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A bem da Nação

UM ACTO DE CIDADANIA ACTIVA...

 

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...NUMA SOCIEDADE QUE TEIMA EM NÃO ACORDAR

 

Coloco aqui o link do Livro que recomendo “EU E OS POLÍTICOS” (O livro proibido) de José António Saraiva.

 

Não leiam porque para muitos poderia tornar-se doloroso acordar; é um livro só para quem tem a coragem de se querer tornar consciente da situação que criamos e confirmamos. Certamente já conhecem a sensação que se tem ao regressar-se de um arraial; não leiam o livro para não terem essa sensação e poderem continuar a aplaudir o bailado dos dançarinos da política e a ter a consolação de sentirem o ritmo de uma política que se repete e até parece proveitosa na medida em que proporciona queixumes esporádicos que se tornam no tubo de escape das frustrações pessoais.

 

“EU E OS POLÍTICOS” é um livro que mostra

o lamaçal da política portuguesa.

 

Numa dança de Fantoches e Zés Pereiras, de anjos com coração de lobo, para este jardim infantil social que persiste em caminhar sem ver, tudo corre, tudo se repete e tudo passa ao ritmo da hipocrisia ateada que leva a esquecer e a condenar quem é crítico e se encontra mais perto da verdade e da população. Por isso há muitos interessados em fazer calar Saraiva.

 

José António Saraiva é um exemplo de cidadão a tentar contrariar a cidadania passiva que se tornou democraticamente cúmplice com a corrupção instalada no Estado e é tecida e cuidada por grande parte das nossas elites da bancarrota económica e cultural da nossa república.

 

Seria desejar demais, num país de “brandos costumes”, considerar este livro mais que uma pedrada no “charco da política nacional”. Desmascarar a fantochada feriria o cerne da República portuguesa e arranharia o próprio rosto, numa população que teima em viver só da imagem que tem dele. De certo modo Saraiva torna-se incómodo também para aqueles que defende porque, de cérebro bem lavado, não quer que se desmanchem prazeres numa vida para inglês ver.

 

Digite ou clique aqui:

 

file:///C:/Users/Antonio/AppData/Local/Microsoft/Windows/INetCache/

Content.Outlook/RKW633O7/Eu_Politicos_Final.pdf

 

Mais uma onda que passará sem fazer mover a nau de uma certa pseudoelite? Quem vive no Olimpo ri-se de algum Prometeu que será castigado por defender o humano!

 

Boa leitura!

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António da Cunha Duarte Justo

MÁRIO DRAGHI EM BELÉM

  

Draghi em Belém.jpg

 

Antes de Mário Draghi ter vindo a Lisboa participar no primeiro Conselho de Estado da era Marcelo, pouco se ouviu sobre a ideia. Mas, logo depois do Presidente do Banco Central Europeu ter apanhado o avião de regresso, as críticas surgiram em catadupa.

 

Do PS, através do deputado Ascenso Simões, mas principalmente do Bloco e do seu eterno guru intelectual, Francisco Louçã.

 

Entre o antes e o depois, porém, há uma pergunta que convém fazer: alguém estava à espera que Draghi dissesse uma coisa diferente do que disse em relação ao Governo actual e ao anterior?

 

Ora imagine-se que o convidado seria Iannis Varoufakis: alguém imaginaria um discurso diferente do que tem feito contra a “austeridade” por essa Europa a fora?

 

Registada a evidência, o que importa é determinar a razão que levou o novo Presidente a convidar Draghi para falar aos conselheiros. E aí só há uma resposta óbvia: Marcelo quer manter na agenda política a pressão das autoridades europeias sobre a política financeira do Governo.

 

Na sua versão de “Marcelo paz e amor”, o Presidente não está disposto a rasgar o ecumenismo nem a tirar o capacete azul da ONU com que iniciou o seu mandato.

 

Mas alguém por ele há-de vir a cena dizer o que o ardente desejo de mudança dos portugueses e a monumental capacidade do Governo em construir narrativas não deixam dizer: que Portugal permanece numa situação frágil, que numa mudança de Governo não é boa ideia deitar fora o bebé com a água do banho e que o país tem de estar preparado para aceitar eventuais medidas difíceis.

 

Era isso que o Presidente queria que se dissesse e ouvisse. E Draghi fez-lhe o jeito com naturalidade e satisfação.

 

10/04/2016

 

Manuel Carvalho

 

E DEPOIS DA GERINGONÇA?

 

GERINGONÇA

 

Vários cronistas, sobretudo de esquerda, escreveram e disseram que Pedro Passos Coelho não deveria ter-se recandidatado à liderança do PSD após a “derrota” de 4 de Outubro - e apontam o exemplo de Paulo Portas, que se afastou do CDS.

 

Esta opinião enferma de dois problemas.

 

Em primeiro lugar, não é desinteressada.

 

Quando pessoas de esquerda dizem que Passos Coelho deveria sair, é obviamente porque acham que isso fragilizaria o seu partido.

 

O interesse dessas pessoas não é com certeza que o PSD se fortaleça…

 

E assim, os apelos à saída de Passos acabaram por beneficiá-lo – pois ninguém no seu juízo perfeito segue os conselhos dos adversários.

 

Em segundo lugar, Passos Coelho não ‘perdeu’ as eleições legislativas: ganhou-as.

 

Foi mesmo um dos raros líderes em todo o mundo que venceram eleições depois de terem prosseguido duras políticas de austeridade.

 

Argumenta-se que a maioria dos eleitores votou ‘contra’ a coligação PSD-CDS.

 

Ora, isso não é verdade.

 

Nas eleições legislativas não se vota ‘contra’ isto ou aquilo - vota-se ‘a favor’ disto ou daquilo.

 

Nos referendos é que se vota ‘sim’ ou ‘não’.

 

Nas legislativas, o princípio é outro: vota-se em partidos políticos e em programas – e, de caminho, no líder partidário que se deseja para primeiro-ministro.

 

Ora, em nenhum desses planos a direita perdeu: a força política vencedora foi a PàF, o partido que conquistou mais deputados foi o PSD e o líder com mais votos foi Passos Coelho.

 

Dizer uma coisa diferente é abusivo e pouco sério.

 

A afirmação de que das eleições saiu uma maioria de esquerda também não é verdadeira.

 

O que se diria, por exemplo, se o PS se tivesse aliado ao PSD e fizesse um bloco central?

 

Dir-se-ia, com toda a legitimidade, que o centro ganhou as eleições…

 

E até teria uma percentagem bem maior do que a actual ‘maioria de esquerda’.

 

A artimanha de dizer que a esquerda ganhou foi inventada para permitir a António Costa ser primeiro-ministro e permitir ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista ganharem influência governativa.

 

Num bloco central, António Costa não seria primeiro-ministro (seria Passos Coelho) e o PCP e o BE seriam perfeitamente irrelevantes.

 

Argumentam, finalmente, os comentadores ligados à esquerda que esta coligação vai durar quatro anos, até porque convém aos três partidos que a sustentam.

 

Isso é parcialmente verdade.

 

Enquanto as questões forem políticas, a coligação irá tapando os buracos e fugindo para a frente, como tem vindo a fazer.

 

Só que o principal problema desta maioria não é a política - é o Orçamento.

 

Quando passarmos do terreno das palavras para o terreno dos números, a habilidade política já não valerá de nada.

 

Quando se começar a perceber que o Orçamento não é cumprível – e Bruxelas já o percebeu –, quando os parceiros europeus apertarem ainda mais o cerco, quando os parafusos da geringonça começarem todos a ranger, não haverá artifícios que valham.

 

Repito: o Governo não cairá por razões políticas mas por razões económicas e financeiras.

 

E, quando a geringonça se desconjuntar, o poder acabará no colo de Passos Coelho.

 

É por isso que a esquerda o quer afastar.

 

A esquerda sabe que, pela imagem de responsabilidade que construiu, Passos Coelho é o líder mais bem posicionado para suceder a este desvario esquerdista.

 

A sua simples presença paira como um fantasma sobre o Governo.

 

Olha-se para ele e parece que ainda está ali o primeiro-ministro.

 

E depois, se ganhou as eleições com quase 39% após quatro anos de austeridade, que percentagem terá se este Governo cair prematuramente?

 

Dificilmente deixará de ter maioria absoluta.

 

Até porque, nessa altura, estará provado que a ‘alternativa’ à política que vinha a ser seguida por ele era uma miragem.

