ESCRITORES QUASE ESQUECIDOS - 8
UM VELHO POILÃO
O tempo fez-me vergar
E as minhas raízes saltar,
Agarro-me ao que de mim resta
E tento reconhecer a minha geração
Neste carnaval de extrema solidão.
No meu reino, tenho pesadelos:
Tractores de dentes aguçados;
Ávidos lenhadores de machado em punho.
Meus adoradores
Miram o meu tronco carcomido pelo tempo
À espera da queda fatal.
Angustiado sonho como os belos tempos,
Vejo os meus braços verdes,
O meu tronco firme
Ostentando uma cabeça frondosa
De cabelos encarapinhados
Simulando perfis ocos
De rostos apinhados.
Ainda recordo
As sombras que dei,
Histórias de amor, noites de fogueira...
Quantas não assisti?
Fui símbolo de amor proibido
Odete Semedo
(Guiné-Bissau)