Será «a mão» quando o «a» é o artigo definido feminino singular; haverá crase quando se tratar da conjugação do mesmo artigo definido com o advérbio de localização «em» transposto para «na» (em a) e absorvido pela crase em «à» (em a a mão). Neste caso, será «à mão».
Exemplos:
- Esta é a minha mão direita, a de semear.
- O lápis está à mão de semear (significando que o lápis está perto da mão que eu uso para semear o cereal)
- Ele cose a mão - “a mão” aqui é a parte do corpo humano que estava ferida por objecto cortante e estava precisada de ser cosida (suturada)
- Ele cose à mão– aqui, “à mão” é locução adverbial, que dá ideia de maneira.
Henrique Salles da Fonseca
(por adaptação de lição do Professor Pedro Valadares)
[1] - Crase - substantivo feminino - contracção ou fusão de sons vogais num só
O Acordo Ortográfico de 1990 cabimenta aquilo a que antigamente chamávamos erros de ortografia, privilegia a fonia e ignora a etimologia. Ou seja, numa penada, a língua portuguesa perdeu o seu caracter maioritariamente erudito e transformou-se numa forma de expressão da boçalidade de caipiras, jagunços e outros iletrados. Claramente, o tão medíocre «nivelar por baixo».
Nestes últimos dois séculos, as tentativas de aproximação da nossa escrita à fonia são tão antigas quanto António Feliciano de Castilho cuja proposta «viu»[i] chumbada por quem então tinha poderes para decidir sobre esse tipo de matérias.
Muito mais recentemente, foi o brasileiro Paulo Freire que preferiu combater o flagelo do analfabetismo adulto por uma via de escrita fónica que os destinatários conseguissem entender, ou seja, uma forma despojada da erudição que os sertanejos não conseguiriam absorver.
Pessoalmente, aceito o método fónico como transitório, destinado a uma classe etária já avançada que não criará raízes nas normas oficiais mas que passa assim a ter um meio de comunicação de que anteriormente não dispunha. Contudo, se essa escrita fónica me parece aceitável quando dirigida aos mais velhos, já não a tenho como aceitável junto das crianças.
Foi precisamente o contrário que aconteceu em Portugal: nós, os adultos, preferimos usar a forma erudita e às crianças foi imposta a boçalidade.
Morreu o Professor João Malaca Casteleiro, principal responsável português do Acordo Ortográfico de 1990.
A minha frontal oposição ao dito Acordo fundamenta-se sobretudo em argumentos políticos e não em razões de técnica linguística.
Não me parece oportuno trazer aqui essa argumentação e, pelo contrário, merece referir agora um sentimento real pela perda de alguém que prosseguiu um ideal e que o defendeu até ao fim da vida.
Ideal que não é o meu mas isso é matéria que não vem ao caso.
Origem: Dose para cavalo, dose para elefante ou dose para leão são algumas das variantes que circulam com o mesmo significado e atendem às preferências individuais dos falantes.
Supõe-se que o cavalo, por ser forte; o elefante, por ser grande, e o leão, por ser valente, necessitam de doses exageradas de remédio para que este possa produzir o efeito desejado.
Com a ampliação do sentido, dose para cavalo e suas variantes é o exagero na ampliação de qualquer coisa desagradável, ou mesmo aquelas que só se tornam desagradáveis com o exagero.
A bem da Nação, tratemos a nossa língua com correcção
AGRADECENDO…
Em Portugal, agradecemos algo que alguém fez por nós com um «obrigado». Isso significa que nos sentimos obrigados para com esse alguém pelo favor que nos fez.
Quando o agradecimento é individual, em nome apenas de quem o profere, o termo deverá ser usado no singular: Obrigado. «Eu sinto-me obrigado perante si pelo favor que me fez».
Quando o agradecimento é feito em nome de mais do que uma pessoa, o termo será então aplicado no plural: Obrigados. «Nós sentimo-nos obrigados perante si (ou vós) pelo favor que nos fez (ou fizeram)».
Não faz, portanto, sentido o agradecimento que há dias recebi de quem me quis agradecer algo que por ele fiz (e que já esqueci) dizendo «obrigados».
