencial para haver uma agricultura muito melhor. Como se sabe, trata-se de ampliar a investigação agronómica e organizar convenientemente a extensão rural. Na série de artigos “A nova equipa na Agricultura”, publicados no Linhas de Elvas de 7-7 a 15-9-2011, mostrei o que seria necessário fazer e que resultados se conseguiriam. Se tivesse sido feito, neste final de legislatura, quatro anos passados, já teriam sido colhidos resultados que aumentariam ainda mais o crescimento da agricultura. Não vale a pena clamar que é preciso inovação e manter a fonte dessa inovação no nível em que está, uma pequena fracção do que existia antes da criminosa destruição efectuada.
O excelente Instituto Nacional de Investigação Agronómica (INRA) do Ministério da Agricultura de França, em face do previsto aquecimento global, já orientou o seu trabalho de melhoramento de cereais para a criação de variedades mais resistentes à secura. E são exemplos como este que Portugal devia seguir.
São estas as razões que me levam a não compreender o que é “agricultura convencional”.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 16 de Julho de 2015
Para concluir a série de artigos sobre o que considero importante para, eventualmente, permitir cultivar economicamente trigo no Alentejo – e não só no Alentejo, mas principalmente nesta província – (Linhas de Elvas de 21-5 e de 4-6-2015), tratarei hoje do problema das rotações das culturas, ou seja, a sequência de espécies vegetais a cultivar no mesmo terreno ao longo de um certo número de anos.
Antigamente, depois de ter sido criada a Federação Nacional dos Produtores de Trigo (FNPT), a única cultura de que o agricultor sabia que teria toda a sua produção vendida e a preço conhecido era o trigo. Por essa razão, particularmente no Alentejo, era dada grande ênfase a essa cultura. As rotações eram geralmente pobres. Não eram raros os casos em que, a uma cultura de trigo, apenas com fertilização mineral, se seguiam um ou mais anos de pousio, só algumas vezes revestido com uma forragem, para voltar a fazer trigo. Nalguns casos, entre o trigo e o pousio, ainda se fazia um ano de aveia, para aproveitar os restos da fertilização. Este sistema, durante algumas décadas, reduziu grandemente o nível de fertilidade de muitos solos. Havia algumas honrosas excepções, mas não eram muitas.
Como o trigo é uma esgotante, eu acredito que, rotações das culturas em que entrem mais abundantemente plantas melhoradoras, como as leguminosas, possam elevar o nível de fertilidade do solo de forma a aumentar significativamente a produção de trigo. Há bons exemplos a demonstrá-lo. No III Congresso Internacional de Lupinus (o género a que pertencem os tremoços), um agrónomo americano descreveu ensaios com Lupinus angustifolius, o tremoço de folha estreita, que existe espontâneo em Portugal. Dos seus resultados concluiu que “aquela cultura seria económica, mesmo deitando fora a colheita”. A razão é que a melhoria da fertilidade do solo causava um bom aumento na cultura que se seguia.
Em Portugal têm sido feitos vários estudos de rotações. Todos são valiosas contribuições mas ainda é necessário fazer muito e penso que falta, para o sequeiro alentejano, um ensaio de grande amplitude e com variadas composições, que dê uma informação precisa e economicamente quantificada, para poder ser usada em larga escala. Em Elvas, na Estação de Melhoramento de Plantas, na década de 1950, alguns ensaios mostraram a espectacular diferença que se conseguia com o incremento da cultura de algumas espécies forrageiras que, além de permitirem um grande aumento do número de ovelhas por hectare, aumentavam o nível de fertilidade do solo.
Há algumas décadas, fiz uma tentativa para a realização de um ensaio em larga escala, de grandes dimensões e com uma equipa multidisciplinar. Cada talhão do ensaio teria 100 metros de comprimento e uma largura que desse, com folga, para uma ceifeira ou ceifeira debulhadora, para as culturas serem mecanizadas. Com talhões desta dimensão e o número de repetições que o estatístico considerasse adequado, o erro experimental seria mínimo. Isto exige um campo com 150 metros de largura e 300 a 400 metros de comprimento, que não é difícil encontrar no Alentejo. Abordei a Fundação Eugénio de Almeida que, pela voz do seu então Administrador Delegado, dispensava a área necessária. Tudo o mais teria de ser do Projecto.
