LIDO COM INTERESSE – 70
Título – A GUERRA DO FIM DO MUNDO
Autor – Mário Vargas Llosa
Tradutor – Salvato Telles de Menezes
Editor – RTP/Leya
São 599 páginas de texto pois começa na 21 e acaba na 620. Antes do início, há todos aqueles prolegómenos tais como o título e a ficha técnica, por que habitualmente passo os olhos, mas esta edição conta também com um prefácio que não li. Mas se um dia...
Quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar...[1]
... então, em desespero, poderá ser que me abalance para essa leitura que por certo nos quer dizer o que devemos pensar quando começarmos a ler. Ainda não totalmente munido de «capito diminutia», não li. E se um improvável dia o fizer, será apenas com o intuito de comparar a opinião do prefaciador com a minha própria opinião.
Independente da opinião do autor do prefácio e tendo apenas lido metade do que se apresenta na contra-capa (a outra metade é um extracto do prefácio já referido), atirei-me à leitura com todo o interesse por se tratar da minha estreia em Mário Vargas Llosa e por já saber que se tratava de um romance histórico sobre um episódio que eu desconhecia totalmente, a Guerra de Canudos.
Da contra-capa extraio que em finais do século XIX, no Brasil, no sertão da Baía, um vasto movimento popular formado em torno de um místico – António Conselheiro – funda uma sociedade à margem do mundo oficial. O Governo do Rio de Janeiro (onde então era a capital federal) reage enviando uma pequena força militar para “repor a ordem”. Mas a resistência foi imediata e eficaz obrigando a tropa a fugir. E com isto se dá início à Guerra de Canudos para a qual foram mobilizados milhares de soldados que, depois de muitos mortos, os sublevados são, enfim, esmagados a ferro e fogo.
Mas não nos esqueçamos de que se trata de um romance histórico. E o mais fantástico é ver o Autor a misturar a realidade com a fantasia com tanta plausibilidade que por vezes tive que recorrer à Internet para saber quais eram os personagens reais e os fictícios. E a certa altura adiantei-me na consulta e fiquei a saber antecipadamente o que ia acontecer no livro. Mas em vez de me estragar a leitura, deu-me margem para saborear a trama romanesca, a qualidade literária e um aplauso ao trabalho de investigação a que Vargas Llosa deve ter sido obrigado.
O texto português é muito bom e considero da mais elementar justiça um louvor ao Tradutor. Quase me apetecia dizer que se o original for tão bom quanto é a tradução, Vargas Llosa é mesmo um Autor formidável, muito superior ao nasalado Bob Dylan[2].
Novembro de 2016
Henrique Salles da Fonseca
[1] In «Vou-me embora p’ra Passárgada», Manuel Bandeira
[2] Cuja obra literária desconheço por completo; apenas o conheço como nasalado.