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A bem da Nação

COISAS DO TEMPO DOS HOMENS

 

 

 

 

Como referi em texto anterior, além do coração cheio de saudade o que mais me satisfaz no retorno a casa é o saborear dos livros.

 

Desta vez, entre eles, um que me foi oferecido, e não posso dizer que tenha sido devorado, mas lentamente apreciado.

 

Com a devida vénia, e sem prévia autorização dos autores, atrevo-me a fazer um pequeno comentário a um livro que tocou fundo na memória e no valor do português em todo o mundo.

 

Prefácio da jornalista Maria João Avillez, magnífica introdução do embaixador António Pinto da França, fotografias lindas de António Homem Cardoso, e um delicioso texto escrito na terceira pessoa, em que o autor se refere a ele mesmo como o viajante. Lourenço de Almeida.

 

Todo o livro é uma fantástica aula de história, do tempo em que os nossos antepassados enfrentavam os sete mares com a cara, a coragem, uma verdadeira fé no Deus Menino, o culto do Espírito Santo e, apesar de muitas vezes terem sido obrigados a lutar e matar - e se eram valentes - a miscigenação e a missionação fizeram mais do que a conquista e o comércio, deixando marcas que os séculos não apagaram.

 

Lá, para as bandas da Índia e das índias, sem GPS, nem Internet ou telefones via satélite, avançavam naquelas cascas de noz, rumo ao desconhecido, levados por vagas informações que iam obtendo pelo caminho.

 

Chegaram primeiro que quaisquer outros europeus a quase todos os lugares da terra. E da mesma forma em praticamente todos os lugares sempre havia um ou mais voluntários ou degredados que se apaixonavam pelas lindas mulheres, pelas paradisíacas ilhas, pelo clima ou simplesmente estavam fartos da longa e sofrida viagem, outros terão naufragado e dado à costa. Assim aconteceu com Caramuru, o bacharel de Cananeia, João Ramalho e tantos outros, não só no Brasil mas por todo o lugar por onde andaram os navegadores: África, Américas e índias. E aí criaram família, difundiram a sua cultura e seus conhecimentos, e também os valentes e generosos missionários, todos eles deixando raízes profundas.

 

Este livro, além de ser uma detalhada lição da história daquele tempo e daquelas viagens e paragens, vem-nos mostrar como essas raízes perduraram e se mantém aos fim de quase 400 anos!

 

O viajante foi passar a Semana Santana pequena Ilha de Flores da Indonésia.

 

Praticamente a única cidadezinha de toda a Indonésia islamizada que mantém, profundas, as suas raízes cristãs, católicas.

 

O viajante, como português, foi recebido com tanto carinho e admiração, porque a todos lembrava aqueles valentes e generosos antepassados que lhes deixaram aquela cultura, e em muitos, muitos, o nome!

 

O rajá de Maumere chama-se Dias Vieira Godinho, e entre as preciosidades que guarda religiosamente, há um capacete de ouro, oferecido ao seu antepassado, D. Aleixo Ximenes da Silva, diz ele que em 1602 pelo rei Dom João III (aqui há um lapso de datas que o rajá deve ter baralhado, porque D. João III morreu em 1557, e em 1602 já reinava em Portugal Filipe I – o II de Espanha)! Esta oferta foi feita para marcar uma aliança, quando o rei de Portugal tratou o rajá por “primo”, atitude que não cala no coração dos seus descendentes.

 

FGA-Rajá Dias Vieira Godinho

O rajá Dias Vieira Godinho

 

FGA-elmo ouro.jpg

O precioso elmo de 1602

 

Não tem grande importância a data, porque o valor está no vínculo estabelecido e no orgulho daquela gente nas suas ligações com os portugueses.

 

Há aspectos desta extraordinária vivência em que nos tocam especialmente.

 

Por exemplo o cuidado e o carinho com que D. Felícia da Silva, filha do anterior rajá, guarda ciosamente, com o seu marido, uma bela imagem do Tuan Meninu, o Senhor Menino, que é profundamente venerado pela população cristã.

