Do meu Amigo Coronel Adriano Miranda Lima recebi por e-mail a mensagem que segue:
«Boa noite, Sr. Doutor.
Não é a primeira vez que o faço e peço desculpa por alguma impertinência. É pena que os desafios que amiúde lança no blogue não motivem, regra geral, algum debate. Eu já nem me refiro aos preguiçosos, ou ausentes, mas penso que devia, da sua parte, contribuir para algum debate reagindo às intervenções dos comentadores. Caso contrário, fica-se com a sensação de alguma inutilidade e perda de tempo para quem procurar colaborar. Espero que compreenda a sinceridade deste meu reparo.
Um abraço
Adriano Lima»
Invoco igualmente aqui o comentário (em duas partes) do Senhor Coronel ao meu texto «Especulando» que antecede este na cronologia do blog.
* * *
Posto o que se me dá discorrer como segue:
A participação do Senhor Coronel Miranda Lima no «A bem da Nação» não se mede apenas pela antiguidade mas sobretudo pela qualidade dos seus comentários;
Desta participação resulta que o Senhor Coronel Miranda Lima é por mérito próprio considerado um pilar do «A bem da Nação»;
Desde início (1 de Janeiro de 2004) que sigo uma linha editorial que ainda se mostra actual e que consiste em respeitar integralmente a «Declaração Universal dos Direitos Humanos» (ONU 1948) e, daí, a democracia pluripartidária, oposição clara a todas as formas de fascismo, total apartidarismo, defesa permanente do bem-comum, recusa de discussão de matérias de fé.
Na minha actual condição de autor único, submeto as minhas ideias à crítica de quem me lê, nego a publicação de comentários que possam ser considerados ofensivos e dou sempre a última palavra ao(s) comentador(es) pelo que me abstenho de comentar comentários.itual
Relativamente ao conteúdo do comentário a que ora me refiro, parece-me que o Senhor Coronel, com o seu habitual racionalismo, percorre linhas de plausibilidade do maior interesse que não diferem essencialmente das minhas perspectivas. Acresce motivos que poderão incentivar os investigadores. Assim estes nos leiam e se entusiasmem tanto quanto nós gostaríamos de os saber embrenhados em confirmar ou infirmar as nossas especulações. Não para alterarmos a História mas para a compreendermos melhor. Tudo, a bem da nossa Nação.
Somente os sábios enxergam o óbvio (Nelson Rodrigues)
Grandes criadores da ciência moderna tais como, Kepler, Galileu e Newton interpretavam a inteligibilidade matemática do cosmo num sentido teológico como seus contemporâneos Descartes e, sobretudo, Malebranche.
Deus criou o mundo com leis matemáticas colocando em nosso espírito “ciências de verdade" (Descartes) que nós apenas temos de desenvolver para o compreender.
Kepler, entusiasmado com a descoberta da trajectória elíptica dos planetas, exprime, numa bela página dos seus Cinco Livros sobre a Harmonia do Mundo, a sua gratidão a Deus: Agradeço-te, Criador e Senhor, por me teres regozijado o espírito com o espectáculo da Tua obra.
Leibniz admirava profundamente a extrema simplicidade das leis do universo, em que o máximo de efeitos se realizou com o mínimo de meios. O mundo, dizia, originou-se dos cálculos de Deus.
Já Platão invocava um Deus que sempre geometriza.
A Bíblia, no Livro da Sabedoria (XI, 20), ensina-nos que Deus regulou tudo com medida e com número.
Carta Aberta a Sua Excelência o Senhor Presidente da República,
Excelência,
Tenho-me dedicado, neste espaço de intervenção, a outras matérias que não são a análise da situação que actualmente vivemos.
Acho que não vale a pena estar a juntar mais uma voz aos incontáveis opinion makers que por aí pululam, em telejornais, jornais, rádios e blogues. Nem da comunidade do facebook já faço parte, ao contrário de Vossa Excelência.
Desactivei a minha inscrição!
E venho falar-lhe das suas palavras sobre as suas reformas. Não sou seu fã, mas há duas coisas que respeito e que dependem uma da outra:
A Ética e a Verdade.
