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A bem da Nação

AVÉ MARIA EM ÁRABE

 

 

السلام عليك يا مريم، يا ممتليئ نعمة، الرب

معك. مباركة انت في النساء، مباركة ثمرة بطنك سيدنا يسوع المسيح. يا قديصة مريم، يا والدة الله، صلي لاجلنا نحن الحطاة، الان وفي ساعة موتنا، امين.

 

A PAZ SOBRE TI, Ó MARIA, Ó CHEIA DE GRAÇA, O SENHOR (É) CONTIGO. ABENÇOADA TU ENTRE AS MULHERES, ABENÇOADO O FRUTO DO TEU VENTRE, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Ó SANTA MARIA, Ó MÃE DE  DEUS, ROGA POR NÓS PECADORES AGORA E NA HORA DA NOSSA MORTE. AMEN

 

as-salamu alaiki, ia mariam. iá mumtalia niamu, ar-rabbu mahki, mubarakatu anti fi nissa, mubarakatu thamaratu batniki iassú almassikh. iá kiddissa mariam, iá uallidata allah, salli li jilina nakhnu alkhata, alan ua fi sa:khti mautina. Amin.

 

 

Joaquim Reis

SABIA ISTO DA SÍRIA?

 

Jovens votam em eleições parlamentares em Damasco

(KHALED AL-HARIRI / REUTERS)
«Oposição síria pede boicote às eleições parlamentares» - O GLOBO

 

 

A família Assad pertence ao Islão tolerante da orientação Alauita.

As mulheres sírias têm os mesmos direitos que os homens ao estudo, à saúde e à educação.

Na Síria as mulheres não são obrigadas a usar burca. A Chária (lei Islâmica) é inconstitucional.

A Síria é o único país árabe com uma constituição laica e não tolera os movimentos extremistas islâmicos.

Cerca de 10% da população síria pertence a alguma das muitas confissões cristãs presentes desde sempre na vida política e social.

Noutros países árabes a população cristã não chega a 1% devido à hostilidade sofrida.

A Síria é o único país do Mediterrâneo que continua proprietário da sua empresa petrolífera, que não quis privatizar.

A Síria tem uma abertura à sociedade e cultura ocidentais como nenhum outro país árabe.

Ao longo da história houve cinco Papas de origem síria. A tolerância religiosa é única na zona.

Antes da guerra civil era o único país pacífico da zona, sem guerras nem conflitos internos.

A Síria é o único país árabe sem dívidas ao Fundo Monetário Internacional.

A Síria foi o único país do mundo que admitiu refugiados iraquianos sem nenhuma descriminação social, política ou religiosa.

Bashar Al Assad tem um suporte popular extremamente elevado.

Sabia que a Síria possui uma reserva de petróleo de 2500 milhões de barris, cuja exploração está reservada a empresas estatais?

Talvez agora consiga compreender melhor a razão de tanto intere$$e da guerra civil na Síria e de quem a patrocina...

 

NÃO VENHAS MAIS AO CAIS, MENINA NEGRA...

 

 

 

Não venhas mais ao cais, negra menina.

Que esperas tu ainda?

Já sabes a tua sina:

o branco que partiu não volta mais!

 

E tu, olhando o cais,

menina negra linda,

vês o teu lindo sonho que já finda...

 

Cantaram o feitiço do teu corpo,

nessa noite sensual em que tiveste

por lençol uma folha de palma;

cantaram o feitiço do teu corpo,

mas não sabias nem soubeste

que o branco tem feitiço na alma.

 

Habituada ao balanço da canoa

nas margens do rio Dande,

e depois embalada pelo amor,

sonhaste viajar num enorme vapor

que navega no mar grande

e vai para Lisboa!

 

Ouve, menina negra: mato não é cidade,

oceano não é rio, dongo não é navio,

e o sonho que sonhaste não é sonho, é saudade...

 

Não venhas mais ao cais,

que o branco não volta mais!

 

   Geraldo Bessa Victor (1917-1984),

Poeta português, negro de Angola

 

 

Esta poesia foi escrita em 1958, numa época em que um branco deixava talvez Angola, talvez abandonando a sua mulher nativa, trazendo talvez consigo o seu filho mulato, talvez deixando no coração da jovem negra uma saudade difícil de apagar. Esta poesia, lida agora, faz acender-se o drama ou a tragédia do abandono de Angola pelos portugueses. Haverá saudade em uma e nos outros? Haverá arrependimento? Haverá raiva e ódio? Haverá possibilidade de um retorno por amor? A mim resta-me saudade, mas a minha saudade pessoal não conta.

 

Geraldo Bessa Victor era um homem culto, licenciado em Direito por Lisboa. Eu conheci seu irmão, o Eng. Bessa Victor, que, depois da Revolução infausta, foi ministro no governo em Luanda. Por pouco tempo, porém, e então encontrei-o em Lisboa, desiludido com a situação em Angola. Pessoa muito educada e muito simpática, não sei que é feito dele... Talvez tenha partido para um país mais justo... como eu partirei também qualquer dia...

