NÃO POSSO ADIAR A PALAVRA
Quando te propus
Um amanhecer diferente,
A terra ainda fervia em lavas
E os homens ainda eram bestas ferozes.
Quando te propus
A conquista do futuro,
Vazios eram os mios,
Negro como breu o silêncio da resposta.
Quando te propus
O acumular de forças,
O sangue nómada e igual
Coagulava em todos os cárceres,
Em toda a terra
E em todos os homens.
Quando te propus
Um amanhecer diferente, amor,
A eternidade voraz das nossas dores
Era igual a
"Deus Pai todo-poderoso, criador dos céus e da terra".
Quando te propus
Olhos secos, pés na terra e convicção firme,
Surdos eram os céus e a terra,
Receptivos às balas e punhais,
Amaldiçoavam cada existência nossa.
Quando te propus
Abraçar a história, amor,
Tantas foram as esperanças comidas,
Insondável a fé forjada
No extenso breu de canto e morte.
Foi assim que te propus
No circuito de lágrimas e fogo.
Povo meu,
O hastear eterno do nosso sangue
Para um amanhecer diferente!
(1956 - Bissau, 5 de Junho de 2009)