 

Julgo que o grande problema de Passos Coelho não será, pois, voltar a S. Bento - mas sim o que fazer para remediar os estragos feitos por esta maioria desconexa.

 

António Costa tem vindo a destruir tudo o que o Governo de Passos Coelho fez.

 

Até mete dó.

 

Como os talibãs, a maioria de esquerda, depois de tomar o poder, começou a derrubar implacavelmente o que estava feito, não deixando pedra sobre pedra.

 

Ora, quando voltar a ser primeiro-ministro, Passos Coelho terá o mesmo comportamento?

 

Espero que não.

 

Espero que tenha uma atitude mais civilizada.

 

Portugal não pode estar sempre, desgraçadamente, a voltar ao princípio.

 

Portugal tem de definir um rumo e segui-lo com firmeza.

  • A palavra ‘geringonça’, usada por Vasco Pulido Valente (e popularizada por Paulo Portas) para designar esta solução de Governo, já era usada no século XIX, embora o sentido não fosse bem o mesmo. Escrevia Ramalho Ortigão, n’As Farpas, em Janeiro de 1874: “Esta retórica trôpega, relaxada e senil dos deputados, não podendo criar uma língua forte e digna, deu o ser a um estilo especial de malandragem política, fez a gíria constitucional, a geringonça parlamentar, o calão burguês”.

 

14/03/2016

 

José Antonio Saraiva.jpg

 José António Saraiva

Observador

O CERTO É QUE ESTAMOS ALIVIADOS

 

Pensar que o Orçamento passou em Bruxelas dá-nos uma sensação de beatitude por nos “encontrarmos” já a “virar a página da austeridade”, mesmo que, como manda o ministro, tenhamos que andar de transportes públicos o que não é desdouro, os comboios permitindo pôr leituras em dia. (Velhos tempos aprazíveis, esses em que o trabalho longe de casa me fazia apanhar o comboio da linha, o que era prático e de recurso para um assentar de noções de última hora, que as tarefas caseiras impediam tantas vezes de aprofundar. Doutras vezes, só o olhar pela vidraça deleitava, vendo o mar ou o rio ou os monumentos e os sítios aparentemente deslizando em sentido contrário). Mas não deixa de ser curiosa a similitude de comentários na questão dos “aconselhamentos” ao povo impaciente, de Passos Coelho e de António Costa, o primeiro aconselhando a partir para o estrangeiro, em busca de solução momentânea das dificuldades, o segundo aconselhando os transportes públicos na questão do encarecimento da gasolina. Mas a Costa, os parceiros da amizade perdoarão as descargas impacientes, a “boutade” de Passos ficará para sempre gravada nas suas ironias, sem se lembrarem de que a emigração foi sempre recurso nosso, pelos mais variados motivos, e não necessariamente “a salto” nem com mala de cartão.

 

O certo é que o Orçamento passou e a Oposição deve ficar contente por isso, sem guerra de palavras. No fundo, do que o país precisa mesmo é de gente que trabalhe, com inteligência e aplicação, embora as mudanças que o Ministério da Educação prepara para a escola, me pareçam novo fogo de vistas para massacrar os alunos e torná-los cada vez mais apanhados pela carruagem do tempo, sem pausas para curtirem a sua mocidade. Refiro-me a nova carga horária que se propõe para os alunos do nono ano, prolongando-lhes o tempo de escola, embora facultativamente.

 

Mas é o artigo de João Miguel Tavares que transcrevo, bastante justo, sem muita esperança na extinção da tal austeridade, TINA e TINinhA aparentadas nas mesmas exigências que, se faziam acusar do governo anterior de servilismo à UE, pelos peritos da esquerda, não deixarão de lhes merecer o mesmo apodo, a serem justos, pois que a arrogância inicial à Varoufakis de Costa e Cia. não pode deixar de descambar em obediência à Tsipras.

Berta Brás.jpgBerta Brás

 

A TINA e a TINinhA

João Miguel Tavares.jpgJoão Miguel Tavares

Público, 09/02/2016

 

Há um famoso paradoxo filosófico que se pode formular assim: se eu substituir a lâmina de uma faca, e de seguida o seu cabo, ela ainda é a mesma faca? Numa perspectiva ontológica, a questão não é simples. Mas numa perspectiva meramente utilitária, o que interessa é haver faca e ela continuar a cortar.

 

O orçamento de Estado do actual governo é como a faca do paradoxo: um orçamento que entrou em Bruxelas disposto a “virar a página da austeridade” e saiu com mil milhões de euros de austeridade em cima ainda pode ser considerado o mesmo orçamento? A resposta ontológica é “não”. Se compararmos o programa original de grupo de trabalho de Mário Centeno e o Frankenstein orçamental que ele se viu obrigado a defender (com evidentes dificuldades) na sexta-feira, só mesmo com testes genéticos aprofundadíssimos será possível encontrar vestígios de um pai comum. Mais. Quando António Costa afirma que, “ao contrário do que muitos desejavam, a Comissão Europeia não chumbou o primeiro orçamento do governo”, importa repor a verdade: ai chumbou, chumbou. O esboço do primeiro orçamento foi chumbadíssimo. Aquilo que a Comissão não chumbou foi a última versão desse orçamento, carregadíssima de impostos e com as metas revistas, que já pouco tinha a ver com o original.

 

Mas tudo isto interessa muito pouco a António Costa – afinal, ele é o rei do pragmatismo. Desde que se continue a chamar “orçamento” e passe em Bruxelas e em São Bento, por ele está tudo bem. Evidentemente, não é um “tudo bem” sério, como se verificou nas suas declarações de sábado, ao ser confrontado com o aumento colossal de impostos indirectos nos combustíveis e no tabaco. Nesse momento, a demagogia de Costa elevou-se à estratosfera, ao aconselhar os portugueses a “fumar menos” e a “usar transportes públicos”. O que ele se esqueceu de acrescentar é que se os portugueses começarem a fumar muito menos e a usar muito mais transportes públicos, então as receitas destes impostos caem a pique e o governo tem de encontrar medidas alternativas para compensar a queda na receita.

 

Oh, sim, António Costa virou a página da austeridade – só que na página seguinte encontrou a mesma austeridade de que se prometeu livrar. Enfim, não é bem a mesma austeridade. A austeridade da direita era feita de impostos directos. A austeridade da esquerda privilegia os indirectos. Não é já a TINA – é a irmã gémea, a TINinhA.

 

Mas agora vêm as boas notícias: se o novo orçamento tem tudo para correr mal em termos económicos, dada a manifesta ausência de uma perspectiva de futuro e de um caminho sustentável para as finanças públicas, a sua aprovação em Bruxelas, ainda que com reservas, é uma boa notícia política. A ninguém aproveitava uma crise neste momento. Se o regoverno de António Costa conseguiu instalar-se, há que o deixar regovernar. A frente de esquerda tem de poder praticar todas as suas espectaculares políticas de crescimento e tem de lhe ser dado tempo para elas falharem (mais uma vez). Ora, este orçamento é suficientemente mau para que todos percebam onde essas políticas nos levam (mais uma vez); mas não suficientemente mau, graças à intervenção da Comissão Europeia, para obrigar a um novo resgate em 2018. Nesse sentido, não vale a pena dramatizar, porque poderia ter sido bem pior – bastaria Bruxelas ter engolido a matemática à portuguesa. Como não engoliu, o regoverno merece agora uma folga, para poder namorar com a TINinhA.

UM PAÍS DE BRINCADEIRA

 

Mais um texto que desejo guardar, de alguém do meu país que admiro na sua escrita desassombrada, inteligente, descodificadora das realidades sociais, sociólogo inventariador dos muitos casos que aqui e além são denunciadores de incompetência, trafulhice, vaidade, parolice, hipocrisia, atrevimento específico de ignorância, falsa bondade, pedantismo vazio e insensato, embora destruidor da ordem, como pretendem e se admite, em actuação de demagogia a que se pode conceder a designação de ditadura do proletariado.

