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A bem da Nação

POETA ESQUECIDO

Rui de Noronha.pngRUI DE NORONHA

(1909–1943), o precursor da moderna poesia moçambicana, conhecido pelos seus sonetos

 

SURGE ET AMBULA (Levanta-te e anda)

 

Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.

Dormes! E o mundo avança, o tempo vai seguindo…

O progresso caminha ao alto de um hemisfério

E no outro tu dormes o sono teu infindo…

 

A selva faz de ti sinistro eremitério,

onde sozinha, à noite, a fera anda rugindo.

A terra e a escuridão têm aqui o seu império

E tu, ao tempo alheia, ó África, dormindo…

 

Desperta. Já no alto adejam negros corvos

Ansiosos de cair e de beber aos sorvos

Teu sangue ainda quente, em carne de sonâmbula…

 

Desperta. O teu dormir já foi mais que terreno…

Ouve a voz do Progresso, este outro Nazareno

Que a mão te estende e diz – “África, surge et ambula”.

 

(Ruy de NORONHA, Sonetos, s/d [1943], In FERREIRA, Manuel - «No Reino de Caliban III», Lisboa, Plátano Editora,1984, p. 37)

 

 

ONDE ESTÁ A NOSSA SÉRVIA?

simbolos-do-islamismo-zulfiqar.jpg

 

A conquista muçulmana não militar da Europa a que assistimos actualmente, que de início era feita por supostos refugiados de guerras no Médio Oriente, evoluiu para um movimento que se presume organizado, premeditado e planeado.

 

Tudo leva a crer que essa movimentação seja promovida por quem disponha de avultados meios financeiros, suficientes (ou mesmo mais do que suficientes) para conseguir assumir mega-custos, nomeadamente os relativos aos fees exigidos pelos traficantes que transportam os miseráveis (islamizados) desde origens subsaarianas até às fronteiras meridionais da UE.

 

Tomando em consideração o que se sabe do passado no que respeita ao compromisso estabelecido no séc. XVIII entre Muhammad bin Saud (1692 - 1765), primeiro emir da Al-Diriyah e fundador do Reino Saudita e o teólogo Ibn al Wahhab (1703 - 1792), é admissível que esses financiadores sejam, para além da própria Arábia Saudita, os demais Estados super-ricos sunitas do Golfo, o Bahrein, o Katar, o Kuwait, Oman, Abu Dhabi e até mesmo o «moderado» Dubai.

 

E que fazem os Estados europeus? Ao abrigo do princípio de que a Europa deve ser um espaço de acolhimento de quem se sente mal noutras regiões do mundo, criam condições favoráveis à instalação desses «refugiados» construindo Mesquitas, instalando Madraças, institucionalizando o ensino do árabe e sustentando os «imigrantes» com subsídios. Destes, consta que 78% dos homens e 92% das mulheres não trabalham. Ou seja, vivem dos nossos impostos e o «politicamente correcto» pôs-nos a pagar a nossa própria destruição.

 

Mas – e lá vem o tal «mas» tão frequente - parece que já vai havendo quem queira fazer algo contra a invasão em curso opondo-se ao establishment político a que os established se apressam a apelidar de populistas, reaccionários, extremistas (de direita, claro, mesmo que o não sejam).

 

Neste momento, Novembro de 2018, há já 8 países da União Europeia com Governos claramente contrários à invasão. São eles a Áustria, a Bulgária, Eslováquia, Eslovénia, a Hungria, Itália, Polónia e a República Checa. Mas também já os há com membros dos respectivos Parlamentos defendendo claras posições contrárias à progressiva islamização das sociedades europeias. Esses Deputados estão presentes nos Parlamentos da Alemanha, Bélgica, Chipre, Dinamarca, Finlândia, França, Grécia, Letónia, Holanda e Suécia.

 

Contudo, ainda há muitas avestruzes na Europa escondendo a cabeça na areia fingindo que o problema não existe. Trata-se da Croácia, de Espanha, Estónia, Irlanda, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Portugal e Roménia.