O alarido que se levantou à volta das suas palavras só pode ser entendido como o descarado aproveitamento que em Portugal, há anos a esta parte, se faz, maldosamente, das declarações de responsáveis políticos, com vista a criar manobras de entretenimento popular e a desviar-nos do essencial.
E ambos sabemos a quem interessam as manobras de recreação!
Na verdade, as afirmações de Vossa Excelência não me afectaram porque não tenho nada a ver com o que Vossa Excelência faz do seu dinheiro; e, só afectam quem não sabe ou finge não saber o que é uma reforma.
E uma reforma, numa ideia muito simples, é um pagamento que fazemos a uma entidade que serve de fiel depositária do dinheiro que é propriedade de quem sofre o desconto no seu vencimento. Essa entidade que funciona como um banco, com a diferença que não paga juros do depósito, é fiel depositária do dinheiro que lhe entra cofres adentro. Qualquer fiel depositário, se nomeado judicialmente, responde perante os Tribunais, pelos bens que tem à sua guarda.
E quando nas pensões de reforma se vem falar de reformas de luxo e que alguns recebem, estão a esquecer-se que essas pessoas também pagaram mais ao tal fiel depositário para que lhe guardasse o dinheiro.
Quem descontou para o luxo terá, também, o direito ao luxo.
A questão actual é saber se, numa situação de gravíssima crise económico-financeira, é justo que aja uma gritante desigualdade social.
Mas isso é outro debate!
Que o Governo tirasse o subsídio de natal aos funcionários públicos é entre o Governo e os funcionários públicos, apesar de incumprir com as promessas eleitorais feitas pouco tempo antes, mas, ainda assim, o dinheiro é do Estado…
Que o Governo tire o subsídio de natal aos pensionistas é um acto ilegal, contraria um diploma que nem sequer tiveram o cuidado de revogar primeiro, dando-se o caso de o dinheiro não ser do Estado, ser dos próprios que foram lesados.
Se um banco fizesse desaparecer da conta bancária de um seu depositante o dinheiro do seu depósito, sem o consentimento daquele, sofreria um processo judicial pelo crime de abuso de confiança.
Vossa Excelência, mal ou bem, tem direito às pensões para que descontou e não tinha que abordar publicamente esse tema, ainda por cima, na situação de carência social que vivemos.
Como se diz na gíria popular: "Um tiro no pé!"
Creio que Vossa Excelência poderia patrocinar uma associação que se destinasse ao debate destes actos políticos que a maioria das pessoas não compreende e de cuja ingenuidade e desconhecimento servem, estrategicamente, para fomentar alaridos. Dando-se o caso de o berço da nacionalidade ser a capital europeia da cultura, aproveitaríamos, nesses debates, para sermos esclarecidos, entre outras coisas, sobre as pensões dos Senhores Deputados, a forma como as decidiram para eles próprios e os montantes que descontaram para as obter… e ficaríamos, assim, politicamente mais cultos.
E nessa associação, poderia falar-se, também, de fábulas (aqui no blogue há peritos nessa matéria) e uma das próximas que irei abordar nos meus textos, é a fabula da cigarra e da formiga. Aliás, esta fábula julgo, se a memória não me trai, já ter sido usada e comentada por Vossa Excelência.
Essa associação, nos debates que traria a público, teria de demonstrar e provar ao povo português que de formiga não temos nada, ou teremos muito pouco.
Infelizmente, assemelhamo-nos mais a uma cigarra cantadeira…
Acaba o ano, começa o ano, acaba o ano, começa... e quando pensávamos, em crianças, que os anos levariam um monte de tempo – horrível – a passar, hoje percebemos, há muito tempo aliás, que o tempo não conta, e quando damos por isso “voou”, ou “voaram” já uma imensidão deles!
No meu caso passaram até mais de 700.000 horas! E às vezes reclamamos quando temos que esperar 20 ou 30 minutos por alguém, ou pelo transporte, ou até por uma refeição pedida no restaurante. Meia hora hoje não representa mais do que 0,00007% do tempo que já vivi!