 

 

 

Joaquim Reis

COMEMORAÇÕES DO 1º DE DEZEMBRO DE 1640

 

 

Na noite de Domingo, 26 de Novembro de 1640, os fidalgos conjurados, reunindo-se na casa de D. Antão Vaz de Almada, assentaram em que a acção, já anteriormente debatida e combinada, devia lançar-se no Sábado, primeiro de Dezembro.

 

Tinha-se procurado a colaboração e o apoio das classes populares, por intermédio do juiz do povo, do escrivão e alguns elementos da Casa dos Vinte e Quatro.

 

Nesta revolução, como na do Mestre de Aviz, o povo iria desempenhar um papel de relevo. É curioso que os nobres, nesses tempos, a despeito da distância que os separava da gente dos ofícios, tinham com eles um trato mais familiar e um respeito mais sincero pelos direitos dos humildes do que a burguesia endinheirada do século XX.

 

E o povo, falando com a dignidade e o desassombro que então lhe apreciavam e que hoje só merece censuras, recordou, por intermédio dos seus representantes, o abandono em que ficaram os populares que se revoltaram no Alentejo e no Algarve. Ainda desta vez não negariam o seu esforço e sacrifício para conquistar a liberdade da Nação, mas exigiam um compromisso formal de toda a nobreza. E esta deu-lho.

 

Seguros deste apoio, sem o qual a revolução cairia no vácuo, procuraram os conjurados a colaboração de algumas individualidades de destaque, a primeira das quais foi o Arcebispo de Lisboa, D. Rodrigo da Cunha, que lhes aprovou os intuitos, assegurando-lhes que não constituía pecado, como alguns receavam, lutar pela desopressão da sua pátria.

 

Um dos elementos aliciados, apenas três dias antes da revolução, o fidalgo D. João da Costa, já com fama de muito culto e eloquente, manifestou alvoroçadamente o seu apoio à causa, não deixando, porém, de pôr em relevo, talvez num tom excessivamente sombrio, os obstáculos quase insuperáveis que seria preciso vencer. Duvidou de que D. João, Duque de Bragança, tivesse os talentos que a situação requeria. Fácil se lhe afigurava colocar-lhe a coroa na cabeça, mas poderia ele depois sustentá-la? Lembrou as forças de que os castelhanos dispunham. Só no castelo, aquartelava-se uma guarnição de quinhentos homens bem armados e equipados. E quantos eram os revolucionários? Uns quarenta fidalgos, que, juntando todos os seus criados, mal somavam duzentas pessoas. Era muito pouco, se os castelhanos descessem do seu reduto para vir impor a ordem na cidade. Não negava o seu esforço (e mais tarde mostrar-se-ia dos mais decididos), Mas parecia-lhe que só por milagre se triunfaria.

 

- E milagres, Senhores, – acrescentou, empolgado pela sua própria eloquência – é justo que se creiam, é bom que se mereçam, mas não é razão que se esperem!

 

Contudo, entendia que se não se devia adiar a acção, porque a demora, traindo o segredo, ainda seria o maior inimigo.

 

Os raciocínios de D. João da Costa arrefeceram o entusiasmo de alguns conjurados. Chegou-se a mandar recado ao Duque de Bragança, pedindo-lhe que ordenasse a suspensão das suas ordens. Mas, reconhecendo-se que já não era tempo de retroceder pois, detendo-se, acabariam por perder-se todos logo que seus intuitos fossem conhecidos dos castelhanos, reanimaram-se e expediram contra-aviso ao Duque, repondo as coisas no primitivo andamento.

 

Só em véspera da data marcada se advertiram muitos dos fidalgos, que entrariam com o ímpeto da sua mocidade em tão arriscada empresa. Duas mulheres se mostraram nesta emergência de mais corajoso e decidido valor do que muitos homens. Foram D. Filipa de Vilhena, Condessa de Atouguia, que ajudou a armar os seus próprios filhos, D. Jerónimo de Ataíde e D. Francisco Coutinho, exortando-os a que se portassem com brio de autênticos cavaleiros e D.Marianade Lencastre, que procedeu de igual modo com os seus filhos Fernando Teles e António Teles da Silva. O amor à liberdade colectiva superou no coração destas mães o instintivo amor maternal.

 

Todos os nobres conjurados – confederados, como então se lhes chamava – deviam achar-se, em suas carruagens, nas proximidades do Terreiro do Paço no dia primeiro de Dezembro. Ao badalar das nove horas, juntar-se-iam imediatamente e iniciariam a acção já planeada nas vésperas em suas linhas gerais e em seus pormenores. Parece que alguns, não podendo ter mão na sua impaciência, chegaram com antecipação demasiada e, saltando das sua carroças – nome que então davam às carruagens – deram em passear nervosamente pelo vasto terreiro que ainda não tinha a configuração que se lhe daria depois do terramoto.