 

Oxalá que, quando tirarem a cabeça para fora do buraco, o problema não tenha assumido proporções semelhantes à do Kosovo. É que os cristãos kosovares ainda puderam refugiar-se na Sérvia mas nós não temos uma Sérvia à nossa espera.

 

8 de Novembro de 2018

Navegando no Pacífico-ABR17.jpg

 Henrique Salles da Fonseca

 

QUEM COSPE PARA O AR…

ex-Iugoslavia.jpg

 

Josip Broz Tito, filho de pai croata e mãe eslovena, Marechal, fundou a República Socialista Federativa da Jugoslávia tendo conseguido, entre 1953 e 1980, manter a unidade territorial dos chamados “seis povos jugoslavos” (bósnios, croatas, eslovenos, macedónios, montenegrinos e sérvios), todos em pé de igualdade num regime federal.

 

Com mão de ferro, governou em plena Guerra Fria entre os imperialismos americano e soviético. Defensor de um socialismo sui-generis, nunca alinhou com as ideologias marxistas de cariz soviético nem chinês e promoveu o empreendedorismo autogestionário pelas cooperativas de trabalhadores.

 

A sul da Jugoslávia estava a Albânia, governada em ditadura por Enver Hoxha fervoroso defensor da linha comunista radical de Mao Tse Tung, o que fez com que o país se tornasse no mais pobre da Europa.

 

Comparativamente, o regime jugoslavo era muito mais benigno do que o albanês e, por isso mesmo, Tito recebeu no sul da Jugoslávia os albaneses em fuga da tirania enver-hoxiana. Mais concretamente, permitiu-lhes que se estabelecessem no Kosovo, região jugoslava de fronteira com a Albânia. Foram centenas de milhares os albaneses que fugiram para o Kosovo onde iam sendo criadas escolas, onde foi assegurado o ensino da língua albanesa e até construídas Mesquitas. Durante 40 anos, manteve-se o fluxo imigratório albanês no Kosovo que está para a Sérvia como Guimarães está para Portugal pois foi lá que nasceu a Nação Sérvia.

 

Os albaneses são muçulmanos; os sérvios são cristãos ortodoxos. Portanto, os albaneses têm valores, tais como religião, costumes, tradições e hábitos muito diferentes dos sérvios. A chegada de grandes massas albanesas ao Kosovo trouxe problemas de integração das duas culturas a tal ponto que os sérvios foram saindo da sua terra fugindo ao que ali se foi instalando.

 

Mas em 2008 – já sob a égide de Milosevic e da sua política de edificação da «Grande Sérvia», destruidora do estatuto de igualdade entre os «seis povos jugoslavos» - o Kosovo, dominado pelos muçulmanos, declarou unilateralmente a independência roubando à Sérvia parte do seu território estaminal e expulsando os sérvios que ainda lá habitavam.

 

Foi nesta circunstância que a maioria dos Governos europeus fechou os olhos ao roubo do berço da Nação Sérvia.

 

Mas – e há sempre um «mas» - afinal, esta acção de emancipação muçulmana do Kosovo era o ensaio geral da invasão muçulmana da Europa porque, como estava demostrado, os Governos europeus amochariam.

 

E a amochar estão.

 

Afinal, é mesmo verdade que quem cospe para o ar na cara lhe cai.

 

Novembro de 2018

A bordo Dawn Princess-3.JPG

 Henrique Salles da Fonseca

 

 

PENSANDO…

grafico-dinheiro.jpg

 

Numa época em que os juros estão a subir nos mercados financeiros internacionais, lembro-me do tal «figurão» que dizia que as dívidas não são para pagar.

 

E apesar do título do presente escrito inspirar racionalidade, começo com um dogma que, por definição, dispensa racionalidade:

 

Uma pessoa de bem, paga o que deve

 

Este dogma aplica-se tanto na dimensão micro como na macro, ou seja, às pessoas e aos Estados. Porque, ao contrário do que disse esse tal «figurão», as dívidas são mesmo para pagar.

 

Então, deixando a questão da dívida micro ao cuidado dos contabilistas, a nível macro a dívida global tem duas componentes: a pública e a privada, ambas com as vertentes interna e externa.

