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A bem da Nação

O CULTO AO ESPÍRITO SANTO EM PORTUGAL E AÇORES

 

Arcada 1941-Igreja e Hospital do Espírito Santo,

 

Dizia Marcelino Lima, através do livro do picoense Tomaz Duarte Jr. que ..."A rainha Isabel de Aragão introduziu em Portugal o culto do Espírito Santo, sob a égide espiritual e os ideais escatológicos do Abade Joaquim de Flora". O que levou em 1323 à fundação da primeira Igreja do Espírito Santo e respectivo hospital no nosso país (Vila de Alenquer).

 

À exemplo das Associações alemãs e francesas medievais (1160) que sob a invocação do Espírito Santo se dedicavam ao auxílio indigentes, pobres e doentes, depois da sua expansão em Portugal com a fundação de Confrarias, Irmandades e Casas do Espírito Santo, no século XV chegou com os franciscanos aos Açores. Hoje as festividades do Espírito Santo são uma força que marca a cultura e o turismo religioso no Arquipélago e na diáspora açoriana, apesar da sua decadência no Continente Português.

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Procissão das Rosquilhas, Vila da Madalena (Pico)

 

Maria Eduarda Fagundes

 Maria Eduarda Fagundes

Fonte: O Culto do Espírito Santo (Tomaz Duarte Jr.) 2001

MEDO OU FOBIA

 

Num mundo cada vez mais assolado pelo egoísmo e violência, onde tudo nos chega em enxurradas de informação, onde se quer tudo para “ontem”, quem não está conectado às novidades tecnológicas recentes e à globalização, está excluído da sociedade vigente. As pessoas enchem os consultórios de psicólogos e psiquiatras em busca de ajuda. A ansiedade e a correria a que ficam submetidas geram situações de medo e fobias que destroem a qualidade de vida dos cidadãos.

 

Quem não tem medo de, ao sair de casa, numa cidade violenta e sem protecção policial adequada, ser assaltado ou receber uma bala perdida a qualquer momento? Dentre tantas outras, essas são situações reais, que a população enfrenta com grande ansiedade. Quem sobe uma escadaria para não entrar num elevador, mesmo vazio, por medo de ficar preso ou por não tolerar ambientes fechados? Os fóbicos, é a melhor resposta. Enquanto o medo é uma reação normal, de autoprotecção a alguma situação sócio-ambiental de risco ou perigo eminente, a fobia é um medo irracional a alguma situação específica desencadeadora de um stress emocional, pessoal, muitas vezes com raízes genéticas. Tanto o medo como a fobia apresentam manifestações físicas como coração disparado (taquicardia), boca seca, sudorese excessiva, respiração ofegante, pupilas dilatadas (midríase), mãos frias. São manifestações autonómicas que nas pessoas fóbicas chegam a dar a sensação de morte eminente!

 

No medo o indivíduo evita a ansiedade contornando a situação stressante. Na fobia há uma resposta psíquico-emocional, irracional, desencadeada por algum factor traumático vivido pelo paciente. A pessoa passa a desenvolver sentimentos negativos e progressivos que cada vez mais a paralisa ou atrapalha socialmente. Ela está sempre esperando o pior acontecer, mesmo nas situações estáveis ou improváveis, despertando uma ansiedade, um sofrimento psíquico frequente.

 

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 Sem acrofobia

 

Na fobia simples o indivíduo tem medo de uma coisa ou situação específica. Como medo de alturas, de animais, de elevadores, de viajar de avião..., são medos fóbicos, desconhecidos, geneticamente determinados, que lhe trazem pequenos desconfortos e algumas limitações à sua qualidade de vida.

 

Na fobia social os prejuízos são maiores, pois o indivíduo se sente observado, julgado, avaliado, coisa que lhe bloqueia os passos e a naturalidade. Sente-se mal, evita falar e escrever em público, a ir a reuniões sociais, a comer fora, a sair com outras pessoas. Quase não tem amizades.

 

Já na agorafobia, o indivíduo não tem medo das situações, mas de se sentir mal ao vivenciá-las, o que lhe desperta uma incontrolável ansiedade, com ou sem ataques de pânico. Em situação de stress, o coração dispara, a pressão descontrola, sente tonturas, perde o controle de si mesmo, pensa que vai enlouquecer ou até morrer. As crises repetem-se com frequência. Com o tempo, a pessoa passa a evitar os lugares onde se sente incomodada. Depois, não quer mais sair, tem medo de se sentir mal no cinema, ao caminhar, ao dirigir... .Tudo é motivo de stress. Há uma ansiedade antecipada para qualquer coisa que a tire da área de conforto, um sofrimento psíquico que a prende em casa e lhe rouba a qualidade de vida.