Contactei vários colegas, da Universidade de Évora e de outras instituições como a Estação Agronómica Nacional e a Estação de Melhoramento de Plantas, alguns dos quais estavam interessados em fazer parte da equipa. Essa equipa incluiria especialistas de cultura de cereais e forragens, química do solo, fitopatologia, nematologia, estatística, economia e mais alguns que se considerassem necessários. As rotações, a delinear em pormenor, começariam com uma bianual, trigo-forragem. Depois, uma série de combinações, a terminar com uma de cinco anos em que os primeiros quatro anos seriam de forragem seguidos de um de trigo. O campo seria acompanhado pelos diversos especialistas ao longo do ano, para recolha dos dados que considerassem necessários.
Ao fim deste ciclo de cinco anos já deveria haver informação muito valiosa mas, naturalmente, deveria ser continuado por outros cinco anos, para confirmação e ampliação dos dados. O objectivo era determinar o valor económico de cada rotação pois, como já vimos, uma cultura pode não dar lucro, mas deixar o solo mais rico, a beneficiar a cultura seguinte.
Abordei várias entidades para obter financiamento para o projecto, mas nenhuma se mostrou receptiva. Os resultados deste tipo de investigação, generalizados a muitos milhares de hectares, produzem retorno de várias vezes o valor neles investido. Ou seja, rendem juros que os nossos economistas não sabem que existem, mas são reais.
Calculando por baixo e considerando uma rotação que dê anualmente mais 100 € por hectare do que a que o agricultor usa actualmente – acredito que se consegue muito mais – e que é aplicável a uns 50.000 hectares, o PIB seria aumentado em 5 milhões de euros todos os anos.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 4 de Junho de 2015
Continuando a explicação, iniciada no Linhas de Elvas de 21-5-2015, das razões porque considero importantes a drenagem dos solos e as rotações das culturas, para aumentar a produção de trigo em condições económicas no Alentejo, tratarei hoje da drenagem. Baseio-me nas observações do Eng.º Agrónomo Sardinha de Oliveira, em relação à meteorologia, e nalguns casos posteriores que as confirmam.
O Eng.º Sardinha de Oliveira mostrou que, nos anos de Inverno chuvoso, a produção de trigo era baixa, por muitas terras ficarem alagadas e as raízes não poderem crescer em profundidade. Como no Alentejo se passa muito rapidamente de um Inverno frio e chuvoso para um Verão quente e seco, as raízes superficiais não dão defesa contra a seca. Se o Inverno foi pouco chuvoso e o campo não ficou saturado de água, as raízes não sofreram asfixia, cresceram em profundidade e, chegado o tempo quente, puderam aproveitar a água que ainda se conservava nas camadas inferiores do solo. Alguns anos de seca levaram pessoas experientes a declarar que, nas searas, se iria colher gelha. Os resultados, não sendo os de um ano bom, foram muito melhores do que muitos esperavam.
Do artigo “A drenagem das terras e a produção de cereais” ("Linhas de Elvas" de 27 de Maio de 1994), transcrevo:
“No ano agrícola 1988-1989, que se seguiu a anos de Inverno chuvoso, as condições meteorológicas nesse período crítico invernal foram muito favoráveis e, num artigo (Drenagem e Rotações. Dois temas de grande importância para a agricultura do Alentejo. DIAgrícola, Suplemento do “Jornal de O DIA”, Nº 14, de 20 de Junho de 1989) escrito em princípios de Maio de 1989, previa que fosse ‘um ano bom de trigo – talvez mesmo um ano excepcionalmente bom.
Algumas chuvas no período primaveril vieram ajudar. As minhas previsões confirmaram-se e a produção de trigo em Portugal, foi, nesse ano, cerca de 50% superior à média do decénio, o que vem reforçar a ideia da grande importância da drenagem dos solos, como chamei a atenção noutro artigo no mesmo jornal.”
Também tratei de drenagem e rotações no artigo "Que fazer com 900 mil hectares de sequeiro no Alentejo" ("Correio Agrícola" nº 164, Outubro de 2002), em resposta ao artigo "Que fazer com 900 mil hectares de sequeiro no Alentejo?", no jornal "Público" de 14-6-2002.