 

A dívida pública é a que vem sendo mais referida pela comunicação social mas a privada também tem que se lhe diga – e muito.

 

A dívida pública, constituída para financiar os défices públicos, só pode ser reduzida na medida dos superávites públicos; a dívida privada externa– a que mais me preocupa - só pode ser reduzida na medida dos saldos positivos da balança de transacções correntes.

 

Enquanto não tivermos saldos positivos nas contas públicas, não reduziremos o stock da dívida pública; se não tivermos saldos positivos na balança de transacções correntes, o sistema bancário nacional continuará a endividar-se sobre o exterior persistindo na via da falência ou, no mínimo, da absorção pela banca estrangeira.

 

Temo que o Orçamento de Estado para 2019 nada tenha muito a ver com este tipo de preocupações. É claro que se trata de um Orçamento folclórico para entreter a esquerda caviar e a ferrugenta na certeza, porém, de que as «centenárias» cativações o vão pôr nos conformes com as necessidades da redução do stock da dívida pública. Sim? A ver vamos por causa das eleições…

 

E quanto à dívida externa privada? Ah! Aí pia muito mais fininho e o problema só se resolve com mais falências bancárias. Qual será o próximo?

 

19 de Outubro de 2018

037.JPG

Henrique Salles da Fonseca

(Setembro de 2018, algures na Indonésia)

TEOLOGIA, DA MINHA - 1

 

CONTRA FACTOS NÃO HÁ ARGUMENTOS

 

HISTÓRIA 1

 

Cenário - em minha casa, durante os trabalhos finais de derrube, esquartejamento e remoção da palmeira centenária que no nosso jardim fora atacada pelo «besouro do Nilo».

 

palmeira.jpg

 

- Henrique!!!??? – ouvi claramente chamar por mim num tom interrogativo como se quem me chamava, de tão desorientado, pedisse que lhe dissesse o que se iria passar de seguida. Levantei-me de imediato à procura de quem me chamara em tom tão aflito e… não vi ninguém. A Graça, minha mulher, estava junto de mim mas só ouviu …ique!!!??? e a empregada doméstica disse que não ouvira nada mas veio lá da outra ponta da casa com os olhos esbugalhados a olhar para mim à espera que eu lhe explicasse o que passara por ela e lhe fizera um arrepio.

 

HISTÓRIA 2

 

Cenário – zona anexa ao hall do hotel em que nos hospedáramos no interior do Estado do Kerala, Índia, depois de enorme tensão por causa da saúde da Graça (problema paralisante de ciática).

 

- Henrique!!! Henrique!!! – ouvi claramente chamar por mim e logo passei de um estado ansioso para uma calma que eu próprio estranhei. Eu tinha ido ao hall do hotel para agradecer aos polícias que, à falta de outro meio de transporte, nos tinham trazido de jeep da borda do lago em que navegáramos até ao hotel. No local em que eu estava não encontrei ninguém e foi quando me voltei para regressar ao quarto que ouvi o chamamento.

 

CONCLUSÃO

 

Há acontecimentos inexplicáveis na dimensão a que estamos habituados.

 

Dezembro de 2017

Henrique, navegando na baía de Cochim-NOV15.jpg

Henrique Salles da Fonseca

(navegando na baía de Cochim, Kerala, Índia, poucos dias depois da história nº 2)

 

RECORDANDO...

Merkel.jpg

A DEMOCRACIA CRISTÃ

E AS OUTRAS GRANDES CORRENTES DO PENSAMENTO POLÍTICO

 

Fascismo de direita.jpgFascismo de esquerda.jpg

 

 

 

 

 Mussolini, Hitler e Stalin

 

 

 

 

  • Em relação ao Fascismo (tanto de direita como de esquerda), a Democracia Cristã diverge porque defende o Estado de Direito em democracia e não aceita qualquer espécie de ditadura.

 

Nacionalismo.jpgMarine le Pen (França)

  • Em relação aos Nacionalistas, a Democracia Cristã é internacionalista defendendo a solidariedade e a cooperação entre os povos.