 

Em todas as formas de fobia há como ajudar o indivíduo. Seja com medicamentos anti-stress, nos momentos agudos, seja com terapias de apoio, técnicas de relaxamento, ou procedimentos psíquico-terapêuticos. O uso de métodos cognitivos, para entender e driblar o medo fóbico e de exercícios de enfrentamento das situações stressantes, onde se aprende técnicas associativas que confrontam a realidade e a fantasia, ensinam a raciocinar entorno da situação com visão crítica. O indivíduo aprende a avaliar o pensamento negativo e a formular em contrapartida outro mais real e provável. Tudo é uma questão de treinamento, paciência e persistência, em que se aprende no dia a dia a dominar o medo e a ansiedade doentia.

 

Uberaba, 25/01/2017

 

Maria Eduarda Fagundes

Maria Eduarda Fagundes

FUGA OU SALVAÇÃO DO ESTADO?

 

D. João VI

 

 

Na Escola, nem sempre foi essa a interpretação. Na década de 60 do século passado, aprendi que o Príncipe Regente, D. João, era um fraco comilão de frango que fugiu covardemente para o Brasil quando Portugal foi invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte. Só que a História contada, pela maneira que interessava, não explicava qual era o contexto político europeu naquela ocasião... Fuga simplesmente ou estratégia para escapar das forças militares francesas, que já tinham submetido boa parte das nações da Europa? Este texto de Miguel Castelo-Branco dá seu ponto de vista.

 

Nota curiosa:

Segundo o relato do despacho do almirante inglês Sidney Smith, a 29 de Novembro de 1807, enquanto a esquadra se afastava no horizonte, levando rumo ao Brasil a Coroa Portuguesa, em terra, a força francesa, que acabara de invadir Lisboa, se apinhava nos morros para contemplar impotente e raivosa a escapada da sua presa mais cobiçada!. (pg 54 D. João VI no Brasil)


Não foi fuga, foi a salvação do Estado

 

Mais de 200 anos decorridos sobre a invasão franco-espanhola, ainda se discute a conveniência ou o acerto da transferência do governo e corte para o Brasil, apodando-a muitos – os mesmos de sempre – como fuga. Não se foge quando a bordo da quase totalidade esquadra real parte o governo em peso, a rainha e o Regente com a família, o tesouro do Estado, a biblioteca real (que ficou para sempre no Rio de Janeiro), documentos e bens de toda a espécie.

 

Acompanhada por muitas dezenas de navios de comércio, a esquadra de guerra furtou-se à sua utilização por Napoleão. O Príncipe Regente e a família, símbolos da soberania, não vão negociar nem se espoliar aos pés do Corso. Chegado ao Rio, o soberano tem como primeira medida declarar guerra à França, guerra esta que se prolongará até à entrada do exército português em Toulouse (1814). Em toda a Europa, o ditador coroado Napoleão I tinha manipulado, ofendido e humilhado os soberanos e as nações. Retalhara impérios seculares, criara novos Estados à medida dos seus interesses e da sua família. Espezinhara direitos adquiridos e violara todas as regras da diplomacia, levando Talleyrand a pronunciar a célebre frase …”o que é excessivo torna-se insignificante”…

 

Bonaparte estabeleceu uma tirania em todo o continente, impondo pautas aduaneiras abusivas, saqueando recursos dos países ocupados e estabelecendo a desigualdade como base de consolidação da França imperial. A política de destruição e de saque, acompanhada por todo o tipo de atrocidades sobre as populações era o quadro geral que se oferecia. Contudo, sempre houve quem entendesse ir ao encontro do invasor, procurando o entendimento possível que permitisse o exercício de um qualquer tipo de poder, por muito ilusório que fosse. Assim aconteceu com a deputação enviada à pressa a Baiona, prestando vassalagem ao conquistador que já tinha como refém o sogro do Príncipe Regente, o rei Carlos IV de Espanha. Cedendo e negociando, a Espanha sujeitou-se a todas as arbitrariedades inimagináveis, tendo mesmo que suportar a colocação no trono de José Bonaparte, arvorado em simples Maire de Madrid com o pomposo título de rei da Espanha e das Índias.

 

Numa época em que a honra ainda contava no âmbito das relações internacionais, o futuro D. João VI poupou-nos a tudo isto. No memorial de Santa Helena, Bonaparte acabou por reconhecer o fracasso da sua política no ocidente europeu, quando viu frustrado o seu projecto de capitulação portuguesa.

 

Nada surpreendente é a posição da generalidade dos académicos brasileiros, que julgam esta transferência da corte e governo de uma forma absolutamente positiva. Não se encontrando comprometidos com os interesses e “legitimações” dos regimes que têm vigorado em Lisboa, estabelecem a partida da família real como um marco imprescindível para a compreensão dos acontecimentos que, tendo garantido a sobrevivência de um Portugal independente, conduziram também à pacífica independência do Brasil.