Destes factos podemos concluir que a solução é conseguir que nunca a água se acumule de forma a saturar o solo, ou seja, instalar um bom sistema de drenagem, pelo processo mais adequado ao local. Quando isso se generalizar, desaparecem os anos maus causados por um Inverno muito chuvoso.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 4 de Junho de 2015
O programa “Olhos nos olhos”, na TV, em 6 de Abril de 2015, teve como convidado o ex-ministro da Agricultura Capoulas Santos, que fez uma equilibrada apreciação da agricultura portuguesa, focando o desenvolvimento dado nos últimos anos e salientando a grande importância do Alqueva.
Referiu a recente diminuição do défice comercial agrícola, pois agora exportamos mais e importamos menos produtos agrícolas. Lembrou que a importação de cereais pesa muito no défice, pois a nossa produção de trigo, foi diminuída.
O Dr. Medina Carreira perguntou “e não tem solução?” Na sua resposta, o Dr. Capoulas Santos não indicou qualquer forma de reduzir o défice em cereais, mas disse que a ideia será compensar esse défice com as exportações de produtos que mais facilmente podemos produzir, como vinho, azeite, hortícolas e frutas.
O problema do défice do trigo, é grave, não só pelo custo das importações mas porque é um bem essencial. Se ficarmos sem a importação, por motivo de guerra, por exemplo, as privações serão muito grandes. Lembro sempre que os povos são mais facilmente derrotados pela fome do que pelos canhões. Na Idade Média, a menos custosa forma de conquistar uma cidade era cercá-la e esperar que a comida acabasse.
Admito que, mesmo no sequeiro alentejano, possa vir a ser viável a cultura do trigo. Para além de novas e melhores variedades, que a investigação agronómica portuguesa produzia com regularidade, antes da destruição a que foi submetida e de que ainda não recuperou, considero particularmente importante duas práticas agrícolas bem conhecidas: a drenagem dos solos e as rotações das culturas. Sobre esses dois temas tenho publicado muitos artigos, vários deles neste jornal, o mais recente “A drenagem” (24 de Abril de 2013), mas também noutras revistas e jornais para agricultores.
Correndo o risco de me repetir, irei desenvolver mais os dois temas porque a resposta do ex-ministro Capoulas Santos à pergunta do Dr. Medina Carreira sugere não acreditar nessa possibilidade. O leitor pode pensar que sou eu que estou errado, que esses dois temas não têm a importância que lhes atribuo, e poderá concluir que o Alentejo terá mesmo que deixar de cultivar trigo ou, como actualmente, em área muito limitada, longe da produção necessária e obrigando a avultadas importações. Isso seria extremamente grave para o país, pelas razões indicadas, o que torna importante envidar todos os esforços para que tal não aconteça ou sejam reduzidas as quantidades a importar.
Os elementos em que me baseio são suficientemente evidentes para manter a minha opinião. Para os transmitir aos leitores será necessário um desenvolvimento, que apresentarei em próximos artigos. Mas vi recentemente que, no último meio século, enquanto Portugal reduziu a sua produção de trigo, a Espanha triplicou-a.
Publicado no “Linhas de Elvas" de 21 de Maio de 2015
Durante a sua visita a Portugal, o Comissário para a Agricultura da União Europeia, Phil Hogan, realizou algumas visitas e participou em várias reuniões. Uma dessas reuniões realizou-se no auditório da ex-Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, em 9-4-2015. O tema foi discutir a PAC (Política Agrícola Comum) 2014-2020. Presidiu a ministra da Agricultura e do Mar Assunção Cristas e teve a participação de numerosos técnicos e agricultores, alguns deles dirigentes de organizações da agricultura, como o Presidente da CAP, João Machado.
Abriu a sessão a ministra Assunção Cristas, que fez um relato do que foi a viragem da situação da agricultura portuguesa.