 

Alberto Gonçalves aí está, inteiro, no orgulho de quem paira muito acima da mediocridade de um país de mândria, subserviência e atraso. Foi o caso da conferência de um Varoufakis convidado – pela esquerda que empunha actualmente a faca e o queijo – para vir cá mostrar como se faz para desorganizar a Europa, proeza de que os senhores e senhoras da esquerda de cá também se consideraram capazes, apesar dos nulos êxitos de Varoufakis no capítulo, mas que o alcandoraram a uma determinada proeminência, de efémera expressão, é certo, e mais para os costumeiros babados pelos êxitos da moda. Alberto Gonçalves o desmistifica na sua arrogância, vaidade e tolice, tal como caricatura actuações de António Costa, de foro familiar ou confessional, o que para mim é o menos simpático da sua crónica. Mas as referências a uma Catarina Martins decidindo sobre redução de exames, no facilitismo abjecto de quem se está nas tintas para um desenvolvimento cultural necessário a um país ainda hoje na cauda e que mais aí continuará, com estes exemplares de opróbrio, a quem se entregam os destinos de uma pobre nação, são por demais justas, num país de brincalhões.

 

Berta Brás.jpg Berta Brás

 

Caras-de-pau

Alberto Gonçalves.jpgAlberto Gonçalves

DN, 6/12/15

 

Varoufakis.jpg

 

Mal chegou ao poder, a entretanto falecida esperança do terceiro-mundismo europeu, o Sr. Varoufakis, tomou medidas imediatas: uma entrevista, com esposa, varanda e saladas, à Paris Match. Decerto pela predominância de fotografias em detrimento do texto, foi das ocasiões em que proferiu menos disparates.

 

Por cá, talvez porque os disparates que emite estão em dialecto só vagamente próximo do português, talvez porque o peso da periferia seja maior em Lisboa do que em Atenas, o Dr. Costa teve de contentar-se com o que havia. Por um lado, não havia interesse da Paris Match, da Burda Moden e do suplemento desportivo do The Guardian. Por outro, os media indígenas têm censurado inexplicavelmente o Dr. Costa, vergonha manifesta na escassa cobertura das respectivas gafes, perdão, intervenções. Embora não veja "telejornais", garantiram-me que, para citar caso recente, as atoardas, perdão, os assertivos bitaites do Dr. Costa acerca da Turquia e da NATO não foram destacados em nenhum. Sobrava a imprensa da especialidade, leia-se a especialidade do Dr. Costa, leia-se a Caras, na qual a espécie de chefe desta espécie de governo apresentou a família a uma nação ansiosa.

 

Valeu a pena esperar. Ao exibir Fernanda (esposa), Pedro e Catarina (filhos), o "marido atento" e o "pai carinhoso" mostrou a "faceta privada", precisamente aquela que as pessoas costumam escarrapachar nas páginas das revistas populares. Pirosice sem limites? Nada disso. Visto que o Dr. Costa é dado a tropeçar nas sílabas e na verdade, além de "extremamente inteligente" (palavras de Fernanda), aproveitou uma entrevista em princípio superficial para permitir à cônjuge revelar em código a visão que ele possui da realidade, o seu método de acção política e os truques a que recorre a fim de alcançar qualquer coisa similar a uma carreira.

 

Ficámos por exemplo a saber que o Dr. Costa "não constrói projectos sozinho" e que "os outros estão sempre na sua cabeça" (tradução: derrotado nas "legislativas", o Dr. Costa ouve vozes - as dos leninistas que lhe puxam os fios). E que "quando os miúdos eram pequenos, precisávamos de ir jantar fora uma vez por semana para falarmos" (tradução: os encontros secretos, as conversas em recato e os acordos conspirados à socapa são passatempos antigos). E que o Dr. Costa "está sempre a enviar-nos SMS" (tradução: os jornalistas insolentes que se cuidem). E que, a propósito dos filhos adultos, o Dr. Costa acha difícil "largar os pintainhos" e "deixá-los voar" (tradução: à conta de impostos, "investimento", falências, favoritismos, habilidades, excentricidades, proibições e silêncios forçados, este Portugal com tiques venezuelanos não irá longe). E que o Dr. Costa "gosta muito de cozinhar, mas falta-lhe começar a arrumar a cozinha" (tradução: após instaurar o pandemónio, é melhor que alguém venha pagar a despesa).

 

Não admira que o Dr. Costa "procure sempre ouvir a Fernanda" sobre as "questões fundamentais". Nós também tivemos de o fazer para confirmar as piores suspeitas: com a família resignada à necessidade de espalhar o "bem comum", o novo emprego do Dr. Costa é "uma aventura", ainda assim irrisória se comparada com a nossa. Acrescente-se, a título ilustrativo da lisura de processos, que a casa (o "refúgio") onde o agregado recebeu o fotógrafo da Caras é um palacete alheio, que Sua Excelência ocupou com a mesma jovialidade com que penetrou o de São Bento.

 

Quinta-feira, 6 de Dezembro

Rir da desgraça própria

 

Já é lendária a meta de Catarina Martins para o ensino básico: providenciar "as bases de que se faz o conhecimento todo", o que é uma ambição nobre e típica de quem não tem conhecimento nenhum. Em vez de um lugar de esforço, disciplina e exigência, a escola deve ser um espaço de felicidade (cito, juro que cito), onde as crianças crescem a rir dos Monty Python, do Blackadder e de Ricardo Araújo Pereira até, como será inevitável, chegarem a físicos, historiadores, filósofos e cirurgiões de renome. Isto enquanto irrompem às gargalhadas a cada degrau na escada da Sabedoria.

 

Não conheço em pormenor o percurso do estudante Pedro Passos Coelho. Mas, a julgar pela galhofa que dedicou à estreia parlamentar de Mário Centeno, a sua capacidade de ser feliz não foi maculada por exames da quarta classe. Também é verdade que o Dr. Centeno ajuda. O homem é engraçado quando repete os argumentos da "direita" acerca do Novo Banco. O homem é engraçado quando, à revelia das maravilhosas promessas socialistas, não consegue esboçar a sombra de uma fundamentação plausível. Sobretudo o homem tem graça quando é confrontado pelo deputado Miguel Morgado com os próprios trabalhos académicos, em particular um em que afirmava as consequências negativas do aumento do salário mínimo na criação e manutenção de empregos: "Não tente transpor conclusões de artigos científicos para a legislação nacional, porque se tentar fazer isso é um passo para o desastre."

 

Numa singela frase, o ministro das Finanças (desculpem, que isto é igualmente cómico) demoliu a sua coluna vertebral, a sua competência técnica e a seriedade das instituições que lhe dão guarida, a começar pela actual. E, ao contrário do que por acaso (?) lhe é habitual, o Dr. Centeno disse isto sem se rir. Era impossível que Pedro Passos Coelho e a metade do país imune aos encantos da Frente Popular não o fizessem. Dado o que nos espera, trata-se, claro, de um riso nervoso.

ELA NÃO VAI DESISTIR

 

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Parece que Marisa Martins andou na campanha a estender abraços e promessas de auxílio, pois no seu discurso triunfal de ganhadora relativamente aos do PC e mais uns tantos, incluindo a frágil Maria de Belém e o Tino de Rans, explicou que estas eleições serviram para o borbulhar ruidoso de uma nova feição no nosso mundo político, que vai repor, por seu intermédio, respeito humano, especialmente socorrendo os desrespeitados. E o povo da campanha, olha-a com devoção, rapariga modesta e bem bonitinha, ao nosso modo, que inclui inocência e muita simpatia, tal como a Joaninha do Garrett, ajudando a avó cega a enovelar os novelos, e mantendo o culto pelo primo Carlos, que pelas minhas contas até seria mais novo do que ela, mas que Garrett no reencontro dos dois aquando da guerra civil, atribui mais quinze anos, baralhando romanticamente os dados, para o fazer apaixonar-se pela prima, mulherengo que era e sentimentalão – refiro-me a Carlos, não a Garrett, embora este também não lhe ficasse atrás em propensão sentimental. Marisa Martins, uma nova “menina dos rouxinóis”, na bondade e no poder de sedução, que tudo promete, mesmo sabendo que o nosso tudo é nada, que temos de saber gerir, pois não nos pertence, mas isso mal lhe importa, amiga de refazer os novelos das avós ceguinhas do muito chorar.

 

Contrariamente à Joaninha, todavia, embora esta também tivesse tratado as tropas feridas, na casa da tal janela de que se enamorou Garrett na viagem a Santarém, Marisa é uma jovem valente, que não tendo olhos verdes, julgo, como tinha a menina pura do Garrett, leu a Constituição e fixou os direitos do povo e daí ninguém a tira, promete actuar, pois ficou por cima do PC em votos. E do Tino de Rans. Marcelo só terá, pois, que se precaver. Aliás, ele parece disposto a bem trabalhar com o Governo de Costa, que me pareceu satisfeito com a vitória de Marcelo, pois no seu discurso de felicitações ao novo presidente, o PM Costa pronunciou que “só no quadro democrático é que se encontram respostas para as necessidades”, vê-se que já aprendeu que os não democráticos e apenas demagogos com que formou governo são ossos bem duros de roer e Marcelo parece ser um elemento conciliador.