Miguel Castelo-Branco

 

PS: A quem interessar, o livro D. João VI no Brasil de Oliveira Lima (escritor e diplomata recifense), um dos maiores estudiosos de D. João, mostra parte dessa história!

 

Maria Eduarda Fagundes

Maria Eduarda Fagundes

UM REI PORTUGUÊS NOS AÇORES

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 «Distúrbios de D. Afonso VI em Lisboa» - quadro de Alfredo Roque Gameiro

 

Depois de ser considerado física e mentalmente incapaz para assumir a direcção do reino, após a morte do rei D. João IV, seu pai, e de Teodósio, seu irmão e herdeiro, D. Afonso VI, El-rei de Portugal, é afastado do Paço Real, onde passou a governar seu irmão o Príncipe D. Pedro.

 

Para evitar tentativas de recolocá-lo no trono, foi levado com todas as mordomias reais para o Castelo e Forte de São João Batista, em Angra, Ilha da Terceira, Açores.

 

Corria o ano de 1669. Em 17 de Julho, em pleno verão, chega ao Porto da Cidade de Angra uma armada composta de três fragatas e uma caravela, comandada pelo Marquez das Minas, D. Francisco de Sousa. Trazia o malfadado D. Afonso VI. Incapaz de dar herdeiros ao reino, vê seu casamento anulado e a rainha casar com seu irmão D. Pedro, o príncipe regente. No dia 21 de Julho, finalmente às 4h desembarca o rei amparado no braço do Marquez após a descarga de boas vindas da artilharia. Andava com dificuldade em razão do achaque de estupor que padecia desde a infância. Já em terra, subiu à liteira com o Marquez que o levou ao Castelo de São João Batista. À entrada, nova salva de 21 tiros, com festas e repiques de sinos, pelas igrejas e mosteiros da cidade de Angra. Aposentou-se El-rei na casa e galeria do governador. Nos alojamentos inferiores ficaram os capitães da guarda e alguns criados de maior foro. Concluídas as novas funções no Castelo, o Marquez volta para Lisboa e entrega à Corte as novas participações dos oficiais. A serviço da pessoa de El-rei ficou em Angra um provedor da casa (Manoel Nunes Leitão), 5 assistentes da guarda com ocupação da porta dia e noite. Cinco guarda-roupas, cinco moços de câmara, um escrivão de cozinha e tesoureiro, um médico, um cirurgião, dois capelães, dois moços de capela, um manteiro, um comprador, um mestre de cozinha, 6 reposteiros, 4 oficiais de cozinha, 4 moços de cozinha, 2 moços da prata, um varredor.

 

Em Outubro chega ao Porto de Angra uma charrua, constante de um coche forrado de damasco vermelho, uma liteira do mesmo e outra de menor valor. Vieram também 6 cavalos que morreram em 3 anos e as pessoas que os deviam tratar. Todas as mesadas eram religiosamente pagas. O que sobrava era distribuído aos oficiais e pessoas que assistiam no Castelo. Abriram e aplanaram caminhos nas montanhas do Castelo de São João para dar divertimento ao rei que ali ia se entreter por várias tardes. Seja no Verão ou no Inverno, costumava levantar-se às onze horas para o meio-dia. Jantava das três às 4 horas da tarde. E todo o tempo que mediava até as 11 h procedia em travessuras de absoluta criação que tivera. E de tão inquieto, nenhum criado se considerava seguro em sua presença. Ninguém o suportava. Era incapaz de guardar menor segredo. Revelava até o nome do autor. Agastava-se com o fidalgo Luiz de Sá e Miranda só por lhe dizerem ser mais valente que ele. Por isso intentou certo dia acometê-lo sobre o Pico do Facho e o mataria às cutiladas se não fosse a humildade com que ele se portou e a presença de Manoel Nunes Leitão. Queixava-se de seus criados de tal maneira que excitava as lágrimas dos que o ouviam, chegando a dizer “... sua desgraça era tal que o príncipe, seu irmão, permitia que os criados o descompusessem, ali estava exposto a tudo! Era dotado de uma prodigiosa retentiva. Bastava que lhe dissessem o nome de qualquer sujeito uma vez para lhe ficar na lembrança para sempre. Compadecido da miserável pobreza, todos os dias a socorria de sua mesa, até com prodigalidade. A mesma roupa que usava no Verão usava no Inverno, mas sobre a camisa se ligava com toalhas, a poder de alinhavos, que por grandes movimentos que fizesse não caiam, sendo assim que dormia. Comia uma única vez, porém com tal avidez que repugnava. Duas a três vezes ficou doente com febre e uma delas, foi a pontos de dar bastante cuidado a sua vida. Ainda não passado um ano da sua chegada à Terceira, espalhou-se a notícia infundada que o príncipe D. Pedro estava mal de saúde. Coisa esclarecida com as novidades trazidas de Lisboa por uma caravela. O príncipe apenas havia caído de um cavalo e passava bem. Mesmo assim, os ciúmes e inimizades grassavam na casa de El-rei em Angra, a ponto de em 1670 vir até aquela ilha um corregedor natural de São Miguel, Manuel Bicudo Delgado de Mendonça, que ali começou a correição e mais tarde passou à corte como Desembargador. Por esse mesmo tempo os do partido do rei urdiram tramas a ponto de se supor que a Terceira havia levantado os povos pondo o rei em liberdade e restituindo-lhe a coroa. O príncipe mandou uma embarcação informar-se como estava a situação na ilha, mesmo depois das notícias sossegadoras do Provedor da Fazenda. Assim correram os anos com arrumadores de tumultos e supostas rebeliões que queriam restituir D. Afonso VI ao poder.