Mas há mais: se quem agradece é do sexo masculino, dirá «obrigado»; se do sexo feminino, dirá «obrigada»; o mesmo se diga para os plurais «obrigados» e «obrigadas».
Obrigado pela atenção que prestaram a esta minha prosa.
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«A FIM» e «AFIM» – qual a diferença?
Os termos «a fim» e «afim», apesar de terem a mesma fonia, têm significados diferentes.
«A fim» - escrito separado, o termo forma a expressão «a fim de», que tem o significado de finalidade; é sinónimo de «com o propósito de», «com a intenção de», «com o objetivo de».
Ex1: Ele estudou bastante A FIM DE passar na prova.
Ex2: O Rui começou a correr A FIM DE perder peso.
«Afim» - escrito junto, o vocábulo indica afinidade; pode funcionar como substantivo ou adjectivo; como adjectivo, refere-se a algo similar, parecido ou relacionado.
Ex: Moçambique é um país AFIM de Portugal, pois as duas nações falam português.
Como substantivo, a palavra indica pessoas que são parentes ou têm algum tipo de afinidade.
Ex: Para a festa, convidarei empregados e AFINS.
Como truque para não confundir as duas expressões, basta lembrar:
FIM de FINALIDADE;
AFIM de AFINIDADE.
(Adaptado do Clube do Português)
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«A PARTIR DE…»
PERGUNTA
Escreve-se ou diz-se «apartir» ou «a partir»?
RESPOSTA
A palavra «apartir» não existe. Portanto, diz-se «a partir de...» (no sentido de «depois de...») ou «aquilo é para partir» (no sentido de «quebrar»).
A outra palavra parecida que existe é «apartar» que significa «separar».
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«ALGUÉM» e «NINGUÉM»
CONCORDÂNCIA COM OS INDEFINIDOS
«Alguém» e «ninguém» levam, em geral, o adjectivo para o masculino:
- Alguém está cansado?
- Não, ninguém está cansado.
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AVENTURA e VENTURA
AVENTURA
a·ven·tu·ra (4 sílabas)
Substantivo feminino
Feito extraordinário
Caso inesperado que sobrevém e que merece ser relatado.
Designa-se como saloio o habitante natural das zonas rurais do início do século XX em volta de Lisboa, a região saloia. A dita região compreende vários Concelhos, sendo os seus limites discutíveis. Há quem a defina como a correspondente aos concelhos da Amadora, Arruda dos Vinhos, Cascais, Loures, Mafra, Odivelas, Oeiras e Sintra.
ORIGEM DA PALAVRA SALOIO
Quando D. Afonso Henriques conquistou Lisboa aos mouros, para não despovoar a terra, deixou-os ficar na posse dos seus bens, impondo-lhes, contudo, certos tributos. Benefício e tolerância que a politica e a humanidade aconselhavam, estendeu-se aos lugares circunvizinhos da cidade. Esta foi logo aumentando em população cristã, que em si absorveu a mourisca pelo decurso dos tempos, o que não era tão fácil no campo. Dizem que a estes mouros dos arredores davam antigamente o nome de Çaloyos ou Saloios, tirado do titulo da reza que repetem cinco vezes no dia, chamada çala. Ficou o nome, ainda depois de povoados esses lugares apenas por cristãos; e talvez da mesma origem proviesse um antigo tributo que se pagava do pão cosido em Lisboa e seu termo e que era conhecido pela denominação de çalayo.
Saloias, por Silva Porto (1850-1893)
Adaptado de O Panorama - Jornal Litterário e Instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, 21 de Abril de 1838
Cliente – Bom dia! Os Senhores têm o livro «COMO RESOLVER METADE DOS SEUS PROBLEMAS»?
Empregado – Um momento por favor, vou ver aqui no computador… (passam alguns momentos) … Sim, temos esse livro nos nossos registos. Deixe-me agora ver se temos algum exemplar em stock nesta loja… (passam mais alguns momentos) … Ora bem, sim, parece que estamos com sorte, temos dois exemplares.
Cliente – Óptimo! Então, embrulhe-me esses dois exemplares que é para eu resolver todos os meus problemas e não apenas metade.