 

Nesse mesmo momento, encontravam-se junto de Miguel de Vasconcelos, a despacho, o capitão Diogo Garcez Palha e Manuel Manso da Fonseca. E, entrando em alvoroço, Gregório de Seixas advertiu o secretário de Estado:

 

- Senhor, vejo na sala dos tudescos e na varanda muitos fidalgos e, no Terreiro do Paço, coches com as cortinas corridas. Se quiserem falar a Vossa Mercê, conviria dar-lhes logo audiência.

 

Ao que Vasconcelos replicou, por claro, na linguagem desbragada que lhe era peculiar:

 

- Quero que vão todos à m... e que me beijem aqui o c...


Desta atitude insolente e grosseira se depreende que a gente de Castela não sonhava sequer o que se estava a preparar.

 

Entretanto, todos os conjurados foram ocupando pelo Terreiro do Paço os postos anteriormente designados. Mal soou a primeira badalada das nove e mesmo antes que soasse a última, lançaram-se os restantes fidalgos para fora das carruagens. Eram quase todos muito jovens e atrevidos, lembrando os Portugueses assomadiços que desbarataram os Turcos no Oriente. Jorge de Melo, Estêvão da Cunha e António de Melo e Castro, com alguma gente sua que os seguia, prenderam de surpresa os soldados castelhanos da guarda, enquanto D. Miguel de Almeida, subindo à sala dos tudescos, disparava uma das imensas pistolas daquele tempo, dando assim o sinal para que cada um acudisse aos pontos estratégicos do edifício previamente combinados.

 

Luís de Melo, porteiro-mor e João Saldanha de Sousa correram pressurosos para a sala onde se guardavam as alabardas dos soldados. Mas já se lhes tinham antecipado D. Afonso Meneses, Gaspar e Brito Freire e Marco António Azevedo, que lançara todas as alabardas por terra e impediram que os soldados se armassem. Alguns deles ainda tentaram defender a porta de acesso ao corredor que conduzia ao forte onde residia Miguel de Vasconcelos. Dois homens resolutos, Pedro de Mendonça e Tomé de Sousa, frustraram-lhes os intentos, investiram furiosamente contra a porta e forçaram os soldados a desocupá-la. E quando correram para outra que dava acesso aos aposentos da duquesa de Mântua, encontraram-na ocupada por Luís Godinho Benavente, criado do duque de Bragança e outros companheiros que tinham já matado um tudesco, ferido outro e posto em fuga os restantes.

Percebe-se que toda a acção fora meticulosamente estudada e se estava executando com uma regularidade e uma precisão quase mecânicas.

 

Entretanto, D. Miguel de Azevedo, já idoso, mas ainda cheio de garbo, andava de espada em punho pelos vastos corredores, a bradar, num vozeirão terrível, - Liberdade, portugueses! Viva D. João, o Quarto!

 

E, sempre gritando deste jeito, assomou a uma varanda do Paço. Os seus clamores atraíram rapidamente ao local muitos curiosos do povo, por entre os quais decerto haveria quem estivesse no segredo da conjura, a esperar impacientemente aquele apelo. A maioria, porém, ignorava o verdadeiro significado daqueles sucessos.

 

Enquanto isto, a acção no interior do edifício prosseguia. D. António Telo, D. João de Sá Meneses, camareiro-mor de el-rei, António Teles, já ferido por uma bala disparada na sala dos tudescos, o conde de Atouguia e seu irmão D. Francisco Coutinho, D. António Álvares da Cunha, D. Álvaro de Abranches, Aires da Saldanha, João de Saldanha de Sousa, D. Gastão Coutinho, Sancho Dias de Saldanha, João de Saldanha da Gama e seus irmãos António e Bartolomeu de Saldanha, Tristão da Cunha de Ataíde, seus filhos Luís e Nuno da Cunha e seu genro D. Manuel Childe Rolim, cruzando de roldão os corredores sombrios, buscavam entrar em casa de Miguel de Vasconcelos.

 

Ao fim de um corredor, encontraram Francisco Soares de Albergaria, corregedor do Cível da cidade, que acabava de sair da secretaria do Estado. Num entusiasmo irreprimível, gritaram-lhe:

- Viva el-rei D. João!

O corregedor, colhido de surpresa, recuou um passo, arrancou quixotescamente da espada e replicou num brado:

- Viva el-rei D. Filipe!

 

Quiseram sossegá-lo, pois não era intento dos fogosos moços causar-lhe dano, mas o homem, muito exaltado, não se aquietava. Tiveram que disparar-lhe uma pistola na garganta, ferimento de que veio a morrer algumas horas depois.

