FELICIDADE, A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA ÉTICA
Um dos momentos mais importantes para a educação de uma criança é a experiência da felicidade, na qual ela se sente acolhida, amada por ela mesma, com todo o carinho, o respeito e o apoio de que necessita. Esta experiência é fundamental porque educa a criança num contexto em que o reflexo de defesa não é a primeira atitude espontânea para a qual se sente constrangida. Desta experiência de vida feliz, a criança não tem uma noção explícita mas vive-a diariamente; é esta felicidade que lhe permite integrar as regras e os interditos à volta dos quais se estrutura a vida social e ética. Esta experiência de acolhimento deixa traços profundos, de tal modo que as lembranças que lhe estão associadas poderão ser investidas de novo como suporte de ideia de uma vida global feliz.
Seria pena, com efeito, que tivéssemos dos nossos primeiros anos de vida uma lembrança predominantemente negativa, violenta e desgostosa, pois qual poderia então ser ulteriormente o suporte imaginário de uma vida feliz? Se a felicidade se encontra no horizonte de todo o agir ético, é preciso que uma das experiências éticas fundamentais seja a da felicidade e que se enraíze na psicologia humana, contribuindo assim para o equilíbrio da idade adulta.
Professora Catedrática de Filosofia aposentada na Universidade Nova de Lisboa
In «A ÉTICA NO QUOTIDIANO DAS RELAÇÕES», Brotéria, Abril de 2013, pág.337 e seg.