E pensarmos em gente que, determinada a atingir os seus objectivos, em ajuda aos mais desfavorecidos, enfrentam por vezes longas horas, dias, anos e anos sofrendo maus tratos, quando não a morte, sem uma queixa, dando exemplo de humanidade. Que beleza.
Lembro a história de uma mulher, que nasceu em 1902 no seio de uma família de trabalhadores, em criança considerada de baixo nível intelectual e insuficiente aproveitamento escolar, baixinha, sem belezas externas, que começou a sua vida como empregada num loja lá no interior de Inglaterra e depois criada de servir.
Um dia, na igreja, ouviu o pastor falar da fome e miséria que assolavam a esmagadora maioria do povo chinês.
E logo se decidiu partir para esse tão longínquo quanto estranho e enigmático país, como missionária. Fez um rápido curso de missionação, findo o qual os/as professoras concluíram que ela não tinha capacidade para... quase nada. E não a deixaram ir.
Este golpe não a impediu de prosseguir com a sua ideia e vocação. Numa agência de viagens informaram-na que a passagem para a China, de barco custaria £ 90, e de comboio, atravessando a Rússia, parte da Sibéria, grande parte da Manchúria e norte da China, £ 47,50. As suas economias eram de ... £ 2 e 10 shillings!!!!
Falaram-lhe sobre uma missionária escocesa de setenta e três anos, lá, perdida, sozinha, que necessitaria de ajuda, a quem escreveu. Tempos depois recebe a resposta lacónica que dizia que se ela quisesse se apresentasse em...
Foi trabalhar de criada de servir, e em todas as folgas conseguia uns trabalhos extras. Não gastou um cêntimo consigo, além de poucas roupas quentes para atravessar a Sibéria, um cobertor, uma chaleira e uma mala, até ter o dinheiro suficiente. Ao comprar a passagem o agente avisou-a de que possivelmente não poderia mais seguir no comboio! Seria retida lá... nos confins da Rússia, porque começara a guerra com o Japão. Os japoneses estavam já na fronteira da Manchúria!
Nada disso a intimidou.
Três dias depois Gladys Aylward embarcava em Londres na Liverpool Street Station, levando no bolso pouco mais de duas libras “para eventuais despesas”, em traveler cheques! Na mala, a roupa, alguns bolos e outros poucos alimentos que ela mesma havia preparado para a viagem que deveria durar uma semana. Durou 28 dias! Atravessou toda a Rússia, teve problemas com as tropas de cada lado, ninguém falava a sua língua, chegando a pensar que seria espiã! Finalmente de Vladivostok passou ao Japão, daqui à China e depois de um pequeno trecho de comboio, uns duzentos quilómetros em cima de mula até ao destino, em Yang Cheng.
Não tardou que a velhota missionária morresse e ela ali ficou sozinha. Mas tanto trabalhou e se identificou com os pobres – aquela era uma região paupérrima – que passou a ter o respeito de todos. Inclusive do mandarim.
Chegou a invasão japonesa, dizimando, destruindo e violentando tudo e todos, e Gladys teve que se esconder nas montanhas com umas dezenas de crianças e alguns convertidos já, sobretudo ex-presidiários, assassinos, ladrões, etc., que a seguiam agora como bons discípulos. Conseguiu sobreviver passando fome e frio. Adoeceu e não se queixou. E levou os seus protegidos numa marcha incrível, através das montanhas, mais de mil quilómetros, onde passaram sem comer dias seguidos.
Finalmente conseguiu salvá-los. Pouco depois os japoneses foram vencidos e começou o terror comunista, e com ele nova chacina e caça a missionários, mandarins, estrangeiros, que Gladys deixara de ser porque havia obtido a nacionalidade chinesa. Gladys, fraca aguentou ainda alguns anos até que foi posta fora do país. Religião, para Mao...
Voltou a Londres, mas por pouco tempo. Não tardou a regressar, desta vez a Taiwan, para continuar a cuidar de crianças, leprosos e prisioneiros.