 

Conservadorismo.jpgTheresa May (Inglaterra)

  • Face aos Conservadores, a Democracia Cristã tem alguns pontos de contacto no plano moral; no entanto, diverge na medida em que se propõe superar e reformular o capitalismo em vez de o preservar.

 

Mark Rutte (liberal).pngMark Rutte (Holanda)

  • Face aos Liberais, a Democracia Cristã encontra-se simultaneamente à sua direita e à sua esquerda: à direita, em matéria de moral, pois os liberais são favoráveis à liberalização do aborto, facilitação do divórcio e têm uma certa tolerância em matéria de costumes; em contrapartida, a Democracia Cristã situa-se à sua esquerda em matéria económica e social na medida em que não aceita o capitalismo liberal pois procura a sua reforma através de uma política económica progressiva e voltada para a conservação da justiça social.

 

François Hollande.jpgFrançois Hollande (França)

  • Em relação ao Socialismo Democrático, existe uma aproximação em matéria de defesa da democracia e da justiça social. As principais diferenças residem no facto de o socialismo ser basicamente de inspiração materialista e de tendência colectivista ao passo que a Democracia Cristã tem inspiração espiritual e pretende caminhar no sentido do personalismo. O socialismo democrático pretende construir uma sociedade sem classes, eliminando progressivamente os titulares da propriedade privada, reduzindo portanto, todos os cidadãos à condição proletária enquanto a Democracia Cristã promove o acesso cada vez mais generalizado dos trabalhadores à propriedade privada da terra, da habitação, da empresa.

 

Jerónimo de Sousa.jpgJerónimo de Sousa (Portugal)

  • Comparado com o Comunismo, a oposição é total. No plano filosófico, o materialismo dialéctico[1], o ateísmo, a "práxis"[2] como critério de verdade, contrastam em absoluto com a filosofia do ser, a fé em Deus e a concepção da verdade revelada como critério da acção humana. No plano político, o transpersonalismo[3] e a ditadura (do proletariado) contrastam por completo com o personalismo e com a democracia. No plano económico-social, o colectivismo, a caminho de uma sociedade integralmente comunista onde todos partilhem a propriedade, inclusive dos bens de consumo, contrasta por completo com a economia social de mercado, democraticamente estruturada e controlada, a caminho de uma sociedade integralmente personalista onde todos tenham alcançado a propriedade privada, inclusivé dos bens de produção.

 

 

 

[1] Materialismo dialéctico – concepção filosófica que considera que o ambiente, o organismo e os fenómenos físicos modelam os animais, as pessoas, a sociedade e a cultura e, paralelamente, são modelados por eles.

 

[2] Praxis – é a actividade de transformação das circunstâncias, as quais conduzem à formação de ideias, desejos, vontades, teorias, que, por sua vez, determinam a criação prática de novas circunstâncias e assim sucessivamente, de modo que nem a teoria se cristaliza como dogma nem a prática se cristaliza numa alienação. A práxis revolucionária é a relação entre teoria e prática de modo coerente com a ideia de Marx de uma «sociedade sem exploração numa livre associação de produtores».

 

[3] PERSONALISMO

Considera que:

  • Os valores fundamentais são os da pessoa;
  • As organizações sociais (Família, Igreja, Estado, Partido, Sindicato...) devem servir a pessoa (e não deve ser a pessoa a servir as ditas organizações como preconiza o transpersonalismo);
  • O Estado e o Direito são feitos pelo homem com o objectivo de satisfazer as necessidades humanas, tendo sempre em vista o bem comum.

TRANSPERSONALSMO

Considera que:

  • Os verdadeiros fins sociais ultrapassam o indivíduo e pertencem às instituições a que ele pertence (Estado, Partido, Sindicato...);
  • O indivíduo não é mais do que um instrumento no cumprimento das obras sociais, dos progressos da Humanidade;
  • Todo o progresso social se consegue pela acção colectiva, à custa do sacrifício individual;
  • O Estado tem objectivos próprios que são mais importantes que os objectivos individuais;
  • A pessoa é uma célula subordinada ao todo.