 

Toparam na Secretaria a António Correia, oficial maior, a quem D. António Telo vibrou algumas cutiladas, ao que parece por mera questão pessoal e dirigiram-se tumultuosamente para a porta do escritório de Miguel de Vasconcelos. Apesar de fechada e aferrolhada por dentro, derrubaram-na num ápice. O Secretário, que, ainda minutos antes soltara fanfarronadas obscenas contra os fidalgos, não se via no aposento. Pensaram que se teria escapado para a Casa de Índia, com a qual havia comunicação interior. Mas uma escrava que ali se encontrava, talvez em retribuição das ofensas e maus-tratos recebidos daquele homem intolerável, com um sinal discreto, indicou-lhes um armário de papéis. Abrindo-o, acharam lá dentro Miguel de Vasconcelos, todo encolhido. Estava armado de espada e pistola, que de nada lhe serviram. D. António Telo disparou sobre ele a sua arma. Ferido, ainda saltou do armário. Mas logo o derrubaram a cutiladas. Sobre aquele homem, momentos antes ainda tão poderoso que dele dependia a vida de qualquer português, concentrava-se o ódio de toda a Nação, mais do que sobre os castelhanos, considerados inimigos naturais. Este era, porém, um português, traidor ao seu povo, mais feroz na perseguição aos seus patrícios do que o estrangeiro opressor.

 

Arrastaram-no como um fardo, através do aposento e arremessaram-no ainda vivo, como coisa imunda, pela janela. Em baixo, a populaça recebeu-o com apupos e despedaçou-o, numa feroz sanha de vingança.

 

O capitão Diogo Garcez Palha, que estivera com ele a despacho, foi encontrado numa sala, com uma carabina e pistolas, que ainda disparou sobre os conjurados, errando o alvo. Correram sobre ele e, depois de o ferirem à espadeirada, obrigaram-no a saltar pela janela. Mais feliz que do que o Secretário de Estado, ainda pôde salvar-se com uma perna desconjuntada.

 

(Texto de Mário Domingues, em " O Drama e a Glória do P. António Vieira")

 

Entretanto, outro grupo de conspiradores subiu ao quarto da duquesa de Mântua[1].

 

Eram mais de três dezenas de fidalgos que cruzavam apressadamente os corredores e salas, cheios de penumbra e de eco confuso de suas vozes exaltadas, do tinir dos ferros e das esporas que batiam sacudidamente no lajedo, ao passo precipitado das pernas nervosas. Moviam rapidamente aquelas botas altas da época que subiam até à coxa. Nos chapéus de aba muito larga, tremulavam longas plumas, requintada moda masculina de então. As camisas, em bofes brancos, de tule ou de renda, apareciam por alturas do peito ou do pescoço, a sair de dentro dos casacos largos, apenas apertados na cinta por um grosso cinturão de couro, do qual pendiam longas espadas de grandes punhos em forma de taça. Alguns traziam pelos ombros largas capas que caíam em pregas soltas até aos joelhos, outros tinham-nas deixado nos coches, para se moverem com mais desembaraço. O ideal da gente moça de então era lutar, com a mesma galhardia, por uma grande causa ou por um nada, cortejar a mulher com requintes de delicadeza, beber um almude de um trago com brio ou bater-se em duelo por um sorriso de donzela.

 

 

 

As inúmeras detonações já tinham soado dentro do edifício, os brados coléricos dos atacantes, os lamentos dos feridos e, por fim, a confusa vozearia dos conjurados ao aproximarem-se dos seus aposentos, constituíam advertências terríficas e mais do que eloquentes para Margarida, duquesa de Mântua. O estrondo das portas que iam ruindo sucessivamente no caminho da sua alcova, levaram-na, em pânico, para a varanda que deitava para a capela real, a bradar ao povo que lhe acudisse, àquele mesmo povo que ela tanto desdenhara. Acompanhavam-na, cheios de terror, criados castelhanos e portugueses e algumas pessoas gradas da sua corte que, vendo surgir os revolucionários, logo se renderam, humildes e receosos de perderem a vida.

 

Obrigaram-na, com respeitosas palavras, a abandonar a janela e a interromper a gritaria. Ela então declarou querer sair do palácio. Que a deixassem descer ao Terreiro do Paço. Detiveram-na. Entre altiva e amedrontada, ensaiou ludibriar os revolucionários, exclamando:

 

- Basta, senhores! Já o ministro culpado pagou os delitos cometidos. Não passe adiante o furor, que não merece entrar em peitos tão nobres. Eu me obrigo a que el-rei católico não só perdoe, mas agradeça livrar-se este reino dos excessos do Secretário.

 

Ninguém melhor do que ela sabia que el-rei católico, ou antes o seu ministro Conde-Duque de Olivares, longe de perdoar ou agradecer, aproveitaria o magnífico ensejo para finalmente aniquilar o que ainda havia de mais são e robusto na nobreza de Portugal.

 

No momento em que a Duquesa, ansiosa por se salvar do perigo, fazia aquela promessa que seria a primeira a trair, entrou no aposento o Arcebispo de Braga, um partidário de Castela que bastante auxiliara o opressor a manter o seu domínio sobre os portugueses. Acudiu logo o untuoso prelado, em reforço daquelas promessas vãs, com outras da sua lavra, cuja falsidade era mais do que aparente.