Aos setenta anos o seu corpo descansou e a sua alma seguiu o caminho dos santos.
Um espanto o que uma mulher da mais simples condição consegue fazer... QUANDO QUER.
Para ela, certamente, os anos passaram demasiado depressa, porque ainda ficou uma eternidade de desfavorecidos à espera dessas almas que se incorporam num corpo humano, e nos levam a acreditar que algo continua a poder ser feito.
É difícil acreditar nos homens. Mas exemplos destes renovam um pouco de esperança em cada um!
Quem quiser, e souber ler inglês (não sei se tem tradução portuguesa), sugiro que leiam “Gladys Aylward – The Little Woman” (pela Internet, na Amazon.uk, desde o simbólico valor de £ 0,01 + frete). E ainda podem ver o filme, com a Ingrid Bergman – de 1958; a diferença é ser a Ingrid um mulher linda, e não baixinha! (The Inn of the Sixth Happiness), que dá uma ideia... pálida, da luta e trabalhos de Gladys
Se fosse católica seria já uma santa. Na igreja anglicana... não sei.
E estamos nós a contar os minutos para... para quê? Para ver passar o tempo?
Quem pudesse pensar que por me interessar por línguas estrangeiras sou apátrida ou estrangeirado, enganar-se-ia. Conheço de facto várias línguas, muito poucas num grande ramalhete que me tem fascinado; umas, conheço-as superficialmente, outras melhor, mas sempre muito ineficazmente, porque a única que sei bem, posso dizê-lo, é o Português, a minha língua-mãe.
O inglês evito-o o mais possível para que se não pense que estou americanizado, como na minha adolescência já estive. O castelhano, erradamente designado por espanhol, esse nem sequer estudei, porque na verdade ele é um dialecto do Português e não quero ser "espanhol" (abrenuntio!), nem que alguém tal pense, embora tenha irrecusavelmente nascido e sido criado na Península Ibérica.
Mas Portugal é uma parte muito sui generis da Península. É um país que sempre parece estar a morrer, mas não morre, cujos habitantes parecem inimigos de si mesmos, porque dizem mal dele, mas são patriotas bem intimamente e não admitem que os alheios digam mal da sua pátria.
Paradoxo. Como disse o Poeta:
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"
Os portugueses são tão patriotas, dizendo mal de Portugal, como eu sou Português, estudando línguas estrangeiras.
Hoje em dia, Portugal está numa crise difícil devida aos maus políticos, que foram muito além da simples maledicência e meteram o país em maus lençóis. Mas, perante a má política e os seus resultados desastrosos, Portugal dá mostras de patriotismo com a sua devoção religiosa, as suas provas desportivas e o seu gosto pela música. Os três FFF – Fátima, Futebol, Fado – são a trilogia que tem servido de chacota a muito chocarreiro e serviu a difamação feita ao Estado Novo. Mas este Portugal Velho, este país da caquéctica democracia hipócrita e ineficaz, reforçou os FFF e mostra que a política só nas mãos de competentes e honestos poderá ultrapassar a força dessas letras simbólicas.
"Portugal é preguiçoso", diz gente do Norte da Europa? Não é. Esse adjectivo só representa a inveja de quem não tem um clima tão favorável ao lazer como o nosso, e se entrega ipso facto ao trabalho, que não é labor mas escravatura (Trabalho vem de tripallium, um instrumento de escravidão). Escolhemos o labor, não o trabalho, e escolhemos bem.
Mas não são só os três FFF que valorizam Portugal. São ainda as boas gentes, as doces paisagens, o labor persistente de gente anónima que se não move pelo dinheiro nem pela política e que não se orgulha dos capitalistas.
A influência sinistra de agentes inconfessáveis do mamonismo universal materialista desviou Portugal perigosamente da sua natural maneira de ser. Mas os Portugueses acabarão por se endireitar, revelando a sua bonomia até aqui arredada, e então voltaremos a ser uma Nação.
Meus Irmãos e Amigos: Não vos iludais com as aparências internas ou externas, que se exibem ou que se vos mostram.
