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A bem da Nação

Portugal e a Cultura do Mar

 

  
 
O excelente artigo intitulado “Portugal e as Ciências do Mar” publicado na Revista de Marinha em Outubro/Novembro de 2009 da autoria de Ricardo Serrão Santos do IMAR deu-nos uma visão bastante completa das potencialidades científicas do “nosso” mar e até poderei dizer optimista do seu possível aproveitamento em benefício da nossa população actualmente tão castigada com o espectro do desemprego em crescimento de quantidade e de duração.
 
E havemos de concordar que ser optimista é saudável e agradável, mas convém analisar esta situação com todo o realismo que o bom senso, o tal que Descartes defendia, para que aumentem as probabilidades de atingirmos os objectivos essenciais do País e portanto das suas gentes.
 
Assim surgiu a ideia de mais esta minha pequena contribuição em continuação de outras que venho fazendo ao longo destes últimos 35 anos em que procurarei mostrar a relação entre o desenvolvimento, obviamente sustentado, que é o único que interessa considerar, e a Cultura do nosso País.
 
O que obriga ao imediato esclarecimento de que cultura estou a falar.
 
Certamente não a do Ministério respectivo que introduziu a distorção do sentido da palavra, tal como aconteceu na Educação com os péssimos resultados à vista, mas aquela que, dentro do conceito filosófico, corresponde às actividades essenciais, às crenças, atitudes, instituições, comportamentos básicos, regras morais, valores e capacidade de adaptação ao ambiente, das populações e em especial das elites que as dominam e orientam e assim conduzem os seus destinos.
 
O desenvolvimento deste tema levar-nos ia a gastar o tempo todo e por isso limito-me a focar um aspecto fundamental da história de Portugal que ilustra de forma lapidar a importância da Cultura na vida de um povo.
 
Se olharem para um mapa da Europa, Portugal fica no extremo esquerdo inferior, longe do centro europeu, portanto obviamente periférico como se ouve dizer muitas vezes como desculpa para o atraso que nos assola há tanto tempo.
 
Com o desenvolvimento da Marinha portuguesa no século XV o mapa que passou a ser tratado pelos portugueses foi o mapa-mundo em que Portugal figura no seu centro, deixando pois de ser periférico e se tornar num país central, à escala mundial. Isto resultante de termos então uma Cultura de inovação, espírito científico e tecnológico, audácia, capacidade empresarial e operacional, definição do essencial e haver responsáveis mais voltados para as obras que para os papéis.
 
Após 1974 até cerca de 95 fomos destruindo a Marinha que tínhamos e transformámo-nos novamente num estado periférico de que tínhamos iniciado o afastamento em 1945, (quando foi dado o impulso para a sua criação) sem que os muitos economistas e políticos de excelente nível que temos tivessem dado conta disso e feito alguma coisa para alterar esta rota de colisão em que temos andado.
 
 N/T LPG "GALP LISBOA"
foto de Vasco Siva Pinto
 
Há pois actividades e atitudes componentes da Cultura que são essenciais para a identidade, para o desenvolvimento e até para a sobrevivência de um povo da mesma forma que as há que são exactamente contrárias a estes objectivos como sejam: a proliferação de estabelecimentos de vida noturna para jovens menores, o baixo nível da sua educação global, o deficiente funcionamento da justiça, o investimento decidido na base do imediato e do mediato, a corrupção, a ineficácia, etc.,etc.. 
 
Esta Cultura é dinâmica, ou deve ser, pois como é ela que preside à adaptação da população à evolução da vida envolvente se assim não for isso significa a estagnação e no extremo a extinção da identidade que distingue essa sociedade das outras.
 
Então havendo já uma orientação bem definida para as actividades científicas relativas ao Mar, o que se passa com todas as outras actividades que deverão constituir a tal Cultura do Mar sem a qual dificilmente haverá o desejado desenvolvimento?
 
Convém recordar que do ponto de vista político também já há comprometimento total dos Órgãos de Soberania, mas como estamos do ponto de vista desta Cultura?
 
  • Qual é a participação da população em geral em actividades marítimas?
  • Quantas empresas temos em transportes marítimos e qual a sua posição no negócio marítimo mundial?
  • Qual é a evolução das nossas Pescas nestes útimos anos? E porquê?
  • Por que razão temos a marinha de recreio mais reduzida da Europa mais ocidental?
  • Por que razão depois de termos tido dos maiores estaleiros do mundo estamos agora tão fracamente representados?
  • Por que razão a nossa população está de costas para o Mar como se pode apreciar pelo tratamento que é dado a zonas que deviam ser exclusivamente para actividades marítimas como são todas a áreas ribeirinhas e o que vemos é construirem-se edifícios que podiam e deviam estar em qualquer outro lado diminuindo drasticamente a capacidade marítima dessas cidades?
 
Para combater esta situação que nos coloca outra vez na situação em que estivemos nos finais do seculo XIX com o tristemente célebre caso do mapa cor de rosa, como aliás já tive ocasião de assinalar na Academia de Marinha em 1985, é forçoso e urgente, urgentisimo, intensificar o desenvolvimento das actividades marítimas mais próximas da população para que esta siga a máxima antiga de navegar é preciso.
 
Enquanto nos limitarmos a reuniões, conferências, passeios, foruns, estudos e mais estudos por vezes nada baratos, mas não houver gente a navegar seja por desporto, por profissão, por negócio ou outras razões lícitas nunca conseguiremos ter uma cultura do Mar e aspirar a através dele sairmos desta apagada e vil tristeza em que nos encontramos agora no mesmo patamar de riqueza, ou de pobreza, dos nossos avós no início do século XX.
 
Esperemos pois que rapidamente os nossos responsáveis pelas estruturas portuárias realizem as que são necessárias e que na maior parte dos casos nem precisam de depender do OGE e criarão imediatamente centenas ou mesmo milhares de postos de trabalho.
 
Lisboa, 15 de Novembro de 2009
 
 José Carlos Gonçalves Viana
 
Publicado na Revista de Marinha -  Dezembro 2009/Janeiro 2010

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