PHILIPHÊ BINH
Vietnamita exilado 37 anos em Lisboa no final do século XVIII
“Um Moisés Vietnamita”, livro publicado nos EUA pelo professor da Universidade da Califórnia George E. Dutton que conta a história de um padre católico vietnamita que viveu exilado em Lisboa durante 37 anos, nos séculos XVIII/XIX.
Philiphê Binh era um padre católico que, em 1796, viajou da região de Tonkin, no Vietname, para Lisboa com o objectivo de conseguir a nomeação de um bispo para a sua comunidade de ex-jesuítas e assegurar a sua continuação.
“A sua viagem para a Europa foi um notável acto de coragem e convicção e a sua determinação feroz durante os anos da missão é algo que deve ser celebrado”.
O padre Binh “representava uma comunidade católica resiliente que interagiu com o catolicismo global nos seus próprios termos, sem medo de tomar grandes riscos para defender as suas práticas e tradições.”
Os primeiros católicos a chegar ao Vietname foram missionários portugueses, no início do século XVI, mas o seu sucesso foi muito limitado até à chegada dos jesuítas, um século depois, que foram capazes de estabelecer a religião no país.
A viagem do padre Binh acontece quase cem anos depois, quando os católicos do país “vigorosamente se envolveram na política da igreja para defender a sua distinta herança católico-portuguesa.”
No livro, que contou com a colaboração do português Raul Máximo da Silva, Dutton mostra como as crenças, histórias e genealogias do catolicismo de origem portuguesa “transformaram a forma como os vietnamitas pensam sobre si e vêem o seu lugar no mundo.”
O americano decidiu escrever esta história depois de encontrar as 12 mil páginas de manuscritos do padre Binh enquanto pesquisava o seu primeiro livro sobre a revolta camponesa de 1831.
“Os escritos do padre Binh permitiram-me ver como é que o mundo católico era visto a partir de uma perspectiva vietnamita. Também me intrigou o facto de ser um raro visitante asiático na Europa daquele tempo que deixou extensos comentários sobre como foi a sua vida em Portugal durante quase 40 anos”.
O Autor explica que “outros autores já escreveram sobre os primeiros visitantes asiáticos na Europa mas poucos foram capazes de o fazer de forma extensa, na perspectiva do próprio asiático.” “Finalmente, achei que esta era uma correcção importante para a história do Vietname, em que muita ênfase é colocada nos contactos com França e pouca atenção é dada às ligações com Portugal”, acrescenta.
Neste momento, cerca de sete por cento dos vietnamitas são católicos (perto de seis milhões de pessoas), a quinta maior população católica da Ásia.
Dutton acredita que o livro é importante porque, num país onde 45 por cento da população pratica a religião tradicional vietnamita, “a história dos católicos é muito frequentemente esquecida e marginalizada.”
Diário Digital com Lusa
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