 

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 «D. Afonso VI preso em Sintra» - quadro de Alfredo Roque Gameiro

 

Em 1672, rebentaram nos Cedros, Ilha do Faial, junto ao Capelo, cinco ribeiras de lava ardente com destruição de moradas e campos. O tremor de terra foi sentido apenas levemente na Terceira. Em 1673 é eleito para Governador do Castelo São João Batista Manuel Nunes Leitão. Movimentos para restituir o poder ao rei seguiram-se sem efeito. Até que em 1674, D. Afonso é enviado de volta a Lisboa e é “aposentado” em Sintra, “guardado por soldados e pelos assistentes que o acompanhavam desde que estivera na Terceira. Morreu em 12 de Setembro de 1683 aos 40 anos, prisioneiro em Sintra.

 

Uberaba, 03/01/2017

 

Maria Eduarda Fagundes

Maria Eduarda Fagundes

 

Dados compilados dos ANAIS DA ILHA TERCEIRA (Volume II, pag.157 a 167)

Reimpressão Fac-similada da Edição de 1856

Governo Regional dos Açores (Secretaria Regional de Educação e cultura)

PREMUNIÇÃO DE UM FACTO HISTÓRICO

 

 

O relativo isolamento a que ficou submetido o ilhéu açoriano por alguns séculos, mesmo tendo diferentes composições étnicas na sua formação, dependendo da ilha, fez com que, exposto às mesmas intempéries, encontrasse na fé ao Divino a resposta às suas angústias e necessidades de protecção. Povo pouco diferenciado na questão socio-económica, trouxe consigo marcas e tradições religiosas, fundeadas numa raiz hebraica antiga, ocultada por motivos religiosos e políticos em Portugal Continental, mas que se manteve sublimada na religiosidade dos ilhéus, através de práticas e rituais em louvor ao Espírito Santo, na fundação de Confrarias e Irmandades que relembram os primeiros tempos da cristandade, em que cada um, dentro das dádivas que recebeu, se une e colabora com os demais procurando o bem comum.

 

A fome, as pestes, as misérias, as calamidades temporais sofridas uniram, na desgraça e na fé, os ilhéus. Foi através da devoção ao Divino que o açoriano encontrou nesses séculos de existência forças para vencer toda a sorte de adversidades que a vida lhe trouxe dentro e fora do arquipélago.

 

Premunição de um facto histórico

 

Corria o ano de 1755. A 8 de Outubro a Câmara da Horta, na Ilha do Faial, recebia uma carta (documentada) da abadessa do Convento de São João, da mesma ilha, comunicando que uma religiosa daquele convento tivera uma “revelação”. Um grande castigo estaria por acontecer de modo eminente sobre a nação. E, em virtude disso, um grande temor se abateu sobre aquela congregação religiosa, que logo realizou preces por três dias consecutivos e uma pequena procissão no convento. A carta participava à Câmara o facto e pedia que esta resolvesse o que fazer, como melhor lhe parecesse. Ao Ouvidor eclesiástico enviaram uma cópia oficial da mesma, consultando–o a respeito. Após uma averiguação sobre o caso, respondeu o Ouvidor que, mesmo convencido da “boa” vida da freira, contudo, não reconhecia naquele aviso uma revelação divina! Por isso, não podia recomendar preces públicas, mas não dissuadiria quem as fizesse particularmente.

 

Porém, ao chegar o dia 1 de Novembro, Sábado, às 10 e trinta da manhã, algo assustador aconteceu. Apesar de o tempo estar muito sereno, o mar, antes calmo, de repente cresceu além do costume e avançou sobre a terra. O movimento repetiu-se mais duas vezes num vai e vem cada vez mais crescente, atingindo até 8 palmos os moinhos d’água da ribeira da Conceição, aterrorizando as gentes, inundando a ilha. Depois retraiu-se, vazando tanto que os navios quase tocaram com a quilha no fundo do mar. Pouco a pouco voltou a ficar manso como antes, mas já havia levado da área vários barcos e um bergantim. Felizmente não houve mortes.