Não acrediteis nas mentiras que se dizem e se ouvem.
Perscrutai a Verdade das coisas, dos factos, do que se diz e do que se vê.
Ride-vos dos fantasmas com que vos querem amedrontar.
Como disse Cristo aos Apóstolos: sede mansos como as pombas e perspicazes como as serpentes. Procurai a Verdade, custe o que custar. Crede em Deus, mesmo que façam pouco de vós. Mantende a Esperança bem viva. Exercei o Amor do Próximo, como puderdes e como entenderdes.
...E o Mundo será nosso: o Império do Espírito Santo.
Num mundo tão competitivo, na disputa pela vitória, seja no desporto ou na vida, o homem lança mão de tudo que tem, desde o seu conhecimento até as ultimas novidades tecnológicas e científicas. No fito do "ouro", faz buscas, exercícios à exaustão, consome drogas, permitidas ou não, que na maioria das vezes lhe corroem a saúde, lhe consomem o brio e até a vida. Será que vale a pena? Será que o lema do ressuscitador das Olimpíadas, o barão de Coubertin, de que o importante é competir, é válido para se ser feliz?
No vai e vem das civilizações o ponto comum são as constantes transformações. E a cada mudança o homem, seu provocador e utente, procura corresponder às exigências da sociedade a que pertence. Como ferramentas de inserção usa a tradição, a história, o conhecimento que a educação traz. Mas num mundo, como o actual, sem fronteiras culturais, com informação em tempo real, está cada vez mais difícil manter ou criar um modelo específico educacional capaz de, ao mesmo tempo, respeitar a individualidade cultural e capacitar o cidadão para um espaço globalizado. Cada vez está mais difícil manter regras morais que afinem com os conceitos pessoais, que não agridam os princípios históricos e culturais dos povos em geral.
Aqueles que nos sucederão estão praticamente dependentes das máquinas e da comunicação virtual. Vivem em constante stress para se manterem actualizados.
Estar "antenado", ciente do que acontece no mundo e na mídia, é a geral prioridade. Quem não está por dentro do que acontece nos quatro cantos da Terra é desprezado, ignorado, é um zero à esquerda no grupo de relacionamentos.
Desde que Guttemberg descobriu a imprensa no século XV, até os tempos actuais, com a Internet do séc. XX, o homem deu um passo gigantesco na comunicação e aproximação humanas.
São tantas as notícias e novidades que o cérebro não é capaz de processar tudo o que recebe e de reter tanto saber. Todos esses conhecimentos se reflectem no nosso quotidiano, interferem nos nossos relacionamentos, influenciam nossas avaliações e valores. Tudo isso nos deixa stressados, fadigados e se tentarmos absorvê-los caímos na estafa, na doença, ou então, periódica e preventivamente, nos alienamos de tantas noticias, para proteger a saúde de nossas mentes.
Achar o meio-termo é um desafio. Só mudando a conduta, criando uma certa autonomia capaz de responder equilibradamente às solicitações da sociedade presente, alcançaremos qualidade de vida, objectivo daqueles que nos precederam e de nós mesmos. Talvez o bem-estar da humanidade esteja, hoje, no evitar confrontos, comparações, cobranças desproporcionais e descabidas, no estimulo ao respeito cultural dos povos, à volta do ritmo educacional do contador de histórias, mesmo que seja virtual, quando a criança tinha tempo para brincar, assimilar e experimentar as suas descobertas, exercitar a sua criatividade, aprender e vivenciar as coisas verdadeiramente importantes. Utopia? Quem sabe? Se, como humanidade, já auferimos tantos conhecimentos científicos, quem sabe agora também cresçamos na espiritualidade, na capacidade de realmente sermos entes completos, mais felizes!
As perspectivas e objectivos desta nova geração para este incipiente milénio deveriam ser repensados. O éthos, o comportamento social mais saudável e harmónico, a postura equilibrada entre a tecnologia e os recursos da natureza, a busca de ideais e de ideias, deveriam ser prioridades voltadas para a sustentabilidade e sobrevivência da Terra. Quem sabe desta vez a sabedoria adquirida ao longo dos séculos supere a ganância, o egoísmo e a mediocridade humana neste novo ano que se inicia? Talvez assim tenhamos uma chance de habitar este planeta, de termos um lar, de existir, por mais uns tempos!