 

FGA-D. Felícia

Felícia da Silva, seu marido e o Tuan Meninu

 

 

Enfim, é um livro que merece ser lido e mostrado aos filhos e netos. Chama-se “A Ilha das Especiarias” e podem encontrá-lo em

http://principia.pt/catalogsearch/result/?q=as+ilhas+das+especiarias

 

Afinal Portugal sempre soube fazer muito coisa de belo e grande, e agora o mundo inteiro aguarda que renasça das cinzas, como a Fénix, que segundo a tradição, é uma ave lendária feita de fogo. Vive por 5 séculos, e quando chega a hora da sua morte dela, prepara um ninho de ervas e gravetos, pronta para pegar chamas, e depois de alguns segundos, renasce das cinzas, para viver mais 500 anos.

 

Há 500 anos corria o mundo, dominava os mares e grande parte do comércio.

 

Está na hora do renascer de Portugal! Para isso tem que fazer uma fogueira – grande – queimar todos os vícios e erros que tem vindo, sistematicamente a cometer – e continua – e corrigir o rumo que o actual inepto governo teima em manter: o da miséria.

 

Porquê ser miserável se se pode ser grande?


28/10/2012

 

FGA-2OUT15.jpg

Francisco Gomes de Amorim

MARDICAS E TOPAZES

 

 

JCH-Mardicas e Topazes 1.jpg

Fig. 1. À sombra dum coqueiro, um Mardica com sua esposa e filho vestidos à portuguesa, pintura de 1704 (http://www.wikiwand.com/en/Indos_in_pre-colonial_history).

 

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Fig. 2. Os Topasses ou Topazes das ilhas de Timor, Solor e Flores, onde também eram designados por Larantuqueiros, do nome da capital e porto do distrito oriental da ilha, em Larantuca, eram católicos, falavam crioulo caboverdeano, que subsistiu na ilha das Flores até ao século XX e controlavam o comércio do sândalo dessas ilhas (Hans Hägerdal, 2012, Lords of the Land, Lords of the Sea, Conflict and adaptation in early colonial Timor, 1600-1800, Leiden, KITVL Press, 479 p.). 

 

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Fig. 3, Ilha das Flores: Vendedor de panos e tecidos com motivos caboverdeanos.

 

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Fig. 4. Em Larantuca, este descendente de caboverdeanos leva um magnífico quadro, que mostra Jesus, no caminho do calvário, carregando a sua cruz (Beawiharta/Reuters). Vários outros quadros estão dispostos ao fundo e parece que se trata do próprio pintor, que veio vender as suas obras, durante a Páscoa.

 

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Fig. 5. Filas às portas das igrejas católicas aguardando as cerimónias religiosas da Páscoa, em Larantuca, ilha das  Flores.

 

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Fig. 6. Maumere, distrito de Siqui, Flores (http://www.news.com.au/travel/travel-ideas/adventure/forget-bali-whats-next-door-is-way-better/news-story/7117771c7e59ffd43b0ae3e2d36e8837), crianças e adolescentes descendentes dos escravos de armas, topazes caboverdeanos.  

 

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Fig. 7. Caboverdeanos da Ásia, vestidos à portuguesa, muito sérios e pouco sorridentes, como os portugueses reinóis, orgulhosos de serem portugueses (Asian Portuguese Community Conference, Malaca, Malásia, 27-30 June, 2016).  A maioria dos caboverdeanos vieram para a Ásia como escravos de armas. Outros eram marinheiros e foram designados por lascarins (palavra da Pérsia) juntamente com os marinheiros de outras nacionalidades asiáticas dos navios portugueses. Nos séculos XVII e XVIII, durante a decadência do império português, lascarins caboverdeanos passaram a trabalhar nos navios da British East India Company.

 

 

Jose Carlos Horta.jpg

José Carlos Horta

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