 

MADUFA-Igreja_de_Nossa_Senhora_da_Graça,_faxada,_

 

Espavorido, o povo acorreu às Igrejas buscando nas orações consolação e salvação. E como acontecia toda a vez que os devotados faialenses sofriam com os desastres da natureza, iam com as congregações religiosas e os “Principais“ da ilha buscar a venerada imagem do Senhor Santo Cristo na Igreja da Praia do Almoxarife, para trazê-la em contrita procissão para a Igreja da Misericórdia da Horta. Ali, foi exposta por três dias, em “laus perenne” concorrendo o povo com pedidos e orações. Depois, a sacrossanta imagem foi levada até às demais igrejas das freguesias para o exercício de devoção e piedade das comunidades da ilha. A peregrinação da imagem foi realizada até o dia 25 de Janeiro de 1756, quando se soube então, através do padre carmelita Francisco de Souza, desembarcado de um navio que chegara de Lisboa, que naquele fatídico dia um grande terramoto arrasara a maior parte da cidade de Lisboa, num prazo de 8 minutos, perecendo na ocasião mais de 40 mil pessoas!

 

 

Uberaba, 20/11/2016

 

Maria Eduarda Fagundes

Maria Eduarda Fagundes

 

 

Nota:

Dados compilados do livro de Antonio Lourenço da Silva, História das Quatro Ilhas que formam o Distrito da Horta (volume I, págs. 230 e 231) edição 1981- fac-similada de 1871 - da Secretaria Regional da Educação e Cultura (Região Autónoma dos Açores).

 

 

FAIAL

 

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Esta é a Ilha Azul, o Faial (Açores), a terra onde eu nasci. Aqui as vacas pastam em canteiros de hortênsias, como disse uma turista americana!

 

Do Faial e de outras Ilhas açorianas vieram alguns antepassados de... Getulio Vargas, João Goulart, Carlos Lacerda, Eurico Gaspar Dutra, BENTO GONÇALVES da Silva, Francisco Pereira de Macedo, Anita Garibaldi, JULIO PRESTES de Castilho, José António FLORES DA CUNHA, Fafá de Belém, Lilian Cabral, Katty Perry (Pereira), Joe Perry (Pereira), Nelly Furtado, Tom Hanks, Daniella Steel (escritora), Craig Mello (Nobel de Medicina/1996), Filipe de Oliveira Batista (director criativo de LACOSTE),…

 

A lista é grande para ilhas tão pequenas…

Maria Eduarda Fagundes

Maria Eduarda Fagundes

HERANÇA

 

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Fazenda Invernada de 1822 (em reforma) Morro Agudo-SP

Fonte: Informativo (Jornal da Carol) 2005

 

É triste ver cidades com séculos de existência destruírem o seu património histórico-arquitectónico em nome do tão sonhado progresso. Derrubada de casarões e de edifícios de época é feita da noite para o dia, sem a menor consciência. Que desenvolvimento é esse que apaga da sua história as marcas e caminhos percorridos por seus antepassados? Como exigir dos cidadãos de agora amor e respeito ao solo que os viu nascer se eles não têm referencias e exemplos a seguir? Como desenvolver sentimentos de identidade, pertença e orgulho, se eles não conhecem suas raízes, passado, lutas e conquistas! Como formar indivíduos briosos e valentes se eles não sabem de quem provêm, de onde vêm e para onde vão? Como poderão avaliar a força do gene que cada um traz em si e que foi capaz de mobilizar gerações a ir atrás do sonho?

 

É na sequência de gerações que o caminho se faz e se aprimora. É nas marcas deixadas por elas que o orgulho de pertença aparece. É na herança que o passado nos deixa que o futuro se assenta e o progresso acontece.

 

A história interiorana é tão rica quanto seu solo. Nele se achou ouro, diamantes, pedras preciosas. Plantou-se e criou-se gado. Gente aventureira, desbravadora e destemida se instalou em seu território, fez coisas boas e más, aos trancos e barrancos, acertando e errando, trouxe progresso.

 

Longe do Poder Central e da civilização, os portugueses, depois de lutas, mortes e expulsões, conquistaram a região. Abriram com a ajuda dos índios aculturados picadas e caminhos, vararam rios e florestas, fundaram arraias e vilas, destruíram tribos e quilombos. Ganharam sesmarias, compraram e se apossaram de terras, fizeram grandes fazendas onde desenvolveram latifúndios que, com ajuda do escravo e do caboclo, mais tarde dominaram a política do interior brasileiro.