 

MENTES BRILHANTES

 

 

 

Sempre gostei de assistir ao espectáculo que as mentes brilhantes exibem ao exporem o resultado das suas confabulações mas confesso que sempre lhes troquei as voltas preferindo lê-las a ouvi-las. Lendo-as, tenho tempo; ouvindo-as, temo perder o fio à meada e correr o risco de ser enrodilhado. Lembro-me da história que ouvi em criança daquele cigano que falava muito depressa quando queria vender uma certa mula manca – pensaria ele que o comprador teria que dar muita atenção ao discurso e ficava sem tempo para observar a mula com o cuidado conveniente. Contavam-me que nunca chegara a vendê-la.

 

Portanto, gosto de mentes brilhantes lidas, não ouvidas.

 

Varoufakis.jpg

 

A super pausada leitura que venho fazendo vai já para um ano do livro de Yanis Varoufakis, «O MINOTAURO GLOBAL»1, leva-me a pensar que desta vez o cigano foi o Tsipras que arranjou um galã para encantar as grandes credoras na Alemanha e no FMI e lhe encomendou o encantamento suficiente para lhe dar tempo - a ele, o cigano - de consolidar a maluqueira sobre as ruínas de Atenas. Mas o encantamento não produziu quaisquer efeitos junto da «angélica teutónica» e diz-se que foi fogo fátuo na «charmante gauloise». E como o cigano não ia ficar para sempre com a mula manca, empandeirou-a para qualquer lado e mudou de discurso.

 

Pois. Mas eu hoje não quero saber do discurso do cigano e interesso-me sobretudo pelo relinzurro (nem relincho nem zurro) da mula.

 

E porquê nem relincho nem zurro? Porque Varoufakis zurze no capitalismo mas não lhe apresenta uma alternativa credível. Pior: aponta críticas aos credores mas não acha necessário corrigir sequer um pequeno vício nos devedores. Ficamos a saber do que ele se queixa mas sem que nos aponte uma solução.

 

Assim, não vale. E não vale porque não conduz a qualquer parte; constrói um beco sem saída. E como o mundo não acaba no fundo desse beco, é a construção desse «cul de sac» que não faz sentido.

 

A sua tese contra a austeridade também não faz sentido se nos lembrarmos de que foram os países devedores que foram aos mercados de capitais pedir dinheiro emprestado, não foram os detentores desses capitais que impuseram aos perdulários receberem os seus capitais. E a única forma de servir a dívida é deixar de gastar mais do que se produz – a isso chama-se anular défices – e passar a gerar poupanças, sendo que ambos os patamares se alcançam pela redução da despesa (a tal austeridade) e pela produção de bens e serviços transaccionáveis, nunca pela manutenção de défices nem pelo incentivo ao consumo.

 

Mas é claro que Varoufakis tem razão em várias coisas e, dentre essas, realço o absurdo em que se transformou a utilização dos modelos macroeconómicos e o «gato por lebre» dos produtos financeiros tóxicos. De ambas, tratarei futuramente num outro pequeno texto em que resumirei o que Varoufakis delas conta e com que – desde já aviso - eu concordo.

 

Se a estes absurdos juntarmos a manipulação dos mercados em vez da normal especulação bolsista, temos que reconhecer que o Poder do Mundo foi tomado por loucos se não mesmo por criminosos. E neste particular, também tenho que concordar com ele.

 

Sim, gosto de mentes brilhantes mas Deus nos livre das que são marotas.

 

Tavira, Agosto de 2016

 

 

HSF-AGO16-Tavira

Henrique Salles da Fonseca

 

 

1 - BERTRAND EDITORA, Lisboa, 1ª edição, Junho de 2015

E SE LHE DISSEREM QUE A BÉLGICA INVADIU A ALEMANHA?

 

 Clemenceau.jpg

 

Aproximava-se Clemenceau do fim da vida quando lhe perguntaram algo como:

 

- Na sua opinião, o que dirão no futuro os historiadores sobre esta questão embaraçosa e controversa que foi o início da Grande Guerra?