 

Quem não acredita em milagres é Vasco Pulido Valente, qualquer que seja o Presidente eleito. Mas pode ser que Marisa lá chegue, doce que é, e deixando antever, pois não vai desistir embora Tino de Rans também não, tal como a pulga saltitante "amestrada" pelo clown Chaplin nas suas Luzes da Ribalta, as nossas luzes.

 

Berta Brás.jpgBerta Brás

 

Desgraças

Vasco Pulido Valente.png Vasco Pulido Valente

15/01/2016 - 00:05

 

Dia e noite a televisão e os jornais discutem a “ideologia” e o “posicionamento” dos candidatos presidenciais. É uma conversa fátua que despreza a realidade e obscurece a verdadeira situação do país. O futuro Presidente não contará muito na política do país. Se for uma das nove personagens da esquerda, não terá outro remédio senão seguir e apoiar o governo de Costa. Se for Marcelo, também não. Nenhum Presidente pode correr o risco de dissolver a Assembleia da República, sem a certeza de que o eleitorado lhe devolverá uma nova maioria. Marcelo não promete ajudar o inominável Costa porque gosta especialmente da criatura, mas porque se o mandasse embora ele voltaria uns meses depois mais sólido e mais forte; e Belém perderia toda a espécie de autoridade no regime e no país.

 

Marcelo precisa portanto para sobreviver de se dar bem com Costa. A direita, como de costume, não percebeu isto. Tirando Paulo Portas, que não só saiu da direcção do CDS, mas sibilinamente explicou aos restos da coligação a razão fundamental que o movia. Disse ele que para recuperar o poder a direita precisava de uma maioria absoluta, repito, absoluta. As manobras de Costa, que ofereceram de repente ao PC e ao Bloco meios de acção e de influência, dividiram Portugal ao meio; e numa época de crise, com a memória recente de Passos Coelho, a esquerda ganharia qualquer eleição contra o regresso da “austeridade”. Resta assim à direita esperar que o arranjo de Costa se dissolva por si próprio e, se conseguir, enquanto espera fazer uma tentativa para se reorganizar mental e materialmente.

 

De qualquer maneira, as coisas não serão fáceis, nem Marcelo estará em posição de ajudar. Qualquer gesto de Marcelo a favor do CDS e do PSD passaria inevitavelmente por uma intolerável provocação ao governo de Costa e dos seus sócios. E, por outro lado, a ambiguidade interna da direita, agora dividida e desorientada, e o desprestígio geral dos partidos tradicionais não prometem nada de bom. As queixas dos jornais da facção, com títulos berrantes, não transmitem uma sensação de força, muito pelo contrário, transmitem uma sensação de impotência. As “presidenciais” têm escondido o estado lamentável da direita, sob a capa da popularidade de Marcelo, mas quem olhar bem verá o apodrecimento e o desespero de metade de Portugal, temporariamente preso num beco sem saída.

 

L’HOMME DE LONDRES

 

Um artigo assustador que nos revela quão longe andamos de nos apercebermos do que está a ser forjado no nosso mundo, vulcão prestes a explodir, escórias bombásticas saídas das entranhas incandescentes desta Terra tão igual nos homens como nas coisas. As coisas que parece correrem banais, toscas, iguais na sucessão dos dias, no seu déjà vu de similitudes, com, afinal, o imprevisível desviando repentinamente o ritmo, causando a devastação ou a mudança. A história do «Homem de Londres» de Simenon é exemplo destes acasos que desviam o ritmo da rotina, mas lembro igualmente “l’Étranger”, de Camus e afinal qualquer outra história, todas as histórias, com um começo para um fim dramático.

 

L'homme de Londres, Simenon.jpg

 

Em Dieppe, à chegada de um barco de Londres, o faroleiro Maloin assiste, do seu farol, a um crime: Brown, o homem de Londres, chegado no barco, com um companheiro de assalto a um ricaço, reivindica a sua parte do dinheiro que o outro traz na mala, e, na luta, o homem assassinado cai no mar arrastando a mala. Maloin consegue, secretamente, recuperar a mala e a sua vida muda a partir daí. A embriaguez do dinheiro, juntamente com a consciência de que Brown desconfia de si, transformam a sua maneira de ser apagada, sem ambições até aí, porque apenas enfronhada nas dificuldades da vida, numa figura fechada e rancorosa, de repente desejosa de sobressair, de ser rica como os outros e exibir o poder que poderá demonstrar, utilizando o dinheiro da mala. Ainda dá provas disso, comprando um rico cachimbo para si e vestes para a família, especialmente a filha, que liberta de um emprego onde é explorada, o que naturalmente provoca zanga na mulher. Mas a consciência não o deixa tranquilo, a filha descobre um homem enfiado numa barraca que ele construíra para guardar os seus apetrechos de pesca e ele calcula que o homem seja Brown, fugido à polícia, que o dono do dinheiro mobilizara. Maloin sabe que o homem que a filha fechara, poderá morrer de fome, leva-lhe comida e chama-o, mas a insistência do homem em não responder retém-no no sítio, até que é atacado por Brown. Ao defender-se, provoca-lhe a morte. Mais “une tempête sous un crâne”, não, desta vez, no de Jean Valjean, mas no de Louis Maloin. Maloin decide entregar-se à polícia, o mundo de visões e de reflexões que dele se apoderara, desde aquele dia em que, tendo assistido a um crime, nele participou pescando a mala poderosa do dinheiro roubado, o que lhe modificara a rotina e o comportamento, essas reflexões descambando numa decisão brutal de libertação do pesadelo - agulha de lava furando a cratera vulcânica - sem atender a quaisquer outros parâmetros de reflexão e atenuação do seu crime.

 

Tal estamos nós no nosso viver de pequenez envolta em remedeios, com discussões de permeio, em representações teatrais com Tinos de Rans pelo meio, sem nos darmos conta do que se passa à nossa porta, prestes a explodir. Mas Vasco Pulido Valente adverte, com a sabedoria de sempre, que deveríamos escutar.

Berta Brás.jpgBerta Brás

 

À nossa porta

Vasco Pulido Valente.pngVasco Pulido Valente

 

Público, 17/01/2016

 

As fronteiras do Médio Oriente foram impostas, como toda a gente sabe, pelo acordo Sykes-Picot no fim da I Guerra Mundial e tentavam equilibrar as pretensões da Inglaterra e da França. As fronteiras da África do Norte são a consequência de uma guerra de conquista, que começou em meados do século XIX com o último rei de França, Luís Filipe, e em que pouco a pouco se envolveram a Inglaterra, a Itália e mesmo a Alemanha de Guilherme II. Nenhuma destas divisões e redivisões considerou a religião ou a afinidade tribal da gente que ia dispersando pelo mundo a régua e a esquadro, como se ela não valesse mais do que peças sem valor num jogo que não podia de toda a evidência jogar. As coisas correram bem até à guerra contra Hitler e à emergência do petróleo como a principal fonte de energia do Ocidente.

 

 

Dali em diante as grandes potências tiveram de evacuar, a bem ou mal, o Médio Oriente e a África do Norte e deixaram para trás países sem qualquer espécie de viabilidade como o Iraque, ou a Líbia, geralmente governados por velhos funcionários do colonialismo ou por indígenas de confiança, que acabaram por ser submersos por uma civilização primitiva, dirigida pelo fanatismo e pela violência. Hoje o Médio Oriente é o campo livre para as guerras religiosas do islão e naturalmente as facções detestam a interferência do Ocidente em querelas para que o dito Ocidente não é chamado, que não percebe e que vem sempre perturbar com a sua superioridade económica e militar. Os terroristas de Nova Iorque, de Londres, de Copenhaga ou de Paris querem ficar sozinhos para se exterminarem em paz.