 

Há quase duzentos anos, uma das famílias que marcou esse espaço fundou em Morro Agudo, na margem esquerda do Ribeirão do Carmo, a Fazenda Invernada.

 

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Fazenda Invernada (de 1864) Morro Agudo-PS

Fonte: Informativo (Jornal da Carol) Maio/2005

 

A ideia inicial do Tenente Francisco António Junqueira, do seu irmão João Francisco e do seu cunhado, o alferes João José de Carvalho, era pousar para invernar, mas gostaram tanto do local que ficaram e construíram uma fazenda que subsiste até os nossos tempos. Nela Francisco António estabeleceu-se definitivamente, criou seus 21 filhos (dos quais sobreviveram sete), criou gado e produziu queijos para a venda. Um dos seus filhos, Francisco Marcolino Diniz Junqueira, herdeiro que ficou com a Fazenda Invernada, se tornou um grande produtor de bovinos, porcos, muares e cavalos.

 

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Foi dessa geração que saíram os protótipos dos Mangalarga, orgulho da raça equina do interior. Nestes quase 200 anos de gerações da família, o património cresceu e o conjunto arquitetónico da fazenda (casa grande, senzala, dependências de serviço,...) foi preservado (1822/1864) e reformado para orgulho da Família Junqueira de Morro Agudo SP.

 

Uberaba, 28/07/16

Maria Eduarda Fagundes

Maria Eduarda Fagundes

 

Fonte dos dados:

Jornal da Carol (Maio/2005)

O MAU ESPÍRITO

 

 

Sobreviver no interior brasileiro nos séculos passados não era coisa pra fracos. Enriquecer, então, era questão para destemidos aventureiros dispostos a tudo enfrentar, matas, índios, animais selvagens, grileiros, falta de alimentos e remédios. Trabalho duro e perigoso que muitas vezes levava à perda da própria vida.

 

 

Era comum fazendeiros que possuíam terras adquiridas por sesmarias, compradas ou ocupadas por grileiros, recrutassem jagunços pagos para “limpar” o terreno. Só depois assumiam e construíam naquele espaço a fazenda.

 

Em tempos de “limpeza”, as ferramentas mais utilizadas eram as armas de fogo, além dos instrumentos de trabalho para desbravar a terra. Guaiaca ajustada na cinta ou cruzada no peito, punhal estrategicamente escondido no cano interno das botas de couro, eram indispensáveis para impor respeito e se manter vivo. Andar por caminhos desérticos e inóspitos, ou em matas cerradas, exigia coragem e equipamento!.

 

Bem antes dos estrangeiros chegarem àquelas bandas interioranas já desbravador português, usando o índio amansado como guia, adentrava e “limpava” o terreno. Motiva-o a posse das terras e as riquezas que poderia tirar delas, explorando, abrindo clareiras para criar gado ou para plantar pro sustento.

 

Instalados, vinham as disputas pelos território e pelas águas que lhes garantiam a subsistência e influência. Animosidades por divisas e desvios de cursos de águas eram frequentemente resolvidas à bala, quando na conversa não se chegava a contento.

 

Naquele dia, os fazendeiros Jacinto e Fabiano se estranharam. O motivo era posição da cerca que lhes dividia as fazendas. Achando-se lesado, Jacinto reclamava que haviam entrado metros na sua propriedade, situação que Fabiano contestava. Depois de muita discussão, tudo ficou na mesma. Irritado, tempos depois, o fazendeiro Jacinto desvia o curso do riacho que nascia nas suas terras e atravessava as do vizinho, deixando sem água o pasto e o gado do outro fazendeiro. Guerra declarada, os dois não podiam se encontrar sem que essas questões viessem à baila.

 

Em terras de pouca água, os bichos logo buscam a fonte. E assim o gado rompeu a cerca e pulou para o pasto vizinho onde podia matar a sede e comer capim. Quando Jacinto percebeu a situação procurou Fabiano para reclamar e pedir para que ele consertasse a cerca arrebentada. Nova discussão para que o riacho e divisa fossem para o lugar original. Ninguém quis voltar atrás e tudo acabou numa cusparada tendo como resposta um tiro mortal. No dia seguinte acharam o corpo de Fabiano já em incipiente estado de putrefação. Foi uma comoção. Os filhos do fazendeiro morto juraram vingança. Suspeitaram do vizinho renitente que passou a carregar consigo dois revolveres carregados no coldre, prontos para a descarga conveniente.

 

Ciente da lei do sertão, Jacinto dizia para a família:

- Quando eu morrer vocês me enterrem com meus dois revólveres, vai que lá, do outro lado da vida, eu encontre um mau espírito...