 

Mas a Duquesa, por ser mulher, fora escutada com tolerante cortesia por cavalheiros que não a acreditavam; ao Bispo, como homem, entenderam já não dever o mesmo respeito. Apenas o salvava a sua qualidade de sacerdote.

 


Joaquim Reis



 

[1] Fernão Teles de Meneses, D. João da Costa, D. Miguel de Almeida, D. Antão de Almada e seu filho D. Luís, Pedro de Mendonça, Tomé de Sousa, D. António Luís de Meneses e seu irmão D. Rodrigo de Meneses, António de Saldanha, D. Carlos de Noronha, D. António de Alcáçova, D. António da Costa, João Rodrigues de Sá, Martim Afonso de Melo, Francisco de Melo, Luís de Melo, que fora porteiro-mor de el-rei, e seu filho Manuel de Melo, D. Francisco de Sousa, Rodrigo de Figueiredo, D. Fernando Teles de Faro, Luís de Mendonça, Tristão de Mendonça, D. Tomás de Noronha, D. António de Mascarenhas, Luís Gomes, Francisco de Sampaio, Freire de Andrade e Gilvás Lobo.

 

 

O V IMPÉRIO DO PADRE ANTÓNIO VIEIRA

 

 

Às vezes ouve-se falar do V Império de António Vieira, como sendo uma construção puramente espiritual ou mística, isto é, nada de material. António Vieira era muito inteligente para se meter por essa via irreal e, pelo contrário, era muito político, conselheiro de D. João IV e muito interessado no sucesso da Guerra da Restauração cuja conclusão era ainda, pode-se dizer, aleatória.

 

Nesse tempo, os estudiosos de história pensavam que tinha havido 4 impérios, já todos caídos: 1- o dos Assírios; 2 - o dos Persas; 3 - o dos Gregos; 4 - o dos Romanos. O 5º teria que ser português, porque Portugal se espalhava pelo mundo em virtude das Descobertas e conquistas do século anterior; e porque o P. António Vieira, versadíssimo nas escrituras e biografias dos Santos, chegara à conclusão que o 5º Império só podia ser português. E governaria esse império o Encoberto, que muitos supunham ser o desaparecido D. Sebastião, que haveria de aparecer um dia, mas nunca apareceu. Mas isso não era óbice para o jesuíta que viu que esse Encoberto só podia ser o rei português, D. João IV. Mas para isso era preciso resolver favoravelmente a Guerra da Restauração. E como resolver esse problema, se a sorte das armas era muito incerta e pendia para o lado castelhano? António Vieira achou que se podia acabar com a inimizade entre Portugal e a Espanha, casando D. Teodósio, o príncipe herdeiro, com a princesa Maria Teresa, filha do rei Filipe IV de Espanha, e herdeira do trono por falta de herdeiro varão. Com esse casamento seria D. Teodósio herdeiro do império espanhol, acrescido do império português, e Lisboa seria a capital do 5º Império, sonhado por Vieira.

 

Mas os homens põem e Deus dispõe. D. Teodósio morreu tuberculoso, em 1653, com 19 anos, Maria Teresa acabou rainha de França, e nasceu um filho-varão póstumo a Filipe IV em 1661. A guerra da Restauração teve de resolver-se pelas armas e o V Império sonhado pelo P. António Vieira nunca se fez.

 


Joaquim Reis

HISTORIA IGNOTA

 

 

 

Camilo Castelo Branco conta-nos:

 

 

"Lisboa tinha sofrido desde 1309 até 1755 onze terramotos mais ou menos destruidores. No de 1551 arrasaram-se duzentas casas e morreram duas mil pessoas. No de 1597 submergiu-se o Alto do Monte de Santa Catarina com três ruas e cento e dez edifícios. Mas o de Janeiro de 1531 é comparável ao de 1755, porque abateram mil e quinhentas casas e não se calculou os milhares de vítimas.

 

Pois os cronistas do reinado de D. João III, entendendo que os ministros não mereciam a imortalidade pelo facto de cumprirem o seu dever, providenciando no enterro dos mortos e no remédio dos vivos, escassamente relatam o sucesso.

 

Garcia de Resende deixou na sua Miscelânea a relação poética do grande terramoto, em que nem sequer alude a Pedro de Alcáçova, o Pombal daqueles tempos.

 

Nos 'ANAIS de D. JOÃO III' por Fr. Luiz de Sousa há um vácuo de sete anos, 1530-1537. O insigne escritor deixou fora dos Anais a notícia do terramoto.

 

Em compensação, Garcia de Resende, testemunha ocular, conta assim a catástrofe:

 

...............................

Gretas, buracos fazia

a terra, e se abria;

água e areia saía

que a enxofre fedia;

isto em Almeirim se viu;

e porque logo vieram

grandes chuvas que choveram

e alguns dias duraram,

as aberturas taparam

que nunca mais pareceram.

Todos com medo que haviam

deixaram casas, fazendas;

nos campos, praças dormiam,

em tendilhões e em tendas

casas de ramas faziam.

................................