 

Hoje as duas maiores potências regionais deslizaram para uma situação de guerra não declarada, mas que está em perigo de se tornar uma catástrofe para o Médio Oriente, para o Norte de África e para o mundo. Ora a Europa não tem meios para reagir a essa ameaça. Se o choque entre o Irão (xiita) e a Arábia (sunita) não for evitado, acabará por se estender da Turquia a Marrocos, e provavelmente à Índia e à Ásia central, e não existe força alguma capaz de o sufocar ou reter. Em Portugal, a preocupação com o governo Costa e a campanha presidencial não permitem a menor consciência dos riscos que hoje dia a dia corremos. Mas, consciente ou inconscientemente, sofreremos como o resto da Europa as consequências do conflito que vai crescendo à nossa porta.

 

ABAIXO OS EXAMES!

 

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Dá prazer saber que neste país ainda há pessoas que se interessam pela Educação e acompanham os filhos em exigências de comportamento escolar que julgava de menor valia, desde que, numa tal revolução florida, o país silenciou, curvando docilmente o dorso perante a nova ordem que, na questão da metodologia para o Ensino aboliu exames e igualou competências com passagens administrativas que, se favoreceram a mândria, muito deve ter revoltado os alunos cumpridores, assim irmanados e desconsiderados. Era um tempo de reboliço, que, por alturas de 76, Ramalho Eanes conseguiu minorar. Mas o termo democracia ganhou terreno desde então e ainda não parou de avassalar os espíritos, pelo que a imposição de um ensino em modelo de camaradagem e afabilidade para poupar as susceptibilidades das criancinhas, que tornou os professores dóceis e os alunos arrogantes – (no estágio que fiz por essas alturas aprendi que os saberes dos alunos eram tão importantes como os dos professores, o que criou em mim, durante uns tempos, uma psicose de imperícia e inutilidade docente que, felizmente, consegui com o tempo ultrapassar) – o modelo da igualdade, fraternidade e liberdade, repito, foi-se insinuando com força crescente, no meio do laxismo, da indisciplina, do desinteresse progressivos pelo significado do saber.

 

As coisas foram-se compondo, escudadas por livros escolares progressivamente mais completos, com textos, imagens e exercícios de apoio, que deviam encantar os alunos, se a educação fosse um lema nas famílias e nas escolas, estas desautorizadas por normas vindas dos sucessivos ministérios sucedâneos à implantação dos cravos.

 

Mas chegámos novamente à reviravolta trazida pela constituição de um governo de igual tendência melindrosa e puritana desse governo dos cravos, embora sem cravos, agora, que a estação do ano não possibilitou. Novamente vêm à tona as frases do carinho pelas criancinhas cujas sensibilidades e tremores as televisões captam com desvelo, falando de nervos e interrogando sobre os traumas dos exames. E o primeiro ministro autodefinido, concorda que os estudos são supérfluos, e que os exames só servem para criar mártires nas criancinhas. Abaixo, pois, os exames, embora a candidata do Bloco da Esquerda, Marisa Matias, tenha explicado que a escola a ela ajudou muito, no tempo em que também guardava cabras, que não possibilitavam, todavia, um convívio de tão intensa projecção como aquele que a escola com as colegas de turma lhe facultou. É certo que não falou no que deveu aos mestres, mas por isso mesmo os seus recursos culturais primam pelo afecto das suas participações como candidata à presidência da república, na estrada, nos meios de transporte, em Coimbra, o que prova quanto é estimada, porque também estima, defendendo o direito dos pobres a subir na vida e os das criancinhas de não fazer exames, não sei se também para subir melhor, ou pelo menos mais rapidamente.

 

João Miguel Tavares parece aborrecido com a abolição dos exames e prova-o, denunciando desrespeitos. Com muita coragem, que admiro. Mas o tempo está para as Marisas, ex-guardadoras de rebanhos, que pretende conduzir o povo, agora. O que é muito da actualidade, convenhamos. Eu até tenho uma peçazinha de teatro – já falei nela, que as conversas são, muitas vezes, como as cerejas – em que uma ex-pastora também se transforma em condutora do seu povo. Chama-se “Exercício Escolar”, (a peça, não a pastora, com que terminam os meus “Cravos Roxos”), e termina assim, que se me perdoe a repetição, pois:

 

Coro do Partido

 

Neste país transformado

Por revolução de flores

Que aniquilou prepotências

E irmanou ricos e pobres

Trabalhadores e gestores  

Num ideal renovado

De comum realização,

Só se escuta o martelar

Dos malhos dos ferradores

Dos maços dos calceteiros

E os gritos dos operários

E os olés dos boieiros

E o chocalhar das ovelhas

E os protestos dos doutores

E os risos dos proletários

E os discursos partidários

E o gorjear dos cantores.

Pelas ruas transformadas

Em caminhos pedregosos

Onde as flores são espontâneas

E os frutos tão saborosos,

Brotam as almas mais cândidas

E os sentimentos mais soltos.

Eis a mensagem, senhores,

Da nossa festa das flores.

 (Assim fenece a farsa.)

 

É claro que hoje não penso tanto assim, visto que os calceteiros e os boieiros esmoreceram com o tempo, e já nem se apanha um simples desentupidor de canos, talvez vivendo do subsídio, ou, se for mais ambicioso, preparando-se para bem servir o país em cargos de mais relevo, o que é sempre prestigiante, como o Tino de Rans e mais uma catrefa de companheiros têm provado no nosso impasse eleitoral.

 

Mas é tempo, naturalmente, de ler o protesto de João Miguel Tavares contra as leis do bota-abaixo instituídas pelo governo da usurpação sobre as leis anteriores do partido ganhador. É claro que concordo com ele. E admiro o facto de, jovem como é, entenda ainda que a escola é um espaço de obrigação em função de uma formação ética e em função de uma vida futura que imporá obrigações e exigirá competências. O querer retirar à escola esse empenhamento formativo, de que os exames naturalmente fazem parte, como preparação para a vida, não passa de cinismo astuto e estulto do mundo adulto, o qual, no nosso país, ao que se tem visto, é certo, se apoia muito no nepotismo, ou, como me disse um dia o meu ex-colega do liceu, posteriormente filósofo, Fernando Gil, na «tiologia», designando o termo, naturalmente, o apoio nos tios, mais do que nas competências resultantes do saber.

Berta Brás.jpgBerta Brás

 

A palhaçada

João Miguel Tavares.jpgJoão Miguel Tavares

Público, 12/01/2016

 

Eu tenho quatro filhos, três deles em idade escolar. A Carolina tem 11 anos e está no 6.º ano. O Tomás tem nove e está no 4.º ano. O Gui tem sete e está no 2.º ano. Na passada sexta-feira, fiquei a saber que os meus dois filhos que iam ter exames daqui a cinco meses afinal não vão ter, e que o meu filho que não ia ter exames daqui a cinco meses afinal vai ter uma prova de aferição. A isto se chama uma colossal palhaçada.

 

Na SIC, Marques Mendes afirmou que fazer estas alterações a meio do ano lectivo era uma “falta de respeito por professores e directores de escolas”. Os professores e os directores de escolas que me perdoem: isto é, em primeiro lugar, uma absoluta falta de respeito para com os alunos e as suas famílias. E como o ministro da Educação deve perceber imenso de bioquímica, de oncologia e de como dar graxa à Fenprof, mas muito pouco do que significa gerir uma família e educar filhos, eu assumo a patriótica missão de o tentar esclarecer.

 

Numa família, explicamos às crianças que a escola é o seu trabalho, e que ele deve ser levado tão a sério quanto os pais levam o seu. Explicamos que a roupa, a comida e os brinquedos chegam sem qualquer esforço da parte deles, e que em troca os pais só pedem bom comportamento e empenho escolar. Explicamos que a mesma energia que é investida nos momentos de lazer é para ser aplicada nos momentos de trabalho. E ao explicarmos tudo isto, tentamos criar desde cedo uma cultura onde felicidade e exigência sejam actividades compatíveis (sim, Catarina Martins, é possível!). Um ano de exames e de fim de ciclo é sempre um ano diferente, e trabalha-se para isso durante nove meses. Para uma criança empenhada na escola, o ano lectivo que está a frequentar não é, como para um adulto licenciado, apenas um de entre 15 anos de estudo – é a vida dela, toda, inteira, naquele momento.