 

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Se bem foi dito, melhor foi feito. Passou-se algum tempo até que um dia um sujeito mal encarado foi visto nas redondezas. Capa escura, surrada, que ia até as canelas, chapéu preto de feltro enterrado na cabeça escondia parcialmente a fisionomia. No peito, transpassada, uma cinta de couro cru, brilhante, desgastada pelo uso, onde se via uma pequena bolsa de carregar balas e um coldre preenchido. Era um matador, jagunço contratado. Já se suspeitava, era o anúncio de morte encomendada!

 

Jacinto foi encontrado morto na estrada, com um tiro na cabeça, vítima de uma tocaia.

 

Do jeito que surgiu, o jagunço desapareceu sem deixar rastro. O fazendeiro foi enterrado com suas armas, como pedira, nas terras disputadas. Respeitaram a sua vontade, sabe-se lá se ainda teria que se ver com algum mau espírito...!

 

Uberaba, 25/07/2016

Maria Eduarda Fagundes

Maria Eduarda Fagundes

 

AS QUATRO MÃES

 

 

Para os amigos reflectirem, uma das muitas pérolas literárias de Padre Manuel Bernardes.

 

“Quatro mães muito formosas parem quatro filhos muito feios.

A verdade pare o ódio; a prosperidade, orgulho; a familiaridade, desprezo; e a segurança o perigo”.

 

P. Manuel Bernardes.jpgPadre Manuel Bernardes (Lisboa/1644-1710) foi um dos maiores clássicos da língua portuguesa. Estilo elegante na descrição dos conceitos. Profundo nos ensinamentos, ama e exalta a Deus incondicionalmente, a quem relaciona todas as coisas.

 

“Em Bernardes os defeitos pertencem às épocas, ao passo que as elegâncias e belezas nunca envelhecem”, disse Rebelo da Silva.

 

Bom final de semana.

 

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Maria Eduarda Fagundes Nunes

UM SEFARDITA NA AMÉRICA

 

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 Jacob Rodrigues Rivera

(pintado por Gilbert Stuart)

 

A importância da comunidade judaica (em particular a sefardita) na vida económica e cultural das Américas, desde os tempos do descobrimento e ocupação do Novo Mundo, esquecida pela população em geral, vem sendo resgatada pela comunidade académica actual.

 

Fugidos da Inquisição Ibérica, os judeus de origem portuguesa e espanhola (sefarditas) do século XVI ao século XIX encontraram, a principio, no continente americano, um lugar para ganhar a vida e assumir a sua religião.

 

Após a expulsão dos holandeses de Pernambuco em 1654, boa parte dos judeus instalados no nordeste brasileiro fugiram para o interior da província ou partiram para as Colónias Inglesas (Barbados e Jamaica) e Holandesas do Caribe e Suriname, até chegar à Nova Amsterdam (hoje New York). Em geral eram plantadores de cana-de-açúcar, donos de escravos e engenhos, ou comerciantes oriundos da diáspora sefardita portuguesa que dispersados na Europa (Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra) haviam encontrado na América Portuguesa a possibilidade de viver, longe da Inquisição.

 

Na nova sociedade americana, esses cristãos-novos e bnei anussim (descendentes de judeus baptizados à força) mesmo sendo elementos estranhos à sociedade local, conseguiram formar uma comunidade cultural, económica e socialmente influente. Assim é que os sefarditas (judeus portugueses e espanhóis) como os asquenazitas (judeus da Europa oriental) sofreram modificações impingidas pelo meio-ambiente, tanto quanto pela religião que os regiam. Como um judeu português é diferente de um judeu Tedesco (alemão), o português católico comporta-se diferentemente de um judeu português.

 

A presença judaica sefardita, de influencia colonial americana, desenvolveu sem muitos escrúpulos o comércio de escravos e a transferência o riquezas (ouro, prata, açúcar, rum, peixe salgado, chocolate,...) de um lado para outro do Atlântico. Plantaram e manufacturaram, comercializaram e distribuíram produtos usando seus próprios navios. Enriqueceram, tornaram-se influentes através de casamentos, actividades culturais, filantrópicas e comerciais. Elevaram-se socialmente, despertaram a cobiça e a inveja em cristãos, holandeses e piratas. Apesar de os reveses, firmaram-se na nova sociedade americana onde contribuíram definitivamente com seu desenvolvimento.

 

A partir do século XVII, Newport progrediu mais fortemente, tanto no sector económico como no cultural, com a chegada da comunidade judaica que ali se instalou. Entre esses indivíduos destacou-se Jacob Rodrigues de Rivera, além de outros das famílias judias Lopez, Seixas, Gomes, de Toro ou Touro, Levy, Hays, Meyers, Hart. Trouxeram consigo tradições e desejos de liberdade que marcaram a identidade do povo americano. Famílias com larga prole, que se relacionavam em redes de negócios e casamentos, propiciaram uma grande influência económica e cultural na sociedade estadunidense.

