AINDA OS SARRACENOS
A Bíblia, em Gn 25,6, apresenta depreciativamente os filhos das concubinas de Abraão: «Quanto aos filhos das suas concubinas, deu-lhes apenas presentes e enviou-os ainda em vida para longe de Isaac, seu filho, para as terras do oriente». Entre estes filhos contam-se também os de Ismael, nascido da escrava Agar (Gn 16, 6-16; 17, 15-27; 21, 8-21), que os islamitas defendem ser o verdadeiro filho de Abraão e do qual dependem religiosamente.
Segundo o Talmude, os presentes de Abraão a estes filhos não foram mais do que bruxaria e demónios. São Paulo também fala depreciativamente de Agar e seu filho Ismael mas, agora, numa visão de exegese da apologia cristã: «E vós, irmãos, à semelhança de Isaac, sois filhos da promessa. Só que, como então o que foi gerado segundo a carne perseguia o que foi gerado segundo o Espírito, assim também agora. Mas que diz a Escritura? Expulsa a escrava e o seu filho porque o filho da escrava não poderá herdar juntamente com o filho da mulher livre. Por isso, irmãos, não somos filhos da escrava mas da mulher livre» (Gl 4,28-31).
Para S. Paulo, a verdade de Deus estava com Isaac e não com Ismael, nascido de uma escrava e pai de povos sem o verdadeiro Deus.
Na História, os árabes são chamados sarracenos o que, segundo alguns autores, não passa de um estratagema linguístico dos próprios árabes para evitar a sua origem duma mãe escrava passando, desta feita, por serem, também eles, filhos de Sara (Sara-cenos).
P. Joaquim Carreira das Neves
In «DEUS EXISTE? – uma viagem pelas religiões», Editorial Presença, 4ª edição, Setembro de 2013, pág. 274