 

E essa vida planeia-se, desde o início do ano lectivo. Por incrível que possa parecer a Tiago Brandão Rodrigues e à frente de esquerda que nos governa, há pais que entendem que a educação que o Estado propõe aos seus filhos não é toda a educação que querem para eles. Os meus filhos frequentam a escola pública, mas fora dela estudam música e inglês, que têm avaliações próprias. Essas avaliações articulam-se com as da escola, e há opções que se tomam logo em Setembro em função dos exames de Maio. Mais: a escola tem também implicações profundas na vida de lazer das famílias. Há pais que viajam com os filhos, marcando férias com meses de antecedência – e para isso contam que o calendário escolar seja respeitado (a prova de aferição do oitavo ano acaba de ser marcada para a semana seguinte ao fim das aulas). Sim: há vida para além do Estado.

 

Reparem que deixo propositadamente de fora deste texto as vantagens dos exames de 4.º ou 6.º ano, o número de alterações às avaliações do ensino básico desde o ano 2000, a pressa e a opacidade com que esta nova revolução foi feita ou as inenarráveis contradições socialistas. O meu argumento é prévio a tudo isso – é sobre o profundo desrespeito que o Estado dedica aos seus cidadãos, tenham eles sete ou 77 anos. Invocar razões ideológicas para a direita preferir avaliar crianças no 4.º, 6.º e 9.º anos e a esquerda no 2.º, 5.º e 8.º é absolutamente patético. A única ideologia está no método: só mesmo quem acredita que o Estado é o alfa e o ómega da existência humana pode dispor da vida dos cidadãos com a vergonhosa leviandade que o ministério da Educação acaba de exibir.

A PÁTRIA DITOSA

 

O discurso cúmplice da esquerda, de total inversão de propostas e valores, cascando com ódio na direita, que acusa de responsável por todos os desmandos de lesa-pátria, (e, nesse pretexto, desfazendo grotescamente no candidato Marcelo), não sendo acompanhado por quaisquer asserções de racionalidade, mas por débeis palrações de demagogia falsamente generosa, sem assumpção de responsabilidade na destruição económica do país trazida pelos sindicatos com as suas propostas de greves ruinosas e outros frequentes desmandos, polarizou-se ultimamente no espectáculo inominável das candidaturas presidenciais. São vários os comentadores que deles traçam retratos pertinentes, que gostarei de gravar, como exemplos de seriedade, ironia, saber, ou mesmo “austera, apagada e vil tristeza”:

 

A passeata de Marcelo

João Miguel Tavares.jpgJoão Miguel Tavares

 

Público, 7/01/2016

 

Eu percebo a frustração dos adversários de Marcelo: pensavam que se tinham inscrito para uma corrida presidencial de primeiro mandato e estão a descobrir que entraram numa corrida de segundo. É como se os portugueses considerassem que Marcelo já exerceu o seu primeiro mandato e respectiva “magistratura de influência” aos domingos à noite na televisão, reservando-lhe o tratamento consensual que é próprio oferecer aos presidentes reeleitos. Não é uma má interpretação: entre Marcelo e Cavaco, há dúvidas legítimas sobre qual deles mais influenciou, nos últimos anos, o rumo do país. Resta-nos, portanto, aguardar pacientemente que seja entronizado em Belém, após uma passeata que só por hábito, fastio e simpatia podemos classificar como campanha eleitoral.

 

Por muito que lhe apontemos contradições, traições e avarias, não há volta a dar: Marcelo tem qualidades únicas e é difícil não gostar dele. Esteja de férias no iate de Ricardo Salgado ou a comer febras na Festa do Avante, é sempre o mesmo Marcelo, é sempre divertido, é sempre inteligente e é sempre genuinamente simpático. Se eu não quisesse votar em Marcelo, penso que a minha mão direita o faria por mim. A idade fez-lhe bem, a barba mefistofélica esfumou-se, ganhou ar de avô bonacheirão, e parece menos cínico e manobrista do que antigamente. Vamos ser optimistas e admitir que está mesmo menos cínico e manobrista do que antigamente – mais equilibrado, mais ponderado e menos dado à intriga. É certo que teve alguns comentários lamentáveis durante a queda do BES, mas Marcelo é como o Blob, uma massa gelatinosa que absorve tudo à sua volta.

 

A velha piada de Groucho Marx – “estes são os meus princípios, e se não gostarem… bom, eu tenho outros” – aplica-se na perfeição às opiniões de Marcelo: foi tão longa e tão marcante a sua carreira de comentador que sobre toda a gente ele já disse bem e mal, já elogiou e já criticou, e sobre cada assunto já disse tudo e o seu contrário. Foi curioso ouvir Marisa Matias afirmar no debate entre ambos: “Acho que é incompatível ter todas as posições.” Mas não se trata bem de ter todas as posições. Marcelo não tem todas as posições ao mesmo tempo – tem apenas uma de cada vez, e utiliza aquela que em cada momento lhe dá mais jeito.

 

E o que lhe deu mais jeito durante toda a campanha eleitoral foi uma postura que cruza o rigor mortis com a hiperactividade – o que só mostra o quanto consegue ser criativo. Marcelo anda há meses a fingir-se de morto, mas é um morto que fala muito, que não pára de aparecer, de debater. A forma que ele arranjou para não dizer nada é não se calar, é lutar pela igualdade das candidaturas, é disponibilizar-se para dezenas de debates, com todos os candidatos e, se necessário, com os seus animais domésticos. É uma deserção por excesso, até ao ponto de os debates se transformarem numa espécie de sarampo televisivo, que infecta todos os canais mas dos quais não temos qualquer interesse em nos aproximarmos.

 

A multiplicação de confrontos, conjugada com o prodígio de a sua candidatura ao centro ter, ainda assim, nove candidatos à esquerda, foi a estratégia perfeita. Eu ainda me dei ao trabalho de assistir ao debate a dez na Antena 1 e só faltou Marcelo levar um livro para se entreter entre intervenções. Mas está bem assim. Basta ver como PS, PSD e CDS desertaram destas eleições. Está toda a gente feliz por não se estar a passar nada, não é? Parabéns, senhor Presidente.

 

Segue a fantochada

Vasco Pulido Valente.pngVasco Pulido Valente

Público, 09/01/2016

 

A coisa mais curiosa desta eleição presidencial é que nenhum economista ou responsável pela economia ou pelas finanças concorreu. E nem sequer concorreu nenhum membro do governo desde Durão Barroso e Santana Lopes. Tudo se passa como se a loucura política que nos trouxe à crise e à miséria não tivesse existido, apagada da história por um zeloso velador da ortodoxia. A gente que opinava autoritariamente sobre a “austeridade” e anunciava uma receita infalível para a nossa “recuperação” tantas vezes se enganou que resolveu desistir. Agora, anda aí, cosida às paredes, e nos debates não se fala do estado lastimável de Portugal e a asneira ferve livremente. Este espectáculo de cobardia intelectual entristece e envergonha; e abriu caminho a uma inominável campanha.

 

Dos candidatos que realmente se apresentaram não há muito a dizer, se em boa verdade se deve dizer seja o que for:

Todos são “independentes”, mesmo o padre do PC que se dá ao luxo de uma ou outra discordância venial;

Todos, excepto Marcelo, querem “virar a página”, por outras palavras estabelecer o domínio da “esquerda”, que eles próprios não fazem ideia do que é e para o que serve;

Todos, se por acaso ganharem, querem ir abraçar e conviver com o povo, ou levar a rainha de Inglaterra à sopa dos pobres, ou “abrir” o palácio de Belém ao cidadão comum;

Todos juram que os portugueses são a maravilha fatal da nossa idade, como se pode ver por alguns laboratórios científicos e principalmente pelos jovens que trabalham no estrangeiro;

Todos nos garantem um futuro de consenso, estabilidade e alegria e todos se preparam para ajudar o bom António Costa, que nos salvou.

 

Fora a palração sem nexo dos debates, o que se discute, se alguma coisa se discute, é a personalidade e a vida de Marcelo Rebelo de Sousa, uma criatura interessante, mas que não merece dezenas de horas de televisão. Se alguém por aí chama a isto democracia, pode ter a certeza absoluta que está enganado. Isto é a espécie de fantochada com que as democracias normalmente morrem.

 

Sampaio da Nóvoa é Portugal

Alberto Gonçalves.jpgAlberto Gonçalves

DN, 10/1/16

 

Apesar de ser apoiada por Eanes, Soares e o outro Sampaio, a candidatura do professor doutor Sampaio da Nóvoa possui inegáveis virtudes. O candidato presidencial médio exibe, no máximo, uma ou duas "causas". O professor doutor Sampaio da Nóvoa, que evidentemente não compreende o cargo a que concorre, avança com vinte - as quais "podiam ser cinquenta ou cem", diz ele. Ou oitocentas e sessenta e duas, digo eu. Há "causas" para todos os gostos, da "Cidadania Sénior" à "Cultura", da "Juventude" às "Alterações Climáticas", da "Língua" à "União Europeia", da "Diáspora" ao "Mar". Faltam, que me lembre, o "Humanismo", a "Solidariedade", o "Sol" e as "Bicicletas".