Ao que o velho «tigre» respondeu:

- Sobre isso nada sei mas do que estou certo é que eles não dirão que a Bélgica invadiu a Alemanha.

 

 

A questão nasce com a pergunta sobre se existirá algum facto independente da opinião e da interpretação.

 

 

Realmente, é impossível dissociar os factos históricos das respectivas interpretações uma vez que no princípio do estudo está a extracção de algo que cada intérprete considere relevante dentre um caos de meros acontecimentos sendo que os princípios da escolha não são elementos do facto interpretado.

 

 

E aqui começa a confusão com cada intérprete a dizer o que lhe parece, muito provavelmente cada um a definir perspectivas totalmente antagónicas das dos outros e ainda com a agravante de eventualmente nenhum se aproximar do que efectivamente ocorreu.

 

 

Não há dúvida de que as ocorrências nem sempre são efectivamente alvo de descrições objectivas e que «quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto» mas seria intolerável que pactuássemos com quem deturpa a matéria factual pois uma coisa é a interpretação, outra o desvirtuamento da realidade. Nada justifica o esbatimento das linhas de demarcação entre o facto, a opinião e a interpretação.

 

 

Mesmo admitindo que cada geração tenha o direito de escrever a sua própria história, não se lhe pode outorgar o direito de recompor os factos de harmonia com a sua própria perspectiva atentando contra a própria matéria factual.

 

 

E se a perspectiva histórica, longínqua, deve sempre ser respeitadora dos factos objectivos, a interpretação desvirtuante de ocorrências recentes não passa de pura mentira. E é isto que frequentemente ocorre em modernas «ágoras» televisionadas. A liberdade de opinião nada tem a ver com interpretações abusivas que claramente pretendem manipular a opinião pública. Esses, os que por certo subscrevem o título de um livrinho que há dias topei num escaparate e que nem sequer folheei intitulado «A verdade e outras mentiras».

 

 

É que a manipulação da opinião deveria consubstanciar crime.

 

Henrique Salles da Fonseca, Barril-8AGO15-2.jpg

Henrique Salles da Fonseca

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

  • Hannah Arendt, VERDADE E POLÍTICA, ed. Relógio d’Água, 1995, pág. 25 e seg.

 

VIVA A TROPA!!!

 

Tropas portuguesas em parada.jpg

 

São historietas de que me lembro, as que me fazem bradar o título ali em cima.

 

  1. Os meus avós tinham na Beira Alta uns vizinhos que não paravam de ter filhos – uns dos quais iam nascendo mortos e outros exalavam o supremo suspiro pouco depois dos primeiros vagidos – pelo que era uma vitória cada um que vingava.

 

Quando, dos vivos, o mais velho deu o nome para a tropa, logo todos se apressaram a convencê-lo a calçar alguma coisa. Começou por umas botifarras largueironas – que dariam para um gigante muito maior que ele – onde mal lhe cabiam os dedos esparramados e foi vê-lo coxo a toda a hora, sentado as mais das vezes, a dar largas aos horrores de tanto martírio... e o meu avô lá o ia animando com palavras de encorajamento e botas menos agigantadas para que ele, assentando praça, pudesse então calçar botas da Ordem. E de cada vez que ia com o meu avô à feira comprar botas menos anormais, lá vinha ele sentado sobre um carro de bois a gemer a sua desgraça. E é que nem pensar em vir a pé os três quilómetros da feira até casa. Mas no dia seguinte, entre plangências e palavras horríveis a condizer, lá ele se ia habituando à tarefa de juntar os dedos que sempre tinham andado apartados à moda dos palmípedes.

 

Passado o negrume de tanta dor, chegou o dia de assentar praça, foram muitos que acompanharam os mancebos da terra à estação do comboio e fez-se grande escuridão de notícias. Breu completo, houve quem mandasse rezar missas pelos jovens da terra de quem nada se sabia.

 

Até que o nosso militar escreveu uma carta a dar prova de vida daquele género «Espero que esta vos encontre bem que eu por cá nunca pior...». E certa vez a carta dizia que iria para Angola embarcando no navio “Não Sei Quê” e por aí fora como mandava o Movimento Nacional Feminino «e adeus, até ao meu regresso».

