ONTOLOGIA E ÉTICA
«A vida é susceptível de ser compreendida com os termos que a filosofia reserva para a análise do ser: o ser está em cada ente concreto que existe mas nenhum destes seres concretos domina o ser, nenhum á capaz de esgotar toda a riqueza do ser; do mesmo modo, nenhuma pessoa pode reclamar um direito de propriedade sobre a vida que a atravessa, como se se sentisse superior à sua [própria] vida ao ponto de se reconhecer como o seu dono absoluto.
(…) A existência humana é por definição um tecido de relações com os outros. Assim como não sou proprietário da vida deles nem eles da minha, também não sou dono da minha própria existência».
Michel Renaud
(In «Acerca da eutanásia e da dignidade humana», Brotéria – Julho de 2017, pág. 131)
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Assim, se pelo suicídio (assistido ou não) alguém toma como absolutamente seu algo que outrem lhe proporcionou graciosamente (a vida) e abusivamente decide pela extinção do seu próprio ser, coarcta também um direito alheio, o dos outros que com ele convivem, desse modo infringindo a ética e, como tal, cometendo um acto sumamente criticável.
Setembro de 2017
Henrique Salles da Fonseca