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A bem da Nação

PORTUGUESES NA ETIÓPIA

Patriarca etíope.png

O Imperador etíope recebe o patriarca católico Afonso Mendes. Frontispício da tradução francesa do Itinerário de Jerónimo Lobo: Relation historique d’Abyssinie Traduite sur le manuscrit portugais… (ed. Joachin Legrand). Paris, Veuve Coustelier, 1727

 

Ainda hoje podemos encontrar nos planaltos rurais do norte da Etiópia, diversas ruínas de edifícios monumentais estranhos à antiga tradição arquitectónica daquele país.

Gondar, Etiópia.jpg

 Palácio de Gondar

Este património, relativamente pouco conhecido e raramente estudado, é uma testemunha silenciosa de um encontro cultural fascinante mas pleno de equívocos, que teve lugar nos sécs. XVI e XVII entre cristãos monofisistas etíopes e católicos europeus.

O impacto deste encontro sobre a vida religiosa, política e artística da Etiópia cristã foi enorme, já que a conversão pública do rei etíope Susénios ao catolicismo conduziu a uma guerra civil e religiosa de consequências traumáticas.

Estes monumentos do início do séc. XVII são testemunho de um período em que os missionários jesuítas foram particularmente influentes na corte real etíope. Este importante património, designado habitualmente como pré-gondarino, é quase desconhecido fora da Etiópia. Um conjunto de livros e manuscritos de origem jesuíta, guardados na Biblioteca Pública de Braga e no Arquivo Distrital de Braga são fonte de informação essencial para quem queira estudar esta relação tão densa entre Portugal e a Etiópia.

Os jesuítas na Etiópia dos sécs. XVI-XVII

O reino cristão que controlou as terras altas da Etiópia, sofreu uma série de crises políticas, económicas, militares e religiosas entre meados do séc. XV e a data da expulsão dos missionários Jesuítas (1633). Os exércitos somalis e afaris, liderados pelo Emir Ahmed Granhe (o “canhoto”), ameaçaram a existência do Estado cristão entre 1529 e 1543, altura em que foram finalmente derrotados por um corpo expedicionário português enviado de Goa sob o comando de Cristóvão da Gama.

Posteriormente, várias populações Oromo começaram a invadir as terras altas e, no final do séc. XVI, instalaram-se no Godjame e no Choua, tornando-se os principais adversários do Estado abissínio.

A colaboração militar portuguesa foi o ponto de partida para o estabelecimento de uma missão religiosa na Etiópia para encorajar a população a trocar a sua fé monofisista pelo catolicismo romano, trinitário.

Um primeiro grupo de missionários jesuítas, liderado pelo Padre espanhol Andrés de Oviedo, entrou na Etiópia em 1557 mas, após participar em numerosas discussões teológicas com o clero local, foi afastado da corte.

Os jesuítas estabeleceram-se em Mai Guáguá (Tigré), onde pregaram e deram apoio à pequena comunidade de portugueses e de luso-descendentes mas o envelhecimento dos padres, entretanto, conduziu à natural extinção da missão.

A irredutibilidade inicial de Andrés de Oviedo deixou tal ferida que a Companhia de Jesus acabou por ser expulsa da Etiópia e com ela a esperança de boas relações com o famoso «Preste João».

Mas os luso-descendentes ficaram e é deles que ando à procura para o restabelecimento de novos laços com a Nação dos seus longínquos antepassados.

Julho de 2016

De Denang para Hué.JPG

Henrique Salles da Fonseca

(no Vietname, na estrada de Danang para Hué)

 

FONTE: http://home.iscte-iul.pt/~mjsr/html/expo_jesuits/indice.htm

 

Baruch Espinosa

27 de Julho

Pai da Modernidade,  Baruch Espinosa (1633-77), o judeu português de Amesterdão foi excomungado há 350 anos por acreditar na razão e não na revelação. Tinha então 23 anos.  Segundo Rebecca Goldstein, sua biógrafa[1], Espinosa proclamou que:

 É assim que podemos imaginar quanto mal fez a Portugal esse radical fundamentalista que foi D. Tomás de Torquemada e seus sucessores

  • Nenhum grupo religioso tem o direito de reclamar a infalibilidade e tornar-se intolerante.
  • A preocupação da infalibilidade decorre  do desejo humano de auto engrandecimento. A infalibilidade é projectada por forma a favorecer as circunstâncias do nascimento próprio.
  • Isto é errado porque o respeito e consideração que cada um merece é inerente à sua condição humana e não resulta de revelação divina.
  • Os que seguem exclusivamente a religião tornam-se sectários enquanto  aqueles que recorrem à razão formam uma só nação.
  • Todos fomos dotados de capacidade racional; renunciar ao uso dessa faculdade e submeter-se ao pensamento alheio  não é ético nem  humano.
  • Democracia é a forma superior de governo. O Estado tem por função ajudar cada um a manter e a sua vida e o seu bem estar. Só um tal Estado tem o direito de exigir sacrifícios individuais. (Princípio da legitimidade)
  • No Estado não deve adoptar a  cultura de qualquer grupo social, sob o risco de afogar a dos restantes.  É útil à sociedade que  cada grupo ainda que minoritário mantenha e desenvolva a sua cultura própria. [Princípio das minorias criativas].

(Estas ideias viriam a encontrar eco na Constituição dos EUA. Ainda que Tomás Jefferson não refira  Espinosa, ele seguia Locke que por sua vez se inspirou em Espinosa)  

  • Erro de Espinosa: - para ele, a certeza resulta da conformidade com princípios estabelecidos. Exclui portanto o empirismo.
Estoril, Julho de 2006
Luís Soares de Oliveira
Embaixador

[1] Rebecca Goldstein. “Betraying Spinoza” Random House, 2006.

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