 

Segundo a pesquisadora Sandra Malamed, Jacob Rodrigues de Rivera teria nascido em Portugal, em 1717, porém de família originária de Sevilha. Em criança foi para New York com seu pai. Fez carreira mercantil. Chegou a Curaçau onde havia comunidade judaica e entreposto comercial. Ali casou com Hannah Pimentel. Desse enlace nasceram em New York seus filhos Abraham e Sarah Rodrigues de Rivera que se casou com o primo de seu pai, Aaron Lopez (nascido Duarte Lopez, em Portugal), rico comerciante, traficante de escravos e armador de navios em Newport.

 

Naturalizou-se em 1746 (N.Y) e em 1748 mudou-se para Newport, onde, associado a Aaron Lopez, torna-se um dos mais importantes comerciantes da região.

 

Àquela época colonial americana, Newport era um verdadeiro “melting pot” de culturas e etnias, onde se abrigavam cidadãos católicos britânicos, hugenotes franceses, judeus sefarditas (fugidos da Inquisição) e escravos. Nessa cidade foi pioneiro com seu primo na introdução do comercio do espermacete, óleo retirado da cabeça de baleia (cachalote) usado na manufactura de velas ( técnica aprendida em Portugal e transferida para a América) e como lubrificante e combustível para lâmpadas. Com Nicholas Brown de Providence (RI), membro da família Brown, co-fundadora da Universidade de Brown, manteve rentável negócio praticado com as Índias Ocidentais e África, pois os barcos que transportavam as mercadorias (rum, açúcar, escravos, sabão, peixe, farinha, óleo de baleia, velas,...) eram também de sua propriedade ou da sociedade com seu primo Aarão Lopez, um dos mais importantes e ricos comerciantes de Rhode Island.

 

Jacob Rodrigues de Rivera era um cidadão de espírito público. Sua actuação se dava também em âmbito cultural. Além de organizar o Clube Hebraico de Newport, teve seu nome associado com a formação da Biblioteca Red Wood e com a construção da Sinagoga de Yeshuat Israel. Em 1773 foi nomeado administrador do Cemitério Judaico de Savannah.

 

Na ocasião da Revolução Americana, Jacob Rodrigues de Rivera teve que partir para Massachussets em 1777, devido ao bloqueio marítimo britânico à cidade. Esteve em Boston e depois em Leicester, onde sua filha e genro estavam. Mais uma vez ali seu nome aparece ligado à cultura local. Torna-se então um dos benfeitores do Yale College. Ofereceu um quadro do rabi Hajim Issac Carigal ao Colégio, agradando Erza Stiles, teólogo, professor e director da Instituição.

 

No período da Revolução Americana, devido ao tipo de negócio que desenvolvia, teve graves reveses financeiros. Mas o seu espírito, tino comercial, redes e associações fizeram com que ele se recuperasse. Conta-se que, já superadas as dificuldades financeiras, convidou seus antigos credores para um jantar, onde debaixo de cada prato havia a quantia de seu crédito com os seus convidados, com os juros e correcção monetária!

 

Em 1782 retornou a Newport, e passou a residir numa casa hoje referência arquitectónica do período Colonial Americano. Quando morreu em 1789 deixou para os herdeiros um abastado património. Seus livros, a sua Torah, ouro e prata ficaram para seu filho Abraham. Os bens restantes foram divididos entre Sarah, Hannah e Abraham. Gilbert Stuart retratou-o num quadro doado à Redwood Library (Newport).

 

Muitas foram as benfeitorias da comunidade judaica na antiga Colónia inglesa e no desabrochar da identidade da nova nação norte-americana. Universidades, livrarias, sinagogas, lojas maçónicas, entrepostos comerciais, indústrias, bancos, clubes. Instituições hoje reconhecidas mundialmente.

 

No entanto, a diáspora sefardita, o número crescente de consórcios entre judeus e não judeus, as perseguições político-religiosas, as intolerâncias abertas e as veladas, fizeram com que a identidade judaica se diluísse no mundo ocidental. Mas, apesar de tudo, é inegável que a garra desse povo está historicamente presente na cultura e na força financeira dos países onde houve empenho no trabalho e tolerância étnico-religiosa.

 

Uberaba, 21/06/16

Maria Eduarda Fagundes

 Maria Eduarda Fagundes Nunes

 

Dados compilados de:

Mercadores e Gente de Trato ( Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses). Direcção Científica de A. A. Marques de Almeida. Lisboa 2009. 1ª edição.

Os Judeus, o dinheiro e o mundo (Jacques Attali)

Enciclopédia Judaica 1906 (por Cyrus Adler , L. Hühner)

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