«Si j’avais un marteau» - assim cantava Claude François nos idos de já não sei quando do século passado. Mas o Dr. Centeno tem-no e martela que se farta nestes prolegómenos do Orçamento do Estado para 2020 que se prepara para convencer o Parlamento a dar à luz.
Foi logo aos primeiros alvores da «temporada orçamental» que gostei de saber que o Governo – pela boca do Ministro das Finanças - anunciava o objectivo de um saldo positivo de 0,12% mas, passada a primeira impressão, logo me perguntei até que ponto estava a ir com a minha candura. Estava a ser wishful thinking, a sonhar acordado.
Esquecia-me de que a esquerda – génese do Governo e de quem o apoia – pensa mais na distribuição da riqueza do que na sua produção, donde resulta que o equilíbrio das contas públicas se deve fazer sobretudo à custa da receita e nunca pela via da redução da despesa.
Estava-me a esquecer de que a suborçamentação da despesa é uma manobra incompatível com a verdade do azeite e, na conjuntura política, incompatível com o apoio parlamentar de que o Governo carece para ver o «seu» Orçamento passar.
Estava-me a esquecer de que os membros do Governo usam a boca para apregoarem políticas de esquerda mas que, confrontados com as realidades, lhes fogem as cabeças para a direita, ou seja, para a austeridade que dizem ser maligna mas que sabem ser imprescindível.
Estava-me a esquecer de que o Governo não tem base política para introduzir as correcções estruturais – que nega mas que sabe necessárias - no SNS nem acabar com a persistente sovietização da educação.
Por tudo isto e por mais alguns pontos em cujo esquecimento eu esteja a persistir, não vejo que o tal superávite de 0,12% se consiga alcançar do modo que eu gostaria, pela redução da despesa e pela redução da carga fiscal. A menos que os Partidos da não esquerda se decidissem por um posicionamento que, negociando a reversão das políticas que estão na calha, fosse efectiva alternativa ao cenário que se perspectiva.
Mas não. Estou mesmo a ser wishful thinking porque ao Ministro das Finanças não resta alternativa, terá que continuar à martelada no naipe da percussão desta orquestra desafinada entre políticas de esquerda e práticas de direita a que eufemisticamente o Dr. Costa chama «travões» e nós, os outros, chamamos cativações ou marteladas.
A esquerda sempre precisou de dinheiro - de muito dinheiro - para se sustentar; a direita, por sua vez, não.
Isto porque a direita é composta de adolescentes que estudam enquanto estudantes, trabalham enquanto jovens, poupam enquanto adultos e, portanto, sustentarem-se não é um grande problema.
A direita produz e progride enquanto a esquerda protesta nas ONGS, nos cafés e nas tertúlias mais ou menos filosóficas.
A esquerda sempre viveu do dinheiro dos outros, com alguma mândria e muita conversa. Karl Marx é o seu maior exemplo pois sempre viveu à custa de amigos, heranças e até do colega Friedrich Engels.
Todos os esquerdistas vivem ou aspiram a viver à custa do Estado, inclusive os empresários que votam nos Partidos da esquerda e vivem das adjudicações públicas com mais ou menos subornos activos a quem tenha o poder de decisão.
Nos tempos áureos, a esquerda chegou a tomar posse de países inteiros: China, União Soviética, Cuba, Angola, Venezuela, por exemplo, onde a esquerda se locupletou anos a fio com luxos setentrionais ao estilo de dachas e Zils bem como com outras mordomias mais ou menos tropicais nunca disponibilizadas aos trabalhadores que eles, esquerdistas, dizem defender.
Essa esquerda gananciosa foi lentamente sugando a totalidade do capital inicial que tinha sido criado por outros… até tudo se transformar em pó.
A esquerda levou à falência os países de que se apoderou. A falência foi a razão estaminal da queda do muro de Berlim.
Viver à custa do Estado com duas ou mais reformas totalmente imorais é o sonho dos esquerdistas. O pior é quando o dinheiro acaba.
Sem dinheiro, a esquerda rouba com uma volúpia jamais vista. Mas quando em democracia e graças ao jornalismo de investigação a que se segue por vezes a confirmação judicial, até essa fonte secou ou está em vias de fechar.
Sem empresas públicas lucrativas e sem obras para adjudicar, os cleptómanos desesperam.
O problema da esquerda é hoje o de saber como é que se vão sustentar daqui para a frente sem saberem produzir bens e produtos que a população queira comprar.
E porque acabaram com os ricos, tornaram vão o velho brado de «os ricos que paguem a crise». Então, os esquerdistas acham que agora é o Estado que tem a obrigação de prover às suas necessidades porque são parasitas, nomeadamente parasitas estatais.
Vai daí, apregoada a «nova alvorada esquerdista portuguesa», planeiam agora regressar aos grandes investimentos públicos. Para já, na área dos transportes: aeroporto, cacilheiros, locomotivas e o mais que o calendário eleitoral sugira…
Com que dinheiro?
Logo se verá mas duma coisa tenho eu a certeza: seremos nós, os Contribuintes, a pagar tudo, incluindo as famosas comissões que ficarão pelo caminho entre o valor real da obra e a factura final.
Como tudo seria lindo se pudéssemos confiar neles.