 

Foi cerca de dois anos depois que o nosso homem voltou de Angola, foi desmobilizado, passado à «peluda» e regressou a casa.

 

Ileso, habituado a três refeições diárias completas, a cama limpa e a hábitos de higiene, ei-lo completamente desadaptado à vida que veio reencontrar de refeições aleatórias, enxerga fétida e descargas fisiológicas a trás das moitas.

 

O homem não queria de modo nenhum regressar à vida do bicho bravo de antigamente e a primeira coisa que fez, antes da primeira noite depois do regresso, foi pedir ao meu avô se o deixava dormir no quarto dos fundos da escada de serviço, ali ao lado da porta da adega. A resposta imediata foi positiva e a vida retomou um ritmo sem toques de clarim mas de grandes inovações para o obscurantismo até então vulgar.

 

Esta leva de soldados restituídos à terra que os vira nascer fez com que a autarquia se visse na obrigação de fazer algo parecido com «banhos públicos» na sede do Concelho, iniciasse as prospecções necessárias ao fornecimento de água potável a todas as sedes de Freguesia, promovesse a iluminação (esparsa) das estradas municipais e, consequentemente, fizesse chegar a electricidade a locais que até aí viviam como no tempo dos moiros.

E porquê? Porque a tropa educara os embrutecidos que, entre grunhidos de resmungo, tinham um dia assentado praça, fizera deles pessoas normais e lhes dera novos horizontes geográficos e civilizacionais.

 

 

  1. O meu primo sempre achara que era muito melhor ir para a praia e fazer ginástica do que queimar as pestanas a estudar as chatíssimas matérias que lhe impingiam no Liceu.

 

Atlético e praticante de luta livre, foi Sargento miliciano em Angola. Relativamente pouco o tempo que esteve numa unidade operacional algures «no mato» daí transitando para uma qualquer unidade em Luanda onde deu aulas de educação física a militares e, nas horas vagas, a civis.

 

Ileso, adorou estar em Angola mas quando lhe perguntei qual fora a missão que lá desenvolvera, deixou-me espantado quando me disse que se dedicara a domar selvagens.

 

Como assim?

 

Que eu não imaginava o que era a selvajaria dos soldados (nomeadamente dos brancos) à mesa no refeitório e o que era a falta de ética na luta livre que ensinava a militares, civis, brancos, pretos e mistos.

 

Então, passou a dar o exemplo à mesa no refeitório militar para que o vissem direito e não debruçado com o queixo dentro do prato, comer com colher, garfo e faca e nas aulas de ginástica, a sua preocupação foi, mais do que os truques e golpes de mestre, a de inculcar a ética cavalheira naquelas cabeças frequentemente estouvadas e por vezes até vingativas. Sim, terá sido muito frutificante domar selvagens.

 

Conseguiu?

 

Talvez o homem da primeira história lhe tenha passado pelo refeitório mas não consta que tivesse feito ginástica.

 

26 de Junho de 2016

 

Henrique sem bigode-1970.jpg

Henrique Salles da Fonseca

(1970, antes do bigode)

 

 

 

ALMIRANTE COUTINHO

 

 Almirante Coutinho.jpg

Luta entre Luís Monteiro Coutinho e o Capitão de Achém

(desenho aguarelado)

 

Luís Monteiro Coutinho (1527-1588) embarcou para a Índia para prestar serviço em diversas campanhas militares e expedições; visitou a corte de Akbar e em 1576 viajou para Malaca onde foi nomeado Capitão-Mor do Mar de Malaca; depois de ter participado em várias contendas com os achéns (indígenas de Achém, um reino situado na extremidade noroeste de Samatra), foi assassinado com um tiro de canhão ao recusar renegar a fé cristã.

 

Os seus companheiros foram martirizados em 24 de Março de 1588.

 

Henrique-piscina dos monges em Kandy, Sri Lanka.JP

Henrique Salles da Fonseca

(NOV15, no Sri Lanka)

 

 

BIBLIOGRAFIA: Wikipédia

 

 

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