Permita-se-me um parêntesis para lembrar como, ao longo de vários anos e em diversos escritos, denunciei a deliberada destruição da agricultura que vinha sendo feita por governos PS e PSD. O máximo de intensidade de destruição foi atingido no governo PS de Sócrates. E por toda a parte e de muita gente, mesmo de quem nada sabia do assunto, se lia nos jornais e se ouviam clamores de que a agricultura não tinha qualquer futuro em Portugal e até que já nem havia agricultura! Sempre combati esses clamores, que sabia profundamente errados, pois conheço as potencialidades da agricultura portuguesa, apesar de variadas dificuldades. Com a actual ministra, a situação passou a ser totalmente diferente e cedo se viu esse facto. Poucos meses depois da posse, num Prós e Contras, na TV, mostrou uma enorme determinação de fazer muito melhor, além de uma dose de informação, para mim agradavelmente surpreendente, numa pessoa jovem e vinda de um sector muito diferente. E, desde então, todos cantam loas à agricultura, como a grande esperança no futuro.
Reatando o fio da meada, agradou-me o discurso da ministra. Descrevendo o aumento das exportações agrícolas, vários pontos acima da média nacional (devido à grande debilidade dos outros sectores da economia e a vitalidade deste), mostrou como foi reduzido o défice comercial agrícola, apenas nestes quatro anos. (Lembro o meu artigo intitulado “De 3 mil milhões de défice para 3 mil milhões de superavit”, no Linhas de Elvas de 5-1-2012). Também não se coibiu de dizer que discordava de alguns pontos da actual PAC.
Seguiu-se o discurso do Comissário Phil Hogan, que foi agradável e, pelo menos, a mostrar-se sincero. O debate que se seguiu foi moderado pelo secretário de estado da Agricultura José Diogo Albuquerque. Variadas pessoas da assistência, incluindo dirigentes de associações agrícolas e de sectores como a cortiça, a produção de porcos e outros, puseram questões, a que o Comissário respondeu.
Pareceu-me uma reunião útil e fiquei com a impressão de que este Comissário da Agricultura é algo melhor que os anteriores, que considerei francamente maus, em resultado da forma como actuaram. E lembro que a PAC foi iniciada, com grande êxito, pelo primeiro Comissário, para colmatar a deficiência de 50% de produtos alimentares, do conjunto dos seis países fundadores. Esse Comissário foi Sicco Mansholt, um agrónomo holandês de alto nível, que depois foi Presidente da Comissão. Os calamitosos erros da PAC vieram mais tarde, antes mesmo de Portugal aderir à então CEE.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 23 de Abril de 2015
No mesmo número da revista “Empresas & Negócios” de que comentei a notícia sobre o melhoramento genético do arroz (LE de 31-7-2014), é referida uma entrevista com a ministra Assunção Cristas, que exortou os jovens a agregarem-se em associações ou cooperativas de agricultores. É realmente importante esse conselho e há dezenas de anos que escrevo que a única forma de os agricultores, individualmente, deixarem de ser explorados pelos comerciantes é a associação em cooperativas, para terem dimensão, já que a maior parte da produção agrícola vem de pequenos ou médios empresários.
Mais de uma vez citei o caso do Cachão, a cooperativa agrícola do Nordeste Transmontano. Uma cooperativa daquela dimensão exige um gestor de grande capacidade, algo muito escasso em Portugal. Mas já não será tão difícil, pelo menos para iniciar, fazer uma cooperativa de menores dimensões.
Não cabe ao Ministério da Agricultura organizar essas cooperativas. Mas é tarefa dum serviço de extensão rural – que o ministério devia ter – sugerir e ensinar como se organizam e como devem funcionar, pois nem sempre da parte dos agricultores há a iniciativa e os conhecimentos necessários para que elas se concretizem. Algumas das actuais podem servir de modelo e se, em outras, há deficiências de funcionamento, há que chamar a atenção e sugerir as modificações necessárias para maior eficiência. Não deve ser esquecida a produção de publicações e vídeos sobre o tema, para serem distribuídas em larga escala, algo que o ministério em tempos fez bastante bem.
Há poucos dias vimos na televisão a notícia dos protestos de produtores de batata, que não conseguiam escoar os seus produtos. Não sabiam a solução para o seu problema. Ela certamente não nasce desses protestos.
Publicado no "Linhas de Elvas" de 21 de Agosto de 2014