Creio que foi Swedenborg, um místico sueco, que afirmou que todas as pessoas que querem ir para o Céu, vão mesmo para o Céu depois de mortas. É a democracia celeste. S. Pedro escancara as Portas do Paraíso a todo o bicho careta, como fazem agora os políticos da UE. Mas – espantoso! - a grande maioria dos supostos afortunados falecidos, ao fim de pouco tempo (se é que no Céu há tempo), deixam o Céu, porque o Paraíso é muito chato, e o Inferno, esse sim, é muito divertido, tem TV, fogo de artifício, guerras animadas que enviam quantidades enormes de pecadores para o território infinito do Diabo, e múltiplas outras diversões, como a corrupção, a luxúria, a ladroeira, etc., etc.
Este palavreado vem a propósito do canal TV, Nuur-Sat (nuur, em árabe quer dizer "luz"), católico, maronita, libanês de Beirute, a que eu recorro quando estou farto dos outros canais. O português só fala da Crise, de Cozinha e do Fado; os italianos, ou falam da Grande Guerra, ou noticiam as enormes desordens contra os políticos italianos, dentro e fora da Assembleia Republicana. Um pavor! (Excepção: o filme "Preferisco il Paradiso").
Sinto que o Nuur-Sat é chato para muita gente: missas em árabe, cantorias em árabe, padres falando árabe. Mas eu gosto, em primeiro lugar porque não percebo o árabe e gosto de ver as legendas árabes correrem da esquerda para a direita. Em segundo lugar há muito poucas notícias como as nossas, e se há outras (muito poucas) não as entendo. Depois há muitos corais religiosos e eu gosto de ouvi-los. Depois irradia daquele canal uma serenidade e uma paz que me reconstituem.
Hoje, vi e ouvi um coro de maronitas laicos andarem na via pública de Beirute a cantarem canções do Natal, em árabe, em francês (o Líbano sofreu uma grande influência francesa), em alemão (Stille Nacht, heilige Nacht) e em latim (Adeste fideles...= a bela composição que uns dizem ser de autor anónimo, outros do nosso D. João IV). E ainda um padre cantando em árabe diante dum presépio: ليلة الميلاد = Noite de Natal... lailat almiilaad...
Eu julgo que se entrar no Paraíso, segundo a teoria de Swedenborg, não o acharei chato e lá me deixarei ficar, porque estou farto, fartíssimo, deste inferno terrestre.
Outra perspectiva de navegação à vela, e já o “tio” se agita!
Voltar a atravessar o grande “rio” Atlântico e desembarcar em Lisboa, bem ali ao lado de onde Cabral saiu para vir encontrar estas terras de Vera Cruz!
Amigos à espera, aquele Abraço...
Mais de três semanas de mar, sempre, ou quase, num desconfortável contravento, proa a bater nas ondas, mas onde a possibilidade de fazer escala, mesmo por pouco tempo, nalguma daquelas Afortunadas Ilhas, os Açores, com que nunca deixou de sonhar, se afigurava real.
Os anos pesam (muito) e, à medida que se vão acumulando, o físico parece sofrer um desgaste em velocidade logarítmica!
Mas o apelo do mar, aquelas horas só entre céu e água, longe da confusão, de notícias, quase sempre tristes e cada vez piores, e sobretudo na companhia do querido sobrinho e experiente comandante José Guilherme, num outro Mussulo, o “II”, o tal Bavaria com os seus 49’, que há dois anos veio de Mindelo, e suas instalações principescas... Aaah!
Condições impostas: primeiro faz um check up e pede ao cardiologista que o “autorize” a ficar um mês longe de apoio hospitalar! Mau agouro! Como é evidente o “tio” não foi a médico algum, porque sempre mandam fazer um monte de exames que são uma chatice, e quem se atreveria a dizer que ele não “morreria” nos próximos trinta dias? A solução foi “experimentar” um fim-de-semana no mar! Solução sensata.