Dois meses assim estiveram,

na mor força do inverno;

águas, ventos sostiveram,

tormentos, trovões sofreram

bradando por Deus eterno.

.....................................

Também se sentiu no mar:

sem vento marés se alçaram;

navios foram tocar

com quilhas no fundo dar

como perdidos andaram.

.......................................

Muros e torres caíram,

vilas, praças, mosteiros,

igrejas, casas, celeiros,

quintas, e as mais abriram.

Não caíam pardieiros

pedras se viam rachadas

e coisas de muitas sortes,

quanto mais rijas, mais fortes,

tanto mais espedaçadas.

Infinda gente morreu;

grandes perdas receberam,

grandes perdas se perdeu;

muitos má morte morreram

por que de noite aqueceu (aconteceu).

 

...........................................

 

 

Por mais calamitosas provações passaram Lisboa e os ministros a quem corria a obrigação de as remediar. Houve pestes mais devastadoras que os terramotos.

 

Na de 1569 morriam no decurso de alguns meses entre quinhentas e seiscentas pessoas por dia. Os operários caíam mortos pela fome. Já não havia terra para sepulturas. Parte dos sessenta mil que morreram, enterraram-se nas lojas das próprias casas. Enquanto o rei em Cintra prometia levantar um pomposo templo a S. Sebastião advogado da peste, Diogo Lopes de Sousa, Governador da Casa do Cível e D. Martinho Pereira, Vedor da Fazenda, esforçavam uma inútil coragem, na cidade, de pé firme, no âmago do incêndio da peste abrindo casas de saúde e tirando recursos prodigiosos, sem violências nem alcavalas, do meio da miséria geral. (...)

 


Joaquim Reis

ETIMOLOGIAS

 

 

O vocábulo "maestro" vem do latim "magister" e este, por sua vez, do advérbio "magis" que significa "mais" ou "mais que". Na antiga Roma o "magister" era o que estava acima dos restantes, pelos seus conhecimentos e habilitações! Por exemplo um "Magister equitum" era um Chefe de cavalaria, e um "Magister Militum" era um Chefe Militar.

 

 

 Já o vocábulo "ministro" vem do latim "minister" e este, por sua vez, do advérbio "minus" que significa "menos" ou "menos que". Na antiga Roma o "minister" era o servente ou o subordinado que apenas tinha habilidades ou era jeitoso.

 

 

Joaquim Reis

COLÉGIO MILITAR

 

 

 

Discurso lido pelo Aluno Comandante do Batalhão na Cerimónia de Abertura do Ano Lectivo 2013/14

 

  • Exmº Sr. Tenente General Comandante de Instrução e Doutrina, Meu General,
  • Exmº Sr. Major General Director de Educação, Meu General,
  • Exmºs Srs. Oficiais Generais
  • Exmº. Coronel Tirocinado, Director do Colégio Militar,
  • Senhores Oficiais, Docentes, Sargentos, Praças e Funcionários Civis,
  • Exmºs. Convidados, Pais e Encarregados de Educação,
  • Minhas Senhoras e Meus Senhores,
  • Condiscípulos,

 

Devo confidenciar-vos que a minha alma é, neste momento, invadida por um misto de sentimentos contraditórios. Por um lado, é a alegria e o orgulho que me preenchem, por aqui estar, hoje, no comando do Batalhão Colegial, a discursar para todos vós, nestes claustros centenários gastos pelo tempo … mas por outro, é a tristeza e o receio que me assombram por saber que estes claustros, que sobreviveram a invasões, a guerras civis e a golpes de estado, estão frágeis e que podem sucumbir ao mais pequeno dos terramotos.

 

O Colégio encontra-se hoje na situação mais difícil da sua longa e áurea história de 210 anos.

 

O Exmº Ministro da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar Branco, destruiu, com a tinta azul duma caneta no seu luxuoso gabinete aquilo que, durante mais de dois séculos, milhares de portugueses construíram com o vermelho do sangue nas mais adversas condições.

 

Alegando, inicialmente, razões económicas e mais tarde, razões de carácter ideológico, o Exmº Ministro da Defesa Nacional pôs fim a dois séculos de ensino de excelência, pôs fim a dois séculos da História do nosso Portugal, pôs fim ao sonho do Homem que de simples soldado se fez Marechal e a Ministro da Guerra, cargo que ocupou não pelos jogos políticos mas pela riqueza de carácter e extraordinário carisma demonstrados no comando dos seus homens.

 

O despacho de Abril veio pôr fim ao Colégio que todos conhecíamos e dar início a um outro, muito diferente, cheio de novos problemas, cheio de novos desafios e, acima de tudo, cheio de novas oportunidades.

 

A responsabilidade de manter a chama viva e de construir o futuro desta casa recai sobre todos nós… Uns por cá estudarem, outros por cá terem estudado, uns por cá trabalharem, outros por terem confiado ao Colégio a educação dos seus filhos … e é por isso que só em conjunto e reforço, só em conjunto seremos capazes de ultrapassar os obstáculos que se adivinham, de forma que peço a todos e a cada um de vós que vos entregueis de corpo e alma a esta nossa Casa que tanto nos ensinou para que possa continuar a transmitir às gerações futuras os valores idealizados pelo Fundador e inscritos no nosso Código de Honra.