 

Não faltam dois mandatários para cada "causa", um de cada sexo porque o professor doutor Sampaio da Nóvoa preza a "igualdade, a igualdade de género, todas as igualdades". Aqui, temos figuras de peso como a actriz Maria do Céu Guerra, a filha de Adriano Moreira, o pai da medicina António Arnaut, a romancista Lídia Jorge, a viúva Pilar del Río e o especialista em aeronáutica António Hífen Pedro Vasconcelos. Acima de todos, ou ao lado por conta das igualdades, temos a grande pianista Gabriela Canavilhas e o grande sindicalista Carvalho da Silva no papel de "coordenadores de causas", não fosse alguma "causa" extraviar-se na confusão.

 

Que mais querem? Dado que no próximo dia 26 tenciono levantar-me tarde, assistir a dois jogos do campeonato turco e dar literalmente banho aos cães, em princípio não poderei votar. Porém, nada me impede de recomendar o voto no professor doutor Sampaio da Nóvoa. Será um bom chefe de Estado? Fora de brincadeiras: será uma anedota sem precedentes (e os precedentes já não eram desprovidos de piada), mas não é isso que deve desmotivar os cidadãos a fintar as sondagens e consagrar o homem. Se a Constituição atribui ao presidente a função de representar a República, julgo que, na infeliz ausência de Fernando Nobre, poucos a representariam com a competência do professor doutor Sampaio da Nóvoa.

 

Embora as campanhas de quase todos os restantes candidatos sejam realizadas em nome do bom povo, é o professor doutor Sampaio da Nóvoa quem, se calhar sem querer, melhor personifica parte dele. Ele é o vazio das "ideias". Ele é a jactância dos simples. Ele é a superioridade moral erguida sobre ar morno. Ele é a infantilidade do discurso. Ele é o fervor dos beatos. Ele é a crença primitiva na magia do lirismo. Ele é o sentimentalismo vulgar. Ele é a redução da liberdade a uma palavra que se mastiga. Ele é o suave apelo da loucura. Ele é a parlapatice do feirante. Ele é a irresponsabilidade dos inimputáveis. Ele é a prosápia transformada em prestígio pelos pares. Ele é o radical desprezo pela noção de ridículo. Ele, o professor doutor Sampaio da Nóvoa, é não só certa esquerda: é também certo Portugal.

 

Ninguém, nem sequer o Sr. Vitorino de Rans, conduziria tão cabalmente o país ao destino que o espera. Se, conforme tudo indica, vamos a caminho de nos esborracharmos no chão, merecemos um timoneiro à altura.

 

Terça-feira, 5 de Janeiro

Pontes

O regresso dos feriados confiscados pelo governo anterior confirma aquilo de que já se desconfiava: o governo actual é bonzinho. Mas a medida também desvenda uma novidade, leia-se a religiosidade da Frente Popular. Uma coisa é a "reposição" de feriados patrióticos como a implantação da República e a restauração da independência (que António Costa, com a erudição que o distingue, julgava alusivo à fundação da nacionalidade). Coisa muito diferente é o resgate de datas como o Corpo de Deus e o Dia de Todos-os-Santos. Não se percebe que a esquerda que estrebucha face aos crucifixos remanescentes nas salas de aula, ou a um ministro que invoca o Belzebu para justificar as cheias em Albufeira, seja a exacta esquerda que cuida do conforto espiritual do povo devoto. Se calhar não é para perceber.

Certo é que meio mundo andou meses a jurar que António Costa é um exímio construtor de pontes. E tinha razão: em 2016 serão no mínimo três.

 

Sexta-feira, 8 de Janeiro

O prato do dia

 

Quem ridiculariza a escassez de propostas dos candidatos presidenciais não está atento a Maria de Belém. Mal chegue ao palácio homónimo, a dona de um currículo que talvez impressione os que o não leram quer iniciar "práticas diferentes" e "inaugurar um tipo de políticas". Quais? Ora essa: mostrar a realidade do país a chefes de Estado estrangeiros, levando-os a almoçar a lares de terceira idade. Para já, o convite não explicita o cenário do lanche, jantar e ceia. Mas abre a porta a práticas de facto inéditas. Não ficarei surpreendido se, a benefício da imersão na realidade portuguesa, a "presidenta" Maria levar os colegas em visita a esperarem o metro em dia de greve, a patrocinarem a falência de bancos, a pagarem os impostos e as taxas dos ricos que auferem dois mil euros, a suportarem uma tarde num Parlamento possuído pelo fantasma de Chávez ou, para conhecerem num ápice os abismos do nosso infortúnio, a passarem dez minutos na sua própria companhia.

O que me surpreenderia um bocadinho era que, ameaçado com a sopa dos pobres, qualquer estadista, civilizado ou não, aterrasse por aí. E o que me surpreenderia imenso era que, depois disto e de mais uma ou duas coisinhas, alguém votasse na senhora.

 

Comentário de Miguel Bastos, extraído da internet, seguido de comentário (6/1):

Entre os debates de ontem, vi uma entrevista. Foi ao candidato Vitorino Silva. Ninguém sabe quem é. É o Tino de Rans. Não deve faltar gente que tenha achado a entrevista divertida. Eu achei triste.

Pois é, não achei graça. Como não acho graça aos apanhados, às gafes em direto, a pessoas a cair na rua. O entrevistador, José Rodrigues dos Santos, esteve numa posição muito difícil. Tentou entrevistar Tino de Rans, como um candidato “normal”. Fez as perguntas que achou pertinentes, mas não obteve respostas. A dada altura Tino deixa escapar “Se me fizer perguntas sobre calcetaria, eu terei todo o gosto em responder.” Acontece que Tino não é candidato a calceteiro. É candidato a Presidente. E convinha dizer alguma coisa.

No rescaldo, José Manuel Fernandes questionava se fazia sentido haver candidatos que nem sequer têm a noção do que é ser Presidente da República. Tino pode ser candidato? Claro que pode. Não quer dizer que deva.

De Francisco Carita Mata

Concordo inteiramente. É, de facto, triste! E mais triste ainda que tenha havido vários milhares de cidadãos que assinaram para que este cidadão se pudesse candidatar a Presidente da República!

 

Eis alguns dos textos que marcam, e felizmente nos libertam, pela lucidez, um pouco desta nossa indecência espiritual, que descambou numa paleta obscena de figuras caricaturais que só me fazem evocar, como alegoria, o soneto «Manias» de Cesário Verde, embora a pátria, velha deia esquálida e chagada, não devesse merecer o apodo aviltante que o magote de concorrentes ao seu osso sugere:

 

Casário Verde.png

Manias

O mundo é velha cena ensanguentada.
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada -,
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância, quixotesca.

Aos domingos a deia, já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

 

Berta Brás.jpgBerta Brás

O AMIGO DO DR. COSTA



Notas extraídas da Internet:

 

Jeremy Corbyn.pngJeremy Bernard Corbyn (n. 26 de Maio de 1949, Chippenham de Wiltshire) é um político britânico e líder do Partido Trabalhista desde 12 de Setembro 2015, deputado pelo círculo de Islington North desde 1983.


Destacou-se no movimento anti-guerra. Jeremy Corbyn, mais próximo dos movimentos contra a austeridade, grego Syriza e espanhol Podemos do que do reformista Tony Blair, conseguiu consolidar o seu estatuto junto dos jovens e velhos militantes e sindicatos. Ele ganhou a liderança do Partido Trabalhista à primeira volta com 59 % dos votos.


Um auto-proclamado socialista democrático, Corbyn defende a renacionalização de serviços públicos e estradas, re-abertura das minas de carvão, combate a evasão fiscal como alternativa a austeridade, abolição da cobrança de mensalidades nas faculdades e restauração das bolsas de estudo, uma política unilateral de desarmamento nuclear e cancelamento do programa de armas Trident, uso do quantitative easing ("flexibilização quantitativa") para financiar a infraestrutura e projetos de energia renovável, além da reversão de corte de gastos no setor público e no sistema de assistência social aos mais pobres, em vigor desde o início do governo de David Cameron.