Sexta à noite, após um simpático jantar, já em Ilhabela, entrámos a bordo do magnífico “transatlântico”, para aí passar a noite, ainda ancorados.
Ao pôr os pés no barco o “tio” sentiu logo um desequilíbrio desagradável. Com “cataratas” novas, parece ter perdido um pouco a noção de profundidade, já que um dos olhos vê (quase) bem ao longe e outro (quase) bem ao perto! Esta noção ainda não se tinha manifestado tão real quanto já no barco, a subir e descer para a cabine, pior ainda quando havia que descer do barco, ou para terra, ou para o pequeno bote.
Os anos e as cataratas estavam a lutar contra!
Assim mesmo o dia de Sábado passou-se num “pequeno” veleiro de 32’ preparado para regatas, com a sua habitual tripulação, onde o “tio” se limitou a assistir a manobras, ora sem vento, ora com vento fresco, onde se testaram velas novas, seu posicionamento, etc.
À noite, saída no Mussulo II, comandante e o vovô, navegando a motor, com vento zero, durante umas três horas, para fundear numa pequena baía, que na manhã seguinte se mostrou em todo o seu esplendor, cercada de montanhas verdes. Lugares deste (ex) paraíso terrestre, quase intocados!
Noite bem dormida, sossego lindo, vista em 360° que faz esquecer os problemas de Kadaffi, Bin Laden, e até da vergonhosa política deste tão belo país!
Depois de um frugal e suficiente “mata-bicho”, levanta ferro, novamente a motor, que o vento ainda dormia, devagar, para ir digerindo a beleza do entorno, até que a meio da manhã o vento começou a surgir, as velas timidamente se foram enchendo, o motor desligado, e a navegação uma maravilha, sempre à vista daquele exuberante verde das montanhas, a que o belo Sol emprestava ainda um realce e uma variante de tonalidades, de impressionar qualquer Manet ou Van Gogh!
Preparação do almoço: um agradável strogonoff “electrónico”, que leva três minutos a preparar, aliás, a aquecer, umas batatas fritas de pacote à ilharga, belos pratos e talheres e um soberbo Cabernet Sauvignon chileno da vinícola do Baron Philippe de Rothschild, servido em copos de pé alto! Bem, melhor do que isto, só mesmo igual a isto.
O “tio” telefona para a filha, em São Paulo, para avisar a que horas pensava ali chegar e a informar que a navegar assim iria até à China.
“Pai, aqui em São Paulo caiu o maior pé-de-vento e uma chuvarada incrível. Até árvores quebraram.” “Guarda essa chuva por aí que nós aqui estamos no paraíso!” Telefone desligado, o cabernet a tornar a conversa mais agradável, ao longe viam-se já algumas nuvens escuras, mas... ainda longe.
Não tardou cinco minutos, e o tal vento de São Paulo, uma daquelas famosas frentes frias que chega sem avisar, nos apanha descontraídos!
Não durou muito. Talvez uns quarenta ou sessenta minutos! O mar já formava carneirinhos, tentava invadir o cockpit, mas sem êxito, que ele rapidamente foi fechado, o vento zunia no mastro e nos brandais e, vindo directamente do clube obrigava fazer bordos extra!
O ventou depressa se cansou, mas a chuva não. Já perto do clube onde o “Mussulo II” descansa, novamente é o motor que os leva.
Foi um óptimo fim-de-semana. Calmaria, vento fresco, algumas rajadas mais fortes para mostrar quem manda no mar, e o “tio” já a saber que a nova aventura de cruzar o oceano, estava fora dos seus limites físicos!
Talvez tenha sido uma despedida, mas ficava o desconforto de não poder levar outro “Abraço à Vela” desta vez para os tantos amigos em Portugal!
Pensava ainda se não teria sido também o seu “egozinho” a desejar ganhar alguma “fama”, alguns aplausos pelo feito!?! Talvez.