 

Pais e encarregados de educação, quero aproveitar este momento solene para agradecer a confiança que depositastes no Colégio Militar ao escolherdes este projecto educativo para a educação dos vossos filhos. Quero pedir-vos que apoiem e ajudem os vossos filhos com todas as vossas forças, que falem com eles sobre os assuntos que os preocupam e incomodam e que não desistam de lutar por eles mesmo quando eles desistirem de si próprios porque a família é uma unidade fundamental na educação das crianças e dos jovens e sem o vosso apoio, a educação deles fica comprometida.

 

Professores, da vossa parte esperamos total disponibilidade e máximo empenho porque sois um pilar fundamental na aprendizagem dos nossos alunos. Um bom professor não é aquele que se alheia das suas responsabilidades e permite aos alunos que tudo seja feito, só para cair nas boas graças destes. Um bom professor é aquele que exige o máximo dos seus alunos e não permite falhas por desleixo, mesmo que isso lhe custe uma reputação menos boa perante os discípulos. Empenho e dedicação é tudo o que vos peço porque esta casa também é vossa e cabe-nos a todos trabalhar por ela.

 

Por último dirijo-me a vós alunos, na qualidade de Comandante de Batalhão e de irmão mais velho. O Colégio tem uma história invejável, com 5 presidentes da república, inúmeros ministros, atletas olímpicos e figuras de relevo na sociedade mas não podemos viver encostados à História nem às figuras ilustres do passado porque o Colégio, muito mais que o passado, é o presente e o futuro.

 

Nós somos a razão de ser desta Casa e não temos estado à altura das circunstâncias. Os resultados escolares dos últimos anos não são admissíveis numa escola que se diz de excelência. É tempo de inverter a postura de ociosidade que se tem vindo a generalizar nos últimos anos e de nos aplicarmos a fundo nos estudos e nos resultados, já que eles são, para a sociedade, o espelho desta Casa e deles depende muito a entrada de novos alunos.

 

A falta de alunos é um dos principais problemas com que o Colégio se debate, de forma que não nos podemos dar ao luxo de abandonar os mais fracos. Bem pelo contrário, temos o dever de os aceitar na diferença, de os proteger e de os integrar porque ou vencemos como um todo ou morremos como indivíduos.

 

“Neste Colégio, ninguém fica para trás”, disse-o o presidente da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar no 3 de Março último e reforço-o eu aqui, porque acredito ser algo que todos temos de interiorizar.

 

Graduados, este será certamente um ano que nenhum de nós esquecerá. A responsabilidade que recai sobre nós por termos sob nossa alçada a orientação dos mais novos, é enorme. O ano lectivo que hoje oficialmente se inicia reserva-nos certamente inúmeras adversidades, muitas delas relacionadas com o próprio processo de reforma, mas estou certo de que se conseguirmos conservar o bom senso e agirmos sempre de acordo com os princípios do Código de Honra, seremos capazes de ultrapassar todo e qualquer obstáculo que se atravesse no nosso caminho.

 

Futuros Ratas, reservei para vós uma mensagem muito especial que espero que guardeis na memória como a primeira e uma das mais importantes. É com muita alegria que vos vejo aqui hoje formados no centro das atenções, envergando pela primeira vez a farda cor de pinhão. Inicia hoje, aqui, debaixo de todos estes olhares, o vosso longo percurso de 8 anos que fará de vós homens e mulheres prontas a servir Portugal. Prometo-vos que o caminho vai ser difícil, se fosse fácil qualquer um o faria, cheio de obstáculos e provações que só em conjunto sereis capazes de ultrapassar. Os camaradas que dormem ao vosso lado serão os vossos melhores amigos, não só aqui, durante estes 8 anos, como também depois, quando terminar o vosso percurso. São eles que vão estar presentes nos momentos de maior felicidade e vão ser eles também a dar-vos a mão nos momentos de sofrimento e de tristeza. Hoje, turistas, provavelmente não sereis capazes de entender a profundidade destas palavras mas amanhã, finalistas, compreendereis certamente a emoção nelas contida.

 

Termino da mesma forma que, em Janeiro de 1961, John F. Kennedy terminou o seu discurso de tomada de posse, dizendo-vos não para perguntardes o que o Colégio pode fazer por vós mas o que podeis vós fazer pelo Colégio.

 

Bem hajam!

CAMILO E TEÓFILO

 

Camilo Castelo Branco era um escritor prodigioso – prodigioso não só pela quantidade como pela qualidade do que escreveu durante a sua vida relativamente curta de 65 anos.

 

O século XIX em Portugal, embora politicamente tivesse sido um período de desgraça, foi culturalmente brilhante.