Corbyn vive em Londres com sua terceira esposa, Laura Álvarez, uma mexicana e importadora de café. Já foi casado outras duas vezes.



É sobre este Corbyn, entre outras referências das citações de Alberto Gonçalves a um percurso aparentemente dinamizador trazido pelo 25 de Abril à nossa cultura lusa, ao que parece soterrada nas trevas mediévicas que sempre dominaram a nossa formação intelectual, desde os tempos inquisitoriais até aos tempos que Salazar protagonizou, é, pois, sobre o chefe trabalhista britânico defensor de causas poderosas que o texto anterior cita, que Alberto Gonçalves se debruça, por via das relações amistosas do Dr. Costa com o líder britânico, cheio, ao que parece, de intenções humanitárias, em defesa dos atacantes de Charlie, entre outros casos. A propósito deste feito, transcrevo um passo do artigo «DAESH, A EUROPA E… TODOS OS OUTROS» de Francisco Gomes de Amorim (in “A Bem da Nação”), revelador da eterna instabilidade das relações humanas, herdada, sem dúvida, do “varium et mutabile sempre femina”, de Virgílio, que não conhecia ainda bem os sofismas da política de todos os tempos e das rapaziadas democráticas dos tempos de agora, preferindo atribuir tal inconstância apenas à mulher, sempre vítima do credo machista. Escreveu, pois, Gomes de Amorim: «Os franceses eram todos “Charlie”, muito amigos dos muçulmanos, depois já não eram tanto, agora estão afogados com ondas de refugiados, entre os quais, um deles, participou deste último massacre!


Depois, juntam-se, cantam “La Marseillaise” ... « Aux armes, citoyens! Formez vos bataillons! Marchons, marchons…»


Realmente, lembro-me do Charlie Hebdo, com toda a gente - e daqui também, que sempre gostamos de participar nas coisas da exaltação televisiva - sentindo-se ofendida pelo ataque jihadista à liberdade de opinião que os do Charlie simbolizavam, e logo a seguir revelando uma cooperação de teor religioso com esses tais, continuando a cantar a Marselhesa mas abrindo o sentimento ao lenço e à burka, com todos os seus direitos fraternalmente acolhidos, ninguém mais se identificando com os Charlies mortos uns meses antes pelos tais da burca e do cutelo.


António Costa, na esteira do seu amigo trabalhista também não será Charlie, amistoso em relação a uma inversão de leis para novas ditaduras.


Como homem esclarecido, Alberto Gonçalves entende que estas questões pontuais sobre os seus próprios ditames deviam ser postas ao Dr. Costa por um jornalismo corajoso e mentalmente são, mas parece que não há cá disso. A omissão por desconhecimento, a submissão por aviltamento predominam. No jornalismo também.


Quanto à questão do piropo sujeito a pena, originou mais um texto engraçado de Alberto Gonçalves, que nos faz sentir a inépcia de leis preconceituosas de cariz devoto e tacanho, como é essa que foi votada, ao que parece, no anterior Governo. Numa época de liberdade e de liberalização dos costumes, não parecem sensatas tais leis contra a criatividade do despudor, como essa do armazém e da montra, quando o despudor é coisa tão insanamente generalizada, sem criatividade e apenas com libertinagem.

 

Berta Brás.jpgBerta Brás


O Dr. Costa também tem amigos

Alberto Gonçalves.jpg Durante o Verão Quente de 1975, não havia dia em que não pousassem na Portela um ou dois "intelectuais". O termo usava-se para exaltar os maoistas, estalinistas, trotskistas e marxistas em geral que, de Sartre a Böll, de Touraine a Krivine, desciam ao Rossio e aos Aliados a fim de decifrar o futuro do comunismo internacional. Em parte, era um exercício antropológico; em parte, um esforço evangélico. Tudo somado, tratava-se da estranha atracção que os malucos sentem pelo manicómio. E o engraçado é que, neste final de 2015, o manicómio volta a seduzir "personalidades" do género. É a troca do turismo do pé-descalço pelo da cabeça oca.


Em Outubro, nos alvores do "acordo" de esquerda, andou por aí o senhor Varoufakis, o homem do casaco de cabedal, do brunch na varanda e da irreversível recuperação grega. Agora que o "acordo" chegou ao poder, é altamente plausível que a peregrinação de chalupas tenda a aumentar. Parece estar já assegurada uma pequena digressão do novo (no sentido em que foi resgatado do Paleolítico Superior) líder trabalhista britânico, que segundo os jornais "fez amizade com António Costa em Bruxelas" e virá apoiar o "programa anti-austeridade do PS". Não vou duvidar da afinidade de ambos os grandes estadistas pela economia da mezinha e do bruxedo. Limito-me a notar que, para lá de evidente competência técnica (a criatura defende um "salário máximo" e nacionalizações em abundância - coincidência das coincidências, o senhor Varoufakis é um dos seus conselheiros), Jeremy Corbyn possui outras virtudes que talvez o aproximem do Dr. Costa.


Desde logo, o senhor Corbyn é o género de visionário que, nas questões de "género", pondera a imposição de transportes colectivos com separação de sexos de modo a reduzir violações e abusos em geral. Em matérias menos (?) folclóricas, é admirador de Hugo Chávez e do regime venezuelano, incluindo, presume-se, os presos políticos, os assassínios de opositores e a miséria subjacentes. Em simultâneo, defende a saída do Reino Unido da NATO, responsabiliza a Inglaterra e os EUA pelos actos do Estado Islâmico e, pormenor irrelevante, apela a relações de amizade com movimentos humanitários como o Hezbollah e o Hamas. Neste particular domínio ecuménico, é partidário de boicotes a Israel, colaborou em tempos com "negacionistas" do Holocausto e exibe com frequência o exacto tipo de anti-semitismo, perdão, anti-sionismo que deixa dois terços dos judeus britânicos apreensivos quanto ao futuro.


É típico que os secretários-gerais do PS tenham amigos interessantes.Teria certo interesse que, à semelhança do que fazem com o Eng. Sócrates, os jornalistas questionassem o Dr. Costa sobre o seu compincha estrangeiro. Até que ponto o Dr. Costa partilha das impecáveis convicções do senhor Corbyn? Infelizmente, não imagino muitos entrevistadores fazerem-lhe perguntas assim. É verdade que, dada a sua eloquência verbal, não estaria garantido que alguém compreendesse as respostas. É igualmente verdade que, a julgar pelos amigos que recentemente arranjou em Portugal, o amor do Dr. Costa pela democracia e pela liberdade não careça de grandes esclarecimentos. Mas esses já não seriam problemas do jornalismo. A omissão é. E a submissão também.

Quarta-feira, 30 de Dezembro


Pena agravada


É absurdo pensar-se que só quer abolir o piropo quem nunca ouviu nenhum. Os deputados que votaram nesse sentido estão habituadíssimos a levar com galanteios diversos, desde o célebre "Vai mas é trabalhar" ao popularíssimo "O que tu queres é tacho". Não é desses piropos que falamos? Se calhar, não. Mas convinha esclarecer as massas.


E esclarecer a sério. A nova redacção da lei, aliás aprovada sem votos contra em Agosto e divulgada há dias pelo DN, avisa que "Quem importunar outra pessoa, (...) formulando propostas de teor sexual (...) é punido com prisão até 1 ano ou com multa até 120 dias" (a coisa sobe para três anos nos casos de menores). Já numa dimensão técnica, Carlos Abreu Amorim informa que "não se criminalizou o piropo", o qual, para o deputado do PSD, é um comentário como "és tão bonita".


Em que ficamos? Sinceramente, não sei. O Parlamento acredita mesmo que os assalariados da construção civil - para recorrer a uma figura mítica - interpelam transeuntes aos gritos de "És tão bonita" ou de "A sua cútis, prendada donzela, é digna de um Vermeer ou dois"? O Parlamento acredita mesmo que os recorrentes "Comia-te toda" ou "Com uma montra dessas imagino o armazém" são propostas sexuais de facto? O Parlamento acredita mesmo que os cidadãos o financiam a fim de regulamentar palermices?


Se sim, conforme parece, estamos feitos. E confirmamos a tese de que mais urgente do que diminuir o número de deputados é aumentar a respectiva idade mental. Estas crianças crescidas dão pena. E, de agora em diante, pena agravada, se lhes mandarmos os piropos que merecem.

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