“O BARÃO”...
... filme de Edgar Pêra
Estreia Nacional – 20 de Outubro de 2011
Sinopse:
Baseado na novela homónima de Branquinho da Fonseca e no conto “O Involuntário”, do mesmo autor, “O Barão” retrata a vida de um barão, ditador e cacique, arrogante e controlador, misógino e cruel, uma personagem draculesca raramente vista no cinema português.
Ficha Técnica:
Realização: Edgar Pêra
Argumento: Luísa Costa Gomes e Edgar Pêra
Produtor: Ana Costa
Fotografia: Luís Branquinho
Ano: 2011
Género: Drama
Duração: 105’
Elenco:
Nuno Melo (Barão)
Marcos Barbosa (Inspector)
Leonor Keil (Idalina)
Marina Albuquerque (Professora)
Paula Só (Avó)
Vítor Correia
Miguel Sermão
Jorge Prendas (Mestre Alçada)
Rogério Rosa (Criado da Taberna)
In http://filmesportugueses.com/o-barao/
A enorme responsabilidade que sinto pelo facto de ser neto de Tomás da Fonseca, sobrinho e afilhado de Branquinho da Fonseca e sobrinho-neto de Lopes de Oliveira foi hoje compensada pelo facto de o director de fotografia do filme ser o meu primo Luís, neto do autor da novela que fundamentou o filme. Foi com orgulho que ontem saí da sala de cinema da Fundação Gulbenkian onde fui assistir à apresentação prévia do filme.
Mas o Luís colaborou também na organização da pequena exposição evocativa das bibliotecas itinerantes da Fundação com uma das famosas carrinhas Citroën lindamente preservada e circundada por painéis com fotos de momentos especiais e inerentes explicações. Uma dessas fotos mostra-nos o Doutor Salazar a folhear um livro durante a visita a uma dessas carrinhas com Branquinho da Fonseca a explicar algo que não consta da legenda. A legenda fê-la o humor político da época: «A oposição a ensinar Salazar a ler»...
O filme transmite perfeitamente o «realismo fantástico» por que alguém denominou o estilo de Branquinho da Fonseca e foi dentro desse modo que dei por mim a pensar nos tempos por que a sociedade portuguesa tem passado neste último século: o típico cogito exaltado de finais da monarquia e da 1ª República de que Tomás da Fonseca – pai de Branquinho da Fonseca – era um praticante exímio imbuído duma ética cartesiana areligiosa mas profundamente tocada pelos princípios do decálogo; o cogito humilhado, típico dos conformados
com o salazarismo; o cogito irado da libertinagem revolucionária; o cogito ferido que é este por que agora deambulamos entre os lances bolsistas dos credores...
Mas Branquinho da Fonseca não seguiu qualquer desses modelos. A época em que viveu exigia subtileza sob pena de exílio ou de cárcere
e a via por que optou foi a da estética. Uma estética realista e fantástica que lhe permitiu escrever peças primorosas como “O Barão”, seu expoente.
O filme, esse, segue claramente a estética fantástica, a tal a quem no papel falta a música, os efeitos de luzes e sombras, tudo aquilo a que só um grande director de fotografia é capaz de dar forma.
Conclusão: gostei.
Henrique Salles da Fonseca