 

Tivemos grandes escritores, como o próprio Camilo, como Eça de Queiroz, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Júlio Diniz, Antero de Quental, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Rebelo da Silva, Pinheiro Chagas e muitos outros praticamente esquecidos, como Silva Gaio, já entrado no século XX ("Mário"), Campos Júnior ("A Ala dos Namorados"), Arnaldo Gama, Eduardo de Noronha, etc.

 

No seu livro, que tenho andado a ler, "Noites de Insónia", Camilo faz referências pejorativas a Teófilo Braga, que foi o provisório primeiro Presidente da República, depois do 5 de Outubro de 1910, e depois o terceiro, já eleito. Fiquei surpreendido, mas a verdade é que Teófilo Braga era para mim um desconhecido. Parece que muito escreveu e teve grande prestígio intelectual, de que Camilo nega a autenticidade com as ditas referências. Sinceramente, nunca vi obra de Teófilo Braga publicada, sendo hoje este português uma aparente nulidade. Assim me parece. O seu nome é ainda conhecido pelo facto de ter sido presidente da República.

 

Consultei o Google e li, inter alia, o seguinte:

 

"Até Antero de Quental que se dava bem com Teófilo, se referiu a ele como um hierofante do charlatanismo literário. O historiador brasileiro Sílvio Romero chamou-lhe Papá dos Charlatães. José Relvas, outro seu contemporâneo, depreciou as sua contribuições, notando que o seu prestígio não era justificado, e que só aqueles que não tinham lido as sua obras o admiravam."

 

Quanto ao testemunho de Camilo, limito-me a transcrever um pequeno período, em ele diz:

 

"Eu, por mim, desejo que, lá ao diante, se saiba que morri na desconfiança de que o snr. Teófilo Braga era um malabar de feira saloia enfatuado com os aplausos do gentio lorpa."

 

Era terrível o Camilo!

 

Em todo o caso, o Sr. Teófilo Braga, cujo retrato vai em anexo, parece, a julgar por este, ter sido um sujeito simpático. Quem quiser saber mais, pode consultar o Google.

 

E agora um pequenino fragmento da saborosa prosa de Camilo:

 

(...) Entrei na feira da Ladra.

 

Na entrada do campo, a um dos ângulos, em face do convento de Sant'Ana, levanta-se a praça dos Touros. Edificações mais ou menos elegantes, mais ou menos sumptuosas, enfileiram-se, em linha recta, por uma das faces.

Ao fundo está gizado um microscópico jardim que, na louca ambição da sua tristíssima Flora, cingindo-se no cinto fanado de um empoeiradíssimo buxo, caberia à vontade na mais limitada sala de qualquer nababo das possessões indo-britânicas.

 

Pelo meio do campo, em deplorável estendal, havia panos, pranchas de pinho e tabuleiros ignóbeis, onde jaziam, na mais íntima convivência, os resíduos, o lixo e os detritos da geração presente e das que passaram.

Acudiu-me aqui a musa do poeta florentino:

 

Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate.

 

(...)

 


Joaquim Reis

BATOQUE E BITOQUE

 

 

Tenho um caderno de papel vegetal, cuja capa diz: "Caderno de Papel Esquiço". Ora papel "esquisso" sei eu o que é: papel para esboço, pois "esquisso" quer dizer precisamente "esboço".

 

Mas a palavra "esquiço" também existe, conforme consta no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: "esquiço" ou "esquiça" é o pau com que se tapa o buraco que se faz na vasilhas de vinho; o mesmo que "batoque".

 

 

 

E já que estamos com as mãos na massa, não confundamos "batoque" com "bitoque". Este, como se sabe, é um prato culinário e a palavra, segundo o referido dicionário, é uma corruptela de "bisteque", que, por sua vez, é uma corruptela da palavra inglesa "beefsteak".

 

Não digo que não, mas parece-me que "bitoque" é a palavra russa "bitok" [биток], que, segundo o dicionário da língua russa de S. I. Ojogov [С. И. Ожегов] de 1975, significa: "Costeleta (kotleta, sic) redonda de carne picada, previamente preparada", ou seja, o que vulgarmente chamamos "hamburguer", à americana. {O "hamburger" é moda levada para a terra do tio Sam por alguns alemães de Hamburgo, como os "jeans" é moda levada para lá também por gente de Génova - Gênes}

 

E a propósito, contarei que fui a um sítio comer uma bifana onde o dono se esmerara em fazer o cardápio das comidas rápidas e tivera o cuidado de explicar em inglês a diferença entre "bifana" e "prego". "Bifana", dizia ele, é com "pig" e o "prego" é com "cow". Devo dizer, porque é verdade, que o local não era nenhuma vacaria, nem nenhuma porcaria.

 

Achei graça e fiquei contente, porque concordo com Eça de Queiroz, que dizia que uma língua estrangeira se deve falar mal. O homem era um verdadeiro português.

 

 

O português é o teu valor cultural mais precioso. Respeita e aperfeiçoa a tua língua!

 

(Os estrangeiros que façam o mesmo com as suas...)

